quinta-feira, 6 de março de 2025

Assim nasceu o anti-vital neoliberalismo

 

Assim nasceu o neoliberalismo

Em dois livros essenciais, Melinda Cooper reconstitui os anos que mudaram a face do Ocidente. 1968 abriu crítica radical ao capitalismo. Para freá-la, sistema apelou à moral conservadora. Há saídas: mas é preciso fazer do dinheiro um Comum

Aliança neoliberal-conservadora: Ronald Reagan e o papa João Paulo II em Miami, em 1987

O esforço para mostrar que há vida além do capitalismo é árduo, mas reconforta. Há anos, Outras Palavras tem identificado e difundido o esforço de um grupo de pensadores que desafia as certezas do neoliberalismo. Num artigo recente, Ladislau Dowbor destacou a obra de alguns deles: economistas como Mariana Mazzucato, Thomas Piketty do Michael Hudson, Michael Roberts, Jayath Ghoshi.

Melinda: Capitalistas temiam semente de Maio de 1968

A este elenco, é preciso somar Melinda Cooper. Esta socióloga australiana de 52 anos, professora na Universidade de Canberra (na Austrália) tem publicado obras que desafiam antigos paradigmas. Seu foco concentra-se na transição do Estado keynesiano para a hegemonia neoliberal – e especialmente no papel que desempenhou, neste processo, uma aliança entre os neoliberais e os conservadores morais. Seu interesse parece ser provocar velhos consensos e, ao fazê-lo, abrir caminho para alternativas.

Ela sustenta que o Estado de bem-estar social não se esgotou por motivos econômicos. Foi jogado ao mar e corroído, quando as elites ocidentais julgaram que conquistas como Educação e Saúde igualitárias haviam tornado os trabalhadores indisciplináveis. Os capitalistas temiam, em especial, a semente revolucionária lançada por movimentos como o de maio de 1968. Para neutralizá-la, estabeleceram aliança com os ultraconservadores e retomaram ideias como a centralidade da família. Estabeleceu-se um consenso reacionário. Para rompê-lo, argumenta Melinda, será preciso desmistificar o dinheiro; vê-lo como um Comum; e apostar na multiplicação do gasto público que desmercantiliza a vida e redistribui a riqueza.

Seu pensamento está especialmente expresso em dois livros, ainda não disponíveis em português (há edições em inglês e castelhano). Contrarrevolução: extravagância e austeridade nas finanças públicas e Valores de Família: entre o neoliberalismo e o novo conservadorismo. A primeira obra foi lançada no final de 2024 e examina a transição do keynesianismo para o neoliberalismo, iniciada no final dos anos 1970.

Melinda lança mão de um vasto estudo factual para mostrar como se construíram, quase a partir do nada, consensos baseados nas ideias de economistas austríacos dos anos 1920 – não apenas Hayek e von Mises, mas também Joseph Schumpeter. Emergiu, então, a noção de que as políticas macroeconômicas precisavam obrigatoriamente visar objetivos até então pouco relevantes, como “equilíbrio orçamentário”, “ajuste fiscal”, “redução de tributos”, “encolhimento do Estado”, “autonomia dos bancos centrais”, “metas de inflação” (desde que desconsiderem a valorização imobiliária…).

Melinda aponta também como esse consenso é importante para esconder que por trás dessa “austeridade”, há uma extravagância – uma transferência brutal de recursos do Estado para os mais ricos. É algo evidente no Brasil (embora oculto para a maioria), onde o Tesouro transfere a cada doze meses, para um grupo reduzido de credores da dívida pública, R$ 1 trilhão, o mesmo que três orçamentos do SUS.

A partir daí, a autora lança suas provocações. Ao contrário do que sustenta o consenso econômico, partilhado inclusive pela maioria dos keynesianos, ela sustenta que a crise do Estado de bem-estar social não se deveu, essencialmente, a razões econômicas objetivas – ao suposto esgotamento daquele processo. Foi produzido, ao contrário, por uma opção política das elites capitalistas. Elas temeram que o Estado de bem-estar social gerasse, em determinado momento, uma contestação muito forte ao próprio sistema.

A essência do argumento de Melinda é: tanto a construção do Estado de bem-estar social quanto a sua destruição resultam de opções políticas. O surgimento se dá – e esta parte da história é mais conhecida – no pós-II Guerra, quando a ameaça da União Soviética fez com que as elites capitalistas aceitassem entregar os anéis para conservar os dedos.

