segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Sensibilidade, dor, filosofia e redenção no belíssimo filme musical Os Miseráveis, baseado na obra homônima de Victor Hugo



Carlos Antonio Fragoso Guimarães

Quando o escritor francês Victor Hugo (1802-1885) publicou se clássico livro Les Misérables em 1865, simultaneamente na Europa e no Brasil, seu nome já era considerado como um dos maiores romancistas do século XIX, sendo um dos máximos expoentes do romantismo. Contudo, muito mais que um novelista, Hugo foi um pensador sensível da dor da vida, da dor humana, retratando em seus enredos toda a miséria e potencial capacidade de superação, amor e redenção de que os seres humanos são capazes além da exploração e exclusão social que eles mesmos provocam. Victor Hugo transformava em romance aquilo que Paulo Freire transformava em reflexão epistemológica em seus escritos sobre a Pedagogia do Oprimido e da Autonomia...

Em Les Misérables, Hugo faz da história do condenado Jean Valjean e Cosette, Javert e outros, um hino sofrido mas sensível ao poder humano de sonhar e lutar pela justiça social, de transcender as mais duras e cruéis situações a que as criaturas podem ser lançadas pela ação do próprio homem bastando, para isso, muitas vezes tão somente uma mão amiga para se transformar o modo de ver a vida. E esta mensagem belíssima foi captada e adaptada com perfeição pelo musical - na verdade, uma ópera modernizada - Les Misérables, composto por Claude-Michel Schöenberg e estreada em Paris em 1980. A partir de então, este musical rodou o mundo, sempre com casa cheia. Agora, a beleza da obra de Hugo e a sensibilidade musical de Schöenberg são novamente harmonizadas na linguagem do cinema, resultando em um dos filmes mais sublimes dos últimos anos: The Miserables - Os Miseráveis, dirigido por Tom Hooper, de 2012.

 A clássica história de Victor Hugo, nas palavras bem apropriadas de Mirza Porto, explora as dualidades entre dor e alegria, amor sagrado e profano, a necessidade de lutas por mudanças em um mundo cruel, desumano, egoísta que esmaga revoluções, mas que, ainda assim, estas devem ser tentadas, refeitas, sem nunca perdermos o foco do ideal mesmo - e principalmente - em situações desesperadoras. O final mostra a esperança mesmo no que não parece ter sentido (mas tendo, de fato) e é apresentado a transitoriedade da vida que se renova em outro estágio de existência: um moribundo Jean Valjean (Hug Jackman) diz que quer voltar para casa.... e é acolhido pelo espírito agradecido de Fantine (Anne Hathaway) e todos os heróis se juntam para cantar o amor pela evolução (e revolução) ante todas as misérias humanas...

 No elenco, temos um Hugh Jackman maduro, perfeitamente sintonizado com o trágico e heróico papel de Jean Valjean, bem como uma convicente Anne Hathaway no papel de uma tocante e delicada Fantine. O mesmo se pode dizer dos demais atores e atrizes da trama: Samantha Barks, no papel de uma sensível Eponine; Amanda Seyfried, no papel de Cosette, Eddie Redemayne, com uma bela voz de tenor, no papel de Marius. O humorista Sacha Baron Cohen. o Borat, também está à vontade no papel do vigarista Thenadier e Russel Crowe, o eterno Gladiador, embora com uma voz não muito favorável ao canto, traz humanidade à figura às vezes infame, às vezes patética, mas extremamente lúcido da metáfora do homem que se deixa endurecer ao se transformar em um burocrata do sistema explorador, no papel do policial Javert.

 Com uma fotografia belíssima e uma montagem visual impressionante, a mensagem final de espiritualidade e luta pela transformação de uma realidade opressora dentro das capacidades das pessoas humanas, sujeitos que são de sua própria história, se faz um belo contraponto e um estímulo de esperança à mudança nestes nossos dias de crueldade neoliberal e imbecilidade midiática galopante...

Os Miseráveis, enfim, é um filme que merece ser visto no cimena e revisto em casa... Deve ser sentido, pensado, refletido... É uma dessas obras que tocam fundo em várias das várias dimensões que compõem o ser humano...

A seguir, trailer do filme:



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