terça-feira, 26 de novembro de 2019

Cruzadas moralistas são armas política de racistas, elitistas e fascistass, por Andre Motta Araujo



Os ditadores em potencial vão testando o terreno com cuidado, testam os limites de sua força, passo a passo, a cada etapa ousam mais, precisam ver até onde os adversários recuam

Cruzadas moralistas são armas políticas

por Andre Motta Araujo, no GGN

Nenhuma ditadura começa anunciando que vai fazer o mal. Todas as ditaduras nascem anunciando boas intenções. A razão é evidente, no começo os potenciais ditadores ainda não têm todo o poder, ainda não estão firmes, precisam dar boa impressão para muitos grupos que poderiam derrubá-los, MAS assim que firmes no mando mostram a verdadeira cara e tornam-se autoritários e depois ditadores sem máscaras. Mussolini e Hitler começaram como cruzados a favor de boas causas em regimes democráticos, usaram a democracia como alavanca de entrada no poder.
A magistral frase de Umberto Eco “O fascismo começa caçando tarados” é um símbolo do uso da moral para chegar ao poder, uma aparente boa causa justifica quase tudo, mas seu verdadeiro alvo é através dela mandar na sociedade.
Os ditadores em potencial vão testando o terreno com cuidado, testam os limites de sua força, passo a passo, a cada etapa ousam mais, precisam ver até onde os adversários recuam e esses normalmente acham que recuando se salvam, assim achavam os industriais do Ruhr na Alemanha,  os nobres da Casa de Savoia e o Vaticano.
Eles seguiram a tática de acovardamento defensivo, não enfrentam o ditador em construção, fingem que o apoiam porque acham que ele não vai até o fim e vão cedendo, achando que assim fazendo são espertos. Quando o ditador em seu caminho ascendente ataca um adversário, aquele que não foi atacado acha que foi poupado, e até elogia o ditador porque este atingiu um rival, sem perceber que ele pode ser a próxima vítima, uma nova etapa no processo.
Esse roteiro aconteceu exatamente assim na Itália fascista e na Alemanha nazista e, muito antes na História, a Inquisição, como era conhecido o Tribunal do Santo Ofício, se propunha a eliminar o pecado e a heresia através da pregação moral que terminava na punição dos maus nas fogueiras, processo que foi do começo ao fim puramente político disfarçado de moralista e religioso. Através dos tempos a punição aos indignos serviu como instrumento da política e nunca os perseguidores foram puros, apenas farsantes disfarçados de portadores da mais alta moral.
O autoritário em potencial é geralmente muito inteligente, nunca ataca todos de uma vez, é um por vez, o outro ainda não atacado fica contente pensando “eu ainda estou seguro”. Os mecanismos de perseguição têm técnicas apuradas e a maior delas é convencer os ingênuos de sua pureza frente aos ímpios. A Inquisição durou dois séculos, durante os quais atrasou na História os reinos de Espanha e Portugal, que perderam a corrida da modernidade para a Inglaterra, a Inquisição dividia os homens entre os puros e os corruptos e neste roteiro destruiu uma sociedade.
Ao fim do processo de uma ditadura ninguém está seguro e todos serão dominados se uma reação ou um conflito não terminarem seu caminho. Na História, as ditaduras fascista na Itália e nazista na Alemanha foram eliminadas por uma derrota militar frente a inimigos externos, no caso do franquismo na Espanha e no salazarismo em Portugal pela doença e morte dos ditadores, o que mostra a dificuldade de eliminação de regimes autoritários por vias pacíficas.
Apesar de tantas lições da História, os países dificilmente aprendem com ela e novos processos se iniciam a cada década seguindo roteiros parecidos, vemos agora a Turquia seguindo um caminho padrão após seis décadas de democracia. Mas é interessante observar que todos esses traçados começam por alguém empunhando o estandarte da salvação pela moral, pelo combate à corrupção, pela perseguição às minorias e pela imposição de seus valores como sendo os únicos que devam ser seguidos por todos, mesmo por aqueles que tem outra visão da vida.
No passado os valores a impor vinham principalmente da religião, na Era Moderna vem da ideologia, no princípio do século o comunismo e o fascismo, hoje temos como ideologia impositiva o neoliberalismo e a salvação pelo mercado, mais uma farsa a encobrir processos autoritários por vias reflexas porque emparedam o debate. A ditadura econômica é uma nova forma de autoritarismo, como no passado foi a religião, apenas novos disfarces na luta pelo poder.
AMA

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