sexta-feira, 4 de novembro de 2022

A hora e vez da democracia contra o fanatismo fascista, por Izaías Almada

 

Houve uma eleição e o candidato Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito com mais de 50% dos votos. Ponto final.


Ricardo Stuckert

A hora e vez da democracia

por Izaías Almada

A nenhum ser humano é facultado o direito de ser ignorante, irresponsável e criminoso. Em outras palavras: ninguém nasce para ignorar o que se passa à sua volta, se tornar irresponsável perante as leis que organizam o convívio social e a coletividade, tornando-se um pária e até mesmo podendo se tornar autor de crimes dos mais variados níveis de violência e desumanidade. 

Em nenhuma constituição ou na Declaração dos Direitos Humanos, por exemplo, nos acordos internacionais de comércio, nas Organizações que tratam mundialmente da Saúde e da Educação (e poderíamos citar centenas e centenas de documentos) e até mesmo nos acordos de paz com respeito a prisioneiros de guerra há qualquer tipo de “incentivo” à ignorância, à violência e à barbárie.

Ao contrário: a experiência humana em sua sobrevivência, através dos conhecimentos adquiridos em milhões de anos em contato com a natureza que o cerca e a outras espécies animais, acabou por definir uma maneira minimamente civilizada até os dias de hoje para a convivência entre civilizações, povos, nações, muito embora – dependente das relações econômicas que se transformam de tempos em tempo – esse ar civilizado seja substituído pelo desejo de poder, de mandar, pela arrogância do que chamamos de saber e pela necessidade de criar diferenças que possam distinguir-nos uns dos outros, para o bem e para o mal: os chamados preconceitos sejam eles de qualquer índole.

Entre nós, por um desses caprichos da natureza, no entanto, os quatro anos de governo de um ex-capitão do Exército brasileiro foi capaz de transformar uma nação “pacífica e de espírito cordial”, num barril de pólvora, aonde os mais primários, selvagens, incultos, preconceituosos e mesmo criminosos instintos de boa parte da sociedade brasileira viessem à luz do dia e se transformassem no caldo de cultura para o nascimento de um novo país: o Brasil do ódio e de pleno e quase total desrespeito aos princípios constitucionais e da democracia.

Houve uma eleição e o candidato Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito com mais de 50% dos votos. Ponto final. Há que respeitar isso, sob pena, de quem não o fizer, estar se insurgindo contra a vontade da maioria e das leis que sustentam o regime democrático e seus representantes perante o conjunto das nações.

Movidos pelas fake news e pela vergonhosa perseguição ao ex e atual presidente Lula da Silva, o que o levou a uma prisão de quase dois anos na cidade de Curitiba, um número razoavelmente significativo de débeis mentais, defensores de novo golpe de estado no Brasil (mais um para professores e autores de livros sobre a história do país pesquisarem) saiu às ruas e para algumas das principais estradas do país em atitude de rebeldia.

Tais arruaceiros, que pateticamente chegaram a cantar o Hino Nacional para um pneu colocado sobre o asfalto da estrada, ou que se ajoelhavam com os braços estendidos aos céus, que se apropriavam em sua ignorância política de canções revolucionárias da esquerda como “o povo unido jamais será vencido”, que desejavam – como o corredor de fórmula um, Nelson Piquet – colocar o presidente Lula no cemitério ou ainda pregarem a desobediência civil contra as decisões do presidente do STE Alexandre Moraes, como fez a deputada Carla Zambelli.

Em meio à alegria de uma eleição, explode um Brasil raivoso, recalcado, ignorante de sua própria história, onde milhares de seus cidadãos desafiam o Estado de Direito para, que os deuses assim não permitam, governarem com ódio no coração e armas nas mãos.

Mas isso há de passar… Isso vai passar!

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro. Nascido em BH, em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

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