quarta-feira, 23 de abril de 2025

Para entender o diálogo O Banquete, de Platão

 



    O Banquete (ou Symposium) de Platão (pensador grego que vivieu entre 428/427 - 348/347 a.C.) é um diálogo filosófico escrito por volta do ano 380 a. C. e que, assim como o diálogo Fedro do mesmo autor, busca discutir o entendimento humano da natureza do amor (eros). Tal exploração do entendimento do amor ocorre na obra por meio de uma série de discursos proferidos durante um banquete feito em homenagem ao poeta Agáton. 
    A obra combina filosofia, literatura e, de forma figurada - para dar um entendimento mais sintético dos conceitos -, do mito. O Banquete é uma das mais conhecidas e influentes dos diálogos de Platão.

Segue um resumo da obra a partir da síntese efetuada com auxílio do DeepSeek. O objetivo é o de ajudar na leitura e entendimento geral do texto original de Platão:

Contexto e Estrutura

    O diálogo é narrado em segunda mão por Apolodoro, que, popr sua vez, conta o que ouviu de Aristodemo, um participante do banquete. O evento ocorre na casa de Agáton, onde os convidados decidem, em vez de beber excessivamente, fazer discursos em louvor a Eros (o deus grego do amor).

Resumo dos Discursos

  1. Fedro (partes 178a-180b)

    • Tese: Eros é o mais antigo dos deuses, fonte de virtude e inspiração.

    • Argumento: O amor incentiva os amantes a agirem com nobreza para não decepcionarem seus amados. Exemplo: o mito de Alceste, que morreu pelo marido.

  2. Pausânias (180c-185c)

    • Tese: Há dois tipos de amor:

      • Eros Vulgar (amor físico, reduzido pelo desejo do corpo).

      • Eros Celeste (amor intelectual, pela alma e virtude.).

    • Argumento: O amor nobre (celeste) leva à sabedoria e à educação, como na relação entre um amante mais velho (erasta) e um jovem (erômeno) na Grécia antiga.

  3. Erixímaco (185c-188e)

    • Tese: O amor é uma força cósmica que harmoniza opostos (medicina, música, estações).

    • Argumento: Como médico, ele vê o amor como equilíbrio entre os humores do corpo e da natureza.

  4. Aristófanes (189a-193d)

    • Tese: O amor é a busca da metade perdida.

    • Mito: Originalmente, os humanos eram seres esféricos com dois corpos, mas Zeus os dividiu como castigo. O amor é a tentativa de reencontrar a outra metade.

  5. Agáton (194e-197e)

    • Tese: Eros é jovem, belo e delicado, fonte de poesia e arte.

    • Argumento: O amor evita a violência e inspira criação artística.

  6. Sócrates (e Diotima) (201d-212c)

    • Tese: O amor é desejo pela beleza eterna e pela sabedoria (filósofo = amante da sabedoria).

    • Argumento:

      • O amor não é um deus, mas figuradamente um daimon (um espírito intermediário) entre mortal e divino.

      • O verdadeiro amor começa pela atração física, mas evolui para níveis mais sutis: almas belas, o conhecimento e o amor às ideias e à beleza absoluta (Teoria das Ideias).

      • Escada do Amor: Do corpo belo → almas belas → leis belas → conhecimento → Beleza em si (Forma do Bem).

  7. Alcibíades (212c-223a)

    • Discurso disruptivo: Ele chega bêbado e faz um elogio apaixonado a Sócrates, comparando-o a Eros.

    • Contraste: Enquanto os outros falaram do amor ideal, Alcibíades mostra o amor conflituoso e humano.

Temas Principais

  1. A natureza do amor: Do físico ao filosófico.

  2. A escada dialética: Como o amor eleva o homem do sensível ao inteligível.

  3. A imortalidade através da criação: Seja de filhos (física) ou ideias (intelectual).

  4. Ironia socrática: Sócrates questiona os discursos anteriores e apresenta o amor como busca da verdade.

Conclusão

Banquete não é apenas sobre o amor romântico, como a cultura ocidental costuma pensar, mas sobre o desejo humano pela completude, beleza e sabedoria. A fala de Sócrates (inspirada pela sacerdotisa Diotima) é o ápice, mostrando que o verdadeiro amor é filosófico – um caminho para a verdade eterna.


