Carlos Antonio Fragoso Guimarães
A repercussão negativa ocorrida em abril deste ano, no caso dos jogadores "de Cristo" famosos, que se recusaram a fazer uma ação de apóio social em uma instituição que cuida de pessoas com paralisia cerebral pelo simples fato de que a instituição ser mantida por espíritas, trouxe à tona a discussão sobre a questão da coerência entre o discurso religioso e a vivência e exemplificação dos ideais postulados, teoricamente, por este mesmo discurso.
A atitude de algumas das sumidades do Santos chocou pela brutalidade branca: eles se recusaram a descer do ônibus ao se darem conta que a instituição em questão, chamada Lar Mensageiros da Luz, que cuida de crianças e jovens com paralisia cerebral e deficiências congêneres, era dirigida e mantida por espíritas.
O atacante do Santos e da seleção brasileira Robinho, que foi um dos que se recusaram a visitar a instituição, junto com Neymar e outros, falou do episódio publicamente mas, ao contrário de Neymar - também evangélico e que depois veio a público dizer que se arrenpedia da atitude tomada, reconhecendo a mesquinhez e falta de solidariedade humana bem pouco cristãs do ocorrido -, Robinho não se mostrou em nada arrependido da atitude e apontou a questão religiosa como justificativa para que o grupo, formado pelo próprio Robinho, Léo, Fábio Costa, Marquinhos, André e Neymar, entre outros, não tenha participado do ato de solidariedade às crianças.
“Só ficamos sabendo quando chegamos ao local que se tratava de um ambiente espírita. Cada jogador tomou a atitude que achou conveniente, e acho que a religião de cada um precisa ser respeitada”, disse o camisa 7 do Peixe, em entrevista à TV Bandeirantes.
De toda a equipe presente no ônibus, cerca de 23 pessoas, apenas 11 dos atletas foram suficientemente dignos e centrados a ponto de visitarem a instituição, brincando com as crianças e visitando os médicos e cuidadores, distribuindo ovos de páscoa. Entre estes que realmente demonstraram coerência e amor ao próximo, e que merecem nosso reconhecimento, estavam Felipe, Wladimir, Edu Dracena, Zé Eduardo, Arouca, Pará, Gil, Maikon Leite, Breitner, Zezinho e Wesley foram os responsáveis pela entrega dos ovos. Dorival Júnior e grande parte da diretoria também estiveram presentes no local.
A instituição em questão, Lar Mensageiros da Luz, é casa de caridade que desde 1970 cuida de pessoas com paralisia cerebral ou outros problemas relacionados com a deficiência mental e motora. Foi no Lar Espírita Mensageiros da Luz, localizado no canal 3 e que atualmente cuida de 34 pessoas, que o Santos resolveu aparecer para doar simbolicamente 600 ovos de Páscoa, que na realidade seriam vendidos na loja do clube próprio, na Vila Belmiro. O dinheiro arrecadado com as vendas seria totalmente revertido para a instituição.
Sobre o ocorrido, alguns dos jogadores que desceram do ônibus e de fatop visitaram as crianças no dia do ocorrido, disseram:
- Temos de esquecer isso e pensar apenas no maravilhoso trabalho que é feito nessa instituição. E eles estão precisando de ajuda. Aqui, é o ser humano que precisa ser valorizado – afirmou o técnico do Santos.
- Não tem como não se emocionar. Essas pessoas são lutadoras e merecem tudo de bom da vida – ressaltou Felipe, o atual goleiro titular, ao lado de um portador de paralisia cerebral.
Alguns jornalistas presentes ao evento narraram que enquanto os 11 jogadores visitavam a instituição, parte dos que ficaram no ônibus passaram a improvisar uma batucada...
Seja como for, a atitude dos "atletas de Cristo" causou grande repercussão... negativa, dentro mesmo de algumas vertentes evangélicas. Tanto que, posteriormente, quatro dos atletas mais criticados do Santos pela atitude tomada compareceram na segunda-feira, dia 12 de abril, ao local antes evitado, mas de forma discreta. Sem combinar previamente, Robinho, Neymar, Paulo Henrique Ganso e Roberto Brum fizeram surpresa para os 34 internos, sem a presença da imprensa.
