quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

O realismo fantástico e abuso de poder na volta do Estado de Exceção: Lula, Toffoli, Moro e o corpo de Vavá




Lula na posse de Toffoli*
A decisão do ministro Dias Toffoli pode ser vista como uma página de realismo fantástico. Ele autorizou Lula a ir ao velório do irmão, desde que o corpo fosse levado a uma unidade militar. Poderíamos imaginar algum sargento exigindo a identificação do cadáver pra autorizar a entrada do caixão…

A decisão, no entanto, saiu quando o corpo já fora baixado à sepultura no ABC paulista. Podemos imaginar então um tenente do bravo Exército nacional exigindo que o corpo de Vavá fosse desenterrado e levado até o quartel. Cumpra-se! Selva! Brasil acima de todos os corpos e caixões!

O episódio ajudará a contar, em futuro próximo, a história abjeta de perseguição ao ex-presidente. Lula estará nos livros como grande líder popular. Seus algozes serão nota de rodapé.

Atentemos, no entanto, para um detalhe (minúsculo, diante de tantas derrotas para os que defendem Lula): a decisão de Toffoli crava na testa da juíza carcereira de Curitiba e da PF (lembremos que os lavajateiros, perversos, haviam negado autorização para Lula ir ao enterro) que eles agem em desacordo com a Constituição e perseguem Lula.

Fica esse carimbo: abuso de autoridade e perseguição… sob comando do Moro.

Claro que, ao remeter para a PF opinar sobre a autorização, numa atitude inusual e abjeta, a juiza carcereira de Curitiba sabia que na verdade era Moro – chefe da PF – quem opinaria. Moro é o algoz e carcereiro indireto.

Toffoli cravou esse carimbo na testa dos lavajateiros: abusaram de autoridade. Usaram togas e prerrogativas policiais para fazer política.

Toffoli procurou se diferenciar dos carcereiros, decidindo de forma caricata por um velório em quartel militar. Seria simbólico!

E há outro ponto a ressaltar: Mourão, um vice com apetite de poder, já havia dito que Lula teria direito sim de ir ao enterro. Toffoli, parece claro, agiu em acordo com a facção militar do governo.

Há, portanto, nuances entre o regime Moro/Bolsonaro e a facção militar. Essa última parece menos propensa a aventuras que gerem um quadro de completa anarquia institucional.

O regime Moro/Bolsonaro é um capitulo do avanço conservador. Pode ser descartado em breve pela facção militar. Essa disputa já se trava. E Lula é um troféu em disputa.

Toffoli, amparado por Mourão e os militares, passa aos lavajateiros e Moro o recado: “não avancem tantos sinais, nisso não estaremos juntos”.

E, mais que isso, Toffoli oferece ao mundo (e aos simpatizantes de Bolsonaro menos tresloucados) uma decisão didática a demonstrar o grau de perseguição a que Lula esta submetido.

É uma pequena vitoria em meio a tantas derrotas para o campo lulista.



* Lula indicou Toffoli para ministro do STF. No dia da posse, Lula abraçou carinhosamente o irmão de Toffoli, portador de deficiência. Hoje Toffoli proibiu LULA de despedir-se do irmão Vavá. O que poderia ser um momento sublime de retribuição do carinho de Lula virou um momento de escárnio.

Toffoli tornou-se um ex-homem.

A deterioração física e moral dele é visível. Lula segue sendo o maior brasileiro de todos os tempos.

Renan Araújo - extraído do Contexto Livre

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