sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Estudo coordenado pela USP aponta que médiuns têm alterações genéticas que poderiam permitir perceber aspectos da realidade que pessoas comuns não conseguem

 

"(...) Essas características, segundo o estudo, podem permitir que essas pessoas percebam aspectos da realidade que a maioria das pessoas não percebe. A pesquisa foi publicada pela revista Brazilian Journal of Psychiatry."

Do ICL Notícias:



Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal de Juiz de Fora e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul aponta que os médiuns têm alterações genéticas. Essas características, segundo o estudo, podem permitir que essas pessoas percebam aspectos da realidade que a maioria das pessoas não percebe. A pesquisa foi publicada pela revista Brazilian Journal of Psychiatry.

Realizado entre 2020 e 2021, o estudo comparou 54 pessoas identificadas como médiuns com 53 parentes de primeiro grau delas, sem nenhuma habilidade do tipo. A maioria dos médiuns eram adeptos da Umbanda ou do Espiritismo e atuam há mais de dez anos.

Em um questionário da pesquisa, 92,7% dos participantes reconheceram falar sob a influência de espíritos, 70,9% disseram se comunicar por escrito. Outros 52,7% disseram ter visto espíritos; 50,9%, ter entrado em incorporação; 47,3%, ter tido experiência fora do corpo.

“O estudo desvendou alguns genes que estão presentes em médiuns, mas não em pessoas que não o são e têm o mesmo background cultural, nutritivo e religioso. Isso significa que alguns desses genes poderiam estar ligados ao dom da mediunidade”, diz o coordenador da pesquisa, Wagner Farid Gattaz, professor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

médium umbanda estudo

Resultados da pesquisa revelaram quase 16 mil variantes genéticas encontradas exclusivamente em médiuns

O estudo e a glândula pineal

Os resultados da pesquisa revelaram quase 16 mil variantes genéticas encontradas exclusivamente em médiuns. De acordo com o estudo, essas variantes provavelmente impactam a função de 7.269 genes.

“Esses genes estão em grande parte ligados ao sistema imune e inflamatório. Um deles, de maneira interessante, está ligado à glândula pineal, que foi tida por muitos filósofos e pesquisadores do passado como a glândula responsável pela conexão entre o cérebro e a mente”, afirma o coordenador da pesquisa.

Os pesquisadores analisaram também o exoma dos voluntários, um conjunto total de genes codificadores das proteínas no corpo humano.

Inicialmente, foram encontradas diferenças entre os genes dos 54 médiuns e seus 53 parentes de primeiro grau que não apresentavam o dom da mediunidade. Após a análise desse grupo, foi feita uma comparação entre os genes dos 54 e outros 12 médiuns independentes, ou seja, que não faziam parte do grupo de controle da pesquisa.

Em 11 dos 12 indivíduos foram encontrados os mesmos genes mutáveis do grupo principal, representando 1.574 mutações de 834 genes. A análise também foi feita em um par composto por gêmeos idênticos médiuns. Neste caso, foram encontradas 434 mutações identificadas em 230 genes. Um irmão deles que não é médium também foi analisado e as mutações não foram encontradas.

Coautor do estudo e diretor do Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde (Nupes), da Universidade Federal de Juiz de Fora, o médico psiquiatra Alexander Moreira-Almeida justifica a opção por contrastar os médiuns com seus familiares durante a pesquisa. “Se eu pegasse um grupo de controle que fosse uma outra pessoa qualquer, aleatória, poderia ter muita diferença sociocultural, econômica e também da própria genética. Quando a gente pega um parente, vai ter uma genética muito mais parecida e um background sociocultural muito mais próximo”, explica.

O Papa Francisco e a esperança, por Dora Incontri

 

Ele trouxe a esperança de renovação religiosa e política, com seu exemplo, com suas ideias e com sua forma única de exercer o papado.



O Papa Francisco e a esperança

por Dora Incontri

Não quero de forma alguma caracterizar esse texto como um tributo que anuncia a morte de uma grande liderança mundial, o Papa Francisco, que de fato apresenta por esses dias um estado delicado de saúde. Ele está internado com pneumonia dupla. Quero, queremos muitos, que consiga superar esse momento, porque precisamos de sua presença no mundo.

É que estou quase terminando a leitura de seu livro Esperança, a autobiografia. Minha apreciação já começa com o título peculiar. Significativo que o subtítulo é a autobiografia, como se sua vida fosse uma nota de rodapé, submetida ao compromisso da esperança, um ensaio constante de esperançar – para usar um verbo caro a Paulo Freire.

É verdade que a vida de Giorgio Bergoglio trouxe por si mesma a esperança de renovação religiosa e política, com seu exemplo, com suas ideias e finalmente com sua forma única, simples e transformadora de exercer o papado. Lembremos que a instituição do papado levou à divisão da Igreja do Ocidente e do Oriente, provocou a ruptura da Reforma protestante e representou ao longo da história um lugar de poder desmedido, de imposições e perseguições, de corrupção e luxúria. O anarquista e espírita Maurice Lachâtre se deu ao trabalho, no século XIX, de escrever milhares de páginas de horrores em seu livro Crimes e história dos Papas.

No início deste século XXI, a Igreja tinha atravessado o retrocesso de Papas conservadores (João Paulo II e Bento XVI), quando surge a figura leve, aberta, amorosa e simples do Papa Francisco, um papa que transpôs os limites da Igreja Católica, para ser amado e admirado por pessoas de outras religiões ou mesmo sem religião. Prova disso é que estou aqui escrevendo esse texto em sua homenagem, sendo espírita kardecista, e, portanto, completamente desconectada da tradição do papado.

