terça-feira, 29 de abril de 2025

Necropolítica, neofascismo e a Ascensão da Extrema Direita: O Caso do bolsonarismo no Brasil, por Carlos Antonio Fragoso Guimarães

  O conceito de necropolítica enfatiza o controle soberano sobre os corpos humanos por meio de imposição de práticas, discursos e instituições, utilizando-se da violência e, na práitca,  da morte (real e moral) de seres humanos como instrumento político.



Introdução

O conceito de necropolítica  foi cunhado e apresentado pelo filósofo, historiador e cientista político camaronês Achille Mbembe. Descreve como o poder estatal, sob controle de uma elite econômica e suas estruturas de dominação na defesa dos seus interesses, decide quem pode viver e quem deve morrer. Essa noção parte do conceito de biopolítica de Michel Foucault, mas vai além, enfatizando o controle soberano sobre os corpos humanos por meio de imposição de práticas, discursos e instituições, utilizando-se da violência e, na práitca,  da morte (real e moral) de seres humanos como instrumento político. Historicamente, a expressão mais conhecida da necropolítica foi a aplicação da morte planejada dos chamados indesejados (segundo os interesses dominante e sua visão polarizada de mundo) por meio de processos de genocídio explícito, como o ocorrido na Alemanha na época da dominação nazista. Atualmente, como aponta os estudiosos da necropolítica, o drama dos palestinos em Gaza serve igualmente de infeliz e gritante exemplo do conceito.

Nos últimos anos, é visível a ascensão da extrema direita no mundo — e, no Brasil, o exemplo converge no fenômeno do bolsonarismo. A ascenção foi e é estimulada pela acentuação da exploração humana e ecológica no atual estágio do capitalismo, com a queda da qualidade de vida e a sensação difusa de que o futuro é perigoso. A frustração quanto isso é canalizada pela mesma estrutura que levou à situação de instabilidade, desfocando a perceção das causas reais pelos detendores do poder para inimigos e bodes expeiatórios através de estimulação do medo ao diferente e aos contestadores do estatus quo, pelo discuros de medo, ódio ou falso moralismo, que traz à tona ideias de eliminação do inimigo e práticas que exemplificam a necropolítica como instrumento de segregação e controle, seja através do descaso com vidas marginalizadas, da militarização da política, da exploração da fé em igrejas empresariais que dividem a comunidade entre "homens de bem" e "inimigos" ou da promoção de discursos que legitimam a exclusão e a violência.

Vejamos um panorama para entender como a necropolítica se articula com as ações da extrema direita global e, em particular, com o bolsonarismo, analisando suas consequências para a democracia e os direitos humanos.

1. Necropolítica: O Poder de Decidir Quem Pode Viver e Quem Deve Morrer

Achille Mbembe define a necropolítica como sendo a capacidade dos Estados e dos atores políticos associados à estrema direita, mas socialmente aceitos como autoridades, para gerenciar o uso da violência e da morte através de políticas de segregação, abandono ou extermínio de grupos considerados indesejáveis. Isso inclui:

  • A militarização da vida cotidiana, como o uso excessivo da força policial contra populações pobres e negras, bem como da sedimentação calculada da figura do militar como exemplo de integridade moral por sobre os considerados marginais, periféricos e, em nível mais extremo, sobre a própria sociedade, vista como ignorante e potencialmente subversiva, portanto, devendo ser tutelada pelos mesmos militares em associação com as elites que querem manter o controle sobre a política e a economia que as sustentam.

  • O abandono sistemático de grupos vulneráveis, como índios, desempregados, sem tetos, aposentados, como foi visto na gestão de crises sanitárias, como no caso dramático da última pandemia de Covid -19, entre os anos 2020 a 2023.

  • A retórica desumanizadora que justifica a morte de certos grupos (imigrantes, professores, cientistas críticos, favelados, LGBTQIA+, indígenas, etc.).

