Poderíamos alongar a lista de adeptos da seita terrivelmente evangélica que usam o “M” como senha de acesso: Michelle Bolsonaro, Bispo Macedo (líder máximo da IURD), Marcos Pereira (bispo da IURD e presidente nacional do partido Republicanos), Magno Malta (pastor batista e senador, PL-ES), André Mendonça (pastor presbiteriano e ministro do STF), Marcelo Crivella (bispo da IURD, cantor gospel e deputado federal, Republicanos-RJ), Marcos Feliciano (pastor da Assembleia de Deus, cantor gospel e deputado federal, PL-SP). Enfim, a lista é grande.
Valdemar Figueredo (Dema)
Idealizador e coordenador desde 2017 do Observatório da Cena Política Evangélica pelo Instituto Mosaico (www.institutomosaico.com.br). Pós-doutorando em sociologia pela USP. Doutor em ciência política (antigo IUPERJ, atual IESP-UERJ) e em teologia (PUC-RJ). Pastor da Igreja Batista do Leme e da Igreja Batista da Esperança, ambas na cidade do Rio de Janeiro.
Tríade terrivelmente evangélica em 3M: Marçal, Malafaia e o Messias (Mito)
Nós, evangélicos, estamos nos acostumando a passar vergonha. Eleições Municipais de 2024 e eis que estamos superexpostos como se a nossa cara tivesse a ver com o trio rude.
Qual a pesquisa de intenção de voto para prefeito que deixa de citar os evangélicos? Seja qual for a fotografia do momento eleitoral, do Brasil profundo ao litoral, lá estamos compondo o cenário.
O cientista político Jairo Nicolau analisou a eleição de Bolsonaro em 2018. Documentou, através de dados, duas evidências inequívocas, entre outras: o Brasil dobrou à direita e algo em torno de 70% dos evangélicos votou no Bolsonaro no segundo turno.
O que fora dito sobre as eleições de 2018 sobre evangélicos como variável importante continua a vigorar nas Eleições Municipais de 2024. Não é exagero admitir que a mobilização dos terrivelmente evangélicos é um dos fatores determinantes para a força eleitoral do neoconservadorismo de direita.
Poderíamos alongar a lista de adeptos da seita terrivelmente evangélica que usam o “M” como senha de acesso: Michelle Bolsonaro, Bispo Macedo (líder máximo da IURD), Marcos Pereira (bispo da IURD e presidente nacional do partido Republicanos), Magno Malta (pastor batista e senador, PL-ES), André Mendonça (pastor presbiteriano e ministro do STF), Marcelo Crivella (bispo da IURD, cantor gospel e deputado federal, Republicanos-RJ), Marcos Feliciano (pastor da Assembleia de Deus, cantor gospel e deputado federal, PL-SP). Enfim, a lista é grande.
Sabe o que essa profusão de “M” quer dizer? Nada. Apenas uma curiosidade do ser terrivelmente evangélico.
Marçal
Influenciador digital que vive de lacração, lucra com o descontrole dos seus clientes. Usou a fórmula para desestabilizar os seus rivais na eleição para prefeito de São Paulo. Desta vez, foi o Datena que perdeu as estribeiras e deu uma cadeirada no Marçal durante o debate da TV Cultura no final deste domingo (15).
O autodenominado ex-coach conseguiu “entrar na cabeça” dos seus adversários num baixo nível tão fundo que só os mais talhados canalhas conseguem descer.
Como um ser tão repugnante que assume o mau-caratismo com tanta desenvoltura pode ser identificado como evangélico?
Marçal é uma variante do bolsonarismo. Expõe da pior forma possível a imagem já bastante desgastada das igrejas evangélicas no país.
Necessário que os evangélicos sérios se pronunciem distinguindo a versão “terrivelmente evangélica” como praga demoníaca que em nada lembra o Evangelho vivido e ensinado por Cristo.
O tal coach messiânico já havia aloprado no domingo anterior (8) profanando o showmício planejado por Malafaia para a extrema-unção do Bolsonaro.
Os cardeais evangélicos desenvolveram tecnologias para aperfeiçoar o voto de cabresto.