Giorgio chegou ao Vaticano e já evocou o que houve de mais luminoso e autenticamente cristão em toda a história da Igreja Católica: Francisco de Assis. Sendo jesuíta, mas tendo adotado o nome de Papa Francisco, (pela primeira vez na história da Igreja) já anunciava que seu compromisso seria de despojamento, de renúncia ao culto pessoal, de conexão com a natureza, de compaixão para com todos os excluídos e de disposição de diálogo com religiosos de todos os matizes e não religiosos de todos os rincões.

Começou por abolir os rituais de submissão pessoal: beija-mão, ajoelhar-se diante dele, tapete vermelho, vestimenta de púrpura, assento em trono, moradia em palácio.… Simplificou tudo, despojou-se de formalismos, como convém a alguém que esteja inspirado pelo exemplo de Francisco de Assis.

Depois, partiu para o diálogo com o mundo. Abriu-se para lideranças religiosas e políticas de todo o planeta, procurando estabelecer vínculos fraternos, cheios de respeito e proposta de cooperação universal, para salvar a Terra, para acabar com a guerra, para proteger os vulneráveis.

A sua história de vida, tão saborosamente retratada nesta Autobiografia, explica muito de sua postura humana e humanista. É de uma família de imigrantes italianos, por todos os lados (aliás como a minha, e essa ressonância produz intensas emoções nesta leitura). As circunstâncias da imigração e as lutas intensas semelhantes na Argentina e no Brasil, nas primeiras décadas do século XX deixaram nele marcas profundas. O interessante que, ao contrário de muitos italianos que já estavam radicados por aqui quando da ascensão do fascismo e, de longe, aderiram entusiasticamente ao Duce, a família de Bergoglio saiu da Itália em oposição a essa tomada de poder pela extrema direita. O menino foi criado de maneira simples, pobre, num catolicismo popular, mas com espírito crítico. Essa sua ascendência fez dele um defensor engajado dos refugiados, dos imigrantes, dos que enfrentam a fuga das guerras, da fome, das violências políticas, com tanta resistência de acolhimento por parte dos países mais ricos.

O que transparece na obra toda em que narra a sua vida é a profunda conexão com o mundo e seus problemas, com o momento histórico e suas tragédias globais. Isso vem também de sua inserção cultural. Leitor de boa literatura, amante da música, ligado ao cinema de arte – ou seja, uma erudição que não é apenas teológica, fechada em fontes religiosas – mostra que a arte é transformadora e formadora de pessoas engajadas no mundo.

Suas duas encíclicas, diretamente inspiradas em Francisco de Assis, Laudato si’ (2015) e Frattelli Tutti (2020) são obras-primas de defesa da vida, da natureza, de todos os povos e pessoas excluídas e marginalizadas. São apelos ao cuidado com o planeta e ao cuidado com o outro. E já no início da Frattelli Tutti, o Papa alude ao seu diálogo com uma liderança muçulmana, o Imã Ahmad Al-Tayyeb, lembrando da visita que Francisco de Assis fez ao Sultão Malik-al-Kamil, no Egito, em plena vigência das Cruzadas.

A sua atitude de abertura não se manifestou, nestes anos todos, apenas em relação ao diálogo com o outro, mas nas reformas que conseguiu implementar dentro da própria Igreja. Herdeiro da Teologia da Libertação, como bom latino-americano, que enfrentou na Argentina os horrores da ditadura militar, soube trazer temas absolutamente urgentes: o acolhimento aos homossexuais, o combate ao abuso sexual dentro da Igreja, a maior inserção das mulheres – isso tudo apesar da resistência brutal que tem enfrentado dos mais conservadores e dos fundamentalistas, que não faltam em qualquer religião nos dias de hoje.

Mas Francisco afirma em seu livro: “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e suja por ter saído pelas ruas a uma Igreja asfixiada e doente pela clausura e pela conveniência de se agarrar às próprias certezas”.

Esperemos que suas sementes frutifiquem, que venham outros papas que continuem a sua obra, quando ele se for, e que não assistamos a retrocessos tristes, em consonância com os retrocessos mundiais.

Dora Incontri – Graduada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Mestre e doutora em História e Filosofia da Educação pela USP (Universidade de São Paulo). Pós-doutora em Filosofia da Educação pela USP. Coordenadora geral da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita e do Pampédia Educação. Diretora da Editora Comenius. Coordena a Universidade Livre Pamédia. Mais de trinta livros publicados com o tema de educação, espiritualidade, filosofia e espiritismo, pela Editora Comenius, Ática, Scipione, entre outros.


Agro cobrava golpe e Bolsonaro mantinha “a chama acesa”, diz Mauro Cid a Moraes

 

“Ele (Bolsonaro) tinha esperança até o último momento. Dizia: 'O papai do céu sempre ajudou a gente'. Eu acho que era o que se passava na cabeça dele"

Do Jornal GGN:

                                                     Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil


Os vídeos da delação do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, tornados públicos nesta quinta-feira (20/02), revelam que o ex-presidente manteve até os últimos momentos a “chama acesa” na esperança de que as Forças Armadas agissem para impedir a posse de Lula, democraticamente eleito em 2022.

“O papai do céu sempre ajudou a gente. Vamos ver o que aparece aí”, disse Cid, parafraseando Bolsonaro, que vislumbrava encontrar algo para descredibilizar o sistema eleitoral brasileiro.

