domingo, 13 de fevereiro de 2011

O Encontro da Consciência Cristã é mesmo exemplo de uma Consciência Cristã?



Carlos Antonio Fragoso Guimarães

 Todos os anos, no período do Carnaval, desde 1992, a cidade de Campina Grande, no interior da Paraíba, apresentava-se como uma cidade de vanguarda, aberta ao diálogo transdisciplinar e transrreligioso, ao ser palco de um dos mais tolerantes e democráticos eventos filosófico-humanistas do planeta: O Encontro para a Nova Consciência - O Pensamento da Cultura Emergente, atualmente chamado de "Encontro da Nova Consciência".

O Encontro para a Nova Consciência foi desde o início pensado para ser um espaço de encontro de partilha e trocas de idéias e vivências. Não se permitiu ser uma miscelânea ou cadinho de misturas caótica de ideias e tradições, mas sim de diálogo e compreensão, pois a diferença é rica e enriquecedora.

Interdisciplinar, democrático e inter-religioso, verdadeiro exercício de um encontro encumênico, lá é o palco onde se discutem e vivenciam os temas filosóficos mais caros ao ser humano: o sentimento de fraternidade, partilha, troca de idéias e vivencias de contato humano e espiritual a partir de exposições e diálogos de diferentes tradições e filosofias (houve mesmo uma extensa reportagem exibida pelo programa Fantástico, da Rede Globo, sobre o evento, que foi ao ar no dia 09/03/2003).

"Se pudermos olhar para o outro como nosso irmão e fraternal e solidariamente darmos a mão e caminharmos juntos, esse é o ideal, e foi pra isso que Deus nos fez. É a prática do exercício do amor que gera a paz. Essa é a propsta maior da nova consciência", nos fala sabiamente o saudoso Pastor Nehemias Marien, participante e trabalhador assíduo do Encontro desde sua primeira edição, em 1992


O evento da Nova Consciência foi proposto como um espaço de encontro e livre diálogo (e não -como querem fazer crer os que, desconhecendo-o, não obstante pretensiosamente pensam tudo conhecer - de mistura e muito menos de proselitismo) entre a ciência, a filosofia e as diferentes tradições religiosas, como o catolicismo, o espiritismo, alguns representantes protestantes mais equilibrados e mais atrelados à madura e respeitável mensagem original de Lutero, o budismo, o islamismo, as religiões afro-indígenas, etc.

O paradoxal, contudo, é que esta preciosidade rara logo incomodou quem não tolera o convívio com a alteridade e tem sido alvo de ataques de segmentos religiosos de cunho fundamentalista "cristão" desde o primeiro encontro, embora sua agressividade tenha se institucionalizado mais recentemente.

Estes ataques foram aumentando até que se se tornaram oficiais em um evento paralelo, imitando de forma caricata, o Encontro da Nova Consciência, mas que é em tudo o exato contrário, na teoria e prática, deste: Trata-se do chamado "Encontro para Consciência 'Cristã' ", que, veremos pelos atos da mesma, na prática, de Cristã - no sentido ético de amor, tolerância e compreensão - parece ter bem pouco, senão seu oposto, já que demonstram grande dificuldade em aceitação da diversidade de pensamento, embora, em teoria, digam seguir o grande Mestre, maior mártir da fraternidade universal, que ensinou que seus discípulos seriam reconhecidos por muito amarem (não só ao próximo, mas mesmo os "inimigos").

Certas seitas neopentecostais de cunho fundamentalista, capitalista e conservador, em uma amostra clara de pequenez espiritual e falta de tolerância, já desde a primeira edição do Encontro para a Nova Consciência demonstram seu temor ao livre-pensar, ao contato de diferenças e ao ecumenismo, fazendo-se presentes como fator de perturbação do encontro. Assim, estas, além de frequentemente ficarem à porta do Teatro Municipal Severino Cabral de Campina Grande, onde se realizam as palestras mais importantes do Encontro da Nova Consciência, palestrando ou distribuindo panfletos mal escritos e muitas vezes pueris contra o Encontro, chegaram ao cúmulo de até mesmo, em 2007, de se apresentarem em frente ao Teatro Municipal vestidos de preto, queimando pneus e apresentando-se com tochas ao estilo ameaçador das seitas protestantes que formam a Ku Klux Klan norte-americana. Sobre a estupidez dessa ameaça patética e de extrema intolerância dos evangélicos contra o pacífico Encontro para a Nova Consciência, veja-se o artigo de Ricardo Kelmer publicado na Revista Planeta, com o título "Salve o Bloco da Nova Consciência!".

