sexta-feira, 1 de abril de 2016

O PMDB e a arte do descarado cinismo. Por Marcel Frison

veneno
O PMDB decidiu sair do Governo Dilma, do ponto de vista da governabilidade, nada mais irrelevante.
Eduardo Cunha, como Líder de Bancada do PMDB, foi, em tempos de paz, um dos maiores opositores ao Governo Dilma na Câmara Federal. Basta ouvir seus discursos proferidos naquele plenário ao longo dos seus mandatos. A sua disposição contrária se intensificou, segundo o delator Delcídio do Amaral, quando Dilma interveio no comando de Furnas e retirou seus amigos e as tetas da “vaca” secaram. Como presidente da Câmara é desnecessário descrever.
Temer, o vice-presidente, como companheiro de chapa, pouco ou nada trouxe de votos na duríssima batalha eleitoral que foi travada em 2014. Lembro-me das suas agendas no Rio Grande do Sul durante as eleições, em nenhum momento enfrentou (nem com luvas de pelica) a linha radical de oposição da secção gaúcha e reservou-se a converter os convertidos das relações do então Ministro Padilha. Nas manifestações públicas pautou-se pelo comedimento e a dubiedade, portanto, sequer se dispôs a disputar a base eleitoral do seu partido.
No governo, Temer cumpriu com maestria sua vocação de despachante-mor, a cada crise criada por Cunha na chamada base aliada, ele entrava em jogo angariando mais espaço de poder para os seus asseclas no governo. Um jogo, inexplicavelmente, tolerado pela direção do governo Dilma.
No terreno da política, Temer e o PMDB foram o anteparo conservador que barrou por dentro do governo e no Congresso Nacional iniciativas estratégicas que tanto Lula como Dilma deveriam ter colocado em curso, como a reforma política, a democratização da mídia, a reforma tributária (de natureza progressiva), entre outras, que nos permitiriam vivenciar uma situação diferente desta que enfrentamos.
Isto posto, a importância de Temer e o PMDB para a governabilidade, espremidas as análises, é perto do zero.
O delírio da maioria da direção nacional do PT, do governo, de Lula e da Dilma, foi tratar o PMDB como um partido de verdade, como jamais foi na sua história e tampouco é na atualidade. O PMDB é uma federação de interesses setoriais e regionais, orbitando em torno de uma relação fisiológica com o Poder Central.
Evidente que existe (e não devemos, em hipótese alguma, desprezar) uma parcela significativa de integrantes do PMDB, composta por governadores, prefeitos, senadores, deputados federais e dirigentes, que se manteve e se mantém fiel ao governo Dilma, porém, isto é consequência de relações constituídas através da implementação do projeto de desenvolvimento que ensejamos e pelas afinidades políticas decorrentes , independente das posições assumidas por sua direção nacional.
Estes, inclusive, não estavam na decisão, saudada como histórica, do seu Diretório Nacional que foi construída democraticamente em três minutos. Na moção aprovada destacam-se algumas pérolas:
“Considerando as graves denúncias de participação de integrantes do Governo Federal em escândalos de corrupção”;
“Considerando que as bases e a militância do PMDB já não concordam integrar o governo da Presidente Dilma Rousseff”;
“Considerando que a permanência do PMDB na base do governo fomentará uma maior divisão no partido”;
“Considerando, principalmente, o anseio do povo brasileiro por mudanças urgentes na economia e na política nacional”;
“Solicitamos a imediata saída do PMDB da base de sustentação do Governo Federal, com a entrega de todos os cargos em todas as esferas da Administração Pública Federal”.
E terminaram o encontro aos gritos de “Temer presidente”! E “Fora PT”!
Temer não foi à reunião, quis postar-se de estadista.
O cinismo é uma arte.
A mídia certamente vai utilizar-se do episódio no único sentido prático a ser extraído, o recado simbólico da adesão oficial do vice-presidente e de seu partido no Golpe, em sua tradução torturante – impeachment constitucional.
Paradoxalmente, pode ser a melhor coisa que aconteceu à Dilma no último período. Uma oportunidade para recompor a base aliada no Congresso, porém, não somente isto, mas a chance de compor um novo governo. Um governo para tempos de guerra.
Eu começaria pelo PMDB, convidando o Requião e o Temporão para assumir espaços no novo ministério. Ciro Gomes seria de fundamental importância. Abriria os olhos e os ouvidos para perceber que no seu partido, o PT, além de Lula, tem quadros com grande capacidade e representatividade social que podem qualificar o governo e fazer a diferença na disputa política.
E, por fim, partindo da premissa de que traidores não são bons convivas, não esqueceria de demiti-los, todos, do seu governo (para identificar não precisa muito, basta uma espiadela nos perfis do facebook e do twitter), a começar por desmontar o gabinete do vice-presidente. Um convite formal para a sua renúncia.
Isto tudo pode parecer óbvio.
Perceber o óbvio também é uma arte.
Fonte: Tijolaço.com.br

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