sexta-feira, 27 de maio de 2016

As futuras gerações de brasileiros sentirão vergonha do seu país se a injustiça contra Dilma não for reparada

Ainda há tempo para evitar uma barbaridade histórica
Alguns acontecimentos provocam vergonha eterna nas pessoas de um país. Futuras gerações pagam o preço dos crimes de gerações passadas.

Na Inglaterra, por exemplo, as infames Guerras do Ópio até hoje são motivo de embaraço. Merecidamente. Em meados do século 19, os ingleses destruíram a China para que pudessem vender ali o ópio que produziam na Índia.

O pretexto foi o “livre mercado”. A Inglaterra consumia seda, chá e porcelana da China. Os chineses não se interessavam por nada feito pelos britânicos. Até que os ingleses começaram a vender ópio na China.

As autoridades chineses proibiram, por razões óbvias. O imperador chinês chegou a mandar uma carta para a Rainha Vitória. Dizia que seu país vendia apenas coisas decentes para os ingleses, e não podia aceitar a contrapartida do ópio.

Proibiu este comércio criminoso. Os ingleses reagiram com uma guerra da qual a China só se reergueria mais de um século depois.

Nos livros de história, é um capítulo do qual os britânicos falam de cabeça baixa, um dos momentos mais baixos de sua existência milenar.

Tudo isso para dizer o seguinte.

O crime que está sendo cometido contra Dilma, se não for erradicado, vai pesar contra os brasileiros vindouros. Eles terão vergonha do seu país, ao mesmo tempo em que vão aprender nas escolas quem foi quem na trama suja de corruptos para derrubar uma mulher honesta.

Não é justo que a posteridade pague pelos pecados do presente.

Mesmo agora, quando ainda há muita coisa para aparecer, os fatos já são suficientemente claros para que se saiba que o que cerca o impeachment é lama em quantidade copiosa.

Ainda há tempo para reparar esta página abjeta da vida política nacional. Dilma não está morta e nem definitivamente afastada. Basta, primeiro, devolvê-la ao cargo do qual foi retirada por uma quadrilha. E, depois, punir os criminosos.

Não é fácil. Mas é muito mais difícil um país inteiro conviver, para sempre, com uma dor de consciência avassaladora. E é isso que ocorrerá se a brutal injustiça não for corrigida.

Dilma, se afastada mesmo, se tornará um mártir, e seus carrascos eternos canalhas. Mas o Brasil não precisa de mártires, e sim de justiça. Ou, pelo menos, de “decência básica”, para usar a grande frase de Orwell.

Nossos filhos e nossos netos carregarão, se nada se fizer, o peso da monstruosidade cometida contra uma mulher que ousou combater como nunca a corrupção.

Os ingleses de hoje sofrem os impactos de uma barbaridade que seus antepassados impingiram contra um país pacífico e ordeiro. Isso jamais vai passar. Nada pode alterar o caráter imundo das Guerras do Ópio, e isso ficará para sempre registrado nos livros de história da Inglaterra. Pequenos ingleses, na idade escolar, sempre se perguntarão: “Como pudemos descer tão baixo?”

É o que teremos no Brasil caso Dilma seja definitivamente afastada.

Em nome das futuras gerações, em nome da “decência básica”, isso não pode acontecer.

Paulo Nogueira
No DCM

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