quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Então, é Natal…, por Dora Incontri

 Jesus dialogava com judeus, samaritanos e pagãos e não se fazia impositor de nada, apenas passava pelos caminhos, aberto ao amor

    Jesus Cristo, obra de arte do artista palestino Sliman Mansour


Então, é Natal…

por Dora Incontri, no Jornal GGN

Sempre gostei do Natal e nunca deixo de escrever um poema ou um texto para celebrar a data. Não que me aprazam o comércio, Papai Noel e saber que muitos não terão qualquer presente ou mesmo o que comer. Gosto pela tentativa – muitas vezes frustrada – de união de família, de aconchego dos afetos; gosto do impulso solidário e caritativo que as pessoas tendem a demonstrar nesta data e que bem poderia se estender pelo ano todo e, sobretudo, me conforta a busca minha e de alguns de maior conexão com Jesus.

Não que acredite na historinha da manjedoura, dos reis magos, da estrela de Belém, dos pastores… é um símbolo lindo, cheio de significados, reinventado por Francisquinho de Assis no presépio que montamos por aí. Jesus nasceu em Nazaré, filho carnal de Maria e José, no meio de muitos irmãos, numa família pobre, operária, num lugar pequeno e inexpressivo, mas que ficou marcado na história pela irradiação de sua luz.

E este homem, mestre de fraternidade, profeta do anúncio de um Reino, revolucionário sem armas, humanista pleno, amoroso com toda a humanidade, indignado com aqueles que lhe exploravam a fé e com as injustiças de seu tempo e de sempre, é este homem que celebramos, e que tem inspirado tantos santos, pensadores, ativistas a buscarem o seu Reino na Terra e no além.

Este homem que não foi traído por Judas com uma intencionalidade perversa, e sim por um equívoco de intenção de projetá-lo como messias coroado em Israel. Mas, sim, este homem foi traído ao longo dos séculos até os dias de hoje, por seus próprios seguidores. Por tantos que usam seu nome para matar, perseguir, descriminar, oprimir, explorar. Exatamente o contrário de tudo o que ensinou e exemplificou, este mestre que não aceitava submissão, ao invés, dizia que viera para servir; esse ser humano que se dizia “filho do homem” para afirmar sua humanidade e acolhia a todos, judeus e romanos, homens e mulheres, centuriões e marginalizados, entregando-lhes um amor sem medida.

Não Jesus como um salvador-Deus, que morreu pelos nossos pecados, mas como um irmão de caminhada, que abriu as trilhas para o mundo, da possibilidade de um amor universal, de uma reconciliação com adversários, de um perdão inédito na história e, sobretudo, pela utopia de um Reino de justiça e igualdade, que seus seguidores sinceros têm lutado por construir entre nós.

Também não, um Jesus de supremacia colonial, de imposição de fé, de chefe de igrejas dogmáticas e hierarquizadas – embora dentro de todas haja pessoas de boa vontade e que ensaiam comunhão com os seus ensinos. Mas um Jesus que dialoga com Buda e com Maomé, com Confúcio e com Lao-Tsé, com os Orixás e com os Xamãs. Pois em seu tempo, ele dialogava com judeus, samaritanos e pagãos e não se fazia impositor de nada, apenas passava pelos caminhos, aberto ao amor para com todos e todas.  

É esse Jesus que amo, que me inspira e que desejo seguir. Estou convencida de que sua mensagem de paz, solidariedade e esperança pode semear por nossas mãos, um novo mundo. E neste Natal, que para mim está entristecido por lutos pessoais, e que sempre me leva à compaixão e ao lamento pelos males sem conta deste planeta, de tanta violência, exploração, de tantas feridas pessoais e coletivas, neste Natal ainda e sempre, lembremos do aniversariante! Procuremos uma sintonia fina com sua presença amorosa, que nos conforta e nos atrai para destinos mais felizes! Façamos de seu exemplo um roteiro de vida e de suas palavras um refrigério de paz e uma possiblidade de esperança. Feliz Natal para todos e todas, que se sentem identificados com essa incomparável figura história, mas também para aqueles que se sentem traumatizados pelo que fizeram em seu nome! Feliz Natal, na medida do possível, nesta virada de um ano que se anuncia com muitos desafios, mas que haveremos de enfrentar com força e coragem! Amém, assim seja!

Dora Incontri – Graduada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Mestre e doutora em História e Filosofia da Educação pela USP (Universidade de São Paulo). Pós-doutora em Filosofia da Educação pela USP. Coordenadora geral da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita e do Pampédia Educação. Diretora da Editora Comenius. Coordena a Universidade Livre Pamédia. Mais de trinta livros publicados com o tema de educação, espiritualidade, filosofia e espiritismo, pela Editora Comenius, Ática, Scipione, entre outros.


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