Os vídeos foram disponibilizados pelo Supremo Tribunal Federal um dia após a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Bolsonaro e aliados por tentativa de golpe de Estado, organização criminosa e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

A intenção de Jair Bolsonaro era manter a pressão popular, na esperança de que alguma evidência contra o resultado das urnas surgisse para convencer os militares a agir. “Ele tinha esperança até o último momento, até que um dia falou: ‘O papai do céu sempre ajudou a gente. Vamos ver o que aparece aí’ […] Então, eu acho que era o que passava na cabeça do presidente”, relatou Cid.

A permanência de manifestantes em frente aos quartéis é um exemplo dessa estratégia passiva para não levantar suspeitas, revelou Cid. “Bolsonaro não convocou, mas também nunca mandou o povo para casa”, disse. “Esse foi um dos motivos pelos quais Bolsonaro não desmobilizou o povo nas ruas”.

“O então presidente sempre dava esperanças de que algo fosse acontecer, para convencer as Forças Armadas a concretizarem o golpe”, concluiu Moraes, ao ouvir as explicações de Mauro Cid.

A esperança de um golpe, no entanto, foi esmorecendo entre os próprios militares. Segundo o depoimento, “depois do Natal, já estava morto qualquer coisa que poderia acontecer”. O último suspiro teria sido um vídeo do general Walter Braga Netto, gravado diante de manifestantes, no qual dizia: “Não desistam, ainda vai ter surpresa”.

Mauro Cid revelou essas informações sobre a “chama acesa” após ser questionado pelo ministro Alexandre de Moraes sobre os financiadores do movimento golpista, que cobravam a realização de um “churrasco” — codinome para o golpe — por terem contribuído com “a carne”.

Os financiadores do golpe e a cobrança pelo “churrasco”

A troca de mensagens que revelou essa cobrança ocorreu entre Cid e Aparecido Andrade Portela, suplente da senadora e ex-ministra do governo Bolsonaro, Tereza Cristina (PP-MS). Já dentro do governo, o principal elo com o agronegócio — um dos setores centrais no financiamento das articulações golpistas — era o general Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro.

 “‘O pessoal que colaborou com a carne está me cobrando se vai ser feito mesmo o churrasco’. Cid responde: ‘Vai sim, ponto de honra’“. A troca de mensagens fazia referência direta a esses financiadores, que não apenas custearam a alimentação dos manifestantes, mas também forneceram logística e infraestrutura para manter os acampamentos em frente aos quartéis.

“O pessoal do agro, não vendo nada acontecer, cobrava. Eles queriam, eles achavam que ia acontecer alguma coisa. Estavam naquele, ‘é hoje. Hoje vai acontecer’. Então, eles estavam nessa angústia de esperar que fosse dado o golpe, que o presidente assinasse um decreto e as Forças Armadas começassem a fazer alguma coisa. Era o que acontecia, ainda mais nesse período, que foi um período em que eles começaram a ir para frente do Alvorada, né?”.

Diante das evidências, Moraes confrontou Cid sobre o significado da mensagem:

Moraes: “Ele [Portela] pergunta: vai ser feito mesmo o churrasco? O que seria? O golpe? O que eu quero entender melhor é a sua resposta. O senhor disse: ‘vai sim, ponto de honra’. O que o senhor quis dizer com isso?”, disse Moraes, que depois reiterou a pergunta “Obviamente, não era a picanha que não estava acabada, não é, coronel?“.
Cid: “Ministro, eu acho que o contexto foi, que era que o presidente ainda mantinha a chama acesa, que pudesse acontecer alguma coisa.”
Moraes: “O senhor mantinha a chama acesa? O senhor acreditava que dava para dar o golpe até o último minuto?”
Cid: ”Não, senhor”.

Em um dos momentos que discutiam as articulações golpistas no final de 2022, no entanto, para blindar Bolsonaro, Cid afirmou que o general Walter Braga Netto ordenou que ele fosse retirado de uma reunião em que o tema ganhava contornos mais concretos.

“Não, o Cid não pode participar, tira o Cid porque ele está muito próximo a Bolsonaro”, teria dito Braga Netto.

Com a recente denúncia da PGR contra Bolsonaro e outros investigados pela Polícia Federal por tentativa de golpe, a delação de Mauro Cid reforça o papel do ex-presidente como instigador na intentona golpista, ainda que não tenha formalmente ordenado uma intervenção. “Bolsonaro não convocou, mas também nunca mandou o povo para casa”, delatou Cid.

Reinaldo Azevedo: Acusação contra Alexandre em depoimento de Cid é ignorância ou má-fé; advogado que recorra

 

Da Rádio BandNews FM:




Do Portal do José: TREMEU! BOLSONARO DESESPERADO FAZ "AMEAÇA ESTOMACAL"! "JURISTAS": ANULAR DELAÇÃO? O INÚTIL NA CADEIA

 

Do Portal do José:

MAIS UMA VEZ O DESESPERO ESTÁ BATENDO Á PORTA! BOLSONARO FAZ AMEAÇAS ESCATOLÓGICAS! É O QUE RESTA! "JURISTAS" QUEREM ANULAÇÃO DA DELAÇÃO! NÃO IRÃO CONSEGUIR. SIGAMOS



UOL: Mauro Cid citou pressão do criminosa do agronegócio por golpe pró-Bolsonaro: 'Vocês não vão virar a mesa?'

