quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A Urgente necessidade de Espiritualidade



"A alienação capitalista na qual vivemos atolados insinua ser a contemplação preguiça, o que é falso. Ela também não é descanso: o descanso é uma necessidade física e a contemplação uma urgência espiritual.
"O ser humano é, por natureza, capaz de espiritualidade, e viverá aquém das suas capacidades se não corresponder a este apelo...
Deve distinguir-se, ainda, entre contemplação e oração; a oração é, em parte, contemplação, mas a contemplação não carece de ser religiosa. Basta ser racional para precisar contemplar. Antes do Cristianismo, a Grécia filosófica referiu-se ao ócio como via para atingir o "Conhece-te a ti mesmo”.

"Desesperados com o trabalho imoral, os ocidentais viram-se para técnicas orientalizantes de contemplação, esquecidos da tradição ocidental existente neste campo. Acontece ser esta troca fatal: o Oriente, em regra, usa a contemplação para esvaziar a interioridade de toda a marca individual, o que é o contrário do “Conhece-te a ti mesmo”. Procuram o Nada e nós o Ser.

"O ato introspectivo não deve parar no degrau psicologista. O “Eu assim, eu assado” está a léguas da paz interior. O luxo da nossa Língua afirma: “contemplar” também é “dar”: “Fulano foi contemplado com uma viagem à lua”. O ato reflexivo termina nas mãos.

"O exemplo maior de tudo isto volta a ser a Arte, a excelência do trabalho. O artista atual fala da sua “produção”, o que é ser tolo. O produto é o contrário da obra de arte e o artista não é máquina. Precisa parar para refletir, como a terra tem seu pouso.
Parar. Olhar o mundo. Escutar o mundo. Ouvir a voz interior.
“Cair em si”.
Ai de nós, colocamos música nas lojas, nas ruas, em máquinas pelos ouvidos adentro.
Temos medo do silêncio.
Asfixiamos."

Mário Cabral

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