Neopentecostais querem o poder do Brasil, alerta pastor Gondim
"O objetivo é, se possível, eleger um presidente da República"
O objetivo do movimento neopentecostal é assumir o poder político do Brasil, com a eleição, se possível, de um presidente da República já nas próximas eleições.
Essa avaliação é de Ricardo Gondim, 54, da Igreja Betesda, mestre em teologia da Universidade Metodista e, entre os pastores, o mais contundente crítico do movimento neopentecostal brasileiro.
Gondim afirmou que o projeto político dos neopentecostais tem ficado mais evidente na Igreja Universal do Reino de Deus, que tem pastores em diversas instâncias do poder, incluindo um no Senado, o bispo Marcelo Crivella.
O pastor disse que a obtenção do poder político possibilitará que as igrejas evangélicas se expandam com mais facilidade.
No começo do ano, Gondim deixou pastores abismados com um texto publicado em seu blog no qual afirmou que “Deus nos livre de ter um Brasil evangélico”.
Ele escreveu que, se a maioria da população se tornar evangélica, o efeito do puritanismo na cultura seria devastador, colocando em risco, por exemplo, o Carnaval, o futebol, a música de Ney Matogrosso, Caetano e Chico e o folclore.
Agora, em entrevista à Carta Capital, o pastor afirmou que, que houvesse essa hegemonia, “seria a talebanização do Brasil”, em uma referência aos fundamentalistas islâmicos dos Talibãs.
Gondim disse à revista que, em termos de fundamentalismo, a maior influência no movimento evangélico brasileiro vem dos Estados Unidos.
“Nos Estados Unidos, a igreja se apega a três assuntos: aborto, homossexualidade e a influência islâmica no mundo. No Brasil, não é diferente. Existe um conservadorismo extremo nessas áreas, mas um relaxamento em outras. Há aberrações éticas enormes.”
Mas antes que os evangélicos transformem o Brasil em um país de comportamento fundamentalista, é possível que os brasileiros acabem transformando as igrejas evangélicas, o que já estaria ocorrendo, de acordo com o pastor.
Ele afirmou que já existem evangélicos que pertencem a comunidades católicas ou espíritas. “Já se fala em um ‘evangelicalismo popular’, nos modelos do catolicismo popular, e em evangélicos não praticantes, o que não existia até pouco tempo atrás.”
O pastor observou que há no movimento evangélico duas tendências aparentemente contraditórias: de um lado absorção de elementos religiosos da tradição brasileira, o sincretismo, e, de outro, radicalização na oposição a questões como o aborto e direitos dos homossexuais.
No entendimento do pastor, o ‘evangelicalismo popular’ está descaracterizando a religião. “O rigor doutrinário e os valores típicos dos pequenos grupos estão se dispersando.”
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