Cabe destacar que, nos meios evangélicos, existem pessoas de alto gabarito e real vivência dos postulados cristãos, embora tais pessoas sejam frequentemente ofuscadas pela ação hipócrita de vários pseudo-cristãos que formam parte do evangelismo midiático fundamentalista que, infelizmente, destrói consciências e senso de irmandade em nossos dias.
Dentre os mais lúcidos membros do meio evangélico, sem dúvida o Pastor René Kivitz - já citado outras vezes neste blog - se destaca pela coerência vivencial e pelo brilho intelecutal, além da coragem de analisar e apontar, publicamente, as falhas de parte da comunidade envangélica de cunho fundamentalista, que mais parece deturpar e destroir a mensagem cristã do que serve à sua divulgação e entendimento. Deste esclarecido missionário - que por sinal torce pelo time do Santos -, reproduzimos o seguinte artigo:
"Os meninos da Vila pisaram na bola. Mas prefiro sair em sua defesa. Eles não erraram sozinhos. Fizeram a cabeça deles. O mundo religioso é mestre em fazer a cabeça dos outros. Por isso cada vez mais me convenço de que o Cristianismo implica a superação da religião, e cada vez mais me dedico a pensar nas categorias da espiritualidade, em detrimento das categorias da religião.
A religião está baseada nos ritos, dogmas e credos, tabus e códigos morais de cada tradição de fé. A espiritualidade está fundamentada nos conteúdos universais de todas e cada uma das tradições de fé.
Quando você começa a discutir quem vai para céu e quem vai para o inferno, ou se Deus é a favor ou contra à prática do homossexualismo, ou mesmo se você tem que subir uma escada de joelhos ou dar o dízimo na igreja para alcançar o favor de Deus, você está discutindo religião. Quando você começa a discutir se o correto é a reencarnação ou a ressurreição, a teoria de Darwin ou a narrativa do Gênesis, e se o livro certo é a Bíblia ou o Corão, você está discutindo religião. Quando você fica perguntando se a instituição social é espírita kardecista, evangélica, ou católica, você está discutindo religião.
O problema é que toda vez que você discute religião você afasta as pessoas umas das outras, promove o sectarismo e a intolerância. A religião coloca de um lado os adoradores de Allá, de outro os adoradores de Yahweh, e de outro os adoradores de Jesus. Isso sem falar nos adoradores de Shiva, de Krishna e devotos do Buda, e por aí vai. E cada grupo de adoradores deseja a extinção dos outros, ou pela conversão à sua religião, o que faz com que os outros deixem de existir enquanto outros e se tornem iguais a nós, ou pelo extermínio através do assassinato em nome de Deus, ou melhor, em nome de um deus, com d minúsculo, isto é, um ídolo que pretende se passar por Deus.
Mas quando você concentra sua atenção e ação, sua práxis, em valores como reconciliação, perdão, misericórdia, compaixão, solidariedade, amor e caridade, você está no horizonte da espiritualidade, comum a todas as tradições religiosas. E quando você está com o coração cheio de espiritualidade, e não de religião, você promove a justiça e a paz. Os valores espirituais agregam pessoas, aproximam os diferentes, fazem com que os discordantes no mundo das crenças se dêem as mãos no mundo da busca de superação do sofrimento humano, que a todos nós humilha e iguala, independentemente de raça, gênero e, inclusive, religião.
Em síntese, quando você vive no mundo da religião, você fica no ônibus. Quando você vive no mundo da espiritualidade que a sua religião ensina – ou pelo menos deveria ensinar, você desce do ônibus e dá um ovo de páscoa para uma criança que sofre a tragédia e miséria de uma paralisia mental. "
Leia também, do Pastor René Kivitz, o texto "O Evangelho dos Evangélicos", muito esclarecedor tanto sobre o disvirtuamento da mensagem de Cristo por parte de pentencostais midiáticos, que buscam mais o poder e o lucro que uma vivência evangélica de fato, quanto da luta de autênticos cristãos - não importando a denominação ou igreja a que pertençam - para separar o jóio do trigo.
Parabéns pelo trabalho no blog. Já estou seguindo.
ResponderExcluirAproveito para lhe convidar a conhecer o meu blog, e se desejar segui-lo, será uma honra.
Seus comentários também serão muito bem-vindos.
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Vicente Lino da Natividade Apelidado: NEL