 Do UOL:

Assista ao trecho do depoimento da delação premiada de Mauro Cid em audiência com o ministro Alexandre de Moraes e o procurador-geral da República, Paulo Gonet.



quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Manipular, vigiar e matar: o papel dos militares “kids pretos” no golpe

 


Do site A Pública:

Para PGR, militares das Forças Especiais cuidavam do ‘trabalho sujo’ incluindo sequestrar e matar Lula, Alckmin e Moraes

                                                            Foto: divulgação do Exército

Reportagem de Caio de Freitas

O manual de campanha de Operações Especiais do Exército define os “kids pretos” como oficiais preparados para atuar em “missões de alto risco”, com “dificuldade de coordenação e apoio”, aptos a se infiltrar em “ambientes hostis” visando “alvos de valor significativo”. Apresentada nesta quarta, 18 de fevereiro, a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) no caso da tentativa de golpe ilustra fielmente como os “kids pretos” atuam na prática.

Na trama, pelo menos 12 militares formados em Forças Especiais – incluindo um ex-comandante dos “kids pretos” – fariam o ‘trabalho sujo’ do golpe, com missões para sequestrar e matar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, o presidente e o vice-presidente da República então eleitos, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSB).

Os “kids pretos” também tinham a função de conduzir operações de manipulação contra membros do Alto Comando do Exército, para que aderissem ao golpe.

        Mauro Cid revelou à PF que militares tentaram criar caos para justificar um estado de sítio após as eleições de 2022

Um trecho da delação do tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e peça central na trama golpista, revela aspectos típicos da doutrina das Forças Especiais no caso.

Segundo Cid, dois tenente-coronéis lotados no Comando de Operações Especiais o procuraram durante a crise após as eleições em 2022, afirmando que “algo precisaria ser feito para que causassem um caos” e, com isso, forçariam “a decretação do estado de defesa ou estado de sítio”.

    PGR aponta que Bolsonaro recebeu plano golpista de “kids pretos” para sequestrar e matar autoridades antes da posse

Na denúncia, a PGR lembra que os “kids pretos” são treinados para dominarem “táticas de operações em missões de inteligência, exploração e reconhecimento de comunicações clandestinas, operações em conflitos armados não convencionais”, além de “infiltração em território inimigo” e “manejo de crises em ambientes hostis”.

“As técnicas das Forças Especiais eram utilizadas pela organização criminosa não apenas no contato com os movimentos populares [acampamentos golpistas], mas especialmente no desenho das estratégias de ruptura institucional”, relata ainda o procurador-geral da República, Paulo Gonet, na denúncia apresentada ao STF.


Os “kids pretos” centrais na trama do golpe

Base da denúncia da PGR, as investigações da Polícia Federal (PF) destacam três “kids pretos” como figuras centrais na trama: o general e ex-membro do Alto Comando do Exército Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, à época comandante de Operações Terrestres da Força, o general da reserva Mário Fernandes e o tenente-coronel Mauro Cid.

Preso preventivamente desde novembro de 2024, após a operação Contragolpe, da PF, o general da reserva Mário Fernandes trabalhou no Palácio do Planalto como secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência desde julho de 2021 até o fim do governo Bolsonaro. O general, aliás, foi o responsável por designar quem acompanharia Bolsonaro em sua ‘fuga’ para Miami (EUA) antes da posse de Lula ainda em dezembro de 2022, como mostra o Diário Oficial da União.

Homem de confiança do general da reserva e também “kid preto” Luiz Eduardo Ramos, ele comandou o 1º Batalhão de Forças Especiais do Exército – uma das unidades dos “kids pretos”, em Goiânia (GO) – por quase três anos, entre julho de 2008 e junho de 2011.

General Mário Fernandes, preso desde 2024, teria coordenado operações para monitorar e eliminar opositores do golpe

Não à toa, segundo a investigação da PF, o general Fernandes coordenava “ações de monitoramento e neutralização [assassinato] de autoridades públicas, em conjunto com Marcelo Costa Câmara [coronel da reserva do Exército e também “kid preto”], além de realizar a interlocução com as lideranças populares” ligadas ao fatídico dia 8 de janeiro de 2023.

Segundo a PGR, Fernandes elaborou o plano “Punhal Verde Amarelo”, que visava assassinar Lula e Alckmin antes da posse, e o apresentou ao ex-presidente Bolsonaro. A denúncia aponta ainda que o general Fernandes trabalhou diretamente na operação “Copa 2022”, um plano de monitoramento clandestino para a “neutralização” (assassinato) do ministro do STF Alexandre de Moraes.

O plano “Punhal Verde Amarelo” previa o assassinato de Lula e Alckmin antes da posse, segundo denúncia da PGR

Segundo a PGR, Fernandes teria discutido a operação clandestina com os tenente-coronéis Hélio Ferreira de Lima, Mauro Cid e Rafael Martins de Oliveira, todos “kids pretos”, na residência do general da reserva Walter Braga Netto – tido como um dos arquitetos da trama golpista.

Evidências colhidas pela PF reforçam o papel de Fernandes na operação “Copa 2022”, pois ele teria elencado a necessidade de compra de seis aparelhos celulares anônimos para serem usados no plano – o que de fato aconteceu, segundo as investigações. 

O general Fernandes também atuou como elo entre os golpistas no governo Bolsonaro e os acampados em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília (DF), com diversos diálogos com lideranças bolsonaristas recuperados pela PF durante a investigação.

O material apresentado pela PF contém ainda registros de visitas presenciais de Fernandes no acampamento, com suspeita de envolvimento na elaboração de cartazes e panfletos usados para manter os acampados mobilizados no local. São, afinal, exemplos de técnicas ensinadas às Forças Especiais do Exército, por vezes enquadradas como Operações Psicológicas pelos militares.