Em todo esse período – marcado por greves em cujas imagens é possível identificar a presença masculina marcante – as lutas sociais e o fantasma da União Soviética são tão marcantes que as elites aceitam, por exemplo, o gasto público e os déficits fiscais que permitem a educação e saúde gratuitas os sistemas previdenciários por repartição, totalmente estranhos ao capitalismo do início do século.

Mas Melinda vai mais adiante e mostra a destruição desse processo. Argumenta que aquele movimento tinha ido longe demais – pois continha em seu interior ideias não capitalistas. As ideias de saúde e educação gratuitas e igualitárias, por exemplo, ou de que ninguém é obrigado a trabalhar até o final da sua vida e de que não é preciso haver insegurança econômica, foram vistas como subversivas. Passaram a assustar as elites, em especial pelo fato de elas terem criado um cenário em que já não era possível disciplinar os trabalhadores por meio de políticas macroeconômicas.

Estas políticas, conta a socióloga, provocavam às vezes redução dos salários, mas os trabalhadores estavam garantidos por um sistema de bem-estar social que os protegia. E foi esta segurança, segundo a autora, que tornou possíveis movimentos como o Maio de 68, cujas imagens são muito diferentes. Incluem mulheres, desafiam não apenas os patrões mas a ordem econômica – além da hegemonia cultural e moral. É preciso lembrar que maio de 68 não se esgotou na França, muito menos em Paris. Foi seguido, em todo o mundo, por greves de forte sentido anticapitalista. Elas avançaram fundo na década de 1970, a ponto de o comunista e sociólogo italiano Toni Negri afirmar: “em certo momento, dominávamos as técnicas sociais que permitiam vencer os patrões”.

Isso foi, é evidente, demais para os capitalistas. A partir de determinado momento, eles foram capazes de inverter o jogo. Apoiaram-se num vasto movimento de fragmentação de trabalho e no argumento de que, do ponto de vista econômico, o projeto keynesiano tornara-se insustentável.

E nesse momento que os capitalistas – já rompidos com o keynesianismo e abraçados ao projeto neoliberal – vão se associar com os conservadores morais. Melinda cita, a respeito, uma frase emblemática da primeira-ministra britânica Margaret Thatcher. “Não existe isso que chamam de sociedade”, diz ela: “há apenas homens, mulheres e famílias”. Aqui entra uma segunda contribuição de Melinda Cooper. Num outro livro de enorme importância, Os Valores de Família, ela faz uma reconstituição histórica impressionante sobre como, em cinco séculos de modernidade, capital, Estado e a família estiveram sempre associados na dominação política e construção de consensos.

Melinda descreve como os neoliberais uniram-se aos conservadores para estabelecer uma espécie de anti-Maio de 68 para fazer a recuperação da família e dos valores burgueses. Ela mostra inclusive (e é bastante curioso) como, de certa maneira, algumas bandeiras de maio de 68 – a diversidade sexual, por exemplo – foram recuperadas de forma conservadora, na forma, por exemplo, do casamento homossexual.

Em seus livros fundamentais – mas especialmente em Contrarrevolução – Melinda vai atrás das alternativas. Ao fazê-lo, recupera um teórico do Partido Comunista Grego, dos anos 1960 e 70, Nikolas Poulantzas, que cometeu suicídio em 1979. Foi quem teorizou, já àquela época, a respeito de um possível giro inesperado da teoria revolucionária. Ele vislumbrava a hipótese de capturar, para um pós-capitalismo, o Estado de bem-estar social. Queria agir por dentro dele e, ao mesmo tempo, estourar seus limites para detonar a ordem burguesa.

Poulantzas: o projeto da revolução precisa mudar

Poulantzas argumentava que alguns dos valores centrais das lutas operárias dos séculos XIX e XX haviam sido valorizados e ao mesmo tempo capturados pelo Estado de bem-estar social. Por isso, já não adiantava simplesmente defender as noções anteriores de revolução: a classe trabalhadora prezava o fato dos seus direitos estarem sendo assegurados pelo Estado capitalista.

Ele pensa que a estratégia deveria ser recuperar estes valores; atuar por dentro e para explodir os limites desse estado. Lutar, por exemplo, pelo direito ao trabalho para as mulheres – porque o keynesianismo baseava-se na ideia do marido sustentador do lar. Expandi-lo para as maiorias globais: os não-brancos, os imigrantes, os fora-da-ordem.

