sábado, 1 de fevereiro de 2025

O nazifascismo entrou em cena, por Dora Incontri

 

Eis um regime que se anuncia fascista, 100 anos depois da ascensão de Mussolini na Itália, que passou à condição de Duce, no ano de 1925.




O nazifascismo entrou em cena

por Dora Incontri, no Jornal GGN:

Não há como normalizar o que se apronta no mundo. Não há como relaxar diante do cenário que se põe com a ascensão de Trump, respaldado pela extrema direita mundial, com a comunicação dos donos das big techs, que terão terreno livre para manipular as massas. Não há como ignorar e achar desculpas para a saudação nazista de Elon Musk. Estamos diante de um regime que se anuncia fascista, exatamente 100 anos depois da ascensão de Mussolini na Itália, que assumiu o cargo de Primeiro-Ministro em 1922, mas passou à condição de Duce, no ano de 1925.

Figuras caricatas todas essas que esposam a prática da extrema direita: cheios de caretas, frases de efeito, estética duvidosa, arroubos autoritários e, sobretudo, supremo desprezo por qualquer civilidade, por qualquer respeito humano. Logo no primeiro dia de governo, Trump já mostrou a que veio: perseguirá imigrantes, estimulará a pena de morte nos estados, cancelará a cidadania das crianças nascidas nos EUA, filhas de imigrantes. Já retirou o país da OMS e do acordo climático de Paris. Na posse mesmo, baixou diversos decretos absurdamente discriminatórios e autoritários. Nem me dou ao trabalho de nomear todos. Apenas registro o assombro, o lamento, a indignação e a perspectiva sombria que nos bate à porta.Se o Duce e logo em seguida o Führer puseram fogo no mundo e desencadearam a Segunda Guerra Mundial, agora é a maior potência militar do planeta que assume descaradamente a postura nazifascista. Aliás, a potência que já usou a bomba atômica, a única até agora a cometer esse crime contra a humanidade.

É claro que temos o dever de entender a história e saber que a Segunda Guerra não foi esse duelo entre a liberdade e o nazifascismo. Teorias e práticas eugenistas, por exemplo, já eram adotadas nos EUA antes da ascensão do nazismo na Alemanha, em relação à população afrodescendente. Tivemos até no Brasil, defensores de tais descalabros eugenistas, como o autor que li a infância inteira, Monteiro Lobato. Empresas americanas como a IBM e a Coca-Cola (com a criação da Fanta na Alemanha nazista) além de inúmeras alemãs, que incluíam a Volkswagen, a BMW, a Bayer, a Basf e outras, sustentaram e apoiaram a insanidade nazista.

Digo isso para demonstrar que é o capital que sustenta o totalitarismo de direita e que não houve uma disputa entre o puro bem e o detestável mal, na Segunda Guerra. Estavam todos mais ou menos implicados na responsabilidade do sangue derramado. E no outro polo da luta, estava Stalin, também ditador sanguinário, em que pese o mérito de ter ajudado a derrotar o nazismo.

Encerrada a Segunda Guerra, inicia-se a polaridade da Guerra fria e os EUA se constituem como um império que semeia o tempo todo, guerras, ditaturas pelo mundo afora, inclusive a nossa, a brasileira, de que agora os norte-americanos estão assistindo um pequeno recorte no filme Ainda estou aqui. Mas sabemos que com o analfabetismo político que reina por lá, ainda mais forte nesses tempos de zumbis das mídias eletrônicas, a maioria absoluta do povo não tem ideia do papel do governo dos EUA nas ditaduras ferozes da América Latina, incluindo o treinamento de torturadores.

A tão propalada “maior democracia do mundo” foi a patrocinadora de inúmeras ditaduras no mundo. E pior, que democracia sempre foi essa, que desde o início excluiu os negros, que só tem dois partidos (que têm diferenças muito pequenas entre si), que nunca promoveu programas de saúde popular, que mantém um verdadeiro campo de concentração, como a prisão de Guantánamo?

