Não há por que temer a CPI por Mauro Santayana
Nos meios políticos há o temor de que a investigação do Congresso sobre a Operação Montecarlo, desfechada pela Polícia Federal, sobre as relações do homem de múltiplos negócios de Goiás, conhecido como Carlos Cachoeira, com parlamentares, membros do poder executivo de Goiás e do Distrito Federal, venha a ampliar-se. Há informações de que pode surgir o envolvimento de outras personalidades e de outros partidos políticos, em outras unidades da federação. A rede de influência do empresário de Goiás parece ser mais ampla do que a de Al Capone.
O comportamento da presidente da República inquieta alguns observadores. Uma investigação desse porte costuma assustar os chefes de governo, mais ainda em ano eleitoral. Tancredo Neves comparava esses inquéritos do parlamento à retirada de caranguejos dos jequis de pesca: eles sempre saem agarrados uns aos outros. Sendo assim, mesmo que não temam a apuração das denúncias, os chefes de governo, em todas as esferas do Estado, buscam impedir essas comissões de inquérito, pela turbulência que sempre causam. Pois bem, até agora, a presidente da República não tomou qualquer iniciativa para dificultar as investigações, nem para incitá-las.
Uma visão mais republicana de sua atitude favorece-a: o poder executivo não deve imiscuir-se nos assuntos interna corporis do Parlamento. Uma visão mais particular, sabendo-se de seus atos anteriores, pode identificar o desejo de depurar o governo e o Estado, pelo menos durante o seu mandato, dos corruptos e corruptores. Ao esquivar-se de qualquer iniciativa no caso, ela preserva sua autoridade, principalmente em ano de eleições municipais.
É, mais do que possível, provável, que os temores se venham a justificar: nas teias do ativo empreendedor de Goiás, pelo que se sabe até o momento, há gente de toda espécie – de policiais a espiões particulares; de empresários de alta estirpe a meros assessores, além de jornalistas.
Será difícil emperrar a CPI, com adiamentos ou com manobras, como tem ocorrido a outras, em tempos recentes. Há algum tempo lembrávamos, neste mesmo espaço, o reaparecimento de uma instituição que parecia afastada da História, nestes anos de neoliberalismo: a cidadania. Ainda que os ensaios de mobilização não tenham levado às conseqüências radicais, os cidadãos começam a mover-se, a ocupar as ruas do mundo, a clamar por justiça. E é o que pode vir a ocorrer entre nós. É hora de identificar os homens públicos realmente honrados e os que posam de honrados, como os fariseus do Evangelho.
Se há órgãos de imprensa mancomunados com o corruptor goiano, que sejam conhecidos. Nesse caso, mais do que o rigor da lei, se a lei lhes puder ser aplicada, pesará o juízo da opinião pública. À imprensa cabe, nas democracias, a desagradável tarefa de fiscalizar as instituições políticas, a serviço da cidadania. Será muito grave se se descobrir que esse ou aquele jornalista tenha agido como o Senador Demóstenes Torres parece ter atuado: em público, ao posar Catão usticense; nas sombras, recebendo ordens, como obediente assalariado do contraventor goiano.
Tratemos de outra consternação diante da atualidade. O Sr. Murillo Portugal – um desses tecnocratas que trabalhavam para o Estado e depois atravessaram a rua para servir ao outro lado – foi emissário das queixas dos banqueiros ao governo. Os bancos se recusam a baixar a diferença entre as taxas de captação e as dos empréstimos que cobram dos seus devedores – das mais altas do mundo – sem que recebam compensações. Os cinqüenta bilhões de lucros obtidos – com inadimplência ou sem ela – lhes parecem pouco. Assim, ainda pedem isenções de tributos – e cobram 300 milhões de reais da Receita pelo recolhimento de impostos em suas caixas eletrônicas. Se continuarem assim, é provável que a estatização dos bancos se faça de maneira suave: seus clientes acabarão preferindo o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal.
terça-feira, 17 de abril de 2012
Santayana: Não há porque temer a CPI do Cachoeira (e da Veja)
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