domingo, 5 de junho de 2011

Oração de um Ateu - de Miguel de Unamuno



Nas ânsias de busca de sentido à existência, a presença da busca da transcendência de toda a humanidade, ânsia que existe mesmo entre os céticos, como nesta oração do filósofo espanhol Miguel de Unamuno:

Ouve meus rogos Tu, Deus que não existes,
e em Teu nada recolhe estes meus lamentos!

Tu, que aos pobres homens nunca deixas
sem consolo de engano. Não resistes
ao nosso rogo, e o nosso anelo viste.

Quando mais Te afastas de minha mente;
mas recordo os doces conselhos
com que minh’alma acalentou certa vez noites tão tristes.

Quão grande és, meu Deus! Tu és tão grande,
que não és mais senão Idéia; é muito estreita
a realidade por muito que se expande
para abarcar-Te.

Sofro eu por Tua causa,
Deus não existente, pois se tu fosses de fato realidade,
também eu existiria de verdade.

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