quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Poema de um setembro triste, por Dora Incontri

 

Mas a pátria também é / O corpo que cai na favela / E a mancha do sangue negro / E a história de marcha ré!


Poema de um setembro triste, por Dora Incontri

Fiz esse poema no ano passado, no dia 7 de setembro. De lá para cá, só tivemos pioras em nosso cenário. Portanto, ele é ainda lamentavelmente atual.

A pátria é meu Caymmi
Que deu meu nome de Dora.
A pátria é minha poesia
De Castro Alves, Drumond.
A pátria é meu desenredo
De Guimarães do sertão.
A pátria é meu coração
Onda moram meus amores, de agora
De antes, depois.
A pátria é discreta alegria
De um bem-te-vi na janela.
A pátria é amarela de ipê.

Mas a pátria também é
O corpo que cai na favela
E a mancha do sangue negro
E a história de marcha ré!

Pátria amada, cultuada
Em minha alma de criança
Estás nua, desdentada,
Ensangüentada, queimada,
Rasgando nossa esperança.

Piedade, Musa da pátria
Volta ao que nunca foste
Justa, pura e sem igual.
Dissolve no céu azul
A gritaria atonal,
E faz de nós que sabemos
Nossa estrada desigual,
Construtores dessa hora,
Viajores do presente
Em que de novo se assente
Uma esperança potente!

Pátria amada, desidratada,
Por nosso pranto varonil
Devolve-nos mais que depressa
A seiva do nosso Brasil!

Dora Incontri

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