terça-feira, 26 de abril de 2016

Na Câmara mais retrógrada da História, a bancada religiosa que representa a si mesma e o uso da fé como moeda eleitora



texto de Walmyr Junior *, publicado no Jornal do Brasil

Segundo a tradição Judaico-Cristã, o segundo mandamento da lei divina é não “tomar o santo nome de Deus em vão” Ex 20,7. 
Nunca vi o nome de Deus ser tão usado em vão como na ultima votação no plenário da câmara dos deputados, durante a votação do processo de impedimento da presidenta da república Dilma Rousseff, no ultimo domingo (17/04).
A utilização da fé e do nome de Deus foi empregada pelos mais variados parlamentares. Deputados esses que, em sua maioria, estão imersos na lama da corrupção até seus últimos fios de cabelos. As referências à religião e ao nome de Deus em seus discursos não só incomodaram os praticantes das mais variadas religiões, mas principalmente todo povo que tem fé. 
O discurso messiânico, envolvendo um voto em nome de Deus, foi repetido 59 vezes pelos deputados, distorcendo o real sentido das religiões. A mistura da crença com as particularidades dos parlamentares reverberam seus interesses em proclamar o nome do sagrado. 
Com o único intuito de transparecer a sociedade, que o dito deputado é um homem de fé cujo caráter é ilibado e etc., mostra a falta de compreensão sobre o que seja um Estado Laico, e o oportunismo de alguns em usar a fé como moeda eleitoral. 
É triste quando vemos pessoas honestas e bem intencionadas serem enganadas pela religião. Principalmente quando o discurso do sagrado parte de inescrupulosos parlamentares que tem como único objetivo chegar no poder. Ouvir desses senhores as citações sobre o nome divino e de torturadores da ditadura militar em uma mesma narrativa é de revirar qualquer estomago. 
É um crime ir ao púlpito da Câmara para enaltecer a ditadura militar e se orgulhar das inúmeras torturas realizadas pelo já finado Coronel Ustra. Ver que membros do Congresso reproduzem um discurso de ódio e ecoam aos quatro cantos que a ditadura foi uma revolução é no mínimo um desrespeito a memória dos que tombaram, sucumbiram e desapareceram na luta pela democracia.  Ver esses mesmos senhores falando em nome de Deus é um ultraje a todo povo que tem fé. 
Esses senhores não me representam. Muito menos representam a sociedade brasileira. Só resta a eles, representarem a si mesmo.  
*Walmyr Júnior é morador de Marcílio Dias, no conjunto de favelas da Maré, é professor, membro do MNU e do Coletivo Enegrecer. Atua como Conselheiro Nacional de Juventude (Conjuve). Integra a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ

Um comentário:

  1. Prezados, do mesmo modo estas "coisas" não me representam. E tenho a convicção que, se eles só pudessem dizer a verdade sobre si mesmo, seguramente não teriam voto sequer para serem síndicos de prédios pequenos.

    Uma frase de meu avô me fortalece e me enche de esperança: "Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe".

    Talvez este tempo de incerteza traga um remédio duradouro para uma chaga antiga de nossa Nação, a possibilidade de nosso povo varrer para fora da vida p´blica estes verdadeiros canalhas que se aninharam onde jamais deveriam sequer chegar perto.

    Um grande abraço
    Lélio Hall Filho

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