segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Igreja como negócio e igreja como extorsão: o que fazer diante do mercado da fé? Artigo de Márcia Tiburi

 

"Não há argumento racional, político ou ético que se possa alegar contra o pagamento de impostos por parte de líderes religiosos", diz Marcia Tiburi


(Foto: Reprodução)

A norma que dava isenção fiscal a líderes religiosos foi derrubada pela Receita Federal há alguns dias. A isenção, concedida por Bolsonaro, colocou pastores em guerra contra o governo que, na verdade, não pode fazer nada diferente se quiser colocar a democracia em prática. 

Todo cidadão paga impostos, ou seja, também os fiéis das igrejas pagam impostos e os pastores e padres não são diferentes até porque vivem do dinheiro dos fiéis. Não há argumento racional, político ou ético que se possa alegar contra o pagamento de impostos por parte de líderes religiosos que não possa ser usado por qualquer outro cidadão para deixar de pagar os seus próprios impostos. 

Para além disso, as igrejas tem assumido sua vocação empresarial, há muito tempo se fala em igrejas de mercado que tem escondido o que de fato fazem que é comercializar a fé, transformando Deus e Jesus em uma mercadoria barata. O que Jesus Cristo chamou de “vendilhões do templo” nunca deixaram de existir, aliás eles se especializaram. Vemos pastores usando caríssimas roupas de marca, comprando carros luxuosos, casas luxuosas, tudo com o dinheiro dos fiéis que, na maioria das vezes, são coagidos ou chantageados a pagar o dízimo e o fazem com muito sacrifício. 

Há poucos dias uma pastora, cujo investimento em estética corporal e facial deve ter custado muito dinheiro dos fiéis que pagam atualmente as igrejas com pix, pedia valores relacionados à idade das pessoas, quem tem 18 anos paga 18, quem tem 40 paga 40, e assim por diante. Ela criou o milagre da idade, um golpe de marketing em que a fé é manipulada teopsiquicamente sem vergonha nenhuma. Um pastor, igualmente tatuado e sarado, vendendo-se como “macho”, criou justamente uma igreja para “machos” em que pretende restaurar o que seria o “macho bíblico”. 

O pastor inaugura o pós-fundamentalismo estético, pois até onde se pode ler na Bíblia, as indumentárias eram bem diferentes. Com sua “machonaria” ele passa a fazer parte de um nível avançado da performance do ridículo político, tendência maior da política rebaixada à publicidade e, também ela, a mercado. Ou o Brasil assume o Estado Laico, ou não haverá país nenhum.

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