Roda Viva especial, com Almino Afonso, um dos ministros do governo de João Goulart, derrubado pelos militares com incentivo e apoio dos Estados Unidos, em 1964. Logo após o vídeo, um texto com o lúcido comentário de Nirlando Beirão:
Cultura
Bravo!
Daqui a 50 anos...
A tevê no Brasil se diz democrática. Grande parte dos telejornais mente, democraticamente. Mente, e manipula, e distorce, ao sabor de seus interesses políticos
por Nirlando Beirão — publicado 06/04/2014 05:11
Extraído da Carta Capital
A ditadura passou na tevê esta semana. Em um tom bem diferente do entusiasmo elegíaco com que o golpe foi saudado, meio século atrás, pelas oligarquias da mídia, à frente a TV Tupi e afiliadas, propriedade de Assis Chateaubriand, um coronel assumidamente autocrático (a TV Globo só em 1965 iria se juntar ao coro dos áulicos e ao cordão das vivandeiras).
Hoje, a tevê no Brasil se diz democrática. Grande parte dos telejornais mente, democraticamente. Mente, e manipula, e distorce, ao sabor de seus interesses políticos. Mente como, em 1964, mentia. Daqui a 50 anos, os que estiverem por aqui ouvirão talvez um estrepitoso – e hipócrita – mea-culpa.
O Roda Viva, da TV Cultura – cujo apresentador daria apoio, fácil, fácil, a uma quartelada que apeasse do poder a atual governante legitimada pelo voto –, levou constrangidamente ao ar o depoimento de Almino Afonso, ex-ministro do Trabalho de Jango.
Almino demole a versão – propagada pelos golpistas e pelo goverrno americano, obediente à lógica da Guerra Fria – de que a esquerda, Goulart incluído, preparava o golpe. O golpe dos gorilas teria sido, diziam, preventivo ao golpe dos comunas. Em respeito à semana evocativa, o Roda Viva teve de engolir, com Almino, a verdade histórica.
Filmes, documentários, entrevistas reverberaram, na tevê aberta e na por assinatura, os eventos da ditadura. Em meio a toda a memorabilia visual e sonora, um momento de terna coragem na figura de João Vicente Goulart, filho de Jango, entrevistado por Antonio Abujamra no seu Provocações(também da TV Cultura). João Vicente rememorou a decisão patriótica de Jango de não resistir aos militares sublevados. E se emocionou ao lembrar que, apesar de tudo, os terroristas de farda só sossegaram quando mataram o desafeto – por envenamento.
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