O aumento da rejeição do Marçal entre os evangélicos evidencia o poder das hierarquias eclesiásticas. O candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo não pediu a bênção com o simples gesto do beijar a mão, está sendo forçado a se ajoelhar em sinal de humilhação.
Quis bancar o outsider da política. Quando tentou repetir a fórmula com os religiosos, caiu no tormento do inferno. Sim, os tais terrivelmente evangélicos estão no extremo. Aprendeu a duras penas que os outsiders em relação aos terrivelmente evangélicos caem no lago de fogo e enxofre (contém ironia).
Malafaia
Tem ascendência sobre o Bolsonaro, enquanto Marçal está fora do seu controle.
Espiritualmente falando, Malafaia sabe que assim como o personagem bíblico Sansão, a unção de Deus que esteve sobre ele, foi retirada. Agora, no seu puro discurso de ódio, está por conta própria.
Ninguém em sã consciência poderia acreditar que este pastor odioso fala pela inspiração do Espírito Santo. Ultrapassou o ponto do não retorno na sua agressividade excessiva.
O problema do Malafaia está bem nítido no verso bíblico:
“Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; o que apetecendo alguns, se desviaram da fé, e se transpassaram a si mesmos com muitas dores” (1 Timóteo 6:10).
Sem medo de errar, pelos frutos, pelo comportamento que só piora na proporção em que seus poderes econômico, político e religioso crescem, Malafaia se desviou da fé.
Os crentes sinceros que vivem no entorno do pastor maior da ADVEC deveriam ter coragem para exortá-lo em amor para que volte para Cristo. Mas, na boa, você acha que alguém teria a coragem de dizer que depois que ele raspou o bigode nunca mais foi o mesmo (contém ironia)?
Cortaram a trança de Sansão. Cortaram o bigode grosso do Malafaia. Hoje ele está por conta própria, embora evoque os símbolos sagrados pentecostais e pronuncie o nome de Deus.
Já tive muita raiva desse personagem. Hoje, olho com pena pelo que virou e pelo que virá.
Messias (Mito)
Compreendo que alguns evangélicos fizeram cálculos políticos e concluíram que o voto no Bolsonaro era um dano menor. Eleitores são senhores das suas escolhas e quanto a isso, estamos conversados.
Contudo, pelo histórico de vida e pela biografia política do capitão, qualquer evangélico que o tenha confundido com o enviado de Deus para salvar o Brasil, misericórdia! O senso de humor de Deus não chegaria a tanto.
Igrejas se transformaram em comitês, púlpitos emporcalhados por políticos com lamas nas botas, cantores gospel pagos para cantar em “cultomícios”, dízimos desviados para financiar caravanas que inflaram comícios e atos políticos, pastores reduzidos ao papel de cabos eleitorais, círculo de oração decomposto em grupos de WhatsApp que fazem circular fake news, perseguição e exclusão de crentes que não adoraram ao messias da extrema-direita, clube de tiro como lazer dos diáconos e malabarismos teológicos encomendados para a glorificação do mito.
Agora veja o absurdo: Jair Messias, que não é evangélico, é a melhor tradução do que vem a ser o “terrivelmente evangélico”.
Lá ele
Aos meus irmãos e irmãs.
As eleições municipais no Brasil em 2024 ocorrerão em 6 e 27 de outubro. Participe seguindo a sua sensibilidade e segundo os seus interesses. Quanto ao que ouve na igreja ou recebe pelas redes sociais enviados pelos irmãos, examine tudo e retenha só o que for bom.
Não discuta, ignore.
Ninguém vai pagar os seus boletos. Então, não deixa ninguém “entrar na sua cabeça” para dizer o que é o melhor para você. Estará em jogo nas eleições quem vamos escolher para administrar a nossa cidade e não quem é o melhor amigo do seu pastor.
No limite, no silêncio do seu quarto, como ensinou Jesus, fecha a porta e ora pedindo discernimento. No que depender de você, não permita que uma vez mais a Igreja de Cristo seja confundida com isso aí que se convencionou chamar de “terrivelmente evangélico”.
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