terça-feira, 21 de setembro de 2010

A hipocrisia fundamentalista



A hipocrisia fundamentalista


Carlos Antonio Fragoso Guimarães

Querem, os fundamentalistas de todos os matizes, impor determinadas formas de interpretar o mundo, de acordo com textos sempre percebidos em modos de adequação de palavras a uma visão de mundo a priori entendida como válida.

Será o capitalismo o ponto perfeito de sistema econômico, destroçando o meio-ambiente e desagregando famílias, países e, em termos individuais, neurotizando pessoas?

Será o discurso cientificista o único válido, reduzindo a complexidade do real a pontos materiais ou o comportamento humano e as relações sociais a números estatísticos em artigos que ninguém lê e que, portanto, não traz nenhum benefício a, no caso do Brasil, pessoas que os pagam com seus impostos?

Será, no meio fundamentalista cristão, que o Deus Abba pai amoroso pode conviver com o Javé ou o Jeová ciumento e violento, "deus" dos Exércitos de uma comunidade guerreira de séculos antes de Cristo?

E será que apenas os que gritam, em pé em praças públicas, "Senhor, Senhor" conseguirão, ao custo de muito gritar, convencer a Deus, a si mesmos e aos demais que estão salvos e poderão salvar?

Obras e coerência baseados no "amai-vos uns aos outros" e no "amai vossos inimigos", consubstanciados no "fazei aos outros aquilo que gostariam que fizessem a vós" vale menos que a idéia de que apenas a fé - em uma imagem antropocêntrica do mais além - pode elevar alguém?

Mas fé baseada em uma mensagem que leve a uma mudança de percepção, que faça ressurgir novos homens e mulheres amorosos que ajam conforme a percepção ética de Deus em tudo, ou "fé" em uma figura humana que, ao que se saiba, nunca falou em culto à própria personalidade e em destuir os que não o aceitam?

No amor a quê? No reconhecimento da irmandade humana universal que se expressa na diversidade ou na luta para uma homogeinização do pensamento segundo dogmas e critérios rígidos do que seria uma "única verdade"?

Na esperança de quê?... De que todos temos em nós a herança de um Ser superior ou a de que nossos "achismos" são os únicos válidos e por isso, deve ser imposto a quem "acha" algo diferente de nós mesmos?

Estas ditas "minorias" parece querer abafar as próprias dúvidas impedindo a voz do diferente. Um dia, dizem, há de chegar o seu “reino”... Repita-se, o “reino de um deus” exclusivista e exclusivo deles..., tão aparentemente humildes mas praticamente arrogantes que são, em tudo!

Só mesmo tendo a certeza de ser salvo viver para lá da morte o que não exemplificam aqui na Terra... Só assim poderiam ser os anjos que substituam os demônios da intolerância que foram aqui, usando de todos os meios e mídias para agrediar e vilependiar idéias e dignidades do "outro" diferente deles mesmos.


É mesmo necessário que disponham da vida eterna para — eternamente e no “reino de Deus” — poderem serem mais que humanos e ressarcir-se do que fazem nesta passagem pelo mundo, vivida “na fé, no amor, na esperança”, enquanto discurso, mas que na prática se movimenta no ódio, na agressão e no terror contra a alteridade e a diferença.

Pode haver maior contradição que pregar o amor empunhando a espada?

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