segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Religiosidades, fé e tolerância por Ivanir dos Santos, Professor e orientador no Programa de Pós-graduação em História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

 

Precisamos repensar, com urgência, a dimensão e o perigo da intolerância religiosa no nosso país


Do ICL Notícias:



Santa Bárbara para uns, Iansã para outros. Senhora da Conceição para uns, Oxum para outros. Assim, abrimos o mês de dezembro com duas datas religiosas extremamente importantes para boa parte da população brasileira.

Os dias 4 e 8 de dezembro, além de remontar a um contexto da formação das culturas e das religiosidades populares no Brasil, nos proporcionam uma reflexão sobre a importância do respeito, da promoção da paz, da equidade e da tolerância.

Se por um lado abrimos o mês de dezembro saudando e louvando com atos inter-religiosos, por outro lado não podemos nos esquecer que, infelizmente, no final mês de novembro, o Brasil registrou mais um caso de intolerância religiosa.

Em novembro, mês que comemoramos a imortalidade de Zumbi dos Palmares e as nossas resistências negras, a professora Sueli Santana denunciou ter sido alvo de ataques verbais discriminatórios em razão de sua religião de matriz africana e relatou que foi apedrejada dentro da unidade escolar onde leciona.

É importante pontuar que a professora estava cumprindo a determinação da lei 10.649/03, que torna obrigatório o ensino das histórias e culturas africanas e afro-brasileiras nas fases de ensino. E em diversas partes do país ainda existe uma forte resistência por parte de alunos e corpo docente diante dos conteúdos que devem ser ensinados.

O caso de intolerância aconteceu na escola Municipal Rural Boa União, em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador, e está sendo investigado pela Polícia Civil.

É importante lembrar que no Relatório sobre intolerância Religiosa no Brasil, organizado e publicado pelo Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP), a “escola” aparece como um dos principais locais de violação dos direitos religiosos.

Assim, precisamos repensar, com urgência, a dimensão e o perigo da intolerância religiosa no nosso país. Bem como a necessidade da promoção do Plano Nacional de Combate à Intolerância Religiosa.

Para terminar, deixo aqui uma breve citação;

“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu oposto. A bondade humana é uma chama que pode ser oculta, jamais extinta” Long Walk to Freedom, Nelson Mandela (1995).


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