O general Theophilo era outra peça fundamental da trama. De acordo com a denúncia da PGR, o militar membro do Alto Comando do Exército teria aceitado “coordenar o emprego das forças terrestres conforme as diretrizes do grupo” golpista. Theophilo era o comandante de Operações Terrestres do Exército (COTER), em Goiânia – unidade a qual o Comando de Operações Especiais é diretamente vinculado, para eventual uso da tropa.

“O COTER era, portanto, órgão relevante para a implementação do plano golpista, especialmente na execução de ações sensíveis, como a da prisão do Ministro Alexandre de Moraes”, afirma o procurador-geral Paulo Gonet, na denúncia enviada ao STF.

Com base na delação de Mauro Cid e em mensagens recuperadas de seu telefone, a PGR aponta que o general Theophilo “se comprometera a executar as medidas necessárias para a consumação da ruptura institucional”, contanto que o ex-presidente Bolsonaro assinasse um decreto – que tornaria possível o golpe de Estado.

Ainda de acordo com a denúncia, o aceite do general Theophilo teria ocorrido sem aviso ao então comandante do Exército, o general Marco Antônio Freire Gomes, outro “kid preto”, durante uma reunião do então comandante do COTER com Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada, no dia 9 de dezembro de 2022. Em seu depoimento, o general Freire Gomes admitiu ter ficado “desconfortável com o episódio, por desconhecer o teor da convocação [do general Theophilo pelo ex-presidente]”.

General Theophilo aceitou coordenar o uso das Forças Armadas no golpe, sem avisar o então comandante do Exército

Para a PGR, “o ‘desconforto’ relatado por Freire Gomes se devia ao fato de que o General Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira possuía grande prestígio no meio militar”, e “seu apoio ao plano de ruptura institucional significava, àquela altura, a possibilidade de consumação do golpe de Estado”.

Mauro Cid e a turma golpista de 2000

Parte dos “kids pretos” denunciados entrou na trama graças a sua relação com o tenente-coronel Mauro Cid.

O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro concluiu seus estudos na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) em 2000, junto com os tenente-coronéis Guilherme Marques de Almeida, Hélio Ferreira de Lima, Ronald Ferreira de Araújo e Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros – todos denunciados na última quarta (18).

Mauro Cid foi um dos organizadores de uma reunião clandestina de ex-“kids pretos” em Brasília, na noite de 28 de novembro de 2022. Para a PGR, a ocasião demonstra uma das responsabilidades dos militares das Forças Especiais no caso: usar técnicas de influência e persuasão contra a cúpula do Exército em prol do golpe.

Coronel Correa Neto participou de reunião clandestina com Mauro Cid para influenciar o Alto Comando do Exército

Junto ao coronel Bernardo Romão Correa Neto, outro de seus amigos nos tempos de AMAN, Cid planejou o encontro com oficiais-assessores dos membros do Alto Comando do Exército, para discutirem como influenciar seus chefes a aderirem ao plano. Para a PGR, a reunião ocorreu na mesma época em que um decreto para consumar o golpe estava sendo elaborado.

Cid e Correa Neto se uniram ao então coronel, hoje general de divisão Nilton Diniz Rodrigues – mais um “kid preto” – para “reunir alguns FE [Forças Especiais] em funções chaves para termos uma conversa sobre como podemos influenciar nossos chefes” – segundo conversas entre eles recuperadas pelos investigadores da PF.

Conversas indicam que Diniz e Cid tentaram pressionar o Alto Comando do Exército a aderir ao plano golpista

“Os diálogos confirmam a ideia de reunir exclusivamente militares com formação em Forças Especiais que poderiam, de algum modo, influenciar seus comandantes, valendo-se também dos seus conhecimentos táticos especializados”, aponta o procurador-geral da República, Paulo Gonet, na denúncia apresentada ao STF.

Dois dias antes do encontro, Cid lidou com outros oficiais do Exército para articular a redação de uma carta direcionada ao Alto Comando, justamente para pressionar os militares a aderir ao golpe.

As investigações apontam que o documento foi concluído após a reunião clandestina dos assessores militares “kids pretos” em 28 de novembro de 2022 – algo que a defesa dos acusados tem negado desde a apresentação do relatório final da PF sobre o caso, em novembro passado.



CNN: Delação de Mauro Cid expõe trama de Bolsonaro e aliados

 Da CNN Brasil:

A delação do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), o tenente-coronel Mauro Cid, teve o sigilo derrubado pelo STF e expôs os planos do ex-presidente e seus aliados. Entre outros pontos, Cid contou como membros família da Bolsonaro se posicionaram sobre a tentativa de golpe. #CNNBrasil



quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

BOLSONARO É DENUNCIADO COMO CHEFE DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA GOLPISTA - ICL NOTÍCIAS 1ª EDIÇÃO AO VIVO

 

Do Canal ICL Notícias:




Reinaldo azevedo: Denúncia impecável de Gonet contra Bolsonaro permite até 43 anos de cana aos fascistas golpistas

 

 

Da Rádio BandNews FM:




Golpe de 8 de janeiro era a última esperança da organização criminosa liderada por Bolsonaro, diz PGR

 

A denúncia da PGR contra Bolsonaro e sua organização criminosa reforça derrota da trama golpista-fascista da extrema direita

                                8 de janeiro (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)



247 - A Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentou, nesta segunda-feira (18), uma denúncia formal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros 33 aliados, acusando-os de compor uma organização criminosa com o objetivo de desestabilizar o Estado Democrático de Direito e instaurar um regime ditatorial no Brasil.

