Elenira Vilela, ao lado de Lédio Foto: Rafaela Martins |
Essas fortes palavras foram ditas pelo Professor Lédio Rosa de Andrade no velório do Reitor Professor Luiz Carlos Cancellier de Olivo (1957 – 2017), grande amigo de Lédio, que o considerava vítima da máfia de toga e distintivo.
Lédio Rosa de Andrade nasceu em Tubarão, Santa Catarina, em 1º de dezembro de 1958, foi vítima da poliomielite na infância e conviveu com os desafios de uma sociedade excludente por toda sua vida. Sempre lutou pela democracia e pela justiça, por isso quando estudante de direito na UFSC, onde se tornou amigo de Cancellier, lutou em defesa da democracia e contra a ditadura que se impôs a nosso país em 1964. Nas suas palavras “A democracia não permite descanso.”
Foi presidente do Diretório Central dos Estudantes desta universidade e se formou em 1981. Com apenas 23 anos se tornou o juiz mais jovem do Brasil à época sempre lutando pela justiça. Ele mesmo afirmava que logo compreendeu que o judiciário raramente faz justiça, ainda assim se destacou por conhecer e defender os direitos dos pobres e dos oprimidos, com base nas leis que conquistamos na Constituição Cidadã e no princípio da dignidade em toda sua vida. Era uma pessoa de extrema cultura, ateu convicto amava a ciência –particularmente a psicanálise, a filosofia e a arte, especialmente a poesia e a literatura. Desenvolveu uma vida acadêmica e uma carreira profissional de destaque, tendo se tornado Professor da UFSC e desembargador.
Fazia parte da Associação de Juízes pela Democracia (AJD) exatamente para encontrar colegas que tivessem semelhantes princípios e práticas no judiciário brasileiro.
Como magistrado implantou o programa “Lar Legal” em 2012, que trouxe a possibilidade de regularização de propriedade de suas moradias a mais de 4 mil famílias em todo o estado de SC e que serviu de exemplo para iniciativas semelhantes no Brasil.
Profundamente abalado com a tragédia imposta pela perseguição política de instituições como a Polícia Federal e o Judiciário, que assassinaram, segundo sua compreensão, o seu amigo e Reitor da sua tão amada universidade, afirmou com a voz embargada “Como professor da UFSC tenho orgulho e alegria, como desembargador tenho vergonha”.
Depois da perda trágica do amigo Cancellier, acompanhou com indignação a perseguição do judiciário ao presidente Lula, episódio em que descreveu o Presidente Lula como perseguido político. Em suas palavras “Veja o exemplo do ex-presidente Getúlio Vargas, que cometeu suicídio e foi acusado de corrupção, ou a morte de Tiradentes, todo mundo pensa que foi um bandido que o executou, mas foi um juiz de direito que deu a sentença. A história se repete agora com Lula”.
Descreveu o atual Ministro da (In)Justiça afirmando “Sérgio Moro hora é juiz, hora é promotor, atua também como policial, só falta virar carcereiro”. Sabemos que não faltou e que depois esse que sempre fez política, tardiamente deixou a magistratura para finalmente assumir a política, como reconhecimento aos serviços prestados para o eleito presidente Jair Bolsonaro e almejando ser Ministro do Supremo.
Para permanecer lutando pela democracia e pela justiça se aposentou como desembargador e se filiou ao Partido dos Trabalhadores no dia 24 de fevereiro de 2018, tendo sua ficha de filiação abonada pelo próprio Presidente Lula. Se dispôs a mais um grande desafio e aceitou disputar uma vaga ao Senado pelo PT nessas últimas eleições e foi incansável em percorrer SC denunciando a perseguição e defendendo mais uma vez a Justiça, na forma de Justiça Social e na defesa das liberdades democráticas que tanto aplicou como juiz garantista que era. Conquistou 327.226 votos de catarinenses convencidos em defender nosso país e nosso povo.
Como Celso Martins (1956-2018) e outros lutadores pela democracia que perdemos recentemente, tenho a impressão de que alguns já se vão antes de verem tragédias anunciadas se repetirem.
Ele deixa sua companheira, três filhas e uma neta, além de uma enorme quantidades de amigos, amigas e admiradores.
Ele faleceu em decorrência de complicações de um problema cardíaco que vinha sendo tratado, inclusive com internação, no último mês.
Sua cultura e sagacidade farão muita falta. A democracia em Santa Catarina, no Brasil e no mundo perdem um de seus grandes defensores!
Lédio Rosa, PRESENTE! Agora… e SEMPRE!!!
Seu velório ocorrerá a partir das 15h de hoje no Cemitério do Itacorubi. Às 21h seu corpo será levado para ser cremado.
Abaixo poesias publicadas em seu blog.
A Festa
Em 29 de outubro de 2018
Os fogos lá fora prenunciam choros ardentes
Dos alegres prementes, logo ali à frente
Não estou triste, mas mudado
De coração calejado, vou me importar
Não com o ideal, mas com a vida real
O que importa afinal
Senão os traços da existência
Rabiscados pelas certezas alheias
Tão certas estão, merecem sua própria razão
E eu então, por que chorar a dor?
Se alheia aos meus próprios erros
Mas vinda das verdades que me desmentem…
Alegria de viver
7 de novembro de 2018
Esqueci-me do mundo
Rio à toa
Como um rio que corre
Sem sentido, senão correr
Meu corpo dança
Os lábios mostram os dentes
E estou alegre
Sem pensar
Para a tristeza espantar…
Elenira Vilela, em homenagem ao professor Lédio Rosa de Andrade
No Desacato
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