segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Paulo Guedes, o Caco Antibes racista da vida real, representante da classe média hipócrita e elitista, por Djefferson Amadeus e Arthur Almeida



De uma “abolição” da escravatura mentirosa não poderia ser diferente. O ódio ao pobre é cultivado desde a infância nessas classes. Ei-lo aí representado na fala de Guedes, sobre as empregadas domésticas. 

Do Jornal GGN:




Bom dia, disse a vergonha. Gostaria de ser apresentada ao Ministro da Economia, o Senhor Paulo Guedes. Ele não se encontra; está permanentemente indisponível… É o que ficou nítido após ouvir a sua fala ao mundo, nestes termos: “Com o dólar, alto é bom, porque empregada doméstica estava indo para Disney, uma festa danada.”

Incontinenti, lembrei-me da conversa com uma empregada doméstica: “- proteja o seu bolso enquanto os banqueiros e estelionatários sorriem.” 

Sábia, muito sábia!

Já repararam como os Ministros da Economia e da educação estão sempre sorridentes? Claro: se fossem grossos – igual ao Bolsonaro – não convenceriam ninguém. Daí o riso acompanhado das perninhas cruzadas, o biquinho para aparentar inteligência e, claro, o terno. Ah, o terno… Desconfie sempre de alguém que o aconselhe usando um terno. Sempre!

Afinal: caráter é o tipo de coisa que a gente acha que esse pessoal que usa terno não tem e o pessoal que usa terno, por sua vez, não tem mesmo. Risos.

Paulo Guedes é esse tipo de gente – uma espécie de Caco Antibes (mas da vida real). Aliás, Caco Antibes também usava terno, adorava dar conselhos sobre economia e também adorava plásticas. Só não conseguiu nenhuma plástica para o seu racismo. Guedes também tentou, mas há coisas que nenhuma plástica esconde. O racismo é uma delas!
Caco Antibes, para quem não conhece, foi um personagem da década de 90 de um programa de humor, o Sai de Baixo. O personagem era loiro, branco e alto. Apesar da crise financeira que a família do Largo do Arouche passava, Caco odiava pobres, caçoava do Ribamar (o porteiro do prédio), da empregada doméstica, enfim, de qualquer pobre. E todos caiam na gargalhada. A plateia, que era composta pela alta classe média paulistana, ia ao delírio quando Caco Antibes imitava mendigos, bem como quando caçoava dos pobres que se queixavam de seus problemas pessoais e financeiros .

O discurso de Paulo Guedes (e é apenas ao seu discurso que nos referimos) foi completamente preconceituoso e racista, para ser bem objetivo. Expôs, sem nenhuma vergonha, a realidade da classe média protofascista e da alta aristocracia brasileira que odeiam o pobre, preto e favelado, o que justificou, entre outras coisas, a deflagração da operação Lava-jato, com a consequente caça as bruxas ao ex-presidente Lula, afinal: foi ele um dos responsáveis pela possibilidade de que as empregadas domésticas freqüentassem lugares que, antes, não freqüentavam.

A propósito, já pararam para pensar por que todos os shoppings, sem exceção, quando foram construídos, eram pequenos? Somente depois foram passando por reformas, para serem ampliados, até deixarem de ser construídos bem pequenos…  Pois é: os shoppings não eram pequenos à toa! Isso era projeto! 

Daí o incômodo dessa gente que, quando se deparava com uma pessoa negra dentro de uma loja, nem perguntava se ela era vendedora e já iam logo pedindo uma blusa, mas agora têm de nos aturar, pois também somos clientes como eles.  

A operação Lava-Jato era para ser um marco de grande importância histórica para o Brasil, mas tornou-se, por conta dos seus excessos, o Tribunal da Santa Inquisição da Política, como costumamos dizer. O apoio popular foi (e é) inconteste, até porque é inegável que houve corrupção e, claro, ninguém é a favor da corrupção! 

Mas o cunho dessa operação, como seus excessos demonstraram, foi tirar a credibilidade do maior Presidente do Brasil, bem como contribuir para a instauração de um governo contra os pobres, como comprova a fala de Paulo Guedes. 

Quando Lula dizia da indignação das classes mais altas da sociedade com a ascensão dos pobres, o que foi demonstrado por Jessé Souza na sua bela obra a Elite do atraso, ficou evidente que a revolta se deu porque deram a possibilidade de que estes dois negros, por exemplo, fossem à faculdade e, mais do que isso, que esses dois negros tornam-se escritores e advogados!

Daí a indignação de Paulo Guedes com o fato de a empregada ir à Disney, o que, a toda evidência, não é outra coisa senão uma indignação com a ascensão da população preta, porque a maioria das empregadas domésticas são pretas! 

Isso se deve, aparentemente – entre outras coisas, mas, principalmente –, porque o Brasil foi fundado e estruturado no racismo, no estupro de mulheres pretas, indígenas e, também, no estupro de homens. Sim, nossos ancestrais, depois de serem torturados, também foram estuprados (“Buck Breaking/Quebrando o Valentão”) na frente de suas esposas, filhos e outros negros escravizados, como uma forma de “aviso” que os senhores usavam para demonstrar o que aconteceria com quem tentasse se rebelar.  


De uma “abolição” da escravatura mentirosa não poderia ser diferente. O ódio ao pobre é cultivado desde a infância nessas classes. Ei-lo aí representado na fala de Guedes, sobre as empregadas domésticas. 

A título de encerramento, vale mencionar um dos capítulos de Sai de Baixo, onde Edileuza (a empregada da família) disse que se ausentaria por uma semana, pois viajaria. Finalmente voltaria à sua terra natal – não para trabalhar – mas se divertir, podendo, finalmente, conhecer todas as belezas de sua terra, que deixara quando era um bebê. Caco Antibes, expressando todo seu ódio ao pobre, diz: “Que absurdo a empregada doméstica tirar férias para viajar enquanto os patrões mofam em casa. Pobre é uma desgraça! Deve ir para o nordeste no pau de arara!” E a plateia (maioria de classe média paulistana): Quá quá quá! 

Eis a face da maioria da Elite brasileira: racista, machista, rancorosa, vitimista, racista, preconceituosa e misógena! A palavra racista não saiu duas vezes por engano, mas sim porque ela deve ser ressaltada.



Djefferson Amadeus é advogado, mestre em direito e hermenêutica filosófica pela Unesa, pós-graduado em filosofia pela PUC-Rio, pós-graduado em processo penal pela ABDCONS-RJ, membro da FEJUNN e do Movimento Negro Unificado (MNU).
Arthur Almeida é advogado e membro da FEJUNN.


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