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirmou que os atos de 8 de janeiro de 2023 representaram a "última esperança" do grupo para concretizar seus planos golpistas, numa tentativa de reverter os resultados da eleição presidencial de 2022, vencida por Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com a PGR, os acusados incitaram e organizaram manifestações antidemocráticas, incluindo bloqueios de rodovias e acampamentos em frente a unidades militares, onde exigiam intervenção das Forças Armadas, ressalta reportagem do jornal Valor Econômico.

A denúncia ainda aponta que Bolsonaro tinha conhecimento de planos para eliminar o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Esses planos, segundo as investigações, estavam inseridos na chamada "Operação Punhal Verde Amarelo", que buscava desestabilizar as instituições e facilitar a tomada de poder por meios ilegais.

A denúncia da PGR representa um passo significativo na consolidação da democracia brasileira, demonstrando que tentativas de ruptura institucional não ficarão impunes. Com o caso agora sob análise do STF, o Brasil reforça seu compromisso com a justiça e com os princípios democráticos, evidenciando a derrota contundente de um projeto autoritário que ameaçava a estabilidade do país.

Da Folhapress e ICL: Denúncia da PGR sobre trama golpista atinge 23 militares, incluindo 7 generais

 

 

Estão entre os denunciados os ex-comandantes da Marinha, Almir Garnier, e do Exército, Paulo Sérgio Nogueira, além de generais quatro estrelas do topo do Exército, como Augusto Heleno, Braga Netto e Estevam Theophilo.

POLÍTICA

Denúncia da PGR sobre trama golpista atinge 23 militares, incluindo 7 generais

Por Cézar Feitoza



(Folhapress) – A denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) pela trama golpista liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) atinge 23 militares das Forças Armadas -incluindo sete oficiais-generais e ex-comandantes.

Estão entre os denunciados os ex-comandantes da Marinha, Almir Garnier, e do Exército, Paulo Sérgio Nogueira, além de generais quatro estrelas do topo do Exército, como Augusto Heleno, Braga Netto e Estevam Theophilo.

Apesar do envolvimento de militares de altas patentes, o procurador-geral Paulo Gonet afirmou que o Exército foi “vítima” da trama golpista.

“É de ser observado que o próprio Exército foi vítima da conspirata. A sua participação no golpe foi objeto de constante procura e provocação por parte dos denunciados. Os oficiais generais que resistiram às instâncias dos sediciosos sofreram sistemática e insidiosa campanha pública de ataques pessoais, que foram dirigidos até mesmo a familiares”, diz Gonet na denúncia.

Confira a lista dos militares denunciados.

Capitão reformado Ailton Gonçalves Moraes Barros
É denunciado pela PGR como um dos responsáveis pela estratégia de desinformação sobre o processo eleitoral. É ainda umas das pessoas que pressionavam os chefes das Forças Armadas a aderir ao golpe.

Almirante da reserva Almir Garnier Santos
Comandante da Marinha no fim do governo Bolsonaro, é denunciado por supostamente apoiar as conspirações e colocar à disposição tropas para o golpe de Estado.

Major da reserva Angelo Martins Denicoli
É apontado pela PGR como um dos integrantes do grupo que espalhava desinformação sobre o processo eleitoral.

General da reserva Augusto Heleno Ribeiro Pereira
Ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), é denunciado pelo “direcionamento estratégico” da organização criminosa. Heleno é citado como um dos conselheiros de Bolsonaro na trama golpista.

Coronel Bernardo Romão Correa Netto
É citado pela PGR como um dos militares da ativa responsáveis por promover ações táticas para convencer e pressionar o Alto Comando do Exército a apoiar o golpe de Estado.

Coronel Cleverson Ney Magalhães
Ex-assistente do general Estevam Theophilo, teria participado de discussões sobre a adesão militar ao golpe.

General da reserva Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira
Era chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército no fim de 2022. Segundo a PGR, teria anuído com o golpe de Estado.

Coronel Fabrício Moreira de Bastos
É denunciado pela PF por supostamente fazer parte de um grupo que tentava incitar o Alto Comando do Exército a aderir aos planos golpistas.

Subtenente Giancarlo Gomes Rodrigues
Integrava a Abin paralela, segundo a PGR, realizando monitoramento de opositores políticos de Bolsonaro pelo sistema FirstMile.

Tenente-coronel Guilherme Marques de Almeida
É apontado pela PGR como um dos membros do grupo que espalhava desinformação sobre as urnas eletrônicas.

Tenente-coronel Hélio Ferreira Lima
Segundo a PGR, o militar liderou ações de campo para monitorar e neutralizar autoridades públicas.

Capitão reformado Jair Messias Bolsonaro
Ex-presidente da República, é denunciado como líder da organização criminosa que planejou um golpe de Estado após a sua derrota para Lula (PT) na disputa presidencial de 2022.

Coronel da reserva Marcelo Costa Câmara
É citado na denúncia como um dos líderes do monitoramento de autoridades públicas no âmbito da trama golpista.

General da reserva Mario Fernandes
É apontado como o autor do plano para matar Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes. Também fez pressão para o ex-comandante do Exército apoiar os planos golpistas e aconselhou Bolsonaro nas conspirações.

Mauro Cid: enrolado

Tenente-coronel Mauro Cid

Tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid
É apontado como membro do núcleo crucial da organização criminosa, atuando como porta-voz de Bolsonaro. Pode ter as penas reduzidas, em eventual condenação, por ter assinado acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal.

General Nilton Diniz Rodrigues
Era assistente do então comandante do Exército, general Freire Gomes. Com apenas três citações na denúncia, ele é apontado como um dos militares que tentavam convencer o Alto Comando do Exército a dar um golpe de Estado.