Essas dinâmicas não são exclusivas de regimes ditatoriais, no sentido clássico; elas podem ser observadas em democracias sob governos de extrema direita, que normalizam a violência como ferramenta de controle social. Isso, por exemplo, ocorre hoje mesmo no antes considerado “Farol da Democracia”, os EUA, sob o tacão da extrema direita plutocrática nucleada ao redor de Donald Trump.

2. A Extrema Direita Global e a Necropolítica

Movimentos e governos de extrema direita ao redor do mundo têm adotado práticas diferenciadas de necropolíticas:

  • Políticas anti-imigração: Na Europa e nos EUA, governos como o de Viktor Orbán (Hungria) e Donald Trump (EUA) promoveram medidas cruéis contra refugiados, incluindo campos de detenção e deportações em massa.

  • Negacionismo da Covid-19: A gestão da pandemia por líderes como Jair Bolsonaro (Brasil), Donal Trump (EUA) e Boris Johnson (Reino Unido) revelou um cálculo político que privilegiou a economia em detrimento de vidas, especialmente de idosos e pobres.

  • Negacionismo científico: Questionamento dos estudos e pesquisas, tanto naturais quanto sociais, que apontem para os erros da percepção de mundo e de socidade da extrema-direita naquilo que frustra seus intesses (por exemplo, na crítica dos incêndios estimulados em áreas ambientais, exploração irracional dos recursos naturais, ataques à disciplinas que fazem pensar como a História, Filosofia e Sociologia, e busca contante de desmoralização e controle de instituições críticas de educação e de pesquisa, especialmente as Universidades)  e seu discurso de poder destroçando direitos sociais e ambientais

  • Ataques a minorias: Discursos de ódio contra opositores e em minorias como LGBTQIA+, negros e indígenas legitimam violências físicas e simbólicas, reforçando hierarquias sociais baseadas na exclusão.

Esses exemplos mostram como a extrema direita opera sob uma lógica que naturaliza a morte de certos grupos em prol de uma ordem política excludente.

3. O Bolsonarismo como Expressão da Necropolítica no Brasil

O governo de Jair Bolsonaro (2019-2022) foi um caso paradigmático claro e patente de necropolítica na América Latina. Entre suas práticas, destacam-se:

  • A gestão genocida da pandemia: Bolsonaro minimizou a Covid-19, opôs-se a medidas de isolamento, promoveu tratamentos ineficazes (como a cloroquina) e atrasou a compra de vacinas. O resultado foi mais de 700 mil mortes, muitas evitáveis.

  • A política armamentista: O estímulo ao porte de armas, à inolerância com críticos e opositores e a defesa da violência policial aumentaram os homicídios, especialmente em periferias.

  • O ataque a povos indígenas e ao meio ambiente: O avanço do agronegócio sobre terras indígenas e o desmonte de órgãos de fiscalização ambiental (como o IBAMA) levaram ao aumento de assassinatos de lideranças e à destruição de biomas.

  • A retórica da exclusão e do ódio: Bolsonaro incitou ódio contra mulheres, negros, LGBTQIA+ e opositores, criando um clima de permissividade para a violência.

Essas ações não foram meros erros de gestão, mas parte de um projeto político que deliberadamente sacrificou vidas em nome de uma agenda conservadora e neoliberal e no culto a personalidade de um pretenso “mito” e “líder forte, imbrochável, incomível e imorrível”.

Conclusão: A Necropolítica como Ameaça à Democracia

A necropolítica não é um acidente, e assim como o fascismo clássico de Mussolini e Hitler, constitui uma estratégia de poder. A extrema direita, incluindo o caso do bolsonarismo, utiliza-a para consolidar um projeto autoritário que divide a sociedade entre pretensos "cidadãos de bem", formada pela elite tradicional rica que não tem o mínimo pudor de financiar golpes, e os "inimigos a serem eliminados", que questionam o poder da mesma elite que segrega e explorar esse últimos.

