No Egito, sob atenção e manchetes da imprensa do mundo, Lula fala sobre futuro da Amazônia e clima na Terra. No Brasil de Bolsonaro, que furou o teto em 795 bilhões, militares atiçam golpismo secular mumificado e manifestantes surtam diante de quartéis. Vejam:
Do Canal de Bob Fernandes:
NO EGITO LULA CONVERSA COM O MUNDO SOBRE AMAZÔNIA. NO BRASIL MILITARES REENCENAM GOLPISMO MUMIFICADO
Lula está no Egito. Egito cujo passado é de valor histórico inestimável para a humanidade.
No Brasil, o passado parece não ter sido devidamente mumificado.
Lá no Egito, festejado, atento às manchetes mundo afora, Lula disse:
– A frase que mais tenho ouvido dos líderes de diferentes países é "o mundo sente saudade do Brasil" (...) Quero dizer que o Brasil está de volta.
New York Times:
– Expectativas altas quando um exuberante Lula fala na conferência do clima.
El País, da Espanha:
– Brasil volta à luta contra as mudanças climáticas pela mão de Lula.
Le Monde, da França:
– Lula pede a criação urgente de um fundo para cobrir danos climáticos.
Corriere della Sera, da Itália:
– Brasil, o compromisso de Lula com a Amazônia. Mas os governadores bolsonaristas lutarão.
Japan Times, do Japão:
– Ex-presidente do Brasil retorna: que comecem os desafios.
The Guardian, da Inglaterra:
– Lula promete desfazer degradação ambiental do Brasil e frear desmatamento.
Der Spiegel, da Alemanha:
– Lula quer realizar cúpula do clima em 2025 na região amazônica.
Washington Post:
– 'Brasil está de volta': Na COP27, Lula promete ser um líder global do clima.
La Nación, da Argentina:
– Lula foi ovacionado na COP27 e pediu uma futura conferência no Amazonas.
No Brasil do presente, derrotados junto com Bolsonaro, militares querem o passado de volta.
Bolsonaro já não governa. Desapareceu. Certamente está tramando. E assim a realidade vai se impondo, nua e crua.
O Poder, o poder real é da casta militar que tramou o impeachment de Dilma e agora esperneia. Não aceita a derrota e atiça o golpismo.
Mourão, general e vice-presidente, eleito senador, diz que não irá passar a faixa para Lula.
O capitão Bolsonaro diz que também não irá à posse.
Bem, de repente, o porteiro do Palácio do Planalto passa a faixa.
Este 15 de novembro, quatro anos depois de pressionar o STF para tirar Lula da eleição de 2018, o general Villas Bôas, ex-comandante do Exército, mesmo adoentado e na reserva, voltou à carga.
Com pregação de apoio aos golpistas. Que surtam diante de quartéis, cobrando intervenção militar.
Num tuíte-manifesto, Villas Bôas, ou ao menos seu perfil no Twitter, explicitou o desejo militar de seguir tutelando o Brasil.
Tuitou, dizendo que manifestantes “protestam contra os atentados à democracia”.
Quem atenta contra a democracia são os que não aceitam o resultado das eleições. Com mais de dois milhões de votos de diferença.
Aí incluídos militares que, com o país e o mundo assistindo, já não escondem o apoio a manifestantes e manifestações.
O manifesto assinado pelo general Villas Bôas apenas reafirma intenções e desejos.
Diz o general que protestos são “contra atentados à independência dos poderes, ameaças à liberdade” e, num equívoco lógico-gramatical, prossegue: “...protesto contra dúvidas sobre o processo eleitoral”.
O tuíte do general Villas Bôas é em si mesmo um atentado contra a independência dos Poderes e uma ameaça à liberdade.
É um líder metendo o Exército onde constitucionalmente não cabe.
Ou não deveria caber, apesar da longa história de golpes, quarteladas e tentativas.
Villas Bôas fala em “milhões nas ruas sendo ignorados” pela imprensa.
