terça-feira, 3 de setembro de 2013

Existirá vida após... o nascimento?



Carlos Antonio Fragoso Guimarães

Esta é uma parábola baseada em uma metáfora já conhecida na net, mas sempre atual. Nos faz pensar que, à semelhança do que ocorre no Mito da Caverna de Platão (livro VII de seu diálogo A República), nós tomamos o mundo que nos é familiar como sendo a única realidade possível, assim como os habitantes da caverna tomavam como a única verdade o seu mundo de sombras projetadas... Será mesmo que haverá algo além da vida conhecida? Por que não? Não faz muito tempo, se pensava que o universo se resumia à nossa única galaxia....

Segue, agora, a nossa versão da história dos bebês gêmeos que debatem sobre a possibilidade de uma vida além-útero. É a nossa adaptação,  ampliada, da metáfora de autor desconhecido (segundo um comentário, pode ser do escritor Pablo J. Luis Molinero) sobre a possibilidade de vida depois do... parto/partida (se você souber quem fez o conto original, mais simples, por favor, escreva ou deixe o nome no espaço para os comentários):

No ventre de uma mulher grávida estavam dois bebês, gêmeos fraternos. Ambos começaram a refletir sobre a vida intra-uterina que conheciam até que, inevitavelmente, passam a discutir a possibilidade de vida além-útero.

Eis a história:

 Um dos dois bebês pergunta, intrigado, ao outro:

- Você acredita na vida após o nascimento?

A resposta do outro bebê, após pensar um pouco, foi:

- Ah, bom... Penso que algo, alguma coisa, tem de haver após o nascimento. Isso tudo que nos trouxe à vida aqui dentro deve ter um sentido, ainda que nos escape. Talvez estejamos aqui principalmente porque nós precisamos nos desenvolver e preparar para o que seremos mais tarde, após o parto. Se for assim, aqui seria só uma fase de preparação para a vida lá fora, fase para o desenvolvimento de capacidades que aflorarão melhor em outra realidade, após o nascimento. Acredito que isso inclui mesmo, por exemplo, as capacidades de reflexão e entendimento, como a que estamos fazendo agora.

A esta reflexão, respondeu o bebê cético:

- Bobagem, não há isso de vida após o nascimento. Como é que seria essa vida? Será que seriamos iguais? acho que não. Haveria ainda esse líquido confortável que nos circunda? Você acha que teria sentido um mundo sem líquido, sem cordão umbilical?

A pronta resposta do bebê que pensa haver em uma vida além-útero foi:

- Eu não sei exatamente o que há, mas certamente, pelo que podemos ver surgir tenuamente, às vezes, deve haver mais luz e espaço do que aqui. Talvez lá exista novas possibilidades, quem sabe tenhamos características novas, como caminhar com nossos próprios pés e nos alimentarmos com a boca.

- Isso é um absurdo! Caminhar é impossível. Você consegue caminhar aqui? E comer com a boca, então? É totalmente ridículo! O cordão umbilical é o que nos alimenta. Até onde posso entender aonde me levam minhas pesquisas, posso afirmar uma coisa: A vida após o nascimento está excluída – o cordão umbilical é muito curto para ir além deste nosso mundo.

Acompanhando com atenção os argumentos do irmão, o outro bebê, contudo, não achava que os mesmos eram prova da inexistência de uma realidade maior. Ele achava que o pouco que ambos sabiam sobre o universo que conheciam era muito limitado e muito condicionado pelas fronteiras do que podiam perceber em relação ao que certamente ainda não sabiam. Pensando assim, ele replicou, dizendo:

- Ah, eu não acho que isso que conhecemos da realidade seja tudo, certamente há algo a mais. Até um dia desses nós nem sabíamos o porquê do cordão umbilical. Ainda não entendo o porquê dos sons destas batidas ritmadas que escutamos o dia todo, mas descobri que dentro de nós existe batidas semelhantes em nossos corações. Talvez a realidade pós-parto seja apenas um pouco diferente do que estamos habituados a ter aqui, porém mais livre. E quanto a provas sobre isso, quem sabe elas apenas ainda não foram percebidas por nossas limitações ou pelas limitações do nosso pensamento. De vez em quando vemos este útero um pouco mais iluminado, como se houvesse uma fonte luminosa externa e além útero, mas não sabemos ainda o que é que provoca isso, sabemos? Sequer sabemos tampouco com certeza de onde é que vem o alimento que recebemos do cordão umbilical.