Melinda Cooper sugere, sempre de forma provocadora, que é preciso recuperar e ir além do próprio Poulantzas. Para ela – num pensamento que pode ser estendido ao futuro do governo Lula – a esquerda precisa questionar todo o processo de criação do dinheiro. É transformar o dinheiro num Comum e, ao fazê-lo, promover um grande choque de serviços públicos, de garantia de pleno emprego, de transformação da infraestrutura e de desmercantilização da vida. Sua obra, instigante e inspiradora, é um alento bem-vindo, em tempos de marasmo intelectual.

   

Senador Bernie Sanders falando verdades, destruíndo Donal Trump e Musk sem piedade!

 Do Nova Esquerda News:

O senador Bernie Sanders não deixou barato as insanidades de Trump e sua equipe perniciosa, inluindo Elon Muks! Em uma resposta forte e incisiva, ele criticou duramente o discurso de Donald Trump no Congresso, expondo as contradições e alertando sobre os impactos das políticas defendidas pelo ex-presidente!



quarta-feira, 5 de março de 2025

Neoliberalismo como construção do idiota, por Rodrigo Medeiros

 

De olho em vantagens pessoais, os idiotas abrem mão de projetos coletivos por deterem uma subjetividade que compromete o pensamento reflexivo

                                Foto de Milad Fakurian na Unsplash


Neoliberalismo como construção do idiota

Por Rodrigo Medeiros*

Após ler o livro ‘A construção do idiota’ (2024), editado pela Da Vinci Livros, decidi cumprir a promessa feita ao seu autor, Rubens Casara, escritor e juiz de direito. Conheci Casara na Livraria Da Vinci, no Rio de Janeiro, em setembro do ano passado. Naquele momento, pude conversar com ele sobre alguns aspectos da respectiva obra e sobre o momento político brasileiro. Irei abordar alguns pontos relevantes que selecionei no livro e fazer alguns breves comentários. Recomendo aos interessados a leitura do livro.

Seria, afinal, possível desenvolver o programa neoliberal sem a construção de um imaginário coletivo aderente? Logo no primeiro capítulo do livro, Casara abordou o processo de idiossubjetivação. De acordo com o autor, “a idiotice é a postura, por excelência, do sujeito neoliberal que atua egoisticamente a partir de cálculos de interesse que visam exclusivamente o lucro ou a obtenção de alguma vantagem pessoal”. O idiota, palavra de raiz etimológica grega que significa “privado”, é uma pessoa sem compromisso com a vida pública. Reduzir a participação e o interesse coletivo na vida pública faz parte do processo que constrói idiotas úteis nas cidades para o desenvolvimento do programa neoliberal.

Para Casara, “idiotas, portanto, são as pessoas que abdicam de projetos coletivos ou de ações políticas voltadas para o bem comum, porque são detentoras de uma subjetividade empobrecida que interdita o pensamento reflexivo visando a obtenção de vantagens pessoais”.

A construção do idiota é um processo de dominação ideológica presente no capitalismo neoliberal, cujo programa começou a ser elaborado a partir da segunda metade dos anos 1930 e que se difundiu globalmente após a queda do Muro de Berlim, em 1989, e principalmente após a dissolução da União Soviética, em 1991, com o fim das experiências do socialismo real. “Fim da história” para alguns, pois a “ameaça comunista” havia terminado. O Estado de bem-estar social capitalista do pós-Segunda Guerra havia perdido a sua utilidade de contenção.

Não há mesmo alternativas ao neoliberalismo e sua distopia civilizatória baseada no darwinismo social e na banalização das desigualdades sociais extremas? Temos que aceitar ainda hoje que não há alternativas, como dizia Margaret Thatcher? Conforme ponderou Casara, “idiotas, inocentes ou não, sempre foram úteis àqueles que pretendem dominar e explorar outros seres humanos”. Empobrecer a linguagem, a discussão pública e simplificar os problemas causados pelo programa neoliberal, responsabilizando individualmente os mais frágeis, as vítimas do sistema, são táticas bem conhecidas dos ideólogos do neoliberalismo.

De acordo com o autor, “para compensar o caos social produzido pela adoção de medidas neoliberais, os detentores do poder econômico estimulam promessas e discursos que satisfazem um imaginário que projeta o retorno a um passado idealizado de segurança”. Passado este que nunca existiu de fato. O sociólogo Zygmunt Bauman chamou esse tipo de retorno ao passado de “retropia”. Alguns chamam de reacionarismo, ou de populismo reacionário.