Na verdade, a prática de modealgem doutrinaría que desemboca nesta tática semi-terrorista por intolerantes seitas fundamentalistas de cunho pentencostal foi recentemente tema de um documentário chocante feito sobre a forma de como é feito a modelagem do comportamento de crianças para se tornarem futuros pastores e agressivos missionários para converter, quase que à força, todos os que não rezarem pela mesma cartilha, no impressionante filme Jesus Camp, de 2006, dirigido por Heidi Ewing e Rachel Grady. E essa mesma prática, adaptada à realidade brasileira, visando à expansão proselitista objetivando o poder de manipulação com viezes políticos é mesmo denunciada por lúcidos pastores protestantes mais coerentes com os evangelhos e mais equlibratados, como podemos ver nas lúcidas colocações do Pastor Ed René Kivtiz sobre o fundamentalismo que acaba por denegrir os evangélicos autênticos que querem vivenciar o amor e fraternidade reais a partir dos ensinos de Cristo. Veja-se aqui seu escrito sobre "O Evangelho dos Evangélicos".

Desde 1998 (ou seja, sete anos depois do primeiro Encontro para a Nova Consciência), a ala evangélica fundamentalista promove uma paródia reacionária cristalizada em um agressivo evento paralelo , chamado - em uma arrogante pressuposição exclusivista (já que se julgam a si próprios como os representantes únicos e reais da mensagem de Cristo, e uma repetição de 500 anos de atraso do pretenso exclusivismo dos tempos inquisitoriais) - de Encontro para a Consciência "Cristã". Este último é, claro, amplamente apoiado pela ala evangélica conservadora da política local, que vem impedindo ou dificultando, tanto na Câmara Munipal de Campina Grande, quanto na Assembléia Legislativa do Estado, ajuda oficial ao Encontro da Nova Consciência, que eles anseiam claramente em acabar, também pressionado a imprensa a não mais divulgá-lo, ao menos com o espaço antes ocupado.


Outra manifestação flagrante de intolerância dos participantes da tal consciência " 'Cristã' " - também no mesmo ano de 2007 - foi feita quando alguns dos membros mais fanáticos se vestiram de palhaço e fazerem um apitaço durante a caminhada ecumênica em prol da Paz realizada sempre nos domingos de Carnaval pelos participantes do Encontro da Nova Consciência (que, como sabemos, incluem e congregam, de forma harmoniosa, católicos, evangélicos, islamitas, judeus e até mesmo ateus) - mas desta vez, ao menos, os "evangélicos" da tal consciência "Cristã" assumiram os próprios traços, agindo assim agressivamente por medo ao diferente. Deve-se destacar, como demonstram estudos sociológicos, que o movimento fundamentalista encontra solo fértil entre populações menos abastadas, mais sofridas ou com maiores dificuldades de emprego, com pouco estudo e, consequentemente, menos bagagem intelctual que permita um desenvolvimento do senso crítico e do pensamento resistente às seduções das promessas imediatistas próprias do pentecostalismo.

Vê-se, pois, o grau de coerência no comportamento de quem se diz "Cristão" a partir de atos como estes. "Por que vês o cisco no olho de teu irmão e não vez a trave no teu olho?" (Mt. 7,3)

Portanto, explicitaram os próprios temores e inseguranças de suas dúvidas religiosas exclusivistas, dúvidas reprimidas mas não extintas, que e evento ecumênico estiumula e traz à tona, o que provoca questionamentos que são, para eles, uma ameaça. Assim, projetam no Encontro para a Nova Consciência, em um mecanismo de defesa da representação neurótica da ameaça que, na verdade, estão neles próprios.

O encontro "evangélico" tem o óbvio intuito - como dá a entender o título plagiado e manipulado - de concorrer e, segundo eles, de refutar o Encontro para a Nova Consciência, que eles consideram, no imaginário infantil próprio deles, vetor de "forças malignas" trazidas à Campina Grande no Carnaval.

