terça-feira, 4 de novembro de 2014

Xico Graziano, uma voz lúcida em meio à turbulência antidemocrática de muitos da direita

 

   Em seu status no Facebook, assim escreveu Xico Graziano, que foi um dos acessores da campanha de Aécio Neves:

"Mexi num vespeiro da política ao postar aqui, ontem, opinião contrária ao impeachment da Dilma. Julguei a causa antidemocrática, não republicana. Não gostei daqueles discursos irados, revanchistas e reacionários. Tomei um troco bravo. Recebi centenas de comentários, críticos a maioria, de baixo nível muitos deles. Vou aprofundar a polêmica. Sigam meu raciocínio.
"Existe no Brasil uma ideologia própria da direita que se encontra desamparada do sistema representativo, quer dizer, sem partido político. Sua força se mostra na rede da internet. Essa corrente luta para destruir o PT, acusando-o de querer implantar o comunismo por aqui.
Defendem as liberdades individuais, combatem tenazmente a corrupção organizada no poder, desprezam totalmente as lutas sociais, mostrando-se intolerante com o direito das minorias. O Deputado Bolsonaro e o ensaísta Olavo de Carvalho são seus expoentes.
"Tudo bem. Acontece que, no período das eleições presidenciais, essa tendência se articula no seio do PSDB, trazendo para nosso partido suas causas. É normal existirem as alianças eleitorais, e para tal existe o segundo turno. O problema surge quando os militantes da direita exigem que nós, os sociais democratas, encampemos sua ideologia, o que seria um absurdo.
"A intolerância mostrada em minha página do facebook reflete essa incompreensão. Criticam minha coerência, decepcionam-se com os meus valores imaginando que eu deveria assumir os deles. Pior, alguns tolamente me acusam de ser “petista infiltrado”. Dá até um pouco de dó (...)".

Segue, agora, o que discutiu a revista Carta Capital sobre este posicionamento llúcido de Graziano:

Política

Tucano critica pedido de impeachment de Dilma e é chamado de 'comunista'.


Ligado ao ex-presidente FHC, Xico Graziano chamou manifestação de "antidemocrática"

por Redação — publicado 03/11/2014 18:52, última modificação 03/11/2014 19:16

Coordenador digital de Aécio Neves durante a campanha presidencial, o ex-deputado federal do PSDB Xico Graziano foi atacado nas redes sociais nesta segunda-feira 3 após criticar um protesto a favor do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, que aconteceu no último sábado 1º na avenida Paulista, em São Paulo. Ligado ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Graziano disse que falar em impeachment contra a petista, após vitória nas urnas, é “absurdo” e “antidemocrático”. A opinião gerou polêmica e o tucano foi acusado de ser “comunista” e “petralha”.

Na primeira postagem, Graziano fez referência, inclusive, aos manifestantes que exibiram faixas pela “intervenção militar” no Brasil. “Achei absurda tal manifestação. Antidemocrática, não republicana. Ainda por cima, pedindo a volta dos militares, meu Deus, estou fora disso”, afirmou o tucano no Facebook.

O texto levou Graziano a ser duramente criticado por seus seguidores. “Pessoas como você mancham a social democracia e você é sim comunista”, disse uma das internautas na página do político. Outros acusaram o ex-deputado de ser “linha auxiliar do PT” e “esquerdopata”. “Agora sabemos por que Aécio perdeu. Ficou reféns de traíras como esse bestalhão do Xico Graziano. Afinal o senhor trabalha para quem? Para os petralhas certo?”, ironizou outro usuário da rede social.

Após a onda de críticas, Xico Graziano publicou um novo texto. “Mexi num vespeiro da política ao postar aqui, ontem, opinião contrária ao impeachment da Dilma. Julguei a causa antidemocrática, não republicana. Não gostei daqueles discursos irados, revanchistas e reacionários. Tomei um troco bravo. Recebi centenas de comentários, críticos a maioria, de baixo nível muitos deles”, afirmou antes de pedir que essas pessoas deixam o PSDB.

“Quem concordar com as teses dessa turma aguerrida que vê o comunismo chegando, é contra os benefícios sociais, sonha com a ordem militar, por favor, deixem o PSDB. Vocês é que estão no lugar errado, não eu”, enfatizou Xico Graziano. O tucano ainda disse que as pessoas que defendem ideias como as disseminadas no protesto do fim de semana têm como expoentes do deputado Bolsonaro e o ensaísta Olavo de Carvalho.

Leia o texto de Xico Graziano na íntegra:

"Mexi num vespeiro da política ao postar aqui, ontem, opinião contrária ao impeachment da Dilma. Julguei a causa antidemocrática, não republicana. Não gostei daqueles discursos irados, revanchistas e reacionários. Tomei um troco bravo. Recebi centenas de comentários, críticos a maioria, de baixo nível muitos deles. Vou aprofundar a polêmica. Sigam meu raciocínio.

Existe no Brasil uma ideologia própria da direita que se encontra desamparada do sistema representativo, quer dizer, sem partido político. Sua força se mostra na rede da internet. Essa corrente luta para destruir o PT, acusando-o de querer implantar o comunismo por aqui. Defendem as liberdades individuais, combatem tenazmente a corrupção organizada no poder, desprezam totalmente as lutas sociais, mostrando-se intolerante com o direito das minorias. O Deputado Bolsonaro e o ensaísta Olavo de Carvalho são seus expoentes.

Tudo bem. Acontece que, no período das eleições presidenciais, essa tendência se articula no seio do PSDB, trazendo para nosso partido suas causas. É normal existirem as alianças eleitorais, e para tal existe o segundo turno. O problema surge quando os militantes da direita exigem que nós, os sociais democratas, encampemos sua ideologia, o que seria um absurdo.

A intolerância mostrada em minha página do facebook reflete essa incompreensão. Criticam minha coerência, decepcionam-se com os meus valores imaginando que eu deveria assumir os deles. Pior, alguns tolamente me acusam de ser “petista infiltrado”. Dá até um pouco de dó.

Ora, nós, do PSDB, nascemos inspirados na socialdemocracia europeia, com viés da esquerda. Nossa origem reside no MDB autêntico, que foi decisivo na derrubada da ditadura militar. Nós fomos decisivos na Constituinte de 1988. Fomos nós, com FHC à frente, que criamos as bases socioeconômicas do Brasil atual, inclusive as políticas de transferência de renda e as cotas.

Na complexidade do mundo contemporâneo anda difícil rotular os partidos, e as pessoas, como de “direita” ou de “esquerda”, categorias válidas no século passado, mas ultrapassadas hoje em dia. De qualquer forma, quem concordar com as teses dessa turma aguerrida que vê o comunismo chegando, é contra os benefícios sociais, sonha com a ordem militar, por favor, deixem o PSDB. Vocês é que estão no lugar errado, não eu!"

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