O desafio para as democracias contemporâneas é resistir a essa normalização da morte, reafirmando a dignidade humana e a justiça social como valores centrais. Caso contrário, o futuro será marcado pela barbárie institucionalizada — onde o Estado não protege, mas decide, segundo seus critérios e interesses, quem merece viver.

Reconhecer a necropolítica insidiosa que se espraia até mesmo pelo discurso convencional da grande mídia nas mentes e nas atitudes das pessoas sem tempo ou costume de refletir criticamente sua realidade, naturalizando a violência e o assassinato de “indesejados” é um passo importante para se compreender o retorno do fascismo nos dias atuais. A luta contra a naturalização da violência de Estado e a desumanização de grupos vulneráveis é urgente, e debates como esse são fundamentais para entender e combater esses mecanismos de poder.

Referências Bibliográficas

  • MBEMBE, Achille. Necropolítica. 2016. Editora N-1 Edições.

  • FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: A Vontade de Saber. 1976. Ed. Paz & Terra

  • Dados sobre violência e pandemia no Brasil (Fontes: CPI da Covid, Anistia Internacional).




Xadrez da ultradireita de Trump e o perigoso fator Tarcisio de Freitas, um militar de ultradireita imposto por Bolsonaro, por Luís Nassif

 

Os Estados Unidos estão, na prática, submetidos a um experimento ditatorial, com o presidente assumindo as funções de monarca.


Do Jornal GGN:


Xadrez da ultradireita de Trump e o fator Tarcisio de Freitas, por Luís Nassif





Vamos por partes.

Peça 1 – o padrão da ultradireita mundial

O governo Donald Trump é a comprovação escarrada de que a ultradireita mundial – incluindo a brasileira de Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas – se vale do mesmo padrão desenhado por Steve Bannon e, por aqui, divulgado por Olavo de Carvalho.

  • Nacionalismo exacerbado.
  • Anti-imigração
  • Questionamento de todas as formas de regulação.
  • Hostilidade em relação a todos os organismos de defesa dos direitos individuais e coletivos.
  • Autoritarismo e centralização de poder.
  • Uso estratégico da desinformação.
  • Enfoque na segurança e na defesa do armamentismo.

O padrão se repete com a ultradireita de todos os países:

🇫🇷 França — Rassemblement National (RN) (antigo Front National, de Marine Le Pen)

Nacionalismo forte: “França para os franceses”, rejeição da imigração muçulmana.

  • Ceticismo europeu: críticas pesadas à União Europeia.
  • Costumes: defesa de valores cristãos tradicionais.
  • Segurança: propostas duras contra crime e terrorismo.

🇮🇹 Itália — Fratelli d’Italia (Irmãos da Itália) (Giorgia Meloni)

  • Nacionalismo: “Deus, pátria e família” é o lema.
  • Anti-imigração: forte oposição a fluxos migratórios vindos da África.
  • Costumes: discurso anti-LGBTQIA+ e defesa da “família tradicional”.
  • Soberania: críticas frequentes à União Europeia e ao “globalismo”.

🇺🇸 Estados Unidos — MAGA Movement (Donald Trump e aliados)

  • Nacionalismo: “America First” como bandeira principal.
  • Anti-imigração: muro na fronteira com o México, política de tolerância zero.
  • Anti-establishment: ataques constantes à imprensa e instituições tradicionais.
  • Autoritarismo: resistência a investigações, tentativas de minar resultados eleitorais.

🇧🇷 Brasil — Aliança com Bolsonaro / PL (Partido Liberal)

  • Nacionalismo: discursos fortes sobre soberania brasileira, Amazônia “não é de ninguém lá de fora”. E seguidores usando o verde e amarelo e rezando pelo país, apesar de seu líder bater continência para a bandeira americana.
  • Costumes: oposição à “ideologia de gênero” e defesa da família tradicional.
  • Anti-imigração e segurança: discurso contra imigração ilegal e foco em “bandido bom é bandido morto”.
  • Anti-elite: críticas a ministros do STF e a políticos tradicionais.

