quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

A retórica ideológica e a invisibilidade do real, por Frederico Firmo




GGN.-  Bolsonaro não vai sair do palanque, pois ele só existe no palanque retórico e ideológico que montou.  O tempo inteiro somos obrigados a debater Olavo, Damares, Velez, Araujo e as frases virulentas de Bolsonaro. Isto serve apenas para continuar o  debate nas redes. Trabalhando para tudo isto, os jornais e a midia  escrevem páginas de crimes e violência  ou sobre índices da bolsa ou sobre algum clichê ideológico, criando uma ficção e escondendo a realidade..
A mídia esta semana requentou  o racismo de Watson, prêmio Nobel. Isto já havia sido  notícia anos atrás. Porém aproveitaram a a chance de requentar a notícia e excitar o racismo nas redes.  As manifestações que se seguiram   nas redes são tão abjetas que obrigam necessariamente  pessoas  de bem a responder.  E assim  enquanto se combate retoricamente, a realidade de nosso racismo continua e é estimulada.  A matéria está lá colocada para excitar os mais pobres instintos. Ela abre mais espaço para o exército do Whatsapp, enquanto  a destruição do país corre ao largo.
As idas e vindas do governo mostram que entre a retórica ideológica e a realidade existem contradições insolúveis, mas para a grande imprensa  isto não importa desde que os grandes  negócios e tal reforma das reformas  estejam sendo realizados.
Em artigo recente Aldo Fornazieri discute  a ofensiva ideológica e a resposta da  esquerda. Não apenas ela, mas parece que todos nós  estamos aprisionados neste  palco ideológico,   numa luta que só aparentemente é pelos corações e mentes . O palco como e quando foi criado é feito   apenas para estimular os corações e mentes já conquistados.  De forma paradoxal, tanto nós como eles sabemos   que esta retórica ideológica  não resiste à realidade  mas  a luta continua se descolando cada vez mais do real. Não sei como mudar isto, pois a sociedade brasileira parece estar paralisada.  Quando se fala em sindicatos, eu me pergunto onde estão? Na mídia eles não estão e nem nunca vão estar, pois a mídia trabalha com o objetivo de esconder . Se houver algum movimento ou embrião de organização, isto será escondido gerando sempre  esta sensação de vazio e paralisia.
Obviamente existe  um vazio real ,não apenas sindical e  nem apenas partidário. A paralisia e vazio alcança quase todas as áreas. Por exemplo, me pergunto onde estão os Educadores, deste pais que deveriam estar  colocando os problemas reais de nossa educação e o papel das políticas publicas de educação mas  se sentem obrigados a debater Escola sem Partido. Não acredito que estejam parados, mas com certeza estão invisíveis Onde estão os artistas para falar do papel das políticas publicas nas artes, mas são obrigados a responder  questionamentos sobre a lei Rouanet,  que é apenas  cortina de fumaça. Educadores, artistas estão invisíveis, pois mesmo que estejam ativos e se mobilizando, isto não aparece, é escondido pela grande imprensa. A realidade escolar, isto é os reais problemas da educação , está invisivel sob esta retórica sobre Escola sem Partido  e ou discussão sobre os escolhidos de Bolsonaro ou Velez.
Onde estão os cientistas deste país, que não conseguem colocar ao público, o status real e atual das pesquisas brasileiras que, apesar de tantos sucessos, continuam invisíveis para a Sociedade.  Embora eu saiba de suas movimentações em defesa da Ciência,  eles continuam invisíveis. Onde estão as Universidades, os Institutos Federais  que não se  mostram , não contrapõe  a sua  realidade ao discurso midiático. Contra a retórica governamental  basta mostrar  a realidade da  universidade publica, com seu ensino , pesquisa e extensão.  Precisam mostrar que hoje temos  uma maioria de classe B e C  nas universidades. É preciso mostrar o papel central da Universidade em todas as atividades do país. Mas isto está invisivel, e fica mais escondido ainda quando ataques à universidade pública, a reduzem a quase nada, e a colocam sob suspeição através  de ações de Forças Tarefas e operações da PF.  Qual a posição da Universidade frente a mudança do Ministério.  Porque  seus reitores e professores continuam invisiveis. Pouco ouvimos sobre a ANDIFES, ANDES etc...E esta invisibilidade e silêncio permite que  a retórica ideológica avance no  sucateamento, privatização e favorecimento dos grupos empresariais da educação.
Onde está a realidade do SUS que é bem maior do que apenas filas. Afinal é o único país da américa latina que possui saúde pública.  O SUS será o proximo objetivo, pois tudo que é publico será alcançado pela ofensiva ideológica. Mas onde estão as notícias sobre o que é de fato o SUS. Como sumiram as notícias sobre o  Mais Médicos, que só reapareceram com as saidas dos Cubanos, o que foi feito de novo apenas no palco ideológico. Onde estão as lideranças médicas neste país, caladas,  coniventes, ou entusiastas desta retórica governamental ? Onde estão as lideranças institucionais?
Onde e quando foi que começamos a esquecer a realidade e ficamos presos nos debates retóricos? Talvez tenha se iniciado com a lava-jato, que conseguiu esconder a Petrobrás. A empresa com sua tecnologia pesquisa e sucesso do pré-sal, sumiu naquele cenário de esgoto onde a  cortina era decorada com a cara de ladrões como Paulo Costa, Cerveró. E pasmem eles já estão  livres gastando o roubado. Mas não posso deixar de lembrar o silêncio ou a invisibilidade dos petroleiros e altos funcionários em todo este processo. O  silencio da própria Petrobrás, permitiu sua fragilização, e a preparação de seu retalhamento e possível privatização.  A retórica de que tudo é corrupção venceu. Assim com a retórica da inevitabilidade da venda da EMBRAER venceu , sem que saibamos de fato a real situação da EMBRAER.
O sistema S acaba de ser profundamente atacado e não vimos nenhuma argumentação contrária do próprio Sistema S. Não posso crer que estejam  de acordo. Mas se manifestações fizeram, e esclarecimentos deram, tudo ficou invisível.   Em todo este processo a população ficou sem saber o que é o sistema S.
Portanto não são apenas as lideranças de esquerda.  O país e as instituições vem sendo atacadas de há muito e a sociedade civil e suas lideranças institucionais estão invisíveis, esperando  as ordens ou estão caladas e com medo.
Estamos aprisionados no debate ideológico, mas contra a ofensiva ideológica do governo, dados da  realidade do país  são as melhores armas. Foi por esta razão que o candidato fugiu dos debates. Não sobreviveria se questionado sobre a realidade.  O discurso e a retórica não sobrevivem se contrastatados com a realidade, mas cada setor real  deste país precisa se manifestar e encontrar um antídoto para a invisibilidade.  O paradoxo entre o discurso retórico e a realidade se expressa nas indas e vindas vexatórias deste governo, que discursa para depois se inteirar do que se trata.  Mas ajudado pela  grande mídia  cria um fosso entre a realidade e continua pautando apenas o que é de interesse. Nas  redes a  ofensiva ideológica do governo tem maior sucesso, afinal mantém mobilizados  os seus exércitos de Whatsapp  e twitter especialistas na retórica virulenta, vazia mas de consequências trágicas.  Estes formam a cortina necessária para manter a realidade invisível.
Mas é urgente, trazer o debate para o mundo real,  pois este foco  ideológico  é a cortina para que nos bastidores  a caravana do golpe e do mercado continue sua marcha rumo a fortuna de alguns.

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