quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

E a história parece mais uma vez se repetir como farsa cem anos depois... A volta do fascismo de Estado... E o grande Ditador...

 

Do ICL Notícias:

COLUNISTAS ICL

O grande ditador

Um governo que começa dizendo o que será
Artigo de Eliana Alves Cruz


O ano era 1940 quando o genial Charles Chaplin lançou o filme ‘O grande ditador’, uma sátira a Hitler e ao Nazismo, que já produziam estragos na guerra começada um ano antes. Em 1941, o então presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt, diante de um momento em que consideraram a democracia ameaçada, fez um discurso dedicado á segurança nacional do seu país.

A fala, denominada “Discurso das quatro liberdades” — liberdade de expressão, religiosa, viver sem penúria e viver sem medo, ainda que ao modo egocêntrico dos dirigentes estadunidenses de todos os tempos, foi um ensaio de proteção mínima dos direitos humanos, que teriam a sua declaração mais robusta no texto adotado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 10 de dezembro de 1948. Uma peça elaborada por Canadá, China, França, Líbano e, vejam só, os Estados Unidos da América diante dos horrores observados na Segunda Guerra Mundial.

O breve (e obviamente superficial) histórico acima foi necessário apenas para dizer que, na prática, o mundo está regredido em mais de oito décadas e meia. Estamos em uma era pré-Chaplin em “O grande ditador”, pré “Four Freedom” e Declaração dos Direitos Humanos, pois nestas peças estão coisas que Donald Trump, o 41º mandatário daquela nação, abomina e trabalha para suprimir com fúria e ódio… muito ódio.

Charles Chaplin em "O grande ditador"

Charles Chaplin em “O grande ditador”

O espantoso em todo o recentíssimo processo após a posse é, justamente, o espanto. Quem não sabia que ele faria exatamente o que prometeu? Quem não sabia que ele é um mal disfarçado representante de supremacistas brancos clássicos? Quem não viu que ele é a personificação da profecia feita pelo genial geógrafo Milton Santos, ao afirmar que o mundo se encaminhava para substituir governos por representantes das que seriam as reais mandatárias, ou seja, as grandes corporações?

O espanto só nos faz pensar em três possibilidades, todas em grandes quantidades e nenhuma necessariamente excludente da outra: Ignorância, alienação voluntária e cinismo.

Tudo é bolor autoritário e sanguinário metido a purista para enganar os trouxas e lucrar, lucrar, lucrar… apenas eles, mais ninguém. Dez pessoas no mundo possuem riqueza seis vezes maior que metade do planeta. Três estavam na posse do novo presidente. Eles compartilham algo ainda mais valioso que o dinheiro que acumulam e que anda em falta no mundo: consciência de classe.

O noticiário quase monotemático vai despejando a “nova era”, mas nada é propriamente novo. Tudo é uma reedição de xenofobias, racismos sesquicentenários, desejos de poder beirando psicopatias herdadas, amores inconfessos às ditaduras que tanto dizem detestar.

Donald Trump é todo ele uma caricatura que possui caricaturas. Entre arremedos mal feitos desta figura bastante bizarra, dirigentes latino-americanos que também nunca disseram que seriam outra coisa.

O que realmente espanta é a paralisia causada por este assombro inadequado ou as ações pensadas com o fígado, quando se sabia muito bem que estava prestes a subir ao poder de uma das nações mais poderosas do planeta (ela não é mais dona exclusiva do topo deste pódio), uma patética, porém perigosíssima, versão de ditador. Daqueles que Charles Chaplin faria uma fenomenal denúncia pela exposição do ridículo.

Porque o nome do país é Estados Unidos da América, vivemos para ver o mundo não dar o nome correto a um governo que persegue opositores, que demite funcionários que pensam diferente, que proíbe livros e falas que combatem o racismo e a homofobia, que empurra goela abaixo dos seus cidadãos sua noção de moral, sua crença e visão de mundo; que quer mudar a geografia do planeta, que trata como criminosos estrangeiros apenas pelo fato de serem estrangeiros, que busca sistematicamente humilhar e diminuir nações inteiras.

Sem alegorias religiosas aqui. Este não se prenuncia um governo “demoníaco”. Sem patologias também. Este não é um governante “louco”. Este é um modelo despótico imposto por um déspota, mas que vai se esconder atrás do fato de que foi posto lá pelo voto. Vai usar estes votantes como escudos humanos para todo tipo de atrocidade, como se grande parte dos ditadores do mundo também um dia não tivessem ascendido por este meio.

Aliás, ano que vem teremos deste lado de cá uma coisa chamada eleições presidenciais. Impossível não temer, pois também é alarmante o amor de quem é financeiramente privilegiado pelos eufemismos e a falta de curva de aprendizado dos seres humanos com a própria história. Além do fato de que, vamos admitir, o Brasil adora sofrer e esquecer que sofreu.

Acordemos para lembrar porque a pior notícia sobre o fascismo é sempre a próxima.

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