🇵🇱 Polônia — Lei e Justiça (PiS)

  • Nacionalismo católico: defesa da identidade polonesa cristã.
  • Ceticismo europeu: brigas com a União Europeia sobre Estado de Direito.
  • Anti-imigração: recusa em aceitar refugiados de países muçulmanos.
  • Costumes: políticas anti-LGBTQIA+ no nível municipal (“zonas livres de LGBT”).

🇭🇺 Hungria — Fidesz (Viktor Orbán)

  • Nacionalismo: “A Hungria primeiro”.
  • Anti-imigração: construção de barreiras físicas nas fronteiras.
  • Costumes: restrições a direitos LGBTQIA+ e forte controle sobre a educação.
  • Autoritarismo: concentração de poder e controle sobre a imprensa.

O papel de Steve Bannon

Por trás dessa internacionalização, há o papel central de Steve Bannon, que mantém conexões com Marine Le Pen (França), Matteo Salvini (Itália), Viktor Orbán (Hungria), Santiago Abascal (Espanha), e aliados de Bolsonaro (Brasil).

A divulgação se dá nas reuniões da CPAC (Conservative Political Action Conference), que tem braços no Brasil e na Hungria, e uma extensa rede de think tanks e portais de direita.

A estratégia é conhecida: a promoção dos “pânicos morais”, como medo da imigração da “ideologia de gênero”, e do uso de denúncias de corrupção contra adversários.

Peça 2 – Trump e a radicalização do modelo

Em muitos países, esses princípios se resumem a discursos contra qualquer forma de organização moderna – incluindo os estados nacionais. E valendo-se das táticas mais maliciosas.

O discurso anti-globalização, por exemplo, atinge diretamente as organizações multilaterais, que têm, entre suas atribuições, a defesa de direitos, mas também a articulação e a defesa dos estados nacionais.

Atacam a globalização, as instituições multilaterais, ao mesmo tempo em que reduzem radicalmente o poder de atuação do Estado e das instituições constituintes da democracia: Universidades, mídia, Justiça, políticas de inclusão etc. A ideia de pesos e contrapesos, que marca as democracias modernas, é jogada no lixo. Chegando ao poder, o objetivo único é o controle absoluto e o aprofundamento das desigualdades sociais e a implantação do governo dos bilionários e poderosos.

É o que ocorre com o governo Donald Trump no país que moldou o modelo democrático no século 20. Os Estados Unidos estão, na prática, submetidos a um experimento ditatorial, com o presidente assumindo as funções de monarca.

Na sexta-feira passada, a procuradora-geral Pam Bondi, em memorando interno, decretou o fim do sigilo de fonte e da proteção aos jornalistas. Disse que a mídia não deveria receber proteções de sigilo de fonte. Apoia uma “imprensa independente e livre”, mas, porém, contudo, todavia, o Departamento de Justiça investigará os registros telefônicos dos repórteres e – atenção! – interrogará ou prenderá jornalistas sempre que houver “divulgações não autorizadas que minem as políticas governamentais e causem danos ao povo norte-americano”. 

Ainda na semana passada, o governo Trump ordenou a prisão de uma juíza que recorreu à Constituição americana para impedir a deportação de um mexicano. A prisão foi feita pelo FBI. E o próprio diretor do FBI, Kash Patei, acusou a juíza Hannah Dugan, do tribunal federal de Milwaukee, no Wisconsin, de tentar obstruir a operação.

Os agentes do ICE (o departamento de imigração) tinham um mandado administrativo de prisão. A juíza questionou a validade do mandado e instruiu os agentes a procurarem o juiz-chefe do Tribunal.

No futuro será reconhecida como uma heroína da defesa da democracia, assim como a Universidade de Harvard. Agora, corre o risco de ser condenada a 6 anos de prisão.

