Anuladas as penas contra 74 PMs que, há 24 anos, chacinaram 111 presos no Carandiru. Penas que somavam 20.876 anos.
O juiz-relator, Ivo Sartori, opinou: “Não houve massacre, houve legítima defesa”.
Foram mais de 600 tiros contra 111 presos. Muitos nas costas e na nuca.
Anistia Internacional, Humans Rigths Watch, Conectas...Brasil e mundo afora entidades de Direitos Humanos bateram...
...“Impunidade”, “chocante”, “violação”, “massacre covarde”, “desumano e cruel”, “sistema falido”...
Num Tempo em que a Justiça parece poder tudo, quando quer tem o Poder até para nada fazer.
Milhões de brasileiros são prisioneiros daquelas Horas do Terror. Abduzidos pelo espetáculo de sangue que comanda programas de rádio e TV.
Perfeito para faturar, para retroalimentar a violência que está nas ruas.
Perfeito para quem anuncia, com orgulho e debaixo de aplausos, muitas vezes à cata de votos, ser atirador, um matador.
Repete-se o macabro clichê, como se fossem urubus: “Bandido bom é bandido morto”. Quando ouvem falar em direitos humanos, que desvirtuam o que é, cobram:
-E se fosse seu filho, sua mãe, seu irmão?
Têm razão. Salvo psicopatas, sociopatas, ninguém quer perder ninguém, muito menos os próximos. Mas devolva-se a pergunta.
O Brasil tem 630 mil presos amontoados em cadeias e presídios superlotados – 40% deles são provisórios, sem julgamento e culpa formada. E tem chacinas.
E se fosse sua filha, seu pai, sua irmã?
Indiferença e silêncio diante da maioria das chacinas Brasil adentro. Salvo quando muito chocante. Ou, quando um “dos nossos”.
Não se bate uma panela pelos quase 60 mil homicídios/ano. Pelo 1,5 milhão de assassinados em 35 anos.
Mas, quando tanto parece caminhar rumo à barbárie, à escuridão, a arte ilumina, alerta.
Sobre o Carandiru, com composição de Gil, Caetano Veloso já disse tudo:
-(...) E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo diante da chacina
111 presos indefesos
Mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos
Ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres
E todos sabem como se tratam os pretos
(...) O Haiti é aqui. O Haiti não é aqui.
Não é, mas poderia, pode ser.
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