1. O Mito de Aristófanes (Das Metades Divididas)

(189a-193d)

Contexto

Aristófanes, o famoso comediógrafo, apresenta um mito criativo para explicar a origem do desejo amoroso. Sua fala é cheia de humor, mas também de profundidade psicológica.

A Narrativa Mítica

  • No início, para Aristófanes em O Banquete, os seres humanos eram esféricos, com duas costas, quatro braços, quatro pernas e duas faces.

  • Havia três gêneros originais:

    • Masculino (descendente do Sol) – união de dois homens.

    • Feminino (descendente da Terra) – união de duas mulheres.

    • Andrógino (descendente da Lua) – união de homem e mulher.

  • Esses seres eram poderosos e arrogantes, então Zeus os dividiu ao meio como punição.

  • Desde então, cada metade anseia pela sua complementar, buscando reencontrar sua "alma gêmea".

Interpretação

  • O amor como falta: O desejo nasce da incompletude.

  • Dualidade e busca de união: Explica a atração homo e heterossexual (diferentes combinações das metades originais). Platão - e sua época - escapa às noções reducionistas e preconceituosas próprias da modernidade e tenta expor o mundo e as formas das relações humanas tais como se econtram na realidade.

  • Crítica à hybris (orgulho excessivo): A divisão foi um castigo pela arrogância humana.

  • Metáfora existencial: O ser humano é, por natureza, um ser em busca de reconexão.

2. A Teoria do Amor de Diotima (por Sócrates)

(201d-212c)

Contexto

Sócrates não oferece o seu próprio discurso, mas o apresenta a partir do que relata dos ensinamentos de Diotima de Mantineia, uma sacerdotisa que lhe explicou a verdadeira natureza do eros.

Os Princípios do Amor

  1. Eros não é um deus, mas um daimon (espírito ou alma, lu uma caracterísitca desta):

    • Filho de Pobreza (Penia) e Recurso (Poros), simbolizando que o amor está sempre em busca (nunca plenamente satisfeito).

  2. O amor é desejo pela posse do belo e do bom:

    • Não se ama o que já se tem, mas o que falta.

  3. A "Escada do Amor" (Ascese Amorosa):
    O verdadeiro amor é um processo de elevação espiritual:

    1. Amar um corpo belo (atração física).

    2. Amar a beleza em todos os corpos (reconhecer padrões universais).

    3. Amar almas belas (valorizar a virtude acima da aparência).

    4. Amar leis e instituições belas (a beleza das ideias sociais).

    5. Amar o conhecimento (a filosofia e as ciências).

    6. Amar a Beleza em si (a Forma Imutável do Belo), que é eterna e divina.

Interpretação

  • Amor platônico: Não é sobre sexo ou repressão sexual, mas sobre transcendência.

  • O filósofo como amante: A busca da sabedoria é o ápice do eros.

  • Imortalidade através da criação: Quem alcança o topo da escada gera virtude e sabedoria (não filhos físicos, mas obras eternas).


Contraste Entre os Dois Discursos

Aristófanes  Diotima/Sócrates
Explica o amor como falta de uma metade perdida.  Vê o amor como desejo de ascensão espiritual.
Foco no reencontro (passado mítico).  Foco no progresso (futuro filosófico).
Amor como necessidade emocional.  Amor como caminho para a verdade.
Visão mais humana e cômica.  Visão mais metafísica e idealista.

Por Que Essas Ideias São Importantes?

  • Aristófanes antecipa teorias psicológicas sobre o desejo e a incompletude.

  • Diotima/Sócrates funda a noção de que o amor é a força motriz da filosofia.

Esses conceitos influenciaram a psicologia (Freud, Jung) e a filosofia moderna (como no Romantismo)


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