Repetiu-se um episódio de 2018, com a juíza Shelley Joseph, do Tribunal Distrital do Estado de Massachusetts. Ela e um oficial de justiça foram acusados ​​de ajudar um imigrante indocumentado a escapar do Tribunal Distrital de Newton, em Newton, Massachusetts, antes que um agente do Serviço de Imigração e Alfândega pudesse detê-lo. Promotores federais foram incumbidos de processá-la. Posteriormente, já no governo Biden, ela foi inocentada.

Peça 3 – O padrão da mídia

Um dos principais componentes desse fortalecimento da ultradireita brasileira é uma futura vítima: a imprensa, encantada com o governador Tarcísio de Freitas e empenhada em uma campanha diuturna de desmoralização do governo, em tudo similar à que precedeu o impeachment de Dilma Rousseff.

Há várias maneiras de se mentir no jornalismo. A mais óbvia é a notícia falsa. Outras maneiras são a definição prévia do que se pretende, e a seleção dos fatos que se adequam a ela, as manchetes que não refletem o conteúdo.

Alguns exemplos recentes:

O que diz a matéria:“As vendas do varejo caíram 1,6% em março e, no digital, a queda foi ainda mais forte (12,8%). É o que um levantamento feito pela Stone, uma das principais plataformas de pagamento do país.O estudo (…) mostra uma tendência de queda que se acentua desde o fim do ano passado. No acumulado em 12 meses até março, a queda foi de 1,8%”.O que não se disse na matéria:“Os resultados desse mês nos mostram que, embora o resultado no comparativo com o ano passado seja negativo, quando olhamos para a evolução entre meses do primeiro trimestre de 2024, nota-se continuada tendência de melhora”, explicou Matheus Calvelli, pesquisador econômico, cientista de dados da Stone e responsável pelo levantamento.
No pé da matéria:“Segundo ele, até o momento o sindicato não recebeu nenhuma notificação da PF sobre as suspeitas. “Ficamos sabendo de tudo pela imprensa”, diz.Cavalo afirma estar tranquilo com relação às investigações. “Todos os pedidos de desconto em folha têm de ter ficha preenchida e assinada, com cópia de RG e CPF. A pessoa precisa ter consciência de que está se associando ao sindicato. Pedimos gravação de voz e foto da pessoa segurando crachá e dizendo que seu ato é voluntário”, declara”.Segundo as pesquisas, cerca de 80% a 90% das pessoas lêem apenas as manchetes.

O que diz a matéria:A intimação de Jair Bolsonaro em uma UTI após a sétima cirurgia em decorrência da facada na eleição de 2018 é um dos atos mais abjetos do Supremo Tribunal Federal nos últimos anos. Aliás, não lembro de nada tão indigno (…) A decisão é tão ruim que foi necessária a divulgação de uma nota para explicar o motivo da intimação ser realizada no hospital com o ex-presidente preso a inúmeros aparelhos, convalescendo após 12 horas de “cirurgia extensa”e de “grande porte”.Alguém tem dúvida de que Bolsonaro enfrenta novamente uma situação delicada envolvendo sua condição física?”O que ocorreu de fato:Dias após a cirurgia “extensa e de grande porte”, a UTI estava coalhada de seguidores e Bolsonaro gravou um comercial de um capacete vendido por ele, em sociedade com Nelson Piquet.Nenhum paciente em “situação delicada” recebe visitas na UTI.Todas as informações estavam disponíveis quando o jornalista manifestou sua indignação indecorosa.
O que diz a matéria:O governo Lula tem acomodado em conselhos de administração de estatais pessoas vinculadas ao PT e membros da gestão que não têm formação relacionada à área de atuação das empresas. A lei exige educação acadêmica compatível, além de experiência e reputação ilibada.Os modernos conselhos de administração equilibram conselheiros com conhecimento do setor e conselheiros com preocupações ambientais e responsabilidade social. A matéria tratou como escândalo e gerou um editorial indignado. Ignorância e má fé
O que diz a matéria“Pesquisador da FGV e responsável pela análise, Marcelo Neri: (…)“O lucro do pequeno negócio está subindo. Nunca foi tão alto quanto no final de 2024”A pesquisa se baseou em dados do Programa Acredita no Primeiro Passo, do governo federal.O que disseram Folha e Estadão:Nada.

