Belo Horizonte: Manifestação contra o governo tem perfil conservador e intolerante a políticas sociais
Pesquisa feita por alunos da UFMG revelou que maior parte dos manifestantes tem ojeriza a temas de expansão de direitos de minorias – como mulheres, negros e LGBT – e ainda uma postura elitizada, como a de acreditar que pobres são mais desinformados na hora de tomar decisões políticas; pesquisadora atenta para um público mais à direita que o próprio PSDB
Por Ivan Longo
Fonte: Portal Fórum
Um estudo realizado por um grupo de pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) trouxe dados fundamentais para entender a parte da conjectura política do país. Coordenada pela professora Helcimara Telles, do departamento de Ciência Política da universidade, a pesquisa “Perfil Ideológico e Atitudes Políticas dos Manifestantes em 12 de Abril” , feita no ato contra o governo de Belo Horizonte, revelou um perfil de manifestante movido pelo sentimento antipetista, mas ainda mais conservador que a própria agenda política do PSDB, principal opositor do governo.
“Não é nem o PSDB que agarra esse público. Observe que mais de 80% disseram ter votado no Aécio no segundo turno. Mas quando perguntados em quem votariam se as eleições fossem agora, apenas 59% disseram que votariam. Aí surgiram nomes como o de Joaquim Barbosa, Bolsonaro, Marina… A gente ainda não sabe se é o PSDB quem vai herdar esse segmento, que é mais conservador e de direita. Pode haver espaço para o nascimento de novas lideranças conservadoras”, analisou a coordenadora da pesquisa.
Ao todo, foram entrevistadas 348 pessoas, entre 8h e 17h ao longo do protesto em BH, que reuniu cerca de 5 mil manifestantes. A margem de erro é de 4,8 pontos percentuais e a confiança é de 95%.
Entre os dados, há alguns que revelam o espírito preconceituoso e elitista de parte dos manifestantes. Do total, 75% dos presentes, por exemplo, acreditam que os pobres são mais desinformados na hora de tomar decisões políticas. Além disso, 56,8% daquelas pessoas acham que os nordestinos têm menos consciência política na hora de votar.
Para Helcimara Telles, essa visão é fruto de uma profunda intolerância a todo e qualquer tema ligado aos direitos de minorias ou políticas sociais.
“Eles possuem, em geral, um perfil bastante conservador. Aderem à democracia participativa, mas possuem resistência aos temas de expansão de direitos de minorias, como mulheres, negros, pobres… Há uma intolerância em relação às políticas de avanços sociais”, constatou.
Outros dados que provam esse pensamento é o fato de que 70,1% dos manifestantes se mostraram contra as cotas raciais e 77,8% deles disseram acreditar que programas como o Bolsa Família tornam as pessoas mais “preguiçosas”.
A corrupção, naturalmente, foi a causa mais apontada pelos manifestantes como o motivo principal por terem saído às ruas (33%). Outras motivações bizarras, no entanto, também foram citadas, como simplesmente o “anticomunismo”, o “fora PT” ou “o Brasil está virando Cuba”.
Para a pesquisadora, apesar desses jargões terem sido extraídos da campanha da oposição, o movimento vem sendo tomado por forças mais intolerantes e radicalizadas. Pouco mais que a maioria (50,5%), por exemplo, apoiam uma intervenção militar no caso de uma desordem política.
A lógica punitiva também esteve presente. Cerca de 81,5% dos manifestantes disseram ser a favor da redução da maioridade penal e 61,4% são a favor do porte de armas.
“É um perfil que aceita democracia participativa, mas, em caso de desordem, os militares podem intervir. Eles são permeados por uma lógica punitiva, apoiam o porte de arma, a redução da maioridade penal. Há um limite em relação a essa ‘democracia’ que apoiam”, explicou Telles.
Uma outra revelação que chama a atenção é a incoerência ao falar da situação política e social do país de uma maneira geral. Em relação à vida pessoal, por exemplo, uma minoria (39%) acredita que ela tenha piorado nos últimos dez anos. Quando a questão se expande para o país todo, no entanto, a situação já é diferente: 78% acha que o Brasil está pior do que há dez anos.
“Eles querem falar pelos outros. Aí teria até que fazer um cruzamento para saber de quem que eles estão falando, já que foi a vida dos outros que piorou”, brincou a pesquisadora.
A pesquisa completa estará disponível ainda nesta semana no site do grupo coordenado pela professora, o Opinião Pública. Um resumo com os principais dados do estudo pode ser conferidoaqui.
Fotos: Marcelo Sant’Anna / Fotos Públicas
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