Quem nos dá esse insight? A improvável jovem ativista Greta Thunberg. “Não há justiça climática para terras ocupadas”, puxou o coro
Dois lados de uma mesma moeda: Guerra Israel/Hamas e fenômenos extremos climáticos
por Wilson Roberto Vieira Ferreira, no Cinegnose e Jornal GGN
Dois lados de uma mesma moeda: Guerra Israel/Hamas e a onda de calor dos fenômenos extremos climáticos. Quem nos dá esse insight? A improvável jovem ativista Greta Thunberg. “Não há justiça climática para terras ocupadas”, puxou um coro tentando sobrepor as duas agendas. Atirou no que viu e acertou no que não viu: são eventos sincrônicos. Tanto a guerra quanto a urgência climática se deslocaram para um único campo: o retórico e propagandístico. E, mais profundamente, para o campo da simulação dos não-acontecimentos. Na guerra, o meta-terrorismo transpolitico de simulação israelenses de inimigos imaginários criados por “inside job” e “false flag”. E a urgência climática: quando o debate científico sobre a discussão de múltiplas causalidades se torna retórica unidimensional no campo da propaganda, marcado por recorrências, figuras aristotélicas de retórica, contaminações metonímicas e inversões entre causas e efeitos.
A cena foi emblemática como flagrante de um choque, ou melhor, um curto-circuito entre duas agendas que no momento dominam a mídia: guerra Israel/Hamas e os chamados “eventos extremos climáticos”.
A ativista ambiental sueca Greta Thunberg teve seu discurso interrompido em uma “Marcha pela Justiça Climática” em Amsterdã. Após dizer frases pró-Palestina no palco, um homem invadiu o espaço e tomou o microfone: “vim aqui para uma manifestação climática, e não para uma manifestação política!”.
Após o invasor ser retirado, Greta puxou um novo coro: “Não há justiça climática em terras ocupadas!”. Seja lá o que significa a reivindicação por “justiça climática” numa guerra assimétrica na qual civis de Gaza são massacrados ou pelas bombas que caem do céu ou pelos soldados e tratores israelenses que invadem o terreno. Ou melhor, o que tem a ver a questão do clima com o massacre de cidadãos na Faixa de Gaza.
Assim como Zelensky tentou e não conseguiu, ficando para trás no ostracismo (e enfrentando a oposição dos generais ucranianos que o acusam de corrupção envolvendo a ajuda do Ocidente na guerra contra Putin), Greta Thunberg também tenta pegar uma carona na atual agenda midiática – como o hábito do cachimbo entorta a boca, ela tentou sobrepor as duas agendas numa só.
Mas algo além nessa ansiedade da jovem ativista. Uma sincronia irônica entre as agendas tanto da guerra Israel/Hamas e quanto da urgência climática e o “novo normal” dos fenômenos extremos climáticos.
Primeiro, pela natureza propagandística e retórica que envolvem. E num nível mais profundo, como não-acontecimentos: uma guerra que envolve o fenômeno do terrorismo transpolítico. E a urgência climática como terrorismo retórico – uma coisa é a discussão científica sobre as mudanças climáticas e as relações de causalidade sobre múltiplos fatores. Outra coisa é o fenômeno semiótico, retórico, no qual todas as pesquisas são reduzidas a uma causalidade única. E o que é pior: misturando causa e efeito para produzir o efeito da chantagem geopolítica ambiental. Com um alvo bem claro: o Sul Global.
Terrorismo transpolítico
Como já discutido anteriormente neste Cinegnose, a grande mídia transformou o conceito de terrorismo num jogo semântico, uma espécie de palavrão – por exemplo Lula pode condenar Israel de qualquer coisa (massacre, crime de guerra etc.). Mas jamais proferir a palavra “terrorismo” – porque remeteria à memória do Holocausto. E Israel reivindica o “lugar de fala”: só os judeus sabem o que foi o Holocausto. Como disse em 1982 o ex-primeiro-ministro de Israel, Menachen Begin, depois de bombardear o Sul do Líbano, rechaçando as críticas de que estaria repetindo o Holocausto: “Eu sei o que foi o Holocausto!”.
