GGN.- Bolsonaro não vai sair do palanque, pois ele só existe no palanque retórico e ideológico que montou. O tempo inteiro somos obrigados a debater Olavo, Damares, Velez, Araujo e as frases virulentas de Bolsonaro. Isto serve apenas para continuar o debate nas redes. Trabalhando para tudo isto, os jornais e a midia escrevem páginas de crimes e violência ou sobre índices da bolsa ou sobre algum clichê ideológico, criando uma ficção e escondendo a realidade..
A mídia esta semana requentou o racismo de Watson, prêmio Nobel. Isto já havia sido notícia anos atrás. Porém aproveitaram a a chance de requentar a notícia e excitar o racismo nas redes. As manifestações que se seguiram nas redes são tão abjetas que obrigam necessariamente pessoas de bem a responder. E assim enquanto se combate retoricamente, a realidade de nosso racismo continua e é estimulada. A matéria está lá colocada para excitar os mais pobres instintos. Ela abre mais espaço para o exército do Whatsapp, enquanto a destruição do país corre ao largo.
As idas e vindas do governo mostram que entre a retórica ideológica e a realidade existem contradições insolúveis, mas para a grande imprensa isto não importa desde que os grandes negócios e tal reforma das reformas estejam sendo realizados.
Em artigo recente Aldo Fornazieri discute a ofensiva ideológica e a resposta da esquerda. Não apenas ela, mas parece que todos nós estamos aprisionados neste palco ideológico, numa luta que só aparentemente é pelos corações e mentes . O palco como e quando foi criado é feito apenas para estimular os corações e mentes já conquistados. De forma paradoxal, tanto nós como eles sabemos que esta retórica ideológica não resiste à realidade mas a luta continua se descolando cada vez mais do real. Não sei como mudar isto, pois a sociedade brasileira parece estar paralisada. Quando se fala em sindicatos, eu me pergunto onde estão? Na mídia eles não estão e nem nunca vão estar, pois a mídia trabalha com o objetivo de esconder . Se houver algum movimento ou embrião de organização, isto será escondido gerando sempre esta sensação de vazio e paralisia.
Obviamente existe um vazio real ,não apenas sindical e nem apenas partidário. A paralisia e vazio alcança quase todas as áreas. Por exemplo, me pergunto onde estão os Educadores, deste pais que deveriam estar colocando os problemas reais de nossa educação e o papel das políticas publicas de educação mas se sentem obrigados a debater Escola sem Partido. Não acredito que estejam parados, mas com certeza estão invisíveis Onde estão os artistas para falar do papel das políticas publicas nas artes, mas são obrigados a responder questionamentos sobre a lei Rouanet, que é apenas cortina de fumaça. Educadores, artistas estão invisíveis, pois mesmo que estejam ativos e se mobilizando, isto não aparece, é escondido pela grande imprensa. A realidade escolar, isto é os reais problemas da educação , está invisivel sob esta retórica sobre Escola sem Partido e ou discussão sobre os escolhidos de Bolsonaro ou Velez.
Onde estão os cientistas deste país, que não conseguem colocar ao público, o status real e atual das pesquisas brasileiras que, apesar de tantos sucessos, continuam invisíveis para a Sociedade. Embora eu saiba de suas movimentações em defesa da Ciência, eles continuam invisíveis. Onde estão as Universidades, os Institutos Federais que não se mostram , não contrapõe a sua realidade ao discurso midiático. Contra a retórica governamental basta mostrar a realidade da universidade publica, com seu ensino , pesquisa e extensão. Precisam mostrar que hoje temos uma maioria de classe B e C nas universidades. É preciso mostrar o papel central da Universidade em todas as atividades do país. Mas isto está invisivel, e fica mais escondido ainda quando ataques à universidade pública, a reduzem a quase nada, e a colocam sob suspeição através de ações de Forças Tarefas e operações da PF. Qual a posição da Universidade frente a mudança do Ministério. Porque seus reitores e professores continuam invisiveis. Pouco ouvimos sobre a ANDIFES, ANDES etc...E esta invisibilidade e silêncio permite que a retórica ideológica avance no sucateamento, privatização e favorecimento dos grupos empresariais da educação.
Onde está a realidade do SUS que é bem maior do que apenas filas. Afinal é o único país da américa latina que possui saúde pública. O SUS será o proximo objetivo, pois tudo que é publico será alcançado pela ofensiva ideológica. Mas onde estão as notícias sobre o que é de fato o SUS. Como sumiram as notícias sobre o Mais Médicos, que só reapareceram com as saidas dos Cubanos, o que foi feito de novo apenas no palco ideológico. Onde estão as lideranças médicas neste país, caladas, coniventes, ou entusiastas desta retórica governamental ? Onde estão as lideranças institucionais?
Onde e quando foi que começamos a esquecer a realidade e ficamos presos nos debates retóricos? Talvez tenha se iniciado com a lava-jato, que conseguiu esconder a Petrobrás. A empresa com sua tecnologia pesquisa e sucesso do pré-sal, sumiu naquele cenário de esgoto onde a cortina era decorada com a cara de ladrões como Paulo Costa, Cerveró. E pasmem eles já estão livres gastando o roubado. Mas não posso deixar de lembrar o silêncio ou a invisibilidade dos petroleiros e altos funcionários em todo este processo. O silencio da própria Petrobrás, permitiu sua fragilização, e a preparação de seu retalhamento e possível privatização. A retórica de que tudo é corrupção venceu. Assim com a retórica da inevitabilidade da venda da EMBRAER venceu , sem que saibamos de fato a real situação da EMBRAER.
O sistema S acaba de ser profundamente atacado e não vimos nenhuma argumentação contrária do próprio Sistema S. Não posso crer que estejam de acordo. Mas se manifestações fizeram, e esclarecimentos deram, tudo ficou invisível. Em todo este processo a população ficou sem saber o que é o sistema S.
Portanto não são apenas as lideranças de esquerda. O país e as instituições vem sendo atacadas de há muito e a sociedade civil e suas lideranças institucionais estão invisíveis, esperando as ordens ou estão caladas e com medo.
Estamos aprisionados no debate ideológico, mas contra a ofensiva ideológica do governo, dados da realidade do país são as melhores armas. Foi por esta razão que o candidato fugiu dos debates. Não sobreviveria se questionado sobre a realidade. O discurso e a retórica não sobrevivem se contrastatados com a realidade, mas cada setor real deste país precisa se manifestar e encontrar um antídoto para a invisibilidade. O paradoxo entre o discurso retórico e a realidade se expressa nas indas e vindas vexatórias deste governo, que discursa para depois se inteirar do que se trata. Mas ajudado pela grande mídia cria um fosso entre a realidade e continua pautando apenas o que é de interesse. Nas redes a ofensiva ideológica do governo tem maior sucesso, afinal mantém mobilizados os seus exércitos de Whatsapp e twitter especialistas na retórica virulenta, vazia mas de consequências trágicas. Estes formam a cortina necessária para manter a realidade invisível.
Mas é urgente, trazer o debate para o mundo real, pois este foco ideológico é a cortina para que nos bastidores a caravana do golpe e do mercado continue sua marcha rumo a fortuna de alguns.
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