segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A vitória da luta contra a hipocrisia



Carlos Antonio Fragoso Guimarães

A vitória de ontem, dia 31 de outubro de 2010, não foi só de Dilma Rousseff ou de Lula, ou dos simpatizantes de sua linha política, ou dos que se dizem de esquerda. Não.

Foi muito mais do que isso. Foi a vitória de uma resistência aos poderes e interesses de quem detém grande capital, o mesmo que financia certas famílias que dominam praticamente o monopólio da comunicação, e que demonstrou sua face tendenciosa nos factóides de grande circulação impressa (a família Civita com a sujíssima Veja, por exemplo), ou televisiva ( tanto a Vênus Platinada nas mãos dos Marinhos como quase todas as demais emissoras tinham, por interesse próprio ligados ao mercado, dado sua contribuição para alavancar a candidatura neoliberal do oponente).

Foi até mais do que isso. Foi a vitória contra a hipocrisia conservadorista, quer em cores religiosas (de evangélicos radicais a católicos ultra-conservadores), contra o machismo, contra a arrogância de uma elite que vive de ganhos em cima da exploração do trabalho e da mega-especulação (ainda que as surreais taxas de juros nas alturas seja uma contribuição do atual governo a estes mesmos vampiros que tanto quiseram derrubar a candidatura da outrora guerrilheira contra a ditadura), a mesma pequena elite que se acha acima, entre os seus, dos demais brasileiros, vistos e entendidos como "ignorantes" e "atrasados". Enfim, foi a vitória de uma população que começa a despertar para o poder que tem diante da força do voto ante os cantos de sereia e efemeridades de fogos de artifícios políticos...

O refugo da campanha de acirrado ódio e preconceito, por parte dos partidários da direita neoliberal, fica patente nos dizeres "explicativos" dada pelo PiG para a vitória de Dilma: uma "divisão" entre o "sul maravilha", rico, "esclarecido" e o restante do Brasil:

O preconceito que se esconde por trás do mapa vermelho e azul

por Luiz Carlos Azenha

Nem de longe é uma tentativa majoritária. E a imensa maioria dos analistas tem dito isso: o mapa que divide o Brasil entre azul e vermelho não conta toda a história da escolha de Dilma Rousseff.
Mas o mapinha simplório e simplista serve aos que pretendem ligar Dilma Rousseff ao suposto “atraso” das regiões Norte e Nordeste. O preconceito sempre dá um jeito de reaparecer, sob outros disfarces.
Dilma teve 58% dos votos de Minas Gerais, mais de 60% dos votos do Rio de Janeiro, quase 50% dos votos no Rio Grande do Sul e quase 46% dos votos em São Paulo.
Se todos os votos dos dois candidatos no Nordeste fossem descartados, ainda assim Dilma venceria a eleição, mas dizer isso assim pode soar — ao gosto dos que semeiam preconceitos — como desqualificação do voto do nordestino.
Individualmente, os governadores Eduardo Campos, Jacques Vagner, Sergio Cabral, Cid Gomes, Sarney e o vice-presidente José Alencar foram os grandes cabos eleitorais de Dilma.
Quanto ao preconceito, foi o alimento de uma das candidaturas e não há de desaparecer assim, por encanto. Neste momento, serve às tentativas de “deslegitimar” o resultado das eleições.



Portanto, agora, a ex-guerrilheira terá de se preparar para a vingança do Pig (partido da imprensa golpista), que não costuma perdoar seus inimigos. Veja-se, como bem mostra Paulo Henrique Amorim em seu blog Conversa Afiada, que já começou a reação na tentativa de desconstruir a figura de Dilma como pessoa atuante... Para eles, a vitória não é de Dilma, mas de Lula.

Diz a manchete do Globo: Lula elege Dilma e aliados já articulam sua volta em 2014.

Ou seja, para eles, como bem destaca Paulo Henrique Amorim, Dilma não é nada. Ela, para eles, não passa de um fantoche, uma interina para Lula ou uma pedra no caminho da volta ao poder explícito dos descendentes dos antigos senhores do café.

Mas não se pode dizer de um fantoche a sua presença brilhante no segundo turno, sua coragem, demonstrada na juventude enfrentando paus-de-arara, não correndo de denúncias ou enfrentando um câncer em pleno ano eleitoral.

O que será seu governo, o tempo irá dizer. Erros e acertos são inevitáveis como igualmente inevitável é a articulação da direita conservadora para minar seu governo antes mesmo de o começar... Na verdade, temem que ela seja mais ideologicamente atrelada à crítica do status quo, das benesses sempre crescente de uma minoria, muito mais resistente a isso que o atual presidente. E isso, vindo de uma MULHER, eles, claro, não vão suportar.

Portanto, a mesma elite que aplaudiu o golpe de 64 também aplaudiu a Veja e a Globo no novo modo de tortura: os ataques baixos. Diz Mino Carta, o criador da Revista Veja em seus áureos tempos de fins dos anos sessenta (há tanto tempo perdido), agora em editorial da revista Carta Capital, onde atua hoje:

"Nos porões do regime dos gendarmes da chamada elite, Dilma Rousseff foi encarcerada e brutalmente torturada. Poderia ter sofrido o mesmo fim de Vlado Herzog, que os jornalistas não se esquecem de recordar todo ano.
Mas a hipocrisia da mídia não tem limites, com a contribuição da
ferocidade que imperou na internet ao sabor da campanha de ódio nunca tão capilar e agressiva. E na moldura cabe à perfeição a questão do aborto, praticado à vontade pelas privilegiadas e, ao que se diz, pela própria esposa de José Serra, e negado às desvalidas sem assistência.
Até o papa alemão a presidente recém-eleita teve de enfrentar. Ao se encontrar já nos momentos finais da campanha com um grupo de bispos nordestinos, Ratzinger convidou-os a orientar os cidadãos contra quem não respeita a vida, clara referência à questão que, lamentavelmente, invadiu as primeiras páginas, as capas, os noticiários da tevê. Parece até que Bento XVI não sabe que o Vaticano fica na Itália, onde o aborto foi descriminalizado há 40 anos."


Já começou, portanto, a guerra contra a presidenta Dilma antes mesmos dos resultados oficiais das eleições - aliás, muitissimo antes disto.

O Capital não tolera inovações, especialmente as que possam potencialmente contrariar seus interesses. Mas hoje não é mais os gritos e letras garrafais da mídia, do caledoscópio editado do quarto poder ou dos assim pagos "formadores de opinião" os que modificam percepções em prol do mercado... Hoje as pessoas percebem onde se faz, de fato melhoras e onde se percebe, de fato, o momento em que o Brasil passa a ser reconhecido no exterior.

Dilma aguentou perseguições, choques, espancamentos e venceu, ao contrário de um outro que quis se fazer de vítima de uma bola de papel com amplo apoio da mídia...

Brasil, acorde este gigante adormecido. Seu povo é esse gigante que inicia o despertar!

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