terça-feira, 26 de novembro de 2013

Papa Francisco ataca duramente o atual estágio do Capitalismo



Carlos Antonio Fragoso Guimarães

 O Papa Francisco acabou de publicar seu mais duro e "polêmico" documento: o Evangelii Gaudium é um texto em que o Papa, demonstrando forte conhecimento de sociologia e economia, ataca duramente o capitalismo, em seu atual estágio "neoliberal".

 Para ele, o atual estágio neoliberal, iniciado por Reagan e Teacher nos anos 80 com base nas ideais de Friedmann sobre o Estado Mínimo e desregulamentação dos mercados (incluindo o financeiro, que levou ao estouro da bolha e à crise de 2008), em sua voracidade exploratória do homem e do meio ambiente, sem nenhuma forma de controle, expõe uma "nova tirania" que, ao contrário das promessas pós "fim da História" de 89, acentuaram os processos de exclusão, violência, alienação, degradação ambiental e mal-estar generalizado.

Francisco foi enfático:

"Assim como o mandamento ' Não Matarás' põe um limite claro para assegurar o valor da vida humana, assim também hoje devemos dizer: Não a uma economia de exclusão e da desigualdade social. Esta economia mata!"
 Em outra passagem, Francisco é ainda mais claro, ao apontar, na prática, o neocolonialismo exploratório bem embutido dentro do neoliberalismo, que se faz surdo ao sofrimento que provoca, até mesmo sob a máscara do discurso de imposição da "democracia", mas que na verdade, é uma maquiagem a interesses imperialistas:

"Às vezes trata-se de ouvir o clamor de povos inteiros, dos povos mais pobres da terra, porque «a paz funda-se não só no respeito pelos direitos do homem, mas também no respeito pelo direito dos povos». Lamentavelmente, até os direitos humanos podem ser usados como justificação para uma defesa exacerbada dos direitos individuais ou dos direitos dos povos mais ricos. Respeitando a independência e a cultura de cada nação, é preciso recordar-se sempre de que o planeta é de toda a humanidade e para toda a humanidade, e que o simples fato de ter nascido num lugar com menores recursos ou menor desenvolvimento não justifica que algumas pessoas vivam menos dignamente. É preciso repetir que «os mais favorecidos devem renunciar a alguns dos seus direitos, para poderem colocar, com mais liberalidade, os seus bens ao serviço dos outros». Para falarmos adequadamente dos nossos direitos, é preciso alongar mais o olhar e abrir os ouvidos ao clamor dos outros povos ou de outras regiões do próprio país. Precisamos de crescer numa solidariedade que «permita a todos os povos tornarem-se artífices do seu destino», tal como «cada homem é chamado a desenvolver-se."
A mídia comprometida com os interesses neoliberais fez o que pode para diminuir o impacto destas palavras, destacando as posições mais tradicionais de Francisco, especialmente no que se refere ao aborto e ao sacerdócio feminino. Muito embora Francisco tenha minimizado os exageros um tanto histéricos dos tradicionalistas, é claro que ele não poderia ir muito longe nestes dois pontos, tendo em vista que ele pretende fazer uma reforma de peso na Igreja, e não iria dar munição aos reacionários.

 Ainda assim, no mesmo texto, Francisco demonstra explicitamente que baterá de frente com estes mesmos reacionários ao afirmar, e não de agora, que é urgente de uma Reforma na Igreja, na tentativa de resgatar a mensagem de solidariedade e fraternidade do evangelho, perdida nos meandros do labirinto hierárquico da monarquia católica, demonstrando de forma clara sua luta contra a exploração, a exclusão e a pobreza, em especial criadas e alimentadas pelo capitalismo.

 O documento, em sua tradução em espanhol, pode ser lido neste  link: Evangelli Gaudium (Alegria do Evangelho).

 Cabe, agora, esperar as inevitáveis críticas dos extremistas de direita de setores midiáticos reacionários, em especial da Revista Veja com seus articulistas fascistas.

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