Estas tais, para eles, "forças malignas" seriam transportadas pelos estudantes, professores universitários, cientistas, escritores, padres, pastores mais lúcidos, antropólogos, filósofos, enfim, gente instruída que, vindo de todo Brasil e de outros países para o Encontro para a Nova Consciência, têm o pecado imperdoável de pensar diferentemente deles, os grandes missionários salvadores do mundo.

Para se ter uma idéia da anti-democrática e bushiana agressividade dos líderes do tal Encontro para a Consciência "Cristã", oposto ao equilibrado e Democrático e tolerante Encontro para a Nova Consciência, vejamos o trecho deste "artigo" do Pastor Ridalvo Alves da Silva no site do movimento-seita Consciência "Cristã":

É verdade que o evento emerge dentro do contexto do Nordeste do Brasil, especificamente na cidade de Campina Grande, no momento em que se realizava o VIII Encontro Esotérico intitulado Encontro para a Nova Consciência - Uma Cultura Emergente, como os organizadores a denominaram. Houve nesta conjuntura uma grande preocupação relacionada ao destino da Igreja Cristã Evangélica, pois ninguém havia se levantado até aquele momento para refutar e comparar em nível de reflexão teológica e apologética cristã os ensinos perniciosos que submergia a comunidade campinense como um todo atingindo já naquela época 48 eventos paralelos.

A perplexidade e angústia já haviam chegado ao coração de muitas pessoas reivindicando da Igreja Evangélica de Campina Grande uma tomada de posição firme quanto à invasão esotérica em nossa cidade. A princípio não se sabia como fazer para criar uma estratégia eficaz, não somente para combater os ensinos distorcidos da Nova Era, como também trazer diretrizes seguras para a comunidade quanto aos ensinos de uma Teologia Cristã sadia. Aconteceu somente em fevereiro de 1999 o I Encontro Para
a Consciência Cristã quando os alunos do Instituto Teológico Superior de Missões - ITESMI, sob a nossa direção, que dirigíamos pela orientação e urgência do Espírito Santo de Deus, aceitaram o desafio de enfrentar não somente as dificuldades de recursos financeiros, mas também de recursos humanos.

No início houve crítica, falta de compreensão e de ajuda por parte de muitos, porém, não era hora de olhar para as circunstâncias e sim exercer a fé em Deus que opera nas coisas impossíveis. Aí entra a disponibilidade do homem. Por isso, quero destacar a pessoa do pastor Euder Faber Guedes Ferreira, que nos instantes decisivos, acreditou plenamente na visão de Deus, que estava brotando, e largou seu emprego secular para se dedicar integralmente à grande causa prioritária do Reino de Deus. Quero trazer à memória de nossos caros leitores que foi muito difícil para implantarmos o I Encontro Para a Consciência Cristã, no entanto, o milagre aconteceu.

Não obstante, a razão do Encontro Para a Consciência Cristã não somente abrange a cidade de Campina Grande em seu contexto esotérico de evento anual, mas prepara a igreja contra os falsos ensinos que se alastram em nosso território nacional e também em outras regiões do mundo ocidental e oriental. O pluralismo religioso será certamente o maior desafio da Igreja Cristã neste novo milênio. Não temos dúvidas que por trás de tudo isto está o Império da religião ecumênica liderada pelo seu grande mentor, o Anticristo.


Vê-se, pois, o quanto salta aos olhos a construção lógica e o grau de civilidade e de maturidade intelectual dos mentores do tal Encontro da Consciência "Cristã", não apenas na falta de adesão ao mandamento de Cristo de "Amar ao próximo", como na total falta de respeito com quem não partilha de suas idéias, em uma quase paranóia que abarca a proteção de um "mercado religioso" altamente lucrativo, baseado na cobrança de dízimos. Estronho ainda é essa expliticidade em se auto-denomiar de cristãos reais e agirem como egoístas mesquinhos. Outras vertentes cristãos também têm seus encontros ao lado do Encontro da Nova Consciência, como o dos católicos e o MIEP, Movimento de Integração do Espírita Paraíbano (o primeiro evento deste tipo em Campina Grande e que serviu de modelo ao Encontro para a Nova Consciência), possuindo ambos muito boas relações e mesmo participação no Encontro da Nova Consciência, de modo fraterno e amistoso, portão, verdadeiramente cristão.