Rubens Casara compreende que vivemos em um tempo no qual “a pessoa trabalhadora tornou-se cada vez mais manipulável e dispensável”. Poderíamos considerar este tempo como a modernidade líquida sob a hegemonia do programa neoliberal: privatização; desregulamentação de mercados; um Estado mínimo para os trabalhadores e os mais vulneráveis; finanças públicas ortodoxas na busca do equilíbrio fiscal, independente da fase do ciclo econômico e das consequências sociais; bancos centrais sob o controle dos financistas de mercado, apartados das necessidades sociais e dos ciclos eleitorais.

A perspectiva “reformista” que restou seria a aplicação de um choque neoliberal de desresponsabilização, desvinculação e desestatização? Tal abordagem antissocial se aproxima da conhecida “banalidade do mal” identificada por Hannah Arendt no nazismo.

Nesse sentido, o autor afirmou que “a idiossubjetivação, esta produção de subjetividade ao neoliberalismo, cresce junto aos fenômenos de extensão da democracia liberal (democracia meramente formal) e do aumento do poder das empresas”. Para manter o sistema capitalista vigente, em crise permanente, a democracia liberal conseguirá resistir aos avanços das novas formas de fascismo?

Privatizações e desregulamentações são pilares fundamentais das políticas neoliberais, promovidas ideologicamente sob a premissa de que a gestão privada é inerentemente mais eficiente do que a pública. Este enfoque não raro aumenta a desigualdade, pois beneficia desproporcionalmente os agentes econômicos mais fortes e penaliza aqueles menos capazes de competir em igualdade de condições.

Além disso, a política de austeridade fiscal costuma levar à redução de investimentos públicos em áreas essenciais, como saúde e educação, impactando negativamente a qualidade de vida de vastos segmentos populacionais. O programa neoliberal tende a favorecer as grandes corporações e indivíduos de alto poder aquisitivo, exacerbando as desigualdades preexistentes e criando barreiras adicionais para a mobilidade social.

Apesar do relativo bom desempenho recente da economia brasileira, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) calculou que “em dezembro de 2024, o salário mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria equivaler a R$ 7.067,68 ou 5,01 vezes o mínimo de R$ 1.412,00”. A informalidade laboral se manteve elevada no patamar de 39% para um mercado de trabalho estruturalmente precário.

Em diversos contextos, grandes concentrações de riquezas, faltas de oportunidades e de acesso a recursos básicos por parte da maioria da população se mostraram historicamente capazes de gerar um sentimento de injustiça e revolta popular. Manifestações contemporâneas do fascismo têm sido observadas em vários países, inclusive no Brasil. Essas manifestações têm impactos profundos na sociedade, levando a divisões e polarizações cada vez maiores.

Em síntese, Rubens Casara afirmou que “os processos de produção da subjetividade neoliberal precisam demonizar o comum para assegurar a negociabilidade ilimitada inerente às relações sociais neoliberais”.

A ideia de um crescimento econômico ilimitado em um planeta finito também integra o quadro ideológico hegemônico. A Organização Meteorológica Mundial, por sua vez, informou que 2024 foi o ano mais quente da história. Há registros de uma escalada dos efeitos do clima na saúde humana e nos preços dos produtos agrícolas.

A atual crise climática representa um dos maiores desafios globais contemporâneos, caracterizada pelo aumento acelerado das temperaturas médias do planeta, eventos climáticos extremos crescentes e a alteração dos padrões climáticos em diversas regiões, com consequências sociais negativas.  

Na propaganda cotidiana do neoliberalismo, a mídia ocupa um papel central como vetor de disseminação de ideais políticos e econômicos que incentivam a desregulamentação e a privatização. As empresas de comunicação muitas vezes se alinham aos interesses corporativos, promovendo uma narrativa que promove o darwinismo social e a minimização dos gastos públicos.

Esta aliança impacta a forma como as políticas públicas são debatidas e percebidas pela população, fortalecendo a hegemonia de um pensamento antissocial em detrimento de uma diversidade de vozes e perspectivas críticas, essenciais para uma democracia mais robusta, participativa e inclusiva.

*Rodrigo Medeiros é professor do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) e editor da Revista Interdisciplinar de Pesquisas Aplicadas (Rinterpap).

