quarta-feira, 31 de dezembro de 2025

"O jogo vai ficando claro. A ofensiva midiática visa enfraquecer as investidas da PF contra a Faria Lima. O alvo, agora, é a diretoria de fiscalização do BC" - Luis Nassif sobre o caso Malu Gaspar-Globo contra o STF

 

  "É o que faz Malu Gaspar, com o seu Watergate que acabou no Irajá, agora sacrificando a reputação de um funcionário de carreira do Banco Central com base em deduções superficiais, que comprometem até a medula a reputação do jornalismo."

Do Jornal GGN:

Como utilizar o método Malu Gaspar para interpretar Malu Gaspar, por Luís Nassif


O jogo vai ficando claro. A ofensiva midiática visa enfraquecer as investidas da PF contra a Faria Lima. O alvo, agora, é a diretoria de fiscalização do BC


Está na hora dos veículos de imprensa se debruçarem sobre um código de ética mínimo. Tem-se um modelo de jornalismo que está sendo destruído pelas redes sociais, pelas informações desestruturadas, pelas fake news, pela irresponsabilidade no uso do off e dos assassinatos de reputação.

Mas insiste-se em combater esse desgaste recorrendo ao mesmo estilo irresponsável das redes sociais, sem nenhum compromisso com dados, com fontes, com fatos, apenas atrás de likes. E a falta de compromissos com a lógica e com os fatos é meio caminho andado para o exercício do lobby.

É o que faz Malu Gaspar, com o seu Watergate que acabou no Irajá, agora sacrificando a reputação de um funcionário de carreira do Banco Central com base em deduções superficiais, que comprometem até a medula a reputação do jornalismo.

Aqui, sua última versão. Não mais a de que a convocação do Diretor de Fiscalização do Banco Central para uma acareação com um diretor do BRB, visava intimidá-lo. Na última versão, o diretor de fiscalização passa a ser cúmplice do Banco Master em uma jogada articulada pelos advogados do Master.