Para começar, não são milhões. No máximo, são dezenas de milhares.
E que, esquece o general, têm agredido jornalistas que ousem se aproximar dos protestos.
Inclusive da Jovem Pan, que tanto obrou para parir isso aí.
Jornalistas agredidos porque há instigação para tal exatamente em ações como esse tuíte.
E as manifestações estão sendo menos ignoradas do que deveriam, apesar das óbvias intenções e cumplicidade golpistas.
Nesta mesma terça-feira, 15, outro general, Braga Netto, seguiu a senda. Também no Twitter saudou Villas Bôas.
Ex-chefe da Casa Civil, ex-ministro da Defesa e candidato a vice derrotado, o general Braga Netto disse:
– Real e urgente a necessidade do resgate da independência e da harmonia entre os poderes.
Certamente é urgente. E, para tanto, bastaria os militares se aterem à sua função constitucional.
Que exclui saltarem dos quartéis para tomar o Poder e fazer Política. Como, de novo e já há anos, estão fazendo.
Na semana passada, outro manifesto. Dos comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica sobre as manifestações.
Com uma coincidência. Do título até o final, o manifesto dos comandantes tem 477 palavras.
477 foi um decreto da ditadura, no dia 26 de fevereiro de 1969.
Decreto para tentar calar professores, estudantes e funcionários.
Mais de mil estudantes foram expulsos das universidades pelo 477.
E cerca de 200 professores foram demitidos. A começar pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Expulsos e demitidos pela ditadura.
Que os comandantes militares de agora pregam, e pretendem ensinar, não ter existido.
Aliás, parênteses. Aquela ditadura foi instalada para impedir… uma ditadura. Incrível. E durou 21 anos.
Assinam o manifesto da semana passada Marco Antônio Freire Gomes, comandante do Exército, Almir Garnier, da Marinha, e Carlos de Almeida Baptista Junior, da Aeronáutica.
Na nota, os comandantes asseguram a “liberdade de pensamento, reunião e locomoção”. Disseram eles…
“Condenáveis eventuais restrições de direitos por parte de agentes públicos (...) Reiteramos a crença na importância da independência dos Poderes, em particular do Legislativo…”
O blá-blá-blá fardado não esconde irritação, os alvos principais e como essa casta militar se enxerga, se vê.
Comecemos pela irritação, óbvia, com a derrota da continuidade do projeto de Poder Militar.
Que teve como cavalo de Troia o “mau militar” Bolsonaro, segundo definição do ex-ditador Geisel.
Bolsonaro reabsorvido depois de posto para fora do Exército.
Por, em 1987, ter planejado um atentado com bombas contra a adutora do Rio Gandu, no Rio de Janeiro.
Depois de revelar o plano à revista Veja, o então capitão Jair negou. Foi desmentido pela revista.
Por isso, “faltou com a verdade” – leia-se “mentiroso” –, como vocês podem ler no “Noticiário do Exército” de 1988.
Que tratou do assunto com o título “A Verdade, um símbolo da honra militar”.
Nesse mesmo “Noticiário do Exército”, está dito: “...não se pode admitir a desonra e a deslealdade” etc.
E é a esse “mau militar” que comandantes das Forças Armadas serviram, servem.
Servem do ponto de vista hierárquico, formal.
Na prática, dele as Forças Armadas se serviram no desgoverno em curso.
Alvo evidente na nota é o Supremo Tribunal Federal. Por tudo o que temos visto e vivido nos últimos meses.
E como os militares se enxergam, se veem?
O que vaza do Twitter de Villas Bôas, entre outros, é que a cúpula militar ora no Poder segue se considerando uma Casta.
Que segue se achando no direito de ditar normas e regras para a democracia, para o funcionamento da sociedade.
Como se o mundo civil e os demais Poderes fossem todos incapazes.
Notas e tuítes apenas confirmam a arrogância dos que se acham no direito de seguir tutelando o Brasil.
Outro alvo-objetivo é Lula.
