terça-feira, 21 de novembro de 2023

Desigualdade e luta de classes no Brasil

 


Favela do Metrô-Mangueira, no Rio de Janeiro – Foto de Tânia Rêgo/Agência Brasil

Bruna Machado dos Reis –  Esquerda Marxista

Publicação completa e original aqui.

O Relatório de Desenvolvimento Humano divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) no dia 9 de dezembro de 2019 mostra que o Brasil tem a 2ª maior concentração de renda do mundo. A desigualdade, principal foco do relatório intitulado ‘Além da renda, além das médias, além do hoje: desigualdades no desenvolvimento humano no século 21’, é o resultado de uma tendência natural do capitalismo. Quando a condição da maioria, dos trabalhadores, é extremamente precarizada, o lucro da parcela mais rica da burguesia só cresce.

Obviamente, como órgão da burguesia que é, a ONU alimenta um falso discurso de que a desigualdade pode ser superada. Logo no início do relatório, ao explicar a metodologia, escrevem que as estatísticas ajudam a embasar ações acadêmicas e governamentais para diminuir a desigualdade. Mentira. Desde a Revolução Francesa, ‘Igualité’ é a promessa falsa da burguesia para esse modelo de sociedade, que só pode ser atingida com sua própria extinção enquanto classe.

A pesquisa, além de apresentar dados isolados dos países, analisa-os em três blocos: países africanos; Brasil, Rússia, Índia e China (o BRIC, ou países ‘em desenvolvimento’, como o imperialismo gosta de alimentar a ilusão) e EUA e Europa (países ‘desenvolvidos’).

Como mostra o gráfico abaixo, o aumento da desigualdade é a tendência em todos os grupos:

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Embora a vida dos trabalhadores durante a crise do capitalismo já esteja insuportável em todos os cantos do mundo, nos países explorados a desigualdade se aprofunda mais. O aumento da desigualdade na Europa, por exemplo, foi mais moderado do que em outras regiões.

Já o nível de desigualdade na África Subsaariana, no Brasil e no Oriente Médio ficou extremamente alto, com a participação dos 10% mais ricos em torno de 55 a 60% da renda total do país.

A Rússia, que na década de 1990 ainda trazia resquícios da igualdade atingida pela planificação da economia após a Revolução de 1917, teve uma ascensão extrema da concentração de renda com o restabelecimento do capitalismo.

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O Brasil também caiu uma posição no Índice de Desenvolvimento Humano em relação à última pesquisa de 2017 (de 78 para 79). E, embora o tempo esperado de escolaridade seja de 15,4 anos, a média real é de apenas 7,8 anos (a metade!).

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Apesar do discurso bonito, sabemos que a dinâmica da sociedade capitalista, em sua fase imperialista, após atingir o ápice do desenvolvimento das forças produtivas, só pode oferecer retrocesso para o conjunto da humanidade.

Mesmo quando os índices apresentam algum tipo de melhora em saúde, expectativa de vida, cuidados desde antes do nascimento, isso está restrito a uma parcela cada vez menor da população, que exclui os 40% mais pobres em detrimento de rendas cada vez maiores para os 1%.

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As ações de Bolsonaro, seguindo a cartilha do imperialismo, só irão piorar as condições de vidas dos jovens e trabalhadores que sofrem com os já ruins serviços públicos, repressão e assassinatos pela polícia nas favelas e bairros operários, aumento do custo de vida (carne, combustíveis, preço do transporte) e a ameaça constante do desemprego ou de trabalho precarizado. Ou seja, a revolta dos trabalhadores está sendo gestada pelas ações desse governo, combinadas à crise do sistema.

Mas as direções do movimento ainda estão à direita de suas bases e funcionam como um arrefecedor do ânimo para o combate. Nesse 20 de fevereiro, por exemplo, a Federação Única dos Petroleiros traiu vinte mil trabalhadores ao pôr fim à greve nacional da categoria e negociar a demissão dos trabalhadores da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (FAFEN-PR).

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Não vai demorar muito para os trabalhadores brasileiros, assim como os chilenos, argentinos e libaneses, para ficar em somente três exemplos dos vários que estão em movimento no mundo hoje, não aguentem mais a exploração e saiam às ruas para lutar contra o governo e o sistema, passando por cima das direções conciliadoras.

É por isso que surgem nesse momento acenos do retorno do AI-5 e leis ‘anticrime’. A única alternativa para os governos burgueses é aumentar a repressão. Mas mesmo essa alternativa possui seus limites: vimos em vários países, e mesmo no Brasil em 2013, a repressão servindo para aumentar ainda mais a fúria das massas.

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