sábado, 29 de outubro de 2022

Fiéis protestam pelo fechamento da igreja de Nossa Senhora do Desterro em Campo Grande por Bolsonaro

 

Staff de Bolsonaro ocupou praça em Campo Grande, retirando parte das grades e colocando alambrados, tornando a matriz inacessível por suas quatro entradas

www.brasil247.com - Praça Dom João Esberard, em Campo Grande (RJ)

Praça Dom João Esberard, em Campo Grande (RJ) (Foto: Reprodução)

Por Marcelo Auler, em seu blog

Mais de 1.500 cidadãos, paroquianos da igreja Nossa Senhora do Desterro (Vicariato Episcopal Campo Grande, Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro) ou simplesmente pessoas “de bom coração” aderiram, através da internet, à Carta Aberta que denuncia os “atos ilícitos de apoiadores do Sr. Jair Messias Bolsonaro, que, de maneira grotesca e ameaçadora, estão, desde o dia 22 de outubro de 2022, tentando invadir o espaço da Igreja Matriz Nossa Senhora do Desterro, no intuito de montar uma base para um comício eleitoral que está agendado para o dia 27 de outubro de 2022, sendo realizado na Praça em frente à Igreja Matriz.”

Embora não tenha conseguido o espaço da igreja, o staff de Bolsonaro ocupou a Praça Dom João Esberard. Retiraram parte das grades e colocaram alambrados tornando a matriz inacessível por qualquer uma das quatro entradas que possui.

Com isso aumentou o isolamento do pároco João Lucas, do padre Ricardo Gomes, bem como o diácono Vitor Henrique. Os três estão confinados no interior da igreja – no bairro de Campo Grande, zona Oeste do Rio de Janeiro – desde domingo, tal como narramos na reportagem Comício de Bolsonaro fecha igreja e confina padres.

A reportagem publicada no Blog Marcelo Auler-Repórter e no Brasil 247 foi encaminhada por uma procuradora do Ministério Público do trabalho para a Procuradora Region AL Eleitoral, Neiden Cardoso de Oliveira (protocolo PRR2ª 00032692/2022) a quem caberá tomar as providências que entender necessárias, analisando se houve algum crime eleitoral no caso.

Eduardo Paes: “vamos arrancar votos deles”

Procurado pelos bolsonaristas, o pároco João Lucas explicou que não tinha autorização para ceder vídeos e fotos, algo que deveria ser pedido junto ao Vicariato para Comunicação Social da arquidiocese. O staff da campanha do atual presidente queria, inclusive, ocupar espaços da matriz, como o amplo estacionamento e o salão paroquial.

O prefeito Eduardo Paes confirmou ao Blog que a prefeitura sequer foi procurada e não autorizou o uso da praça, tampouco a retirada das grades. Garantiu que elas terão que ser recolocadas, do contrário dará queixa na delegacia de polícia. Ironicamente, concluiu, “Não há nada a fazer, a não ser usar isso para arrancar mais uns votos dele”.

Não será uma tarefa fácil, pois em Campo Grande o presidente tem um forte apoio. Muitos relacionam esses apoios ao fato de ser um bairro dominado pelas milícias. Provavelmente não será o principal nem o único fator a ajudá-lo.

O fato é que no primeiro turno, nas quatro zonas eleitorais daquele bairro (120, 122, 242 e 245) de um total de 270.059 eleitores aptos a votarem, no dia 2 e outubro foram digitados 254.817 votos válidos. Ou seja, apenas 5,64% dos eleitores dessas zonas eleitorais ou não compareceram ou depositaram votos em branco ou nulo.

Do total de votos validos, Bolsonaro foi escolhido por 149.506 eleitores, o que corresponde a 57,49% dos votos validados pelo TSE. Luiz Inácio Lula da Silva arrematou 87.216 votos (57,49%) enquanto Simone Tebet teve 9.316 votos (3,66%) e Ciro Gomes 8.668 (3,4%). Os demais candidatos tiveram votação pouco significativa.

Diante desse resultado, a expectativa é que Bolsonaro lote a Praça Dom João Esberard, em Campo Grande, cujo espaço reservado para o público, segundo uma das nossas fontes, é mais ou menos o equivalente a um terço da tradicional Praça da Cinelândia no centro do Rio de Janeiro.

Além do espaço menor, ele contará certamente com o apoio de muitos comerciantes da região, todos os donos de pequenos negócios e tradicionalmente conservadores. Sem falar nos fiéis das igrejas neopentecostais

Mas é fato também que existe um movimento nem tão silencioso assim, pelas redes sociais. A CARTA ABERTA DOS FIÉIS CATÓLICOS DA PARÓQUIA N. SRA. DO DESTERRO (Campo Grande – Rio de Janeiro – RJ) SOBRE AMEAÇAS DA CAMPANHA DE JAIR BOLSONARO CONTRA A IGREJA MATRIZ NOSSA SENHORA DO DESTERRO postada na madrugada dessa quinta feira na internet, já tinha recebido 1.564 adesões até as 13h00 e continua ganhando assinaturas. Provavelmente Bolsonaro poderá estar perdendo alguns eleitores naquela região, pela desastrada forma como seu staff preparou o comício previsto para as 16h00 dessa quinta-feira (27/10). Poderá ser mais um tiro no pé.

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