É lembrar ao presidente eleito sobre o Poder que têm e que pretendem continuar exercendo.
Como, por três vezes, já havia feito o mesmo general Villas Bôas.
Em 2018, então comandante do Exército, num primeiro tuíte.
Ameaçando o STF para impedir a candidatura de Lula.
Depois, já no final do ano, um segundo tuíte ameaçando novamente o STF.
Para impedir um habeas corpus que tirasse Lula da prisão.
Um terceiro episódio, sempre no Twitter, escancarou a prepotência militar.
A 16 de fevereiro de 2021, o ministro Fachin, do STF, criticou os tuítes de Villas Bôas de… três anos antes.
E o general respondeu, confirmando, reafirmando as pressões e tudo mais de três anos antes.
E ironizando Fachin, escreveu: “Três anos depois”.
Esta terça agora, 15 de novembro. Data da comemoração da Proclamação da República.
República que nasceu num golpe de Estado, o primeiro de vários, há 133 anos.
Nesta terça, seguiam as manifestações. Nas redondezas de quartéis Brasil afora. E diante do Quartel General do Exército, em Brasília.
O que manifestantes, surtados como estamos vendo, cobram?
Intervenção militar. Ou seja, um golpe de estado.
Não importa que no mais das vezes seja um amontoado de idosos pirando.
Importa é que os Comandos, comandantes finjam não estar sendo cometido um crime.
Atentar contra a Constituição, pedindo intervenção militar é crime.
Coronel do Exército na reserva, há quatro anos Marcelo Pimentel denuncia a ilegalidade de ações dessa casta que tem falado e agido em nome do Exército, das Forças Armadas.
No 15 de Novembro, com fotos aéreas sendo exibidas, coronel Pimentel alertou no Twitter:
– Nas manifestações, há inúmeros militares na reserva (talvez na ativa), reservistas e ex-militares.
Diz Marcelo Pimentel:
– Basta ver fotos/vídeos nas redes sociais, (alguns militares e/ou familiares postam).
– As casas q se vê ao fundo são PNR onde moram generais 4 estrelas (os do Alto Comando)
Cenas e frases da cumplicidade entre manifestantes e militares se multiplicam.
Nas redes sociais, nas manchetes, e demonstram: os reis estão nus. Com consequências visíveis. Fatos.
Navio abandonado na Baía de Guanabara bate na Ponte Rio-Niterói.
André Trigueiro, jornalista que cobre Meio Ambiente e mora no Rio, informa:
– A Marinha é a principal responsável pelo fato de a Baía de Guanabara ter se transformado num cemitério de navios abandonados, de “lixo náutico”. Por 30 anos.
Exército. Entre tantas e tantas outras, não percebeu o desvio de 60 toneladas de armamentos.
Segundo a Polícia Civil e Promotoria do Maranhão, criminosos liderados por dois irmãos gêmeos, Wander e Wanderson Carvalho, desviaram 60 toneladas de munições e armas no mercado ilegal.
Aliados a um sargento do exército e a um representante da Companhia Brasileira de Cartuchos.
Desvio feito por mais de um ano, de novembro de 2020 a março deste 2022.
Desvio operado via Sistema de Controle de Venda e Estoque de Munições do Exército, o Sicovem.
Um ano e pouco. E não notaram entre os envolvidos uma faxineira: Francisca Maria.
Uma laranja de 61 anos e com salário de R$300. Só ela comprou 15 milhões em munições e armas.
E sabem o nome da empresa “oculta”? “Cangaço Materiais para Caça”.
O relato é de Rogério Pagnan, na Folha de S. Paulo.
60 toneladas de munições e armas, e o Exército não percebeu. Compreensível.
Estavam preocupados e ocupados em detectar fraudes nas urnas eletrônicas.
Ou, como faz em Brasília nos últimos dias a Polícia do Exército, ocupados em organizar o trânsito.
Isso em frente ao QG do Exército.