O outro bebê, já habituado com a visão reducionista de mundo que adotava, continuou a estranhar a lógica do seu companheiro intra-uterino. E por que isto de argumentar que ainda não sabemos sobre a luz e o alimento? Certamente eles seriam explicados mais adiante com um estudo aprofundado e nada haveria de mágico ou acima do entendimento empírico. De qualquer modo, ele estava emocionalmente vinculado demais a seu próprio paradigma para levar em consideração os pontos de vista do irmão. Para ele, o bebê cético, seu posicionamento parecia ancorar-se no argumento de que não havia indícios confiáveis para a aceitação de uma vida após o parto:

- Mas ninguém nunca voltou de lá, deste "outro mundo", depois do nascimento, pra contar o que existe - replicou o bebê cético -. O parto apenas encerra a vida: Nasceu, acabou! E afinal de contas, a vida é nada mais do que a angústia prolongada na semi-escuridão. Um acidente da química e da física, assim como todo esse nosso mundo em que estamos também o é. E ainda que houvesse outro tipo de vida, ainda assim acho que ela não seria para sempre.  Haveria uma outra crise de que poderiamos chamar de, por exemplo, morte.


Sobre esta questão, respondeu o outro bebê: 
- Bem, eu não sei exatamente como será o depois do nascimento. Mas uma vez sonhei que tive uma experiência próxima do parto, uma EPP, em que, depois da terrível agonia das contrações uterinas, em passava pelo túnel do canal de parto e era amparado por carinhosas e grandes mãos amigas em um novo mundo de tanta luz que não consegui me adaptar e ver ou entender imediatamente o que havia por lá, mas suponho que com o tempo iria me adaptar e ver melhor, discernindo as coisas e pessoas . E quanto a uma limitação de vida nesta outra realidade, naquilo que você chama morte, acho que seria algo parecido ao que estamos discutindo aqui: toda nascimento seria uma morte para um estágio anterior da vida para o surgimento em outra dimensão mais ampla.  Não vejo a vida como sendo o contrário desta transformação. Nascimento/morte são só curvas ou pontos de mutação nesta estrada da vida.  É bem provável que na vida após nascimento, as pessoas também tenham algum tipo de experiência de quase da morte, ou EQM, e até uns tantos que estudem tal fenômeno. Mas, de qualquer modo, como estava dizendo sem ir tão longe, após o nascimento certamente iriamos ver melhor e compreender a origem de tudo: a mamãe, e ela cuidará de nós.

Essa última intervenção do irmão pareceu irritar muito o bebê mais cético, que respondeu ironicamente:

- Mamãe?! Você acredita na existência da mamãe?! E onde ela supostamente está? Não vejo essa coisa de mamãe em canto nenhum... Mamãe, mamãe, onde está você? Em que canto te escondes?!

O bebê filósofo,  já compreendendo que não haveria argumentos suficientes para abalar o posicionamento do irmão, ainda assim defendeu seu ponto de vista, respondendo:

- Onde ela está? Em tudo à nossa volta! Ou você acha que estamos imersos em um nada que nos faz e sustenta? Acho que não, acho que a mamãe é o que nos sustenta. Nela e através dela nós vivemos. Sem ela tudo isso não existiria. Você não sente que existe algo que nos sustenta e ampara?

O Bebê cético, sentindo que havia lógica nas palavras do mano, começou a se sentir incomodado, não tanto pela argumentação adversa, mas pelo feato de que ela começava a balançar suas anteriores "certezas". O bebê ficou perplexo e pensou:



"Mas como? Não se leva um tempo considerável em construirmos nosso próprio mapa conceitual da realidade e ele não parece tão perfeito? Como é que vem alguém agora e começa a expor pontos de vista que vão em linhas diametralmente opostos as minhas? Eu tenho de estar certo, ainda que ele fale algo coerente. Não, o meu modelo é o que está certo e faz sentido, não o que aponta para características ou possibilidades opostas às minhas!"

Assim, por ser muito dificil reconhecer os limites de nossas próprias crenças, que por mais baseadas que sejam no empirismo do conhecido, acabam formando uma metafísica tão limitada quanto a metafísica tradicional, o bebê cético passou a responder um pouco mais rispidamente às colocações do irmão apelando para os limitados fatos do mundo que conhecia:

- Eu não acredito! Eu nunca vi nenhuma mamãe. Tampouco vi indícios que sustentem essa hipótese absurda, já que os estudos sequer implicam na existência dela, por isso é claro que não existe nenhuma, muito menos vida depois do parto!.

O bebê filósofo, já percebendo a insegurança íntima do mano, resolver não levar muito adiante a discussão, encerrando a conversa com uma reflexão sobre certos indícios sobre a vida além-útero e da existência da mamãe:

- Bem, mas às vezes, quando estamos em silêncio, você pode ouvi-la cantando, ou sentir como ela afaga nosso mundo. Saiba, eu penso que só então a vida real nos espera e agora, por enquanto, apenas estamos nos preparando para ela…

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