Da Lei Internacionalada em igualdade entre Estados Nacionais à Ordem Baseada em Regras impostoas hegemonicamente pelos EUA - Professor Glenn Diesen

 

Do Canal de Glenn Diese em português:

Direito Internacional dipóe sobre reciprocidade e igualdade soberana dos Estados Nações. Já a Ordem Baseada em Regras nasceu após a guerra fria e impõe os interesses de uma potência hegemônica imposta a todas as nações, como faz os Estados Unidos desd a década de 90 e, agora, mais ainda com Donald Trump



O Oscar e o “patriotismo”!, por Dora Incontri

 

O Brasil inteiro explodiu e comemorou quando da costumeira frase: And the Oscar goes to…I’m still here! O grito foi do Oiapoque ao Chuí



O Oscar e o “patriotismo”!

por Dora Incontri (publicado no Jornal GGN)

E a semana se passou e ganhamos pelo menos um Oscar, o primeiro da história. Em que pese o descontentamento cabível pelo fato de Fernanda Torres e Demi Moore – ambas protagonistas de filmes críticos – terem perdido para uma atriz de um filme tipicamente hollywoodiano, o nosso Oscar de melhor filme internacional não teve menos sabor por isso.

Há que se abrir também o parêntese de que se trata de uma premiação embebida no domínio cultural dos Estados Unidos. Mesmo assim, ou por isso mesmo, o quanto é significativo abrir essa brecha para a premiação de um Oscar para um filme brasileiro que, no fundo, é uma crítica ao país que ajudou a implantar o golpe de1964 e treinou os torturadores que mataram Rubens Paiva!

O que chamo à análise neste texto, porém, é o grito uníssono, entusiástico, que explodiu no Brasil inteiro quando da costumeira frase: And the Oscar goes to…I’m still here! Do Pelourinho a Curitiba, foliões nas ruas interromperam o samba para comemorar o prêmio. Por uma feliz coincidência, o povo estava reunido para o Carnaval e festejou o Oscar a plenos pulmões. É verdade que houve bolsonaristas rangendo os dentes nas redes – pela temática do filme e pela natural ojeriza que a extrema direita tem a qualquer bem artístico e cultural. Mas, mesmo assim, houve um momento de grande congraçamento, de catarse popular, de alegria pura.

Isso pode nos levar a uma reflexão importante sobre a questão do patriotismo. A extrema direita se autointitula patriota, mas entrega o pré-sal brasileiro, comporta-se de maneira subserviente ante o imperialismo estrangeiro, despreza a cultura nacional e nunca está alinhada aos interesses legítimos do país.

Já a esquerda tem uma tendência mais internacionalista: nem pátria, nem patrão é um slogan anarquista; trabalhadores do mundo, uni-vos! – é a convocação comunista. O nacionalismo sempre foi um movimento de direita e, quando mais acentuado, de extrema direita, e continua sendo assim nas tendências atuais de ascensão de governos anti-imigrantistas, de proteção de fronteiras, por exemplo.

Hoje, com o entendimento da economia global e do sistema ambiental todo interligado do planeta, torna-se infantil não reconhecermos que pertencemos a uma só humanidade, fazendo parte vital de uma só planeta. Somos interdependentes. Somos irmãos, segundo a proposta antiga do cristianismo, no que tem da essência do ensino de Jesus.

Apesar desse entendimento necessário, científico, filosófico e espiritual, ainda vivemos entrincheirados, em guerra permanente, fomentada pela indústria bélica, pelos Estados imperialistas e pela força do capital, que pretendem manter seu domínio para até não sei quando. Há uma urgência em nos sentirmos parte de um todo, inteiro e indivisível por essas fronteiras artificiais. Há uma carência de nos considerarmos irmãos uns dos outros e estendermos nossa empatia para além do nosso quintal.

Isso tudo, porém, não exclui o amor que possamos ter por nossa terra – sem fanatismo, sem exclusivismo, sem hostilidade ao outro. Essa sensação de pertencimento, de orgulho, de autoestima, em relação ao país onde nascemos, à língua que falamos, aos bens culturais e artísticos que nos alimentam – tudo isso nos faz um bem danado, porque nos fincamos no solo que é nosso, de onde podemos anunciar a nossa contribuição para o mundo.

Devo dizer que a postura de Fernanda Torres durante todo esse processo de indicação e premiação do filme Ainda estou aqui, foi simplesmente exemplar, mostrando a nossa melhor parte: ela se comportou de maneira alegre, leve, satisfeita com o trabalho feito, crítica da história, espontânea e afetiva como só um(a) brasileiro(a) sabe ser, em tudo fraterna e respeitosa com os concorrentes ao prêmio. Tudo isso lavou a nossa alma diante do ufanismo patrioteiro (aliás traidor da pátria) dos bolsonaristas de plantão.