Onde manifestantes cometem continuamente o crime de pedir intervenção militar.
A propósito de intervenção militar e ditadura.
Ministro do Supremo Tribunal, Dias Toffoli já chamou a ditadura de “Movimento”. Como preferem os militares.
E nesta semana, em Nova Iorque, decidiu piorar.
Num evento do LIDE, da família Doria, Toffoli fez uma comparação vergonhosa.
Antes da cena, uma observação. Pra que ministros do STF num evento do LIDE em Nova Iorque, a essa altura?
Para se expor ao banditismo do foragido Allan dos Santos e semelhantes e entregar manchetes negativas?
Mas vamos a cena.
Ouçam, vejam esse vídeo.
– Mas não podemos nos deixar levar pelo que aconteceu na Argentina. (...) Uma sociedade que ficou presa no passado, na vingança, no ódio, e olhando pra trás.
A Argentina não ficou presa ao passado e à vingança e ao ódio.
A Argentina, assim como o Uruguai e mesmo o Chile, julgou e condenou crimes e criminosos das suas ditaduras.
O Brasil optou por uma “anistia ampla, geral e irrestrita”, e deu, e dá nisso aí. Não acaba nunca.
Confundir justiça e reparação com vingança e ódio foi só uma confusão? A pergunta cabe.
Foi Toffoli quem, ao presidir o STF no ano eleitoral de 2018, com Jair e Mourão numa chapa, nomeou como assessor do STF o general Fernando Azevedo.
E mundo afora, ministros do Supremo tinham que explicar a colegas os significados e motivos para aquele ato.
Agora, em Nova Iorque, o ministro Toffoli novamente atiçou a curiosidade a respeito dessa heterodoxa parceria.
Outra parceria estranha, e perene, é a de donos de mídias – e seus e suas porta-vozes – com essa entidade invisível e onipresente: O “O Mercado”.
O “O Mercado”, assim como militares, busca emparedar Lula antes da escolha de ministros e posse.
Foi só Lula chorar e falar da fome de 33 milhões de pessoas no Brasil, e as citações a O “O Mercado” inundaram manchetes, telas, páginas e redes sociais.
Como Lula ousa questionar o “teto dos gastos”?
Quem faz manchetes e/ou vai às telas e redes sociais notou um fato concreto? André Lara Resende e Pérsio Arida, a dupla Larida, dos pais do Plano Real, estão no Gabinete de Transição.
Isso certamente tem significados.
Onde estavam O “O Mercado”, seus analistas e porta-vozes quando Bolsonaro e militares estupravam todo e qualquer teto, com o corrompedor “orçamento secreto” de dezenas e dezenas de bilhões?
Orçamento secreto, o Secretão, criado por um general ainda na ativa, no final de 2019.
O general Luiz Eduardo Ramos, então ministro-secretário de governo.
Mas a farra de dinheiro público para tentar vencer as eleições não foi só o Secretão.
De agosto até a eleição, foram gastos ao menos mais R$ 21 bilhões em programas sociais de ocasião.
Nas manchetes, telas, páginas e redes, indignação: como Lula pode falar em romper o teto de gastos?
Lula teve 61 milhões de votos, exatamente para poder falar e romper esse ciclo.
E o que dizia O “O Mercado” enquanto Bolsonaro furava o teto de gastos em R$ 795 bilhões em quatro anos de desgoverno?
Ciclo representado por O “O Mercado”.
E pelos aliados nas cúpulas das Forças Armadas que forjaram uma Casta Militar.
Enquanto por aqui seguem surtos e surtados, no Egito o Brasil voltou a conversar com e ser ouvido pelo mundo.
Lula, que já conversou com Biden e com líderes europeus, se encontrou com enviados dos Estados Unidos e China.
E recebeu pedidos para, ao menos, outros 10 encontros bilaterais.
Por aqui, nos esgotos das redes sociais, nos manifestos de militares e nas redondezas dos quartéis, seguem os surtos do secular golpismo.
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