terça-feira, 3 de dezembro de 2024
segunda-feira, 2 de dezembro de 2024
Após o sórdido caso do ex-almirante Almir Garnier e o apoio ao golpe de Bolsonaro, a Marinha agora chama a sociedade civil que a sustnta de vagabunda e ameaça Lula
Da Revista Fórum:
Marinha faz ameaça velada ao governo Lula
Peça publicitária da força armada usa o Dia do Marinheiro para mandar recado de tom político
Um vídeo divulgado neste domingo (1) pelos perfis oficiais da Marinha do Brasil nas redes sociais vem sendo interpretado por internautas como uma ameaça velada ao governo Lula.
Trata-se de uma peça publicitária que faria parte das comemorações do Dia do Marinheiro. Acontece que a data é celebrada apenas em 13 de dezembro e o vídeo em questão passa um recado de que os membros da Marinha não aceitarão perder "privilégios".
Em 1 minuto e 16 segundos, o vídeo em questão intercala imagens de civis em atividades "normais", como compartilhando momentos com a família, fazendo festas ou viajando, com cenas de militares da Marinha em treinamentos ou operações oficiais.
A ideia é passar a mensagem de que os militares viveriam um cotidiano difícil ou arriscado, enquanto as pessoas que não compõem a força armada teriam vidas mais "confortáveis". Isso tudo com uma música de suspense ao fundo e a sugestão de que quem teria privilégios seria a sociedade civil, e não os militares
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Ao final do vídeo, uma jovem militar pergunta em tom irônico: "Privilégios? Vem pra Marinha". Assista abaixo:
A peça publicitária vem sendo interpretada como uma ameaça ao governo Lula pois foi divulgada apenas dois dias após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentar o pacote de medidas que visam cortar gastos e que prevê cortes no orçamento das Forças Armadas e alterações nos regimes de previdência e pensão dos militares.
Nos bastidores, comandantes das Forças Armadas têm se mostrado insatisfeito com o fato de Lula propor cortes nos privilégios de militares e o vídeo deixa claro que a Marinha não está disposta a ceder.
A Marinha e os "tanques prontos" para o golpe
Em nota à imprensa divulgada na última quarta-feira (27), a Marinha do Brasil negou que tenha disponibilizado "tanques prontos" para atuar em um possível golpe de Estado articulado por Jair Bolsonaro no dia 4 de janeiro de 2023. A informação aparece em um diálogo entre o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, e o tenente-coronel Sergio Ricardo Cavaliere interceptado pela Polícia Federal e revelado no relatório sobre o planejamento golpista, tornado público nesta terça-feira (26).
"As mensagens encaminhadas pelo contato RIVA ainda confirmam a adesão do Almirante ALMIR GARNIER ao intento golpista. RIVA diz: 'O Alte Garnier é PATRIOTA. Tinham tanques no Arsenal prontos'. Em resposta, o interlocutor diz que o '01', referindo-se a JAIR BOLSONARO, deveria ter 'rompido' com a Marinha (MB), que o Exército e a Aeronáutica iriam atrás", diz a PF sobre capturas de tela (prints) encaminhadas por Cavaliere a Mauro Cid.
Ex-comandante da Marinha, Almir Garnier é um dos militares de alta patente indiciados na OrCrim golpista de Bolsonaro. No entanto, no dia 4 de janeiro de 2023, a Força Naval já estava sob o comando de Marcos Sampaio Olsen, nomeado por Lula após indicação articulada pelo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro.
Na nota, a Marinha nega que tenha preparado veículos e tropas para a tentativa de golpe.
"Em relação às matérias veiculadas na mídia que mencionam "tanques na rua prontos para o golpe", a Marinha do Brasil (MB) afiança que em nenhum momento houve ordem, planejamento ou mobilização de veículos blindados para a execução de ações que tentassem abolir o Estado Democrático de Direito", diz o comunicado.
"Sublinha-se que a constante prontidão dos meios navais, aeronavais e de fuzileiros navais não foi e nem será desviada para servir a iniciativas que impeçam ou restrinjam o exercício dos Poderes Constitucionais", emenda a nota divulga pela assessoria de imprensa.
Por fim, a Marinha afirma que "assegura que seus atos são pautados pela rigorosa observância da legislação, valores éticos e transparência".
"Ademais, a MB encontra-se à disposição dos órgãos competentes para prestar as informações que se fizerem necessárias para o inteiro esclarecimento dos fatos, reiterando o compromisso com a verdade e com a justiça", conclui.
O Supremo e a cruz, por Dora Incontri
Escrevi aqui já alguns artigos de alerta para o fato de que podemos estar caminhando a passos largos para um Estado teocrático fundamentalista.
