sábado, 22 de dezembro de 2012

Jung e as imagens, os símbolos e os mitos como expressão da Psique



Carlos Antonio Fragoso Guimarães

Uma das mais interessantes descobertas de Carl Gustav Jung (1875-1961), mas que já era de conhecimento intuitivo dos simples, dos poetas, dos artistas, dos apaixonados, dos idealistas, é a de que a psique, nossa totalidade psicológica (que inclui as águas profundas daquilo de que não temos consciência) expressa-se imagisticamente, ou seja, expressa-se por símbolos e não mediante hipótese e linguagem discursiva, isto é, racional. A racionalidade foi uma conquista do ego para lidar com elementos físicos e com necessidades de interação com o meio, prevendo efeitos externos, mas a razão é facilmente plasmada ou deformada pela vontade ou falta de vontade, e pelo medo, desejo e anseios. É a partir da energia que surge destas imagens, geralmente carregadas de afetos e emoções, que se erguem as idéias posteriormente trabalhadas (bem ou mal) pelo ego racional. É mérito dele, Carl Jung,  contudo, ter unido as contribuição da psicologia e da antropologia para demonstrar, superando a própria psicanálise freudiana, a dimensão numinosa e profundamente terapêutica das imagens e símbolos.

As imagens e os símbolos, visuais, sonoros ou ideais,  são mais que produtos secundários e irrisórios da subjetividade. Nos dizeres de Mircea Eliade, 


"O pensamento simbólico não é uma área exclusiva da criança, do poeta ou do desequilibrado... Ela é consubstancial  ao ser humano; precede a linguagem e a razão discursiva. O símbolo revela certos aspectos da realidade - os mais profundos - que desafiam qualquer outro meio de conhecimento. As imagens, os símbolos e os mitos não são criações irresponsáveis da psique; elas respondem a uma necessidade e preenchem uma função: revelar as mais secretas modalidades do ser (...) Quando um ser historicamente condicionado, por exemplo um ocidental dos dias de hoje, deixa-se invadir por sua própria parte a-histórica (de seus anseios, desejos e imagens semi-inconscientes) - o que acontece com muito mais frequencia do que ele imagina -, não é necessariamente para regredir: inúmeras vezes ele reintegra as coisas simples que dão sentido à vida por estas imagens e símbolos e são estas que tentam reequilibrar o excesso de pragmatismo impessoal da vida moderna"


 Tudo o que realmente nos interessa não se pode expressar pela linguagem discursiva, como ocorre com a vida, as emoções, as esperanças, os devaneios. Recorremos, então, à metáfora, ao simbólico, ao alegórico. De um ponto de vista epistemológico, as imagens são a única realidade que apreendemos diretamente. Jung demonstrou que a linguagem simbólica, das imagens, é a que toca mais fundo e a mais facilmente percebida (ainda que conscientemente seja pouco compreendida) no processo de desenvolvimento da psique.

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