Engraçado é que os evangélicos da "Consciência Cristã" exigem, em um país constitucionalmente Laico, que os governos (municipal e estadual) financiem quase que em sua totalidade o encontro evangélico - cabendo salientar que o dinheiros dos impostos é pago em sua maioria por pessoas que não são evangélicas, enquanto fazem Lobby para que o Encontro da Nova Consciência morra à míngua (e este último encontro não pode ser considerado confessional, já que sua proposta é o de debate de idéias e de tolerância, com fortes aspectos sociológicos e antropológicos. Sua proposta é da de encontro sadio de diferentes filosofias, de divugação de estudos científicos e de encontro entre espiritualidade, ciência e arte). O denheiro público, por eles coneguido por meio de manobras políticas, é aplicado para um show de luzes, sons, cores espetaculosa. No final, agem como os fariseus de sempre "que gostam de orar de pé nas sinagogas e nos cantos das ruas para serem vistos pelos homens" (Mt. 6,5).

Ora, oficialmente o Brasil, que tanto sofreu no obscurantismo regressivo da Ditadura Militar, é um país laico. E um Estado laico tem como dever defender e promover a mais aguda e absoluta separação entre o Estado e as comunidades religiosas, bem como a saudabilíssima neutralidade do Estado em matéria religiosa.

 O encontro da Nova Consciência é laico e social, por não incentivar qualquer igreja ou religião, mas possibilitar um espaço social para um evento de interessa da coletividade mais madura. Já o tal encontro da "consciência" cristã é não só confessional (evangélico), como intolerante e fomentador de desavenças, portanto, é estranho o poder da bancada evangélica em canalizar recursos para este último evento. Zelar pela liberdade de consciência, pela paz e harmonia e pela igualdade entre cidadãos é dever do Estado, ainda que se mantenha neutro em matéria religiosa. Ora, o que se vê aqui? Uma manifestação político-empresarial intolerante com qualquer outro pensamento que não seja espelho de suas "doutrinas de salvação".
"Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas: porque rodeais o mar e a terra para fazer um fiel! E depois de o terdes feito, o fazeis em dobro mais digno de inferno do que vós. (...) Ai de vós escribas e fariseus hipócritas, que pagais o dízimo da hortelã,
do endro e do cominho, e haveis deixado as coisas que são mais importantes da lei, da justiça e da fé! Estas coisas eram as que vós devieis praticar, sem que omitesses as outras. Condutores de cegos, que coais um mosquito e engulis um camelo!"
(Mt. 23, 15-16 e 23-24).

Sentindo-se, parece, enviados do próprio Deus - que, aliás, apresenta uma tolerância para eles pouco aceitável, por fazer o sol brilhar igualmente para os "Injustos" - arvoraram-se no pressuposto de novos "gurreiros da fé" a empunharem a espada para destruir o que receim ser um perigo ... talvez de medo de perda do espaço deles no lucrativo mercado religioso... portanto deve-se combater o que inclui ideais como democracia, respeito ás diferenças, pularismo de idéias, liberdade religiosa e ecumenismo.

Para tais "defensores da 'verdadeira fé',", de modo bem parecido aos fundamentalistas pró-Bush, quem luta por tais idéias de ecumenismo, tolerância, dialogicidade segue um mítico Anticristo - que, na verdade, acaba servindo de axiliar para os acusadores ao estabelecer parte do reino de suas igrejas por meio de ameças e do medo gritado por pastores - e precisa ser dizimado. Talvez achem que o Deus que dizem acreditar seja por demais fraco para ter uma glória própria independemente da ajuda deles. Mas então Deus é tão pequeno a ponto de precisar de dízimo e da briga de intolerantes?Veja-se, sobre isso, o excelente artigo de Gabriel Perissé com o tema "o fanatismo religioso é um ateísmo".

E não apenas os participantes do Encontro para a Nova Consciência são considerados "demoníacos", como mesmo outras Igrejas Cristãs são publicamente atacadas pelos "(in)conscientes 'Cristãos' ",o que inclui mesmo outras denomiaçõs evengélicas. Sobre a gravidade do mister pentencostal fundamentalista de demonizar todas as religiões não evangélicas, veja o artigo escrito pela pesquisadora Mariel Marra, intitulado "Demonização e Intolerância Religiosa".