Então, sim, podemos nos orgulhar do rincão onde nascemos, onde também nasceram Eunice Paiva e… apenas para citar alguns, Guimarães Rosa, Drummond, Chico Buarque, Nise da Silveira, Lelia Gonzalez e infinitos outros, que fazem o Brasil ser Brasil. Sem termos de enveredar por um ufanismo burro, tornando-nos incapazes de sermos humanos, planetários e universalmente fraternos.

Dora Incontri – Graduada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Mestre e doutora em História e Filosofia da Educação pela USP (Universidade de São Paulo). Pós-doutora em Filosofia da Educação pela USP. Coordenadora geral da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita e do Pampédia Educação. Diretora da Editora Comenius. Coordena a Universidade Livre Pamédia. Mais de trinta livros publicados com o tema de educação, espiritualidade, filosofia e espiritismo, pela Editora Comenius, Ática, Scipione, entre outros.

terça-feira, 4 de março de 2025

Juliana Dal Piva: como os militares fascistas mataram Rubens Paiva | Entrevista

 Do Canal Carta Capital:

O caso do desaparecimento e da morte do ex-deputado Rubens Paiva por agentes da ditadura militar sempre intrigou o meio político, jurídico e a sociedade pela sua falta de completo esclarecimento. Opositor do regime, o ex-parlamentar saiu de casa em 21 de janeiro de 1971, acompanhado por agentes, no Rio de Janeiro. Ele daria um depoimento na sede do DOI-CODI naquele dia, mas nunca mais voltou. Juliana Dal Piva, jornalista e mestre no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da FGV-Rio, conhece bem a história do crime. Envolvida há mais de quinze anos nas investigações sobre mortos e desaparecidos do regime, ela lança "Crime Sem Castigo: Como os militares mataram Rubens Paiva". A obra, lançada pela editora Matrix, é resultado da sua pesquisa de mestrado e conta os detalhes da narrativa forjada pela ditadura para encobrir o assassinato de Rubens Paiva, tema do longa "Ainda Estou Aqui".



segunda-feira, 3 de março de 2025

Oscar de melhor filme estrangeiro vai para ‘Ainda Estou Aqui’

‘Ainda Estou Aqui’ superou outros filmes estrangeiros, como Emilia Pérez (França), A Semente do Fruto Sagrado (Alemanha), A Garota da Agulha (Dinamarca) e Flow (Letônia).

 Do Jornal GGN:

Oscar de melhor filme estrangeiro vai para ‘Ainda Estou Aqui’


Fernanda Torres não levou o Oscar de melhor atriz, que ficou com Mikey Madison, de Anora. Mas Fernandinha foi a grande vencedora para o Brasil

                                                     Daniel Cole – Reuters


‘Ainda Estou Aqui’, de Walter Salles foi o vencedor na categoria melhor filme internacional na 97ª edição do Oscar. O prêmio foi anunciado na noite deste domingo, 3 de março, em Los Angeles, nos Estados Unidos.

Este é o primeiro Oscar para um filme brasileiro. Walter Salles, em seu discurso, disse: “Esse prêmio é dedicado a ela e o nome dela é Eunice Paiva. E também dedico esse prêmio às duas mulheres extraordinárias que deram vida a ela: Fernanda Torres e Fernanda Montenegro”.

‘Ainda Estou Aqui’ superou outros filmes estrangeiros, como Emilia Pérez (França), A Semente do Fruto Sagrado (Alemanha), A Garota da Agulha (Dinamarca) e Flow (Letônia).

Anora recebeu o prêmio de melhor filme, superando Ainda Estou Aqui, que foi indicado também.

Fernanda Torres não levou o Oscar de melhor atriz, que ficou com Mikey Madison, de Anora. Mas Fernandinha foi a grande vencedora representando o Brasil, assim como Fernanda Montenegro nos representou em 1999.

Os premiados nas 23 categorias foram:

Ator coadjuvante – Kieran Culkin, em A verdadeira dor

Animação – Flow

Curta-metragem animado – In The Shadow of Cypress

Figurino – Wicked

Roteiro original – Anora

Roteiro adaptado – Conclave

Maquiagem e penteado – A substância

Edição – Anora

Atriz coadjuvante – Zoe Saldaña, por Emília Pérez

Design de produção – Wicked

Canção original – El Mal, de Emilia Pérez

Documentário de curta-metragem – A única mulher na orquestra

Documentário   – No other land

Som – Duna: Parte 2

Efeitos visuais: Duna: Parte 2

Curta-metragem em live-action – I´m not a robot

Fotografia – O Brutalista

Filme internacional – Ainda estou aqui

Trilha sonora  – O Brutalista

Ator –Adrien Brody, em O Brutalista

Direção – Sean Baker, de Anora

 Atriz – Mikey Madison, em Anora

Filme – Anora

Prof. Jeffrey Sachs: A União Européia, joguete dos EUA, em pânico com a possibilidade de paz na guerra da Ucrância e Rússia

