sábado, 22 de fevereiro de 2014

O diretor do importante jornal francês Le Monde Diplomatique, Ignacio Ramonet, faz uma brilhante análise do processo de golpe na Venezuela, apoiado pelos golpistas coxinhas brasileiros

Apresentamos aqui um texto escrito por um analista francês e, após, uma entrevista com um professor de Relações Internacionais da Universidade do ABC paulista

Extraído do Tijolaço:

Ramonet analisa o golpe na Venezuela

22 de fevereiro de 2014 | 08:38 Autor: Miguel do Rosário
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O diretor do Le Monde Diplomatique, Ignacio Ramonet, fez uma das melhores análises até agora sobre o que acontece na Venezuela. Ele lembra que o chavismo é profundamente democrático e denuncia o golpe em curso no país.
É interessante verificar o “modus operandi” dos protestos, descrito minuciosamente por Ramonet, sempre tendo como pano de fundo a tentativa de usar a violência para produzir instabilidade e comoção nacional. Provoca-se a polícia até o limite, inclusive com armas de fogo, fomentando reação do Estado, para em seguida denunciar a “repressão”.
Técnicas de manual
Por Ignacio Ramonet, na Folha.
A Venezuela passou por quatro eleições decisivas recentemente: duas votações presidenciais, uma para governos estaduais e uma para prefeituras. Todas foram vencidas pelo bloco da revolução bolivariana. Nenhum dos resultados foi impugnado pelas missões internacionais de observação eleitoral.
A votação mais recente aconteceu apenas dois meses atrás e resultou em clara vitória para os chavistas. Desde que Hugo Chávez assumiu a Presidência, em 1999, todas as eleições demonstram que, sociologicamente, o apoio à revolução bolivariana é majoritário no país.
Na América Latina, Chávez foi o primeiro líder progressista –desde Salvador Allende– a apostar na via democrática para chegar ao poder. Não é possível compreender o que é o chavismo se não for levado em conta o seu caráter profundamente democrático. A aposta de Chávez, ontem, e a de Nicolás Maduro, hoje, é o socialismo democrático. Uma democracia não só eleitoral. Também econômica, social, cultural…
Em 15 anos, o chavismo conferiu a milhões de pessoas que não tinham documentos de identidade por serem pobres a situação de cidadãos e permitiu que votassem. Dedicou mais de 42% do Orçamento do Estado aos investimentos sociais. Tirou 5 milhões de pessoas da pobreza. Reduziu a mortalidade infantil. Erradicou o analfabetismo. Multiplicou por cinco o número de professores nas escolas públicas (de 65 mil a 350 mil). Criou 11 novas universidades. Concedeu aposentadorias a todos os trabalhadores (mesmo os informais). Isso explica o apoio popular de que Chávez sempre desfrutou e as recentes vitórias eleitorais de Nicolás Maduro.
Por que, então, os protestos? Não nos esqueçamos de que a Venezuela chavista –por possuir as maiores reservas mundiais de hidrocarbonetos– sempre foi (e será) objeto de tentativas de desestabilização e de campanhas de mídia sistematicamente hostis.
Apesar de se haver unido sob a liderança de Henrique Capriles, a oposição perdeu quatro eleições consecutivas. Diante desse fracasso, sua facção mais direitista, ligada aos Estados Unidos e liderada pelo golpista Leopoldo López, aposta agora em um “golpe de Estado lento”. E aplica as técnicas do manual quanto a isso.
Na primeira fase: 1. Criar descontentamento ao tirar do mercado produtos de primeira necessidade. 2. Fazer crer na “incompetência” do governo. 3. Fomentar manifestações de descontentamento. E 4. Intensificar a perseguição pela mídia.
A partir de 12 de fevereiro, os extremistas ingressaram na segunda fase: 1. Utilizar o descontentamento de um grupo social (uma minoria de estudantes) a fim de provocar protestos violentos e detenções. 2. Montar “manifestações de solidariedade” aos detidos. 3. Introduzir entre os manifestantes pistoleiros com a missão de provocar vítimas de ambos os lados (a análise balística determinou que os disparos que mataram o estudante Bassil Alejandro Dacosta e o chavista Juan Montoya, em 12 de fevereiro, em Caracas, foram feitos com a mesma arma, uma Glock calibre 9 mm). 4. Ampliar os protestos e seu nível de violência. 5. Redobrar a ofensiva da mídia, com apoio das redes sociais, contra a “repressão” do governo. 6. Conseguir que as “grandes instituições humanitárias” condenem o governo por “uso desmedido da violência”. 7. Conseguir que “governos amigos” façam “advertências” às autoridades locais.
É nesta etapa que estamos.
Portanto, a democracia venezuelana está ameaçada? Só se for, uma vez mais, pelos golpistas de sempre.
IGNACIO RAMONET, 70, é diretor do jornal “Le Monde Diplomatique” em sua versão espanhola e autor de “Fidel Castro: Biografia a Duas Vozes” e “Hugo Chávez, Minha Primeira Vida”, que será lançado em maio no Brasil
Tradução de PAULO MIGLIACCI

Entrevista sobre mais uma tentativa de golpe na Venezuela, instigado pela direita, com o professor Igor Fuser


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