terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Pelo lucro pode-se tudo? O caso do abuso no BBB 12


Carlos Antonio Fragoso Guimarães

   Não estou aqui para acusar quem assiste o BBB de nada. Cada um faz o que quer e assiste o que bem lhe convier. Opções de vida inteligente e socialmente estimulante para além da telinha da tv existem e cabe, a quem quiser, fazer um pequeno esforço para perceber ou fazer acontecer isso de livre arbítrio. Minha preocupação aqui não está em quem assiste o BBB, mas na responsabilidade social de quem o faz, esclarecendo que o autor destas linhas só veio a saber do caso do suposto "estupro" ocorrido no progama pelos comentários correntes na própria internet...

  O que aqui questiono não é a questão da liberdade sexual e nem me passa pela cabeça propor qualquer tipo de censura, mas sobre a falta de limites e de responsabilidades perante ao que é mostrado ou estimulado em serviços de radiodifusão, o que constitui o verdadeiro e real abuso, já que as emissoras, bem ou mal, são (ou ao menos deveriam ser) concessões públicas voltadas primariamente para o bem e dignidade da pessoa humana e não para a banalização da sexualidade e do conflito intra-social, em numa construção sensacionalista por motivação puramente mercadológica. E é claro que tais jogos acabem por, bem ou mal, servir de modelo, influenciação e exemplo na formação de crianças e jovens educadas que são mais pela mídia que pelos pais e pela escola, mídia que alcança lares (alguns dos quais desestruturados pelo modelo hegemônico econômico que promove mesmo tais programas) em todo o Brasil.

  Isto nada tema ver com a questão da liberdade sexual ou com respeito (ou falta deste) para com as pessoas que participam  do BBB, mas sobre a provável falta de cuidado para com estes por parte da emissora de tv. Afinal, para que servem as "festas" regadas à muito álcool (belo exemplo aos jovens) e apelos à sensualidade, senão ao incentivo de "casos" que farão a audiência crescer? O "estupro" (se é que houve)  nada mais foi que consequência direta dos estímulos sensuais promovidos intensamente pelo próprio programa. A exploração do sexo é até mesmo esperada  (afinal, "casais" atraem a simpatia do publico, e "casos" ainda mais) na estratégia de marketing do BBB, haja vista que as garotas do programa, em sua maior parte, de antemão se comprometem a posar para revistas masculinas.

  A expulsão a posteriori do "brother" supostamente estuprador parece ser uma ação igualmente interpestiva, tomada pela direção do programa ante à celeuma, presente nas redes sociais e estimuladas calculadamente nas emissoras concorrentes, provocada pela cena da garota sendo "tocada", aparentemente inconsciente (e ai está todo o problema, que levanta a questão do estupro), pelo rapaz, devido à bebedeira da noitada patrocinada pelo  próprio programa. Não estou defendendo a atitude dele ou dela, mas fica a questão de que, se não houve o "estupro", houve  certamente um prejuizo à imagem de um e de outro dos envolvidos no caso por uma estrutura de programa no mínimo falha. Também não pretendo impor uma concepção moralista ao caso. A sexualidade midiática e midiatizada é não só esperada como mesmo icentivada por programas desta natureza. Estivesse a participante aparentemente acordada, ou aparentasse estar envolvida mais ativamente, o caso seria um "trivial" e comum episódio de sexo consentido mais ou menos frente às câmeras (uma "pegação" como dizem alguns). Mas esta banalização não ataca a imagem da mulher? Ora, como negar, então, a responsabilidade do programa e de sua emissora no suposto estupro se um dos objetivos do "reality show" (nem tão reality e nem tão natural assim) é exatamente o de estimular sexualmente os competidores para, assim, consolidar e/ou amuentar a audiência, garantindo maior faturamento?

 Mas a dicussão sobre as causas e objetivos de tal mister midiático não é promovida. Banalização em programas ou revistas sensacionalistas parecem ser regra dentro da velha Mídia brasileira que, ademais, escolhe o que deve ou não ser divulgado, como no paradigmático caso do livro "A Privataria Tucana" - um fenômeno de vendagens que põe a nu a roubalheira dos grandes do PSDB na era FHC -, que não mereceu da Globo uma única avaliação fundamentada na sua rede aberta de televisão, o que é revelador de uma mídia que é pródiga em expressar elogios e montar pautas em causa própria (veja-se, por exemplo, o caso explícito de tendendiciosidade da parcialíssima Revista Veja), estando como está nas mãos de umas poucas e ricas famílias paulistas (com o núcleo da Globo também no Rio) comprometidas com a podridão do neoliberalismo de mercado...



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