  

Do Canal do analista político internacional Glenn Diesen em portguês:




Bolsonaro, fascistas e filhotes da ditadura militar derrotados com com Oscar de Ainda Estou Aqui. Lembra do Rubens Paiva? Cinema brasileiro no topo

 

Do Canal Progressista:

Neste vídeo, é mostrado porque o oscar de melhor filme estrangeiro para "Ainda estou aqui" é um tapa no Bolsonaro. Bolsonaro que nunca respeitou o Rubens Paiva. Também é um feito histórico para o Brasil. Além disso, é mostrado que o Brasil deveria investir ainda mais no cinema nacional e também em outras indústria do entretenimento como a indústria de jogos eletrônicos que ainda maior do que a indústria cinematográfica.



sábado, 1 de março de 2025

Vídeo IMPORTANTÍSSIMO: Jeffrey Sachs fala verdades duras e necessárias sobre o imperialismo americano no Parlamento Europeu!

 

1- Do Canal O Cafezinho:

Em uma palestra contundente no Parlamento Europeu, ao final de fevereiro, o economista Jeffrey Sachs fez duras críticas à política externa dos Estados Unidos e defendeu uma maior autonomia da Europa em relação à influência americana. Com vasta experiência como consultor de governos na Europa Oriental e na ex-União Soviética, Sachs argumentou que os EUA vêm conduzindo guerras e desestabilizando regiões por mais de 30 anos, enquanto a Europa tem atuado de maneira submissa, sem um projeto de política externa próprio.


2 -  Do Canal Mídia Ninja, o vídeo resumido da palestra de Jeffrey Sachs:






Portal do José: SABADÃO ALERTA! BOLSONARISTAS: POSSIBILIDADE DE PRISÃO ANTES DE 16/03 NO RADAR! BANANA: PASSAPORTE SUBIU NO TELHADO!

 

Vídeo 1: BANANINHA - PASSAPORTE SUBIU NO TELHADO!

01/03/25- O PASSAPORTE DE DUDU X9 SUBIU NO TELHADO. O "URSINHO PANDA" TERÁ MOTIVOS EM DOBRO PARA FICAR DESESPERADO. O CARNAVAL NÃO ESTÁ SENDO NADA AGRADÁVEL PARA CRIMINOSOS E TRAIDORES.


Vídeo 2: 

TREMEDEIRA! 01 DE BOLSONARO APARECE DESFIGURADO!ADEUS PASSAPORTE? GONET ATACAD0 E O LADRÃ0 PORTENHO




sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Ainda estamos aqui!, por Dora Incontri

 

O filme está ótimo, com toda a dor do momento histórico, retratada com sensibilidade e contenção. Mas a repercussão está melhor ainda. Firma-se o cinema nacional internacionalmente, depois de um período de descaso no desgoverno anterior, e estamos mostrando uma brasilidade no que tem de melhor para o público internacional, com toda a campanha feita pela esquipe, mas sobretudo com Fernanda Torres. Está desenvolta, bonita, com falas precisas e originais e sempre politizadas.

Do Jornal GGN:



Ainda estamos aqui!

por Dora Incontri

Neste domingo próximo, teremos a premiação do Oscar e o filme Ainda estou aqui, de Walter Salles, com Fernanda Torres e Selton Mello, inspirado do livro de Marcelo Rubens Paiva, está indicado para três prêmios: de melhor atriz, de melhor filme e melhor filme estrangeiro. Há uma torcida entusiástica nas redes sociais para emplacarmos esses prêmios e penso que, principalmente, o de melhor atriz para Fernanda Torres.

O filme está ótimo, com toda a dor do momento histórico, retratada com sensibilidade e contenção. Mas a repercussão está melhor ainda. Firma-se o cinema nacional internacionalmente, depois de um período de descaso no desgoverno anterior, e estamos mostrando uma brasilidade no que tem de melhor para o público internacional, com toda a campanha feita pela esquipe, mas sobretudo com Fernanda Torres. Está desenvolta, bonita, com falas precisas e originais e sempre politizadas.