Terrorismo tem a ver com a transpolítica – forma midiatizada da política na qual os eventos não se baseiam mais em ideologias políticas, mas visam criar acontecimentos (não-acontecimentos) que impactem o contínuo midiático atmosférico (que substituiu a esfera pública clássica) através de provocações, atos espetaculares, atentados, guerras etc. Seu objetivo não é mais nem bélico-militar, ideológico ou a simples conquista do Poder (golpe de Estado): o objetivo é o de contaminar o contínuo midiático com um constante estado de medo, ansiedade etc.
Depois de pouco mais de um mês após a invasão do grupo Hamas em território israelense matando 1.200 civis, começam a surgir, aqui e ali, evidências de algo que esse humilde blogueiro sustenta desde o início: estamos diante de uma clássica ação de false flag e inside job de Netanyahu e as Forças de Defesa de Israel – IDF, na sigla em inglês.
No jornal “The Times of Israel”, o jornalista Uriel Heilman se pergunta: por que os principais meios de comunicação não estão mostrando fotos de combatentes do Hamas em Gaza? Questionou o “New York Times “que respondeu: “não temos nenhuma”.
Heilman estranha, porque tais imagens seriam cruciais para entender o discurso de Israel que sustenta o conflito. E acrescenta:
Mas aqui está o que eu não entendo: com as centenas de jornalistas lá, incluindo inúmeros fotojornalistas com experiência cobrindo conflitos sangrentos na Síria, Ucrânia, Iraque e Afeganistão, como é que eles não conseguem obter nenhuma imagem de palestinos lutando contra os israelenses? – clique aqui.
Tudo o que vemos são vídeos ao estilo institucional de ambos os lados: soldados israelenses em Gaza disparando contra ruínas e supostos combatentes do Hamas saindo de buracos para disparar bombas contra blindados inimigos… mas jamais imagens com os oponentes numa mesma cena. Mesmo que à distância.
Pressionada a apresentar as provas (o fantástico complexo subterrâneo do QG do Hamas sob o hospital Al-Shifa com armas militares pesadas), tudo o que o IDF apresentou em vídeos oficiais é de uma canastrice dos RAVs (Russos, Árabes e Vilões em geral) hollywoodianos: uma mesa com cópias do Corão, algumas AK-47, rádio e um laptop. Nada parecido com uma animação criada pela “inteligência” israelense. Num composé primário sobre uma mesa.
(a) A hipótese do meta-terrorismo: Israel cortou todas as formas de comunicação com a Faixa de Gaza não para que o mundo não tivesse registros mais acurados do massacre. Mas para não ser revelada para o mundo a simulação, própria de um não-acontecimento – não há “terroristas do Hamas”, lutas épicas e nem uma gigantesca rede de túneis. Apenas soldados fazendo o rescaldo da destruição das toneladas de bombas jogadas e tratores limpando o terreno dos entulhos e cadáveres soterrados. Afinal, Israel quer empurrar os civis para fora de Gaza e explorar as ricas jazidas de gás natural off shore – clique aqui.
(b) Sabemos que o Hamas (assim como todas as facções do fundamentalismo islâmico) foi uma invenção dos falcões da guerra neocons dos EUA e Israel para impedir o crescimento da causa palestina liderada por movimentos laicos e seculares, com inclinação marxista, como o Fatah de Yasser Arafat. O discurso do “choque das civilizações” e toda uma penca de filmes hollywoodianos sobre RAVs fizeram o restante do trabalho.
Resta a hipótese do inside job, confirmada por Tuval Escapa, membro da equipe de segurança do Kibutz Be’eri, disse ao jornal israelense Haaretz que os comandantes militares israelenses ordenaram o bombardeio [de] casas contra seus ocupantes, a fim de eliminar os terroristas junto com os reféns [israelenses] – clique aqui.
Além do testemunho de Yasmin Porat, que procurou abrigo em Be’eri, no festival de música Nova, nas proximidades, atacado no último dia 7 de outubro pelo Hamas.
Porat disse a uma rádio Israelita que assim que as forças especiais israelenses chegaram: “eliminaram toda a gente, incluindo os reféns [israelenses], porque havia fogo cruzado muito, muito pesado” – clique aqui.
Pelo nível de destruição no Kibutz mostrado pela TV, jamais seria conseguido com as armas leves que os terroristas levavam. Somente com armamento pesado militar… israelense.
Continue lendo no Cinegnose.
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