texto de Carlos Antonio Fragoso Guimarães - UFCG
O cineasta Jorge Furtado fez um filme-documentário sobre a atividade e pensamento de alguns dos maiores jornalistas do país e compara seus dizeres, em contraste, com a parcialidade e tendenciosidade da grande imprensa nacional, controlada pelas mãos e interesses de algumas poucas famílias (Marinhos, Civitas, Macedos, Mesquitas, Frias, Asaads, etc.). A obra intitula-se O Mercado de Notícias, um documentário sobre jornalismo. O cineasta, que entrevistou comentaristas, jornalistas e professores, entre eles Bob Fernandes, Luis Nassif, Jânio de Freitas e Paulo Moreira Leite, disponibilizou várias das entrevistas no Youtube. Isto na parte documental do filme, que possui também um história.
O roteiro do filme, que divide espaço com a parte documental, segue a ideia de uma peça teatral escrita no século XVII por Ben Jonson (1572-1634), que fez uma sátira ao modo como o jornalismo, então uma atividade recente, já manipulava notícias, por vezes com claro viés político. Trechos da peça servem de ligação entre uma entrevista e outra com os jornalistas convidados. Furtado mostra, assim, ao mesmo tempo, a atualidade do texto de Jonson e de como a "grande mídia" (entenda-se, em especial, a Globo, a Abril, a Folha, o Estadão) no Brasil se enquadra perfeitamente na sátira e crítica originais. Segundo a jornalista Norma Curi, em artigo para o Observatório da Imprensa, com a "peça e depoimentos entrecortados, parece que Ben Johnson é contemporâneo, vive aqui ao lado".
O infame caso da"bolinha de papel" jogada em José Serra na campanha de 2010 e que se transformou, por parte da própria grande mídia interessada no sucesso do candidato do PSDB, em um quase atentado terrorista. A destruição e de vidas no caso sensacionalista (e falso) da Escola Base e muitos mais casos de tendenciosidade da mídia são citados no documentário, bem como o seu papel no incentivo ao Golpe de 64 além da discussão das questões dos interesses entre fonte-repórter-edição, especialmente envolvendo políticos e a justiça.
Que forças estão por trás ou no controle das agências de notícias? Quais as influências e interesses por trás das pautas e edições?
A questão da parcialidade e dos perigos de uma imprensa que se faz e se apresenta como "acima do bem e do mal" quando, na verdade, possui profundos interesses e ligações com setores dominantes da sociedade é bem dissecada no documentário (e na peça de Jonson). Muitas vezes o discurso de "da liberdade de imprensa" é usado para defender posicionamentos bastante retrógrados e visivelmente tendenciosos (casos de repórteres ou apresentadores de TV que são punidos após pautarem notícias que vão contra as "ordens" e interesses de seus veículos de comunicação são bem conhecidos).
Aqui segue o breve artigo de Nassif sobre a obra de Furtado e alguns dos videos citados, com especial destaque à entrevista do próprio Luis Nassif, que desmonta o processo de manipulação das notícias com viés político, na grande imprensa brasileira:
O jornalismo brasileiro no documentário de Jorge Furtado
dom, 06/07/2014 – 11:41 – Atualizado em 06/07/2014 – 11:43
Jornal GGN – O cineasta Jorge Furtado, conhecido por obras como Ilha das Flores, decidiu explorar, no documentário O Mercado de Notícias, o papel do jornalista, a história e o futuro da imprensa nativa. Tudo sob a ótica de figuras renomadas, como Renata Lo Prete, Paulo Moreira Leite, Luis Nassif, Fernando Rodrigues, Jânio de Freitas, José Roberto de Toleto, entre outros.
O documentário de uma hora e meia tem estreia marcada no Brasil para agosto, mas a equipe de Furtado começou, há algumas semanas, a disponibilizar na internet as entrevistas na íntegra, algumas gravadas ainda em 2012.
Nos vídeos, cada entrevistado fala um pouco de sua trajetória pessoal, faz uma crítica à função do jornalismo na sociedade, e projeta os desafios da profissão em meio a um período que soa como uma crise para alguns, ou uma revolução, para outros.
vídeo 1: Bob Fernandes sobre a corrupção no Brasil
vídeo 2 com Paulo Moreira Leite
video 3: Luis Nassif
Video 4: Filme Completo
Boa gostei !
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