Segue textos esclarecedores do jornalista Paulo Moreira Leite, publicado em seu blog, e do analista Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania.
Não deixa de ser uma irônica justiça o fato de que os mesmos fascistas fanáticos que querem dar um golpe acabem por beber água de esgoto por irresponsabilidade do mesmo partido de direita que eles tanto amam no estado mais reacionário, elitista e arrogante da nação:
Texto I : Como nos Golpes de Estado
Texto de Paulo Moreira Leite
Sem votos para impedir uma provável vitória do governo na proposta de eliminar o superávit primário nas contas de 2014, a oposição produziu ontem uma cena preocupante do ponto de vista da democracia.
Mobilizando arruaceiros profissionais e voluntários da baderna, engajados numa dessas ONGs cujo nome parece inspirado em entidades de exilados cubanos da Flórida, parlamentares oposicionistas criaram um ambiente de violência e tumulto nas galerias do Congresso. No final de uma jornada de tensão, conflito e violência, conseguiram impedir que a maioria dos parlamentares presentes cumprissem seu dever constitucional mais elementar: votar, soberanamente, com os votos recebidos do eleitorado, na proposta que julgassem melhor.
Os brasileiros não têm boa memória daqueles momentos em que deputados e senadores foram impedidos cumprir suas obrigações. Na maioria das vezes, foram cenas que antecederam golpes de Estado.
A diferença é que isso costumava ocorrer com a presença intimidadora de soldados pelo Congresso e arredores, numa paisagem ilustrada por tanques e baionetas. Ontem, a coreografia era outra. Lembrava os clássicos assaltos ao poder, de origem fascista, com vocação para atacar instituições democráticas.
O ataque partiu de civis, “presumivelmente assalariados”, nas palavras de Renan Calheiros, presidente do Senado. Conforme Renan, um grupo de 26 pessoas “instrumentalizadas, provocando o Congresso,” impediu os deputados de tomar uma decisão que, conforme cálculo da quase unanimidade dos observadores, seria favorável ao governo.
A baderna foi organizada como um espetáculo de circo amador. Como se o fim do superávit primário fosse um tema tão popular como a taxa de juros e o aumento da gasolina, cidadãos instalados nas galerias montaram um coro de palavrões, vaias e xingamentos destinado a inviabilizar um debate real entre parlamentares.
Quando Renan determinou que as galerias fossem esvaziadas — medida banal em qualquer Congresso do planeta — os cidadãos que logo seriam promovidos a “representantes da sociedade civil” pelos analistas meios de comunicação resolveram ficar onde se encontravam.
No mesmo instante, quinze parlamentares da oposição correram em seu socorro, formando uma espécie de piquete para impedir que fossem removidos pela polícia legislativa. Equipados para poses fotográficas, logo surgiram cidadãos com mordaças vermelhas com a sigla do PT. Tudo ensaiado e dramatizado.
Presente a casa poucos dias depois de ter afirmado que perdeu a eleição para uma “organização criminosa”, Aécio Neves saiu em defesa da baderna. Disse, conforme relato da Folha de S. Paulo: “A população brasileira acordou. As pessoas estão participando do que está acontecendo no Brasil. E algumas querem vir [ao Congresso]. Nós vamos fechar as galerias?”
Com essa postura, o candidato presidencial do PSDB dá um novo passo para se afastar das instituições democráticas. O primeiro foi a tentativa de criminalizar — diretamente — a vitória de Dilma em 26 de outubro. O segundo foi brindar uma iniciativa que em nada contribui para um debate civilizado sobre as necessidades.
“Eu não estou reconhecendo o Aécio,” disse o governador do Ceará, Cid Gomes, em entrevista ao Espaço Público, ontem, na TV Brasil.
Vários personagens e várias cenas se tornaram irreconhecíveis nos últimos dias.
Da mesma forma que o governo tem o direito de tentar suprimir o superávit primário, a oposição tem o direito de tentar o contrário. Faz parte da democracia. Cenas semelhantes ocorrem periodicamente nos Estados Unidos, sempre que a Casa Branca ameaça ultrapassar seu limite de endividamento.
