segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Feliz Ano Novo, por Luis Nassif



Arte de Rosangela Borges

GGN.- As festas de fim de ano são um bom momento para repensar a brasilidade. A tradição dos romãs, das uvas, do foguetório à meia noite, do bolo de milho e do peru. O “adeus ano velho / feliz ano novo”, que vieram de nossos pais e chegam aos nossos netos.
Por algum momento, ressurge o país ancestral, os valores, as músicas, os costumes que costuraram gerações em torno do conceito de nação. E permite esquecer, por algum momento, a vergonha suprema de ter sido entregue a uma organização criminosa.
Nas rodas familiares, evita-se até a pronunciar o nome de Temer, para não conspurcar a memória de nossos velhos, encarar a suprema humilhação geracional de, pela primeira vez na história, o crime organizado político ter conquistado o poder, impondo-se sobre instituições débeis, homens públicos covardes, procuradores ambiciosos, mídia vendendo opinião como xepa de feira.
Com todas as falhas e virtudes, da monarquia e dos conservadores da República Velha aos desenvolvimentistas de Getúlio a Jango, dos militares pós-64 aos presidentes da pós-redemocratização, com os erros de Collor, FHC, Lula e Dilma, houve toda sorte de presidentes, acertos e erros, mas nenhum representando organizações criminosas como muitos outros países latino-americanos, como o caso do México.
Em determinado momento, entre 2008 e 2012, supôs-se que o Brasil finalmente vencera o subdesenvolvimento e ingressara no campo das nações desenvolvidas. O orgulho de ser brasileiro iluminava cada pessoa no país, dos incluídos pelos programas sociais aos estudantes que saíam pelo mundo em cursos de pós-graduação, dos pequenos empresários do interior aos turistas internacionais.
A queda foi muito rápida, induzida por erros de Lula e de Dilma, sim, mas principalmente pelo golpismo antinacional de quem não se pejou de destruir sistematicamente a auto-estima nacional, superdimensionando todos os erros, escondendo todos os acertos.
Mas, ao som de “Tristeza do Jeca”, de “Que nem jiló”, das modinhas de Carlos Gomes a Chico Buarque, vai aumentando a convicção de que não vencerão. O País resistirá. A imagem que tenho do Brasil, hoje em dia, é o do bom gigante, forte, acolhedor e caído no chão, vítima de um golpe sujo. E, caído, sofre os pontapés dos roubos de Temer, pauladas dos subornos de Padilha, sem conseguir reagir. Mas, a exemplo dos titãs das lendas, sua força reside no contato com a terra. Foi assim no Brasil derrotado dos anos 20, do Brasil amordaçado dos anos 80.
O Brasil sairá desses tempos ferido, humilhado, desmontado, mas com a energia de quem superou todas as crises, a crise da República Velha, a ditadura do Estado Novo, o golpe de 64, a hiperinflação dos 80, o câmbio dos 90, o entreguismo do período tucano, a megalomania do fim do governo petista e, principalmente, a mais espúria aliança antinacional da história, no qual as corporações públicas, juízes e procuradores, se aliaram a uma mídia anacrônica e mercantil e um mercado sem noção de limites, para assaltar o orçamento público e destruir a auto-estima nacional.
Que 2018 marque o início da retomada civilizatória.
Feliz Ano Novo.

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