O Supremo e a cruz
por Dora Incontri - Jornal GGN
Desde a chegada (ou invasão) dos portugueses em terras depois chamadas brasileiras, a promiscuidade entre Estado e religião é histórica, enraizada a fundo em nossa tradição. De início, não havia contexto histórico para ser diferente: o projeto de colonização estava pautado juntamente com a Contrarreforma. Inácio de Loyola, o superior de Manuel da Nóbrega (há cartas enviadas do Brasil deste último para o fundador da ordem jesuíta), encabeçava um movimento internacional de reconquista das almas, perdidas para a Reforma protestante.
Isso se estendia sobretudo à catequese enquistada na educação. Como os reformadores foram empenhados na alfabetização do povo e na criação de escolas, para que todos pudessem ler a Bíblia e se formarem para o trabalho, os jesuítas se apressaram a assumir entre os católicos o trabalho de educar e catequisar e isso no Brasil também andava junto. Esse projeto foi momentaneamente descontinuado com a expulsão dos jesuítas do Brasil e de Portugal, feita pelo déspota esclarecido, Marquês de Pombal – o que aliás, deixou um vácuo na educação entre nós. Depois, chegaram também outras ordens religiosas para assumirem tal tarefa.
Quando veio a “independência” entre muitas aspas, em todos os outros países das Américas, a emancipação do colonizador se deu numa transição direta para a repúblicas. No Brasil, tivemos um império – cuja religião oficial ainda era a católica. E a república veio mais tarde num golpe de estado pelos militares (em conivência com as elites) – e desde então, os militares estão viciados em golpes! A influência ideológica desses primeiros militares golpistas, porém, não era do catolicismo. Eles eram, em sua maioria, positivistas, do positivismo de Augusto Comte, e adeptos alguns de uma estranha religião, proposta pelo filósofo francês, a “religião da humanidade”, de que ele, Comte, se autointitulava o sumo sacerdote. Ainda há remanescentes museológicos desta igreja positivista no Rio de Janeiro.
O caso é que, embora a república tenha proposto um Estado laico, desde então, nunca se consolidou como tal.
No início do século XX, o educador espírita Eurípedes Barsanulfo, estudado hoje por suas posições avançadas em educação, era vereador de sua cidade do interior de Minas, a pequena Sacramento, e brigava pela retirada do crucifixo da câmara municipal.
Mais de 100 anos depois, temos um Congresso Nacional com uma bancada da Bíblia, com as concepções mais antidemocráticas e conservadoras possíveis, e dias atrás, o Supremo Tribunal Federal formou maioria contra a retirada de símbolos religiosos – leia-se cristãos – das instituições públicas.
É inacreditável que ainda em pleno século XXI, há pessoas, pretensamente democráticas, e que representam os poderes da república, que defendem o indefensável. A presença de símbolos religiosos cristãos em escolas, repartições, tribunais, revela sim uma promiscuidade inaceitável entre uma religião majoritária e as instituições públicas. E os adeptos de outras religiões minoritárias? E os que não têm religião?
O problema é que esses símbolos são a representação concreta da ingerência da religião na política. Por esses dias, fui procurada por uma ex-aluna, que estava participando de uma formação de professores municipais, em São Paulo, e me apontou inconformada alguns itens evangélicos na bibliografia. Isso sem mencionar a ofensiva de cristãos conservadores para ocupar os Conselhos Tutelares e a presença até de “desencapetamento” entre práticas escolares, já filmadas e viralizadas nas redes.
Escrevi aqui já alguns artigos de alerta para o fato de que podemos estar caminhando a passos largos para um Estado teocrático. E o Supremo acaba de ratificar uma tradição que se aferra a um passado em que não havia separação entre Estado e Igreja e, com isso, pode ajudar a pavimentar um futuro em que retrocedamos alguns séculos ainda para trás.
Dora Incontri – Graduada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Mestre e doutora em História e Filosofia da Educação pela USP (Universidade de São Paulo). Pós-doutora em Filosofia da Educação pela USP. Coordenadora geral da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita e do Pampédia Educação. Diretora da Editora Comenius. Coordena a Universidade Livre Pamédia. Mais de trinta livros publicados com o tema de educação, espiritualidade, filosofia e espiritismo, pela Editora Comenius, Ática, Scipione, entre outros.
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Do Canal de Suzana Leão:- Espíritas Progressistas:
É importante conversar sobre os fatos que estão acontecendo no Brasil... somente com muita conversa nós conseguiremos entender e tentar encontrar saídas.