Esse impasse só começará a ser desfeito a partir da posse de Lula, com a renovação do Alto Comando e a aposentadoria de quem endossar movimentos golpistas.
Por Luis Nassif:
Prepare-se para um aumento de tensão nas próximas semanas, pelo menos até a posse de Lula.
Há um movimento de gerações de fake news, sim. Mas alguns sinais significativos de que esse festival de gravações e notícias visa criar iniciativas golpistas no setor militar.
Nos últimos dias, apareceram declarações dúbias de Braga Netto, general da reserva e candidato a vice-presidente de Bolsonaro. “Vocês não percam a fé, é só o que eu posso falar para vocês agora”, disse Braga Netto a militantes que permaneciam na entrada da Alvorada. “A gente está na chuva, no sufoco”, disse uma das manifestantes. “Eu sei, senhora. Tem que dar um tempo, tá bom?”, completou Braga.
Foram divulgadas notícias, também, do quartel general da campanha de Bolsonaro, aparentemente transformado em ponto de confluência de golpistas.
Houve o caso de um comandante do nordeste gravando um áudio no qual sustenta que protegerá os manifestantes em frente o quartel. Há o fato de que estão sendo envolvidas senhoras de idade e crianças, famílias iludidas pelos vagidos golpistas, o que poderia explicar a posição do general.
De qualquer modo, os sinais apontam para uma tentativa – encampadas por ex-militares como Braga Netto – de manter acesa a chama do questionamento das eleições.
Ontem, circulou um áudio atribuído a Augusto Nardes, Ministro do Tribunal de Contas da União, e com histórico antidemocrático, acendeu luz amarela no mundo político. Parlamentares deverão convocar Nardes para explicar na Câmara o conteúdo das declarações.
Em 1964 havia grande agitação popular. A iniciativa do general Olímpio Mourão Filho, que comandava uma guarnição em Minas Gerais. Além de golpista, era gerador de fake news: foi o autor do Plano Cohen, uma falsificação visando alimentar um golpe de estado. Antes de 1964, houve outra tentativa de insurgência militar, no governo JK, contida por um militar legalista, Marechal Lott.
Hoje em dia, há um conjunto de fatores desestimulando um golpe militar, da desaprovação da comunidade internacional à de setores empresariais e da mídia, além da resistência do Supremo Tribunal Federal. Por outro lado, há agitadores, como o general Braga Netto, provavelmente explorando o antipetismo da tropa.
Por cima de tudo, uma profunda desinformação sobre a tendência das Forças Armadas. Houve um Estado Maior demitido por Bolsonaro, por se recusar a endossar o golpe de 7 de Setembro do ano passado. E agora?
Os próximos dias serão decisivos para se saber o destino da democracia brasileira e o papel das Forças Armadas, se retomando o profissionalismo ou cedendo a um novo ímpeto golpista.
Esse impasse só começará a ser desfeito a partir da posse de Lula, com a renovação do Alto Comando e a aposentadoria de quem endossar movimentos golpistas.
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