Este tipo de atitude tacanha, egoísta e infantil está tomando proporções graves em todo o Brasil, a tal ponto que vários setores da sociedade, preocupados com o avanço da agressividade fundamentalista, formou a chamada Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, ligada à Secretaria de Defesa dos Direitos Humanos, e que busca promover a liberdade e diálogo inter- religioso e a proteção contra abusos contra a vivência democrática de credos e filosofias várias. De fato, a agressividade dos fundamentalistas, compiando as táticas de demoninização e insulto das Igreja pentecostais fundamentalistas norte-americanas (do qual a Igreja Universal é um exemplo), acabou por levar a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa a levar a escalada de intolerância dos evangélicos pentecostalistas ao conhecimento da própria ONU, como podemos ver em um artigo publicado pela Folha de São Paulo, clicando aqui.

"Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, porque sóis semelhantes aos sepulcros caiados, que parecem por foras formosos aos homens, e por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda asquerosidade". Assim também vocês se mostram por fora aparentais ser justos aos homens, mas por dentro estás cheios de hipocrisias e iniquidade" (Mt. 23, 27-28).


Deplorando a diversidade de pensamento - para eles uma ameaça ao processo de doutrinação de sua única "verdade" que é, claro, altamente favorável a eles - sustentam - como fazia a Igreja
Católica na época da "Idade das Trevas" - que só pode haver uma única forma de verdade cristã e uma única "Igreja do Povo de Deus" fora da qual só existe perdição e inferno, sem possibilidade de salvação. Índios, árabes, "pretensos cristãos que não conhecem o verdadeiro Deus Vivo", asiáticos, budistas, ateus, etc., por melhores pessoas que sejam em obras, por não aceitarem adesisticamente o "Cristo" deles como salvador pessoal já estão condenados - como se Cristo já não fosse amado e seguido por milhões de pessoas não evangélicas sem precisar de engolir essa verborragia infantil.

Quem desafia de alguma forma este modo de pensar é, além de herético, um mal a ser expulso e, se possível destruído. E é assim que se recomeça a tragédia e farsa de uma história já conhecida - mas não aprendida - de intolerência, agressividade e fogueiras...

"Todo fundamentalista é, a ferro e fogo, um “altruísta”. Está tão convencido de que só ele enxerga a verdade que trata de forçar os demais a aceitar o seu ponto de vista... para o bem deles! Há muitos fundamentalismos em voga, desde o religioso, que confessionaliza a política, ao líder político que se considera revestido de missão divina. Eles geram fanáticos e intolerantes."

Frei Betto

Outro caso de provocação e estreiteza moral ocorreu durante o VII Encontro da Consciência Evangélica "Cristã" feito em 2005. Numa atitude de insulto gratuito explícito, um pastor da Igreja Batista de São Paulo, chamado Joaquim de Andrade, afirmou na imprensa que não se arrependia das polêmicas declarações antiharmônicas que deu em Campina Grande, durante o Encontro Para a Consciência "Cristã", sobre as aparições populares atribuídas a Maria de Nazaré. Ele afirmou que tais aparições marianas são coisas do demônio, manifestações demoníacas a serem combatidas pelos evangélicos. Segundo o jornal Correio da Paraíba, de 10/02/2005,

"O prefeito Veneziano Vital do Rêgo posicionou-se contrário à declaração do pastor, a qual classificou de infeliz. Ele disse que, ao conversar com o vice-prefeito José Luís Júnior, que é evangélico, e com outros pastores, chegou à conclusão que nem todos têm o mesmo pensamento do pastor Joaquim Andrade. O prefeito pediu para que o pastor Joaquim revisse o que disse. O pastor Joaquim de Andrade, da Igreja Batista de São Paulo, disse que não se arrepende das declarações que deu em Campina Grande, durante o Encontro Para a Consciência Cristã, sobre as aparições de Nossa Senhora e que a despeito do desagravo que será realizado pela comunidade católica, ele não precisa da misericórdia de Maria". 

E o que dizer do que eles falam dos espíritas, budistas, ateus?