Estadão e Folha transformaram-se nos veículos preferenciais desse jogo de desgaste da democracia, com a demonização diária do governo Lula e do Supremo Tribunal Federal e a exaltação de Tarcísio de Freitas.

As lições de Otávio Frias eram de um jornalismo que ao menos aparentasse alguma isenção, abrindo espaço para ideias divergentes – embora mantendo a partidarização da primeira página e dos editoriais – e, com isso ampliando seu público e fortalecendo sua opinião.

O Estadão é historicamente parcial em relação a Lula, mas não a ponto de colocar Carlos Andreazza e José Roberto Guzzo como principais colunistas. O conservadorismo mais sólido de William Waack se perde nesse meio.

Mas a intensidade da Folha, na manipulação das notícias, espelha um sinal mais preocupante: a deterioração profunda na qualidade do jornal. Caminha para se tornar um jornal inexpressivo.

Do mesmo grupo, a Uol pratica um jornalismo de qualidade, abrindo espaço para opiniões divergentes e concentrando-se em reportagens de bom nível, assim como O Globo, o Valor e a GloboNews. 

Peça 4 – o fator Tarcísio

Tarcísio de Freitas tem todo o biotipo do ultradireitista clássico. 

  • Nasceu diretamente do militar-bolsonarismo.
  • Eleito governador de São Paulo, transformou a Polícia Militar em uma milícia armada. 
  • Não tem o menor pudor em privatizar empresas essenciais, sem nenhuma análise dos efeitos sobre os consumidores.
  • Propõe a privatização das escolas.
  • Investe decididamente contra a ciência e contra o meio ambiente, colocando à venda fazendas de pesquisa agronômica.
  • Ameaçou cortar 30% do orçamento da Fapesp e só recuou devido à reação geral.

Ou seja, nenhuma política estruturante e uma propensão sistemática para os grandes negócios com bens públicos.  E age estrategicamente. Não conseguiu, no início, avançar sobre as verbas da Fapesp e das Universidades. Mas é tudo uma questão de melhoria da correlação de forças.

No período do governo Bolsonaro, o tratamento à ciência foi similar:

  • 2020: A verba do FNDCT foi de R$ 5,7 bilhões, mas muitos desses recursos foram direcionados para áreas fora da ciência, o que gerou protestos na comunidade científica.
  • 2021: O orçamento para o FNDCT foi de cerca de R$ 4 bilhões, mas a maior parte foi contingenciada, ou seja, retida pelo governo federal devido à necessidade de ajuste fiscal.
  • 2022: O fundo passou a ser gerido de forma mais restritiva, com a comunidade científica apontando a diminuição dos recursos como um obstáculo ao avanço da pesquisa e inovação no Brasil.

Na tentativa de golpe de 8 de janeiro, a arma central era a mobilização das Polícias Militares dos estados. Foi necessária uma articulação do Procurador Geral da República e de procuradores estaduais, decretando estado de emergência para, com isso, obrigar as tropas a permanecerem nos quartéis.

Está aí o exemplo histórico do general Olímpio Mourão Filho, comandante da 4a Região Militar, com sede em Juiz de Fora, que colocou suas tropas em direção a Brasília, movimento decisivo para o golpe contra Jango.

Alguém tem alguma dúvida sobre o comportamento da PM paulista, sob o comando de Tarcísio de Freitas e do matador Marco Antônio Derrite? Ainda está na memória o motim dos PMs de Fortaleza em 2020.

No ano passado, a PM paulista matou 760 pessoas. A cada dia que passa, Derrite tem afastado coronéis legalistas e colocando no comando policiais ligados ao BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) com um largo histórico de violência.

O que seria a volta do bolsonarismo, com Tarcísio de Freitas à frente?