Malu Gaspar
Depois de conseguir o envio da investigação sobre o Master para o Supremo Tribunal Federal e a decretação de sigilo absoluto no caso, a próxima etapa da estratégia de defesa do banco já está em andamento. O objetivo é minar a credibilidade do Banco Central e desmontar o trabalho que levou à liquidação do Master para revertê-la e, no limite, quem sabe até receber algum tipo de ressarcimento.Não há uma fonte, uma explicação
jurídica embasando a afirmação.
É mero desconfiômetro ligado.
O plano já foi desenhado pelos advogados do Master nas manifestações feitas tanto ao próprio Supremo como ao Tribunal de Contas da União, no processo em que o ministro Jhonatan de Jesus pediu esclarecimentos ao BC sobre a “decisão extrema” de liquidar o banco de Vorcaro.Mistura um Ministro do TCU,
indicado pelo PL (partido por trás
do Banco Master) com o BC.
Não há nenhuma comprovação,
nenhuma dica, nenhum indício
de que há o tal plano desenhado
pelos advogados do Master.
Para que o estratagema dê certo, porém, é preciso criar fatos para justificar uma decisão de Toffoli contra os diretores e técnicos do BC. O histórico do ministro autoriza supor que ele tem chance de prosperarDesde que embarcou no jatinho de um amigo empresário junto com o advogado de um dos investigados no caso para ir a Lima assistir a final da Libertadores, Toffoli vem seguindo à risca o script da defesa.O jatinho não era do advogado.
Ambos eram caronas de terceiros.
E acertos obscuros são realizados
em locais sigilosos, não em viagens
para assistir jogo do Palmeiras.
É uma ilação ridícula.
Primeira informação útil: a liquidação foi decidida com a aprovação unânime da diretoria colegiada do BC, incluindo o voto sim do presidente, Gabriel Galipolo, que em princípio não precisava se manifestar, já que os outros oito diretores eram a favor. A responsabilidade, portanto, é de toda a cúpula da autarquia.E ainda: de todos, quem mais resistiu à ideia da liquidação foi o próprio Ailton Aquino, da fiscalização. Internamente no BC e no sistema financeiro, Aquino era visto como um aliado do Master.O diretor que, segundo Gaspar, é visto
como aliado do Master, votou pela
liquidação do banco.Ela acusa um f
uncionário de carreira, de ficha limpa,
de “aliado do Master”, baseado em
fontes em off (se é que existem).
Registros do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), sustentado por recursos dos próprios bancos, mostram que houve 38 comunicados oficiais sobre os riscos de liquidez, furos no balanço do Master e outras questões que deveriam levar a uma ação mais contundente do órgão regulatório.Quase todos os alertas eram dirigidos à área de Aquino, e muitos foram feitos em reuniões presenciais. Duas pessoas que participaram desses encontros me relataram que a atitude do diretor era sempre a de minimizar os problemas – que foram só se agravando ao longo do tempo.Confira a malícia.Todos os alertas
eram produzidos pela área de Aquino,
que era diretor de fiscalização.
Mas, segundo Gaspar, “quase todos
os alertas eram dirigidos à área de Aquino”,
como se fossem alertas externos, não
considerados pela diretoria de fiscalização.
Foi no processo de análise dessa operação que outra diretoria, a de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução, encontrou as fraudes nos contratos de crédito consignado que avalizaram o repasse de R$ 12, 2 bilhões do BRB para o Master pela venda da carteira, antes mesmo da fusão dos dois bancos.A partir daí deu-se um racha interno, com a área de Renato Gomes propondo intervir no Master e a de Aquino tentando encontrar uma solução que permitisse ao banco seguir operando. Portanto, o integrante do BC que mais conhece as fraudes e seu mecanismo não é Aquino, e sim Gomes, que até já terminou o mandato.Conclusão forçada. Em processos
 dessa natureza, o objetivo maior
é impedir impactos sobre o sistema
financeiro como um todo. A saída mais l
ógica é propor medidas que permitam
a venda do banco com problemas para
outro, que absorva os passivos. A intervenção
sempre é o último passo.Quando constatado
o repasse de RF$ 12,2 bilhões do BRB para
o Master, viu-se que o único caminho seria
a liquidação.O fato de haver um diretor a
favor da intervenção não o torna mais
conhecedor do caso que o outro.
Os depoimentos ainda não foram marcados, mas há uma tensão entre os técnicos do BC sobre a possibilidade de serem chamados a depor, por temerem sofrer algum tipo de intimidação.Poderia escrever: há um alívio entre
os técnicos do BC sobre a possibilidade
de serem esclarecidas as prováveis
interferências em seu trabalho. Teria o
mesmo valor que a afirmação ao lado.
Enquanto esse embate interno se dava, em julho de 2025, ocorreu uma reunião em que o ministro do STF Alexandre de Moraes pediu a Galipolo pelo Master. Moraes, cuja mulher tem um contrato de prestação de serviços jurídicos de R$ 130 milhões com o banco, disse gostar de Vorcaro e recorreu a um argumento muito usado à época – o de que o banqueiro vinha sendo perseguido pelos grandes que não queriam concorrência. Ao ser informado por Galípolo de que o BC havia descoberto as fraudes, Moraes recuou e disse que tudo precisava ser investigado.Finalmente, admitiu o que outros jornalistas
já haviam revelado.
Dois dias antes de a liquidação ser decretada e Vorcaro ser preso, o dono do Master pediu para antecipar uma reunião com Aquino para dizer que tinha encontrado compradores para seu banco, um consórcio entre a financeira Fictor e um fundo árabe que ele nunca soube qual era.Depois da prisão na área de embarque do aeroporto de Guarulhos, o registro da reunião foi usado pela defesa de Vorcaro para argumentar que ele tinha avisado ao BC que viajaria para Dubai e que portanto não poderia estar fugindo. O ofício com o registro, assinado por Aquino, foi fundamental para que Vorcaro fosse tirado da cadeia e enviado à prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica.Ai Vorcaro vai até o Aquino e diz que
 encontrou um comprador para seu banco.
Toda reunião tem um registro. Teria registro
se a reunião fosse com qualquer outro diretor
do BC.Gaspar utiliza o ofício para insinuar
cumplicidade de Aquino.
Se queria mesmo entender como foi feito o trabalho dos técnicos da autarquia, Toffoli deveria ter convocado ao menos os dois diretores – e não apenas o mais próximo de Vorcaro. Diante desse quadro, os representantes legais do BC acusaram o risco de “armadilhas processuais” e pediram o cancelamento da acareação.Mentira! Ela coloca o questionamento dos
representantes legais do BC – sobre a
possibilidade do diretor ser colocado no
mesmo nível dos acusados – para insinuar
que o questionamento foi sobre a suposta
imparcialidade do diretor.

Vamos aplicar o método Malu Gaspar para interpretar o jornalismo de Malu Gaspar.

  • A tese que se espalhou pelas redes é que a ofensiva contra Alexandre de Moraes é comandada por coronéis da Faria Lima, justamente para reduzir a ofensiva da PF sobre os crimes cometidos por instituições de lá. 
  • Pela legislação (Lei 4.595, Lei 13.506/2017 e normas do CMN), o BC tem o dever legal de comunicar o Ministério Público quando surgem indícios de crime, compartilhar informações com PF e MPF mediante requisição ou cooperação formal.
  • Portanto, foi o trabalho da Diretoria de Fiscalização que permitiu a Operação Colossus – a primeira ofensiva séria da Polícia Federal sobre a máquina de lavar dinheiro da Faria Lima.
  • Estender os ataques à Difis (Diretoria de Fiscalização do BC) se encaixa bem nessa estratégia.

Luis Nassif

Jornalista, com passagens por diversos meios impressos e digitais ao longo de mais de 50 anos de carreira, pelo qual recebeu diversos reconhecimentos (Prêmio Esso 1987, Prêmio Comunique-se, Destaque Cofecon, entre outros). Diretor e fundador do Jornal GGN.
luis.nassif@gmail.com

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