Diante desta explícita manifestação de desafio ao pensamento diferente, especialmente aos Católicos e aos participantes do XIV Encontro para a Nova Consciência, cabe aqui a resposta do filósofo F. Pereira Nóbrega ao dito Pastor Joaquim Andrade e a seus pares, como o pastor Fáber, etc.:


Aparições F. Pereira Nóbrega Jornal Correio da Paraíba, 12/02/2005

Apareceu em Campina Grande um movimento chamado Encontro para a Nova Consciência que veio para ficar. Pretende mais somar que diminuir. Procura entre várias tendências do pensamento atual o denominador comum dos que prezam a humanidade e querem fazer algo por ela. Está no espírito da Nova Consciência ressaltar esse denominador comum, esquecer e superar divergências que haja. Dentro e fora, há sentimentos diferentes, que temos por sagrados, como os de pátria, família, religião. Mãe alheia só o mal educado xinga. Zombar de sentimentos diferentes, isso fica para encontros internos dos que pensam do mesmo modo. Todo homem tem direito a amar sua mãe, sua fé, e nisso ser respeitado. Os que, publicamente, combatem a fé que está no outro, combatem o homem universal que está sem si. Pois também apareceu em Campina Grande um encontro contraa Nova Consciência e, com ele, um pastor, esquecido do espírito do Encontro, repetindo o velho diante da Consciência que se apresenta Nova. Voltou ao tempo das guerras de religião. Dos primeiros cristãos se dizia: vede como eles se amam. Ao tempo das guerras religiosas, se poderia dizer: vede como eles se odeiam. A esse tempo quis voltar o pastor. Ainda hoje, são encontráveis dos dois lados os que pregam amor com sotaque de ódio. Frequentemente eles se encontram em cultos que se dizem ecumênicos, por fora de ritos, por dentro de nada. Apareceu aquele pastor, de público zombando de aparições de Maria.
  Houvesse mais diálogo entre denominações cristãs, saberia ele quanto a Igreja é prudente, quase cética, sobre esses relatos de aparições. Aprenderia quão raríssimos são os casos convincentes, diante da multidão dos que se propalam. Saberia ainda que a Igreja, a rigor, não obriga em consciência nenhum católico a inserir uma aparição no seu credo de fé. Se mais diálogo houvesse entre nós, eu ousaria dialogar em termos de Teologia. E diria que me confunde mais se crer nas manifestações do demônio do que nas de Maria. Quando aparece um fato paranormal, daqueles ditos de “espírito brincalhão”, sempre aparece algum pastor dizendo que aquilo é o diabo. É má Teologia. A História não é uma queda de braços entre Deus e o Diabo que, de há muito, já foi vencido. Enquanto o mundo volta ao paganismo, cristãos se apedrejam. Acordemos a tempo. Há muito mais o que nos une, muito menos o que nos separa.

5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. O Encontro da Consciência Cristã é mesmo exemplo de uma Consciência Cristã? Sabe qual é minha resposta. Eu digo que sim, é um evento que tem uma visão em Cristo. Com pastores pregando a palavra de Deus.

    ResponderExcluir
  3. E eu digo que não... Que é apenas mais um evento de propaganda e intolerância, demonstração cabal da hipocrisia farisaica de pessoas que não suportam o encontro das diferenças tão presente no belo Encontro da Nova Consciência.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Chamar palestrantes do nível de Ronaldo Lidório, Elben Cesar, Hernandes Lopes, Augustus Nicodemus, Russel Shedd, Ricardo Bitun, Nelson Bomilcar, Marcelo Gualberto, Josafá Vasconcelos, Walter Maclister, Paulo Solonca, Normam Geisler,Luiz Sayão, de FUNDAMENTALISTAS, é uma ignorância, pois pelo que conheço de ler e ouví-los, nenhum destes se encaixa segundo o conceito pejorativo de que foram taxados. Lamentável seu texto.

      Excluir
    2. Eu reafirmo: um evento que agride outro evento, que agride quem pensa diferente, que agride reliões diferentes e que tem palestrantes que são conivientes com isso, que aceitam um Malafaia, um Feliciano, um R.R. Soares, é sim um evento proselitista e, acima de tudo, fun damentalista. E eu afirmo mostrando cara e nome, não me escondendo no anonimato.

      Excluir

Olá... Aqui há um espaço para seus comentários, se assim o desejar. Postagens com agressões gratuitas ou infundados ataques não serão mais aceitas.