Agora então, o que restava de uma esquerda liberal – que pelo menos se empenhava pelos direitos civis internos, mas com pouquíssimos representantes que se manifestavam por exemplo contra o genocídio da Faixa de Gaza, que os EUA patrocinaram, apoiando largamente Israel – essa tímida facção de ideias um pouco mais à esquerda, Trump fará tudo para calar, para imobilizar, impondo-se com a maioria do Congresso e a maioria da Suprema Corte.

O que havia de arremedo de democracia acabou.

E nós, como ficamos? Em alto risco, porque temos os lambe-botas dos EUA, os simpatizantes do imperialismo yanque, que desejam alinhar os ponteiros da política brasileira com Trump. O clã dos Bolsonaro, que sofreu já todas as humilhações feitas por Trump (a última foi o fiasco de não serem aceitos para a posse do dito cujo); Tarcísio que celebrou a ascensão do novo governo e é da mesma cepa que Jair e Donald, e outros representantes dessa extrema direita tupiniquim, com complexo de vira-lata, que se volta feroz contra os interesses do Brasil e contra os próprios cidadãos brasileiros.

O risco é nosso, o risco é mundial. Um risco quase certo de acontecer o pior. Governos de extrema direita em vários países, alinhados na barbárie e na destruição.

Por tudo isso, não podemos tratar o tema com naturalidade, como a mídia corporativa tende a fazer. Como aliás, fizeram com Hitler e com Mussolini.

Estejamos em alerta máximo, em posição de resistência coletiva, de lucidez aguda, com esperança de que tenhamos os meios de virar mais essa página trágica da história, que certamente ainda vai nos causar muito choro e ranger de dentes.

Dora Incontri – Graduada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Mestre e doutora em História e Filosofia da Educação pela USP (Universidade de São Paulo). Pós-doutora em Filosofia da Educação pela USP. Coordenadora geral da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita e do Pampédia Educação. Diretora da Editora Comenius. Coordena a Universidade Livre Pamédia. Mais de trinta livros publicados com o tema de educação, espiritualidade, filosofia e espiritismo, pela Editora Comenius, Ática, Scipione, entre outros.

Rubens Paiva era torturado por assassinos sádicos da ditadura militar ao som de “Jesus Cristo”, de Roberto Carlos, por Urariano Mota

 

"Em depoimento anexado pelo Ministério Público à denúncia, Marilene Franco disse ter ouvido os gritos de Rubens Paiva, que era torturado em um salão ao lado de onde ela estava. Para abafar os gritos, um rádio foi ligado em alto volume. Tocavam ‘Jesus Cristo’, de Roberto Carlos…”

Do Jornal GGN:

As razões dos torturadores, que mataram um homem ao som de canções com extrema perversidade, não cabem no samba curto de um artigo.



Rubens Paiva era torturado ao som de “Jesus Cristo”, de Roberto Carlos*

por Urariano Mota

Hoje pela manhã, enquanto seguia para um médico, disse à senhora  Francêsca:

– Não me sai da cabeça esta composição de Mozart – e tentei cantarolar, ou assassinar com a voz esta obra-prima

E continuei:

– Isso é bem melhor que Roberto Carlos, não é?

Ao que ela me respondeu:

– É. Aí já seria uma tortura.

Aquilo me ficou. Depois, enquanto esperava no consultório, me lembrei de que eu já havia escrito sobre Roberto Carlos e a tortura nos anos da ditadura brasileira. Ao chegar em casa, revi o texto de 2014, que volta à tona com o justo sucesso do filme “Ainda estou aqui’. Aos trechos.

Em mais de uma oportunidade já escrevi que podíamos escrever a história política do Brasil a partir do som da sua música popular. Assim foi, por exemplo, em páginas de Soledad no Recife, quando a ressurreição dos malditos anos da ditadura se fez sob a canção dos tropicalistas. (Ao que acrescento agora em 2025: assim é com o romance “A mais longa duração da juventude”, onde há discussões homéricas sobre os grandes compositores da música popular).

Mas jamais poderia imaginar, e aqui mais uma vez a realidade supera o imaginado, que a música popular fosse usada do modo mais vil, como o noticiado na imprensa dos últimos dias.