Afinal, exibir um filme passado durante a ditadura militar, em plena era Trump, com a ascensão da extrema direita e já ter sido premiada com o Globo de Ouro e ter sido indicada ao Oscar, já é uma glória. Fernanda não tem economizado palavras, com toda a simpatia herdada da mãe, contextualizando o caso de Rubens Paiva e o ativismo de Eunice Paiva numa ditadura que foi promovida e apoiada pelos Estados Unidos, durante a Guerra Fria.

Mede-se a importância desse filme estar sendo um sucesso de bilheteria no Brasil e assistido por muita gente nos EUA e na Europa, pela cada vez maior movimentação de movimentos nazifascistas no mundo e em entre nós.

É um filme que deveria ser passado nas escolas. Como já contei aqui nesta coluna, quando morei na Alemanha, na minha adolescência, na década de 70, durante a vigência da social-democracia do SPD (Partido Social Democrata), ainda não tão rendido ao neoliberalismo, havia propaganda antinazista nas escolas, com filmes, documentários, palestras, livros de história crítica. É o que deveríamos fazer aqui em relação à longa história de golpes e ditaduras no Brasil, como um antídoto à renovada adesão das massas a tendências autoritárias. Claro está, com o recente crescimento da extrema direita na Alemanha que, ou esses programas escolares foram descontinuados, aliás, com o rebaixamento do ensino que se deu nas últimas décadas no mundo ocidental, e ou, ao mesmo tempo, houve a captura das novas gerações pela mídia digital, que manipula gostosamente o povo do planeta no rumo do radicalismo de direita. Aliás, a melhora do desempenho do partido Die Linke (A esquerda), deve-se ao dinamismo e ao discurso ágil e fortemente presente nas redes de Heidi Reichinnek, que conseguiu atingir os jovens.

Apesar dos méritos do filme e da sua relevância neste momento histórico, há grupos que se queixam e tecem críticas – aliás muito elegantemente respondidas por Marcelo Paiva durante a Roda Vida de que participou recentemente. É que se trata da história de uma família branca de classe média e, segundo essas críticas, não há a menção de que a ditadura que se tinha na época continua existindo nas periferias brasileiras, com a morte sistemática de jovens negros, com a presença opressora e repressora de todo um aparato policial (que agora será mais reforçado com a ampliação de poderes da Guarda Civil Municipal em São Paulo, que poderá prender em flagrante, fazer revistas, entrar em propriedades etc.).

É verdade que o filme não se estende a essa questão que, em nossa sociedade, ainda é a continuidade do período de escravidão, com o sistemático apartheid da população negra e periférica. Mas não era disso que se tratava. O livro de Marcelo Paiva e o filme de Walter Salles estão focados no relato de uma família que, embora branca e de classe média, sofreu com a ditadura de forma brutal, como tantas outras famílias sofreram. Não podemos menosprezar nenhuma dor, nenhuma luta, nenhuma forma de resistência, em que pese a profunda divisão de classes no Brasil.

Além disso, Eunice Paiva, a maior heroína do relato de Marcelo, que dedica o livro sobretudo à figura de sua mãe e de quem Fernanda Torres não se cansa de falar, depois da tragédia do desaparecimento de seu marido, tornou-se durante anos uma ativista dedicada à causa indígena, outra população que sofre segregação e genocídio, desde a vinda dos portugueses para o Brasil.

Por tudo isso, está valendo muito o filme, o seu sucesso, a sua divulgação no Brasil e no mundo e me permito torcer muito pelo Oscar. Afinal, serão os EUA premiando um filme que é uma crítica a tudo que apoiaram de mais tenebroso na história.

Dora Incontri – Graduada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Mestre e doutora em História e Filosofia da Educação pela USP (Universidade de São Paulo). Pós-doutora em Filosofia da Educação pela USP. Coordenadora geral da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita e do Pampédia Educação. Diretora da Editora Comenius. Coordena a Universidade Livre Pamédia. Mais de trinta livros publicados com o tema de educação, espiritualidade, filosofia e espiritismo, pela Editora Comenius, Ática, Scipione, entre outros.


Reinaldo Azevedo: Proposta aprovada por comissão nos EUA para atingir Alexandre de Moraes é uma aberração hipócrita

 

Da Rádio BandNews FM:




UOL: "Patriotas" bolsonaristas sonham com intervenção dos EUA sobre o Brasil, comenta Sakamoto

 

Do UOL:

Em meio à artilharia contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), alguns patriotas bolsonaristas sonham com a punição e intervenção dos Estados Unidos sobre o Brasil, afirmou o colunista Leonardo Sakamoto no UOL News.