Resumo dos Discursos
Fedro (partes 178a-180b)
Tese: Eros é o mais antigo dos deuses, fonte de virtude e inspiração.
Argumento: O amor incentiva os amantes a agirem com nobreza para não decepcionarem seus amados. Exemplo: o mito de Alceste, que morreu pelo marido.
Pausânias (180c-185c)
Tese: Há dois tipos de amor:
Eros Vulgar (amor físico, reduzido pelo desejo do corpo).
Eros Celeste (amor intelectual, pela alma e virtude.).
Argumento: O amor nobre (celeste) leva à sabedoria e à educação, como na relação entre um amante mais velho (erasta) e um jovem (erômeno) na Grécia antiga.
Erixímaco (185c-188e)
Tese: O amor é uma força cósmica que harmoniza opostos (medicina, música, estações).
Argumento: Como médico, ele vê o amor como equilíbrio entre os humores do corpo e da natureza.
Aristófanes (189a-193d)
Tese: O amor é a busca da metade perdida.
Mito: Originalmente, os humanos eram seres esféricos com dois corpos, mas Zeus os dividiu como castigo. O amor é a tentativa de reencontrar a outra metade.
Agáton (194e-197e)
Tese: Eros é jovem, belo e delicado, fonte de poesia e arte.
Argumento: O amor evita a violência e inspira criação artística.
Sócrates (e Diotima) (201d-212c)
Tese: O amor é desejo pela beleza eterna e pela sabedoria (filósofo = amante da sabedoria).
Argumento:
O amor não é um deus, mas figuradamente um daimon (um espírito intermediário) entre mortal e divino.
O verdadeiro amor começa pela atração física, mas evolui para níveis mais sutis: almas belas, o conhecimento e o amor às ideias e à beleza absoluta (Teoria das Ideias).
Escada do Amor: Do corpo belo → almas belas → leis belas → conhecimento → Beleza em si (Forma do Bem).
Alcibíades (212c-223a)
Discurso disruptivo: Ele chega bêbado e faz um elogio apaixonado a Sócrates, comparando-o a Eros.
Contraste: Enquanto os outros falaram do amor ideal, Alcibíades mostra o amor conflituoso e humano.
Temas Principais
A natureza do amor: Do físico ao filosófico.
A escada dialética: Como o amor eleva o homem do sensível ao inteligível.
A imortalidade através da criação: Seja de filhos (física) ou ideias (intelectual).
Ironia socrática: Sócrates questiona os discursos anteriores e apresenta o amor como busca da verdade.
Conclusão
O Banquete não é apenas sobre o amor romântico, como a cultura ocidental costuma pensar, mas sobre o desejo humano pela completude, beleza e sabedoria. A fala de Sócrates (inspirada pela sacerdotisa Diotima) é o ápice, mostrando que o verdadeiro amor é filosófico – um caminho para a verdade eterna.
1. O Mito de Aristófanes (Das Metades Divididas)
(189a-193d)
Contexto
Aristófanes, o famoso comediógrafo, apresenta um mito criativo para explicar a origem do desejo amoroso. Sua fala é cheia de humor, mas também de profundidade psicológica.
A Narrativa Mítica
No início, para Aristófanes em O Banquete, os seres humanos eram esféricos, com duas costas, quatro braços, quatro pernas e duas faces.
Havia três gêneros originais:
Masculino (descendente do Sol) – união de dois homens.
Feminino (descendente da Terra) – união de duas mulheres.
Andrógino (descendente da Lua) – união de homem e mulher.
Esses seres eram poderosos e arrogantes, então Zeus os dividiu ao meio como punição.
Desde então, cada metade anseia pela sua complementar, buscando reencontrar sua "alma gêmea".
Interpretação
O amor como falta: O desejo nasce da incompletude.
Dualidade e busca de união: Explica a atração homo e heterossexual (diferentes combinações das metades originais). Platão - e sua época - escapa às noções reducionistas e preconceituosas próprias da modernidade e tenta expor o mundo e as formas das relações humanas tais como se econtram na realidade.
Crítica à hybris (orgulho excessivo): A divisão foi um castigo pela arrogância humana.
Metáfora existencial: O ser humano é, por natureza, um ser em busca de reconexão.
2. A Teoria do Amor de Diotima (por Sócrates)
(201d-212c)
Contexto
Sócrates não oferece o seu próprio discurso, mas o apresenta a partir do que relata dos ensinamentos de Diotima de Mantineia, uma sacerdotisa que lhe explicou a verdadeira natureza do eros.
Os Princípios do Amor
Eros não é um deus, mas um daimon (espírito ou alma, lu uma caracterísitca desta):
Filho de Pobreza (Penia) e Recurso (Poros), simbolizando que o amor está sempre em busca (nunca plenamente satisfeito).
O amor é desejo pela posse do belo e do bom:
Não se ama o que já se tem, mas o que falta.
A "Escada do Amor" (Ascese Amorosa):
O verdadeiro amor é um processo de elevação espiritual:Amar um corpo belo (atração física).
Amar a beleza em todos os corpos (reconhecer padrões universais).
Amar almas belas (valorizar a virtude acima da aparência).
Amar leis e instituições belas (a beleza das ideias sociais).
Amar o conhecimento (a filosofia e as ciências).
Amar a Beleza em si (a Forma Imutável do Belo), que é eterna e divina.
Interpretação
Amor platônico: Não é sobre sexo ou repressão sexual, mas sobre transcendência.
O filósofo como amante: A busca da sabedoria é o ápice do eros.
Imortalidade através da criação: Quem alcança o topo da escada gera virtude e sabedoria (não filhos físicos, mas obras eternas).
Contraste Entre os Dois Discursos
Aristófanes | Diotima/Sócrates |
---|---|
Explica o amor como falta de uma metade perdida. | Vê o amor como desejo de ascensão espiritual. |
Foco no reencontro (passado mítico). | Foco no progresso (futuro filosófico). |
Amor como necessidade emocional. | Amor como caminho para a verdade. |
Visão mais humana e cômica. | Visão mais metafísica e idealista. |
Por Que Essas Ideias São Importantes?
Aristófanes antecipa teorias psicológicas sobre o desejo e a incompletude.
Diotima/Sócrates funda a noção de que o amor é a força motriz da filosofia.
Esses conceitos influenciaram a psicologia (Freud, Jung) e a filosofia moderna (como no Romantismo)
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