A informação consta de um depoimento escrito pela professora Cecília Viveiros de Castro, que esteve presa nas mesmas instalações que Rubens Paiva. Cecília estava então com 48 anos. Ela foi detida ao voltar de uma visita ao filho, Luiz Rodolfo, exilado no Chile

Com ela estava Marilene Corona Franco, cunhada de seu filho. As duas traziam cartas de outros exilados para suas famílias.  No prédio da Aeronáutica, elas ouviram gritos de um preso que estava sendo interrogado. ‘Era a primeira vez que constatava a existência dos horrores da tortura, tão negados pelo governo’, diz.

Em depoimento anexado pelo Ministério Público à denúncia, Marilene Franco disse ter ouvido os gritos de Rubens Paiva, que era torturado em um salão ao lado de onde ela estava. Para abafar os gritos, um rádio foi ligado em alto volume. Tocavam ‘Jesus Cristo’, de Roberto Carlos…”

A notícia não informa, talvez em nome da objetividade, que o ex-deputado Rubens Paiva foi morto ao som de Roberto Carlos por diferentes razões na escolha das músicas. Tentemos um esboço aqui. Roberto Carlos, o Rei, veio na contramão, contrário à rebeldia política, em real estado de conformismo.

A “maioria silenciosa”, nela incluídos os jovens mais alienados do mundo, os pequeno-burgueses que apenas queriam uma razão de se dar bem na vida, em lugar de uma razão de viver, acompanhavam Roberto Carlos na canção “Jesus Cristo! Jesus Cristo! / Jesus Cristo, eu estou aqui / Jesus Cristo! Jesus Cristo! / Jesus Cristo, eu estou aqui … / Quem poderá dizer o caminho certo / É você, meu Pai / Jesus Cristo! Jesus Cristo!….”

As razões dos torturadores, que mataram um homem ao som de canções com extrema perversidade, não cabem no samba curto de um artigo. As pessoas nascidas nos últimos anos não sabem que no tempo da ditadura a música era também uma realização política, a música era uma concreção, o mais próximo de uma arma possível. O seu lugar na vida e no imaginário da juventude rebelde era um ato inalienável de combate.

Sei que os fãs do “Rei” vão dizer: “Roberto Carlos não tem culpa dos crimes da ditadura”. É verdade. Mas, por coincidência, a música de Roberto Carlos acabou por ser uma das mais representativas desses anos. O Rei não foi apenas o homem livre que somente fazia o que o regime mandava. Não. Roberto Carlos foi capaz de compor pérolas que realçavam o mundo ordenado pelo regime. Entre outras, o Rei compôs a canção que foi um hino, um gospel de corações vazios, um som sem fúria de negros norte-americanos. O Rei orou “Jesus Cristo, eu estou aqui”. Que profunda ironia para o nome do filme “Ainda estou aqui”.

É uma perversa vitória do real que esse crime expresse tão cruel o valor da música popular no Brasil. Roberto Carlos e Rubens Paiva, numa estranha associação que eles não queriam.

*Vermelho Rubens Paiva era torturado ao som de “Jesus Cristo”, de Roberto Carlos – Vermelho

Urariano Mota – Escritor, jornalista. Autor de “A mais longa duração da juventude”, “O filho renegado de Deus” e “Soledad no Recife”. Também publicou o “Dicionário Amoroso do Recife”.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para dicasdepautaggn@gmail.com. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

“Democracia é coisa frágil. Defendê-la requer um jornalismo corajoso e contundente. Junte-se a nós: www.catarse.me/jornalggn “


Portal do José: VAI COMEÇAR! STF DÁ RECADO A BOLSONARO E CLÃ! CARGA DUPLA! DESESPERO: BANANINHA QUER "MACACO"!

 

Do Portal do José:

O mundo está com problemas. Mas o mundo dos extremistas de direita está mais problemático ainda! sigamos.



Portal do José: BOLSONARISMO EM PÂNICO! CONDENAÇÃO DE ZAMBELLI TERÁ "EFEITO DOMINÓ"! LULA: PAUTAS MOBILIZARAM MÍDIA!

 

Do Portal do José:

MUITA COISA SURGE COMO CONSEQUÊNCIA DA CONDENAÇÃO DE ZAMBELLI. SIGAMOS