General da reserva Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira
Ex-ministro da Defesa e ex-comandante do Exército, é apontado como um dos líderes militares que apoiaram as conspirações contra Lula. O general ainda pressionou, segundo a PGR, os chefes das Forças Armadas a aderir aos planos golpistas.

Tenente-coronel Rafael Martins de Oliveira
É apontado como um dos responsáveis pelo monitoramento do ministro do STF Alexandre de Moraes e líder do grupo que teria tentado matar autoridades no fim de 2022.

Coronel da reserva Reginaldo Vieira de Abreu
Segundo a denúncia, o militar tentou manipular o relatório das Forças Armadas sobre as urnas eletrônicas, com informações falsas.

Tenente-coronel Rodrigo Bezerra de Azevedo
É um dos militares que teriam planejado o assassinato do ministro Alexandre de Moraes, segundo a denúncia.

Tenente-coronel Ronald Ferreira de Araujo Junior
Teria participado de conversas sobre investidas golpistas para pressionar o Alto Comando do Exército a favor do golpe de Estado.

Tenente-coronel Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros
Teria disseminado informações falsas sobre o sistema eleitoral e participado de discussões para estimular apoio militar ao golpe.

General da reserva Walter Souza Braga Netto
É citado pela PGR como um dos integrantes do alto escalão do governo Bolsonaro que integrava o núcleo crucial da organização criminosa que planejou o golpe de Estado. Um dos responsáveis por pressionar os chefes militares contrários às conspirações.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Juliana Dal Piva e Igor Mello: PGR denuncia Bolsonaro por tentativa real de golpe

 

Colunistas ICL

PGR denuncia Bolsonaro por tentativa de golpe

O documento é baseado no relatório final da Polícia Federal, que já tinha indiciado o ex-presidente



Juliana Dal Piva e Igor Mello

A Procuradoria-Geral da República denunciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao STF (Supremo Tribunal Federal) por integrar uma organização criminosa que liderou uma tentativa de golpe de Estado no Brasil após a sua derrota nas eleições de 2022.

O documento é baseado no relatório final da Polícia Federal, que já tinha indiciado o ex-presidente. Agora, o STF (Supremo Tribunal Federal) analisará o documento na Primeira Turma e decidirá se instaura um processo criminal contra Bolsonaro e os demais acusados. Avalia-se que apenas a abertura do processo se dará na Primeira Turma, onde está o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso. A expectativa é que o julgamento do mérito, ainda esse ano, ocorra no Plenário do STF com todos os ministros.

A PGR decidiu denunciar todos os envolvidos apontados pela PF na tentativa de golpe, mas optou por separar as denúncias contra os envolvidos a partir de núcleos de atuação.

Bolsonaro e generais em ‘núcleo crucial’ do golpe

Bolsonaro é arrolado na principal denúncia, ao lado do general Walter Braga Netto –ministro em seu governo e vice na chapa derrotada na eleição de 2022. Também figuram no grupo os ex-ministros  Augusto Heleno (GSI), Paulo Sérgio Nogueira (Defesa) e Anderson Torres (Justiça), assim como o almirante Almir Garnier, comandante da Marinha no governo Bolsonaro, e o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que chefiou a Abin (Agência Brasileira de Inteligência).

De acordo com a peça da PGR, Bolsonaro e os demais citados “formaram o núcleo crucial da organização criminosa”. Ainda segundo a PGR, “deles partiram as principais decisões e ações com impacto social” narradas na denúncia.

Ao todo, a PGR lista 34 pessoas como integrantes da organização criminosa montada por Bolsonaro para dar um golpe de Estado no Brasil.

A PGR elaborou uma introdução comum para todas as denúncias, destacando a gravidade dos fatos narrados. De acordo com os investigadores, as denúncias “relatam fatos protagonizados por um Presidente da República que forma com outros personagens civis e militares organização criminosa estruturada para impedir que o resultado da vontade popular expressa nas eleições presidenciais de 2022 fosse cumprida, implicando a continuidade no Poder sem o assentimento regular do sufrágio universal”.

PGR: Bolsonaro consentiu plano para matar Lula

A PGR afirma ainda que Jair Bolsonaro não só tomou conhecimento, como deu anuência ao plano conhecido como Punhal Verde Amarelo, no qual militares ligados às forças especiais –os chamados kids pretos– planejaram o assassinato do presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do STF.

“O plano foi arquitetado e levado ao conhecimento do Presidente da República, que a ele anuiu, ao tempo em que era divulgado relatório em que o Ministério da Defesa se via na contingência de reconhecer a inexistência de detecção de fraude nas eleições”, diz a peça.

Além de Bolsonaro, a PF tinha indiciado 39 personagens entre ex-ministros, militares e alguns de seus principais auxiliares. Só entre militares há mais de uma dezena. Além de Bolsonaro, o general Walter Braga Netto também foi indiciado e está preso desde dezembro. Junto a ele o general Augusto Heleno, ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), o ex-ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, e o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier.

Investigação da PF

A PF arrecadou ao longo de quase dois anos de investigações milhares de dados obtidos em celulares e computadores e diversos depoimentos mostrando como foi forjado um plano para impedir que o presidente Lula tomasse posse em janeiro de 2023. Neste plano, estava incluído até o planejamento do assassinato do presidente, do vice-presidente Geraldo Alckmin, e do ministro Alexandre de Moraes, do STF.