Não faz parte da democracia, porém, tentar impedir o Congresso de funcionar. Quem age dessa forma pratica o mandamento número 1 de toda intervenção antidemocrática, que consiste em respeitar as regras e leis de um país apenas quando lhe convém. Isso só interessa a quem planeja impedir o funcionamento do regime democrático.
Este é o aspecto preocupante da baderna de ontem.
Texto II: PSDB e DEM levaram sicários para empastelar Congresso
Texto de Eduardo Guimarães
O contrato sócio-político vigente no país acaba de sofrer mais um golpe que pode lhe vir a ser fatal. Agora, além de psicopatas ligados ao PSDB e ao DEM agredirem nas ruas quem meramente ouse vestir uma peça de roupa vermelha, estão sendo usados pelos partidos para coagir parlamentares e impedir votações no Congresso.
Abaixo, vídeo curto do tipo de fascismo que se espalha pelo país e que, na última terça-feira (2),passou a novo patamar, como será mostrado mais adiante.
Parlamentares do PSDB e do DEM formaram um escudo humano para facilitar a ação dos manifestantes que esses partidos levaram de ônibus a Brasília para constrangerem, das galerias do Congresso, os parlamentares da base aliada, tumultuando a sessão no Plenário da Câmara, na noite de terça-feira (2).
Aos berros de “Vai pra Cuba” e “Fora PT”, os manifestantes tentavam impedir a sessão legislativa.
O que é mais grave nisso tudo é que esses manifestantes foram contratados pelos partidos de oposição. PSDB e DEM alugaram ônibus para levar de São Paulo e Pernambuco um grupo de 200 manifestantes pagos que, em plena terça-feira, deixaram suas vidas, seus empregos em seus Estados de origem para promover o empastelamento do Legislativo federal.
O presidente do Senado, Renan Calheiros, denunciou esse atentado à democracia praticado pelo PSDB e pelo DEM, em sua marcha golpista, iniciada após serem derrotados nas urnas. Dos 200 sicários contratados pelos partidos de oposição, 50 conseguiram entrar. Dali em diante, passaram a insultar parlamentares, atirar objetos no Plenário etc.
Os parlamentares da oposição queriam que o senador Renan Calheiros mantivesse nas galerias mercenários contratados por PSDB e DEM enquanto xingavam parlamentares e tumultuavam a sessão, com vaias a governistas e aplausos a opositores.
Uma mulher, identificada como Ruth Gomes de Sá (foto abaixo), ligada ao PSDB, estava incontrolável. Tentava chutar os agentes da Polícia Legislativa que tentavam controlar cerca de duas dezenas de manifestantes. Teve que ser contida. A mídia, porém, acusa só o momento em que foi imobilizada por um agente, sem explicar a causa.
O que ocorreu no Congresso, em uma tentativa de partidos políticos de impedirem o funcionamento do Poder Legislativo, constitui uma mudança de patamar na crise política que vem sendo inoculada no país após a derrota de Aécio Neves no processo eleitoral de 2014, que ele e seus partidários se recusam a aceitar.
Levar 200 pessoas para promover baderna no Congresso é muito simples. Qualquer partido consegue. Até um garoto com um computador pode instigar duas centenas de pessoas a fazerem o mesmo. As pessoas que foram pagas pelo PSDB e pelo DEM para promoverem a confusão em tela não têm qualquer representatividade.
Apesar de haver quem se recuse a enxergar os fatos, o que está em curso no país é prenúncio de uma tentativa de golpe, de anulação do contrato sócio-político, de recusa dos derrotados em uma eleição a aceitarem as regras do jogo.
Denunciar esse processo é vital para interrompê-lo. É preciso constranger o golpismo com denúncias reiteradas. Quando partidos políticos contratam pessoas para agredir verbal e fisicamente quem não concorda com eles, o que se tem é a instalação de uma ditadura virtual no país. Quem não enxergar isso agora, enxergará depois. E será tarde.
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