Peça 5 – os interesses imediatos da frente pró-Tarcísio

Nada disso parece sensibilizar a mídia. A expectativa de futuros grandes negócios à frente do governo federal, de uma possível privatização da Petrobras, de uma destruição da estrutura de estado, como Milei, de um suposto controle absoluto da economia pelo mercado, tudo isso cria uma fantasia que contamina pessoas e veículos da imprensa de pouca visão.

Cria-se um clima de radicalização com resultados previsíveis. Não se trata mais de encarar o governo jornalisticamente, criticando o que consideram erro, admitindo os acertos, mas entendendo que tudo faz parte do jogo democrático. 

Claro que Lula erra, que o governo é politicamente medíocre. Mas há um conjunto enorme de políticas de reconstrução em andamento, em cima dos fundamentos da economia, seja na parte social, tecnológica, econômica. E se esconde esses fatos, esconde-se a maneira como Lula foi recebido no Japão, na China, os avanços da Nova Indústria Brasil, do programa de transição energética, dos avanços dos projetos estruturantes. Essa ignorância e má fé impede o aprimoramento de qualquer programa, porque a crítica não visa aperfeiçoamentos, mas a destruição.

Voltou o jogo do delenda-Lula, em tudo similar aos piores momentos da história, aos momentos que permitiram o advento do autoritarismo mais opressivo. Não há diferenças expressivas entre a ignorância das redes sociais e a linha editorial majoritária da mídia – com alguns soluços de racionalidade.

O preço do subdesenvolvimento é a eterna ignorância.

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quinta-feira, 24 de abril de 2025

Francisco, uma estrela latina que brilhou no Vaticano. Artigo de Ana Cláudia Laurindo

 

A sabedoria amorosa do Papa Francisco acrescentou virtudes a uma das instituições mais antigas e conservadoras do mundo, a mesma que instituiu morticínios e se apropriou das chaves do céu, no simbolismo de Pedro, o discípulo de Jesus.


Segue o texto da Educadora e Cientista Social Ana Paulo Laurindo, publicado no
Repórter Nordeste:

Uma estrela latina brilhou no Vaticano

Será este dia um divisor de águas na história contemporânea?

Estará riscada na linha do tempo uma nova idade das trevas?

Será Bergoglio, o Francisco católico, um marco de luz no fim do túnel dessa história?

Setores da igreja rezaram por sua morte no reclame do arcaísmo que ele combateu.

A sabedoria amorosa do Papa Francisco acrescentou virtudes a uma das instituições mais antigas e conservadoras do mundo, a mesma que instituiu morticínios e se apropriou das chaves do céu, no simbolismo de Pedro, o discípulo de Jesus.

Mas também foi nos arrabaldes da igreja católica que ganhou força a Teologia da Libertação e as comunidades dançaram e cantaram a esperança nas ruas, superando ditaduras e movimentando uma sociedade libertária em comunidades eclesiais.

A imperfeição e a perfeição postas na mesa, na consagração de um corpo sacrificado e um derramamento de sangue dito redentor que vira pão, que se transforma em vinho, que promete a salvação aos fiéis. Essa mesma igreja reúne interesses os mais divergentes, afina com poderes políticos e econômicos e continua detendo importância na condição de milhares de mentalidades.

Francisco foi uma estrela latina que brilhou no Vaticano.

Um Papa que fez o mundo se sentir mais aconchegado.

Deixou esperança nos dias pandêmicos e enfrentou tabus.

A morte de Francisco deixa uma sensação de perda em caráter global. Mas seu exemplo fincou nuances importantes nessa história, e sem sua presença física, um temor do arcaísmo ressurge, porque a igreja católica não logrou superar o medieval que palpita na ânsia de domínio do mundo sob os discursos celestiais.

O sentimento de gratidão ao Papa Francisco também é global, passando pelos corações humanizados, pelos espíritos sensibilizados e por todas as consciências amorosas que palpitam nesta terra.

Missão cumprida, segue em paz a estrela latina, e agora rezaremos pelo porvir.