Plano Punhal Verde e Amarelo

Dados localizados em celulares e computadores dos investigados desde a Operação Tempus Veritatis, em 8 de fevereiro deste ano, mostram que, em 9 de novembro de 2022, apenas cinco dias depois da live de Cerimedo, o general Mário Fernandes, ex-chefe-substituto da Secretaria Geral da Presidência, imprimiu um plano para descrever ações armadas que visavam impedir a posse de Lula, ou seja, dar um golpe. Segundo as investigações, o documento seria apresentado para o general Braga Netto.

No relatório da PF, é descrito que o “documento denominado “punhal verde amarelo” foi elaborado e impresso no dia 09/11/2022, no Palácio do Planalto, sede da Presidência da República, pelo Secretário-executivo da Secretaria-geral da Presidência, general Mário Fernandes”. Dados obtidos pelas antenas de celular mostram que Jair Bolsonaro estava no edifício no momento da impressão.

O plano golpista “descreve o levantamento da estrutura de segurança do ministro Alexandre de Moraes, os meios que deveriam ser empregados e a ação final de prisão/execução do ministro. O planejamento também estabelece a possibilidade, dentre as ações dos “Kids Pretos”, de assassinarem o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, por envenenamento ou uso de químicos, e o então vice-presidente eleito Geraldo Alckmin, com a finalidade de extinguir a chapa presidencial vencedora”. “Kids Pretos” é o apelido dado a militares que se formam no curso de Operações Especiais do Exército Brasileiro.

Em um relatório, a PF aponta que também encontrou dados em celulares dos investigados sobre uma reunião no apartamento funcional de Braga Netto, em Brasília, dias depois da produção do plano.

No dia 12 de novembro de 2022, já com a produção do plano golpista em andamento, o general Braga Netto recebeu em sua residência funcional em Brasília, localizada na SQS 112, Bloco B. Segundo o depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o encontro teve o objetivo de discutir as ações do plano golpista.

Cid também relatou à PF que, alguns dias depois, presenciou o momento em que o general Braga Netto entregou uma quantidade de dinheiro vivo dentro de uma sacola para carregar vinhos. O valor, que ele não soube precisar, tinha como objetivo financiar a execução das ações do plano “punhal verde e amarelo”.

A reportagem descobriu que, no depoimento para os investigadores, Cid relatou que Braga Netto tentou obter esses valores junto ao PL (Partido Liberal). O objetivo seria utilizar recursos públicos lançados de modo fraudulento na prestação de contas do partido à Justiça Eleitoral. No entanto, o general foi dissuadido devido aos riscos envolvidos e da possível descoberta. Assim, segundo Cid, o dinheiro entregue pelo general na sacola de vinho foi “obtido junto ao pessoal do agronegócio”. Os nomes das pessoas que teriam entregado o dinheiro não foram revelados.

Após a reunião realizada na casa de Braga Netto, os investigados passaram a distribuir entre si um documento intitulado “Copa 2022”, que teria sido aprovado durante o encontro para avalizar a atuação dos “kids pretos” na execução do plano golpista. O documento chegava a indicar as necessidades iniciais de logística e recursos para custear a operação clandestina.

R$ 100 mil

Antes da descoberta dessa reunião e da entrega do dinheiro, a PF já tinha identificado mensagens entre Mauro Cid e outro militar falando sobre a necessidade de arrecadar cerca de R$ 100 mil, cerca de U$ 20 mil.

Foi identificada uma troca de mensagens no Whatsapp no dia 14 de novembro de 2022, entre Cid e o major Rafael Martins de Oliveira. Martins afirmou que precisaria do dinheiro para arcar com custos. Cid solicita que Martins faça estimativa de custos com Hotel, Alimentação e Material, e pergunta se a quantia de R$ 100 mil é suficiente. Martins responde que sim e é orientado por Cid a trazer pessoas do Rio.

Outras ações do plano golpista: Operação 142
Em um dos trechos do relatório da PF, é apresentado ainda um outro detalhamento de medidas de exceção a serem tomadas para evitar a posse do presidente eleito, Lula. Os golpistas deixam claro como queriam interromper o processo de transição por meio da “Operação 142”.

O documento, encontrado na mesa do assessor do general Braga Netto, durante operação de busca e apreensão autorizada pela justiça na sede do PL, descreve que o plano tinha “o objetivo de subverter o Estado Democrático de Direito, utilizando uma interpretação anômala do artigo 142 da CF, de forma a tentar legitimar o golpe de Estado”.

No texto “Lula não sobe a rampa” há “clara alusão ao impedimento de que o vencedor das eleições de 2022 assumisse o cargo da presidência”. Os golpistas citaram anulação das eleições e impedimento de efetivação de Lula no cargo presidencial, o que leva a crer que o documento foi escrito entre novembro e dezembro de 2022.

Documentos apreendidos pela PF também mostram como o general Braga Netto e o general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, iriam chefiar um gabinete ligado à Presidência da República para apoiar Bolsonaro na implementação de um decreto golpista após a consumação do golpe. O gabinete iria articular redes de inteligência e estratégias de comunicação para conquistar apoio nacional e internacional.

Os investigadores também arrecadaram mensagens de Braga Netto pressionando os comandantes da Aeronáutica e do Exército a aderirem ao plano. Entre as estratégias de “milícia digital”, ele teria incentivado ataques públicos e pessoais contra generais que se recusaram a aderir ao plano e seus familiares.

Em depoimento à PF, ambos os comandantes contaram que foram chamados para reuniões com Bolsonaro para aderir ao golpe. Eles afirmaram, no entanto, que recusaram as ações. O ex-comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Jr. afirmou que o general Marco Antonio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, ameaçou prender Bolsonaro caso ele desse ordens para uso das tropas em um golpe.