"No mesmo dia em que Jair Bolsonaro assinou o decreto que altera o Estatuto do Desarmamento para facilitar a posse de armas em todos os estados do País, Onyx Lorenzoni deu uma entrevista na GloboNews defendendo a medida. Para isso, despejou uma série de argumentos insustentáveis." - Jornal GGN
Estamos na era "Pelo lucro, matai-vos uns aos outros"
Foto: Agência Brasil
Jornal GGN - No mesmo dia em que Jair Bolsonaro assinou o decreto que altera o Estatuto do Desarmamento para facilitar a posse de armas em todos os estados do País, Onyx Lorenzoni deu uma entrevista na GloboNews defendendo a medida. Para isso, despejou uma série de argumentos insustentáveis.
A entrevista e outras declarações de Onyx deixam claro que o governo Bolsonaro não se importa em manipular ou ignorar dados e estudos quando quer fazer valer seu ponto de vista.
O argumento mais fácil de ser desarmado é o de que o brasileiro quer a facilitação da posse de arma.
Segundo Onyx, em 2005, 64% da média nacional e 82% da população do Rio Grande do Sul votaram no referendo para "manter o direito à legítima defesa".
Mas isso nunca esteve em xeque naquele referendo. A pergunta no referendo foi: “O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?”
A maioria respondeu que não, e a comercialização foi mantida de acordo com as regras estipuladas pelo Estatuto do Desarmamento, que estava em vigor desde 2003.
O Datafolha publicou no mesmo dia do decreto de Bolsonaro os resultados da pesquisa mais recente sobre o assunto. E 61% dos entrevistadores responderam que não concordam com a "facilitação da posse de armas", na contramão do que acredita o atual governo.
Outro dado lançado por Onyx foi o de que até 9 milhões de famílias brasileiras têm uma arma em situação irregular em casa. Segundo apuração da Agência Lupa, não existe estudo sobre isso. Em 2010, o Ministério da Justiça informou que 7,6 milhões de armas eram irregulares no Brasil. O número representava metade das armas no País. Mas não é possível dizer quantas famílias tinham a posse de pelo menos uma.
O Instituto Sou da Paz alertou também que o governo Bolsonaro usou dados de segurança pública apenas de 2016 para analisar quais estados seriam alcançados pelo decreto. O ano não foi escolhido à toa: naquele ano, todos os estados brasileiros atendiam ao critério de mais de 10 homicídios a cada 100 mil habitantes.
Outra ideia falsa propagada por Onyx é a de que mais armas erquivale a menos morte. Em 2013, quando o Estatuto do Desarmamento fez 10 anos, o Ipea divulgou um estudo que mostra o contrário: os locais que mais se livraram de armas são os que tem as maiores quedas nas taxas de homicídio.
Não suficiente, Onyx ainda disparou na GloboNews que a Declaração Universal dos Direitos Humanos garante a possibilidade de matar alguém para proteger uma vida. Confundiu, provavelmente, com o Código Penal brasileiro, que prevê que não há crime quando o homicídio se deu por auto-defesa. A Declaração da ONU não fala sobre isso.
LIQUIDIFICADOR
A cereja do bolo da argumentação capenga de Onyx foi a comparação entre uma arma de fogo e um liquidificador. Na visão do ministro, os dois artefatos expõem as crianças à risco - mas nem por isso alguém pensou em proibir liquidificador.
"A gente vê criança pequena botar o dedo dentro do liquidificador e ligar o liquidificador e perder o dedinho. Então, nós vamos proibir os liquidificadores? Não. É uma questão de educação, é uma questão de orientação."
Segundo Onyx, para proteger as crianças, o governo Bolsonaro colocou no decreto a exigência de cofre ou local com tranca em casa, para armazenar a arma.
Mas é com pudor zero que Onyx admitiu aos jornalistas que a Polícia Federal não vai fiscalizar a existência do cofre nem exigir comprovação. O governo se dispôs a acreditar na boa fé do requerente. Basta declarar que tem o cofre em casa, mesmo que não tenha.
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