quinta-feira, 17 de outubro de 2024

O ataque que pode incendiar o mundo. Texto de Patrick Cockburn

 

Apesar de todos os riscos e advertências, Israel mantém planos de agredir o Irã. Arrogância, fanatismo religioso e aposta no apoio dos EUA alimentam a insensatez. Um Biden alienado e confuso e uma mídia cúmplice compõem o quadro

“Benjamin Netanyahu (à direita) conspira com o secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, em 12/10/23 | Fotos por: Haim Zach / GPO / Fotos Públicas
Por Patrick Cockburn, no iNews | Tradução: Glauco Faria

Depois que o “gabinete de segurança” de Israel autorizou ataques aéreos contra o Irã, os objetivos de guerra ampliaram-se e incluem o risco de uma guerra regional contra o Irã, que teria o objetivo de remodelar radicalmente o cenário político do Oriente Médio a favor de Tel Aviv

Essa meta ambiciosa, até mesmo fantasiosa, está repleta de perigos para a região e para o mundo. Israel não pode alcançá-la sem o apoio total e indisfarçável dos EUA. Apesar de a alegação do presidente Joe Biden, de que teria insistido infrutiferamente com Benjamin Netanyahu para um cessar-fogo, ele sempre endossou todas as escaladas israelenses. É razoável que Israel conclua que pode atacar o Irã com impunidade, pois, se algo der errado, terá o apoio das forças armadas estadunidenses.

Os historiadores podem um dia chegar a uma conclusão sobre até que ponto a cauda israelense está abanando o cachorro americano, aproveitando a fraqueza de Biden para atrair os EUA a outra aventura militar imprudente no Oriente Médio. É muito fácil atribuir a culpa pela diplomacia displicente e ineficaz dos Estados Unidos ao declínio cognitivo de Biden nos últimos três anos. Mas, se não for Biden, não está claro quem são os verdadeiros responsáveis por tomar as decisões na Casa Branca e nos escalões superiores do governo.

Julgando a Casa Branca por suas ações e não por suas palavras, ela vê uma vantagem geopolítica em derrotar o Irã – um aliado da Rússia e da China, embora distante – e seus aliados.

O pensamento positivo provavelmente desempenha um papel importante. Israel tem sido muito mais bem-sucedido em matar os líderes e comandantes de nível médio do Hezbollah do que se esperava. Será que um ataque agressivo ao Irã e ao seu “Eixo de Resistência” não poderia produzir vitórias semelhantes?

Essa é uma perspectiva atraente, embora as intervenções militares dos EUA – da Somália em 1992/93 ao Afeganistão em 2001 e ao Iraque em 2003 – tenham fracassado em grande parte devido à arrogância e à subestimação do inimigo.

Um perigo inédito

O histórico de Israel é semelhante. Tel Aviv forçou a mão de forma arrogante na Cisjordânia, após derrotar o Egito e a Síria em 1967 e invadir o Líbano em 1982. No entanto, décadas depois, o exército de Israel (que se intitula Forças de Defesa — ou IDF, em inglês) ainda está lutando em ambos os lugares.

Essas analogias históricas são frequentemente citadas por comentaristas ocidentais como avisos sinistros sobre o que pode dar terrivelmente errado para os EUA e Israel quando dependem exclusivamente da força. No entanto, as comparações são um pouco enganosas, pois o cenário político, tanto na política interna israelense quanto na região como um todo, foi transformado nos últimos 20 anos. São essas mudanças que tornam a crise atual muito mais perigosa do que as anteriores.

O governo israelense formado por Netanyahu após vencer as eleições gerais em novembro de 2021 foi imediatamente reconhecido como o mais fanaticamente de direita e ultranacionalista da história de Israel. Para citar apenas um exemplo, Itamar Ben-Gvir, líder do partido Poder Judaico, tornou-se ministro da segurança nacional – um cargo recém-criado que o coloca no comando da força policial nacional. Colono religioso de Kiryat Arba, próximo à cidade de Hebron, na Cisjordânia, ele já havia sido condenado no passado sob a acusação de incitar o racismo e apoiar o terror. Ameaçou o primeiro-ministro Yitzhak Rabin ao vivo pela televisão e tinha pendurada em sua casa uma fotografia de Baruch Goldstein, que assassinou 29 palestinos enquanto rezavam na mesquita de Hebron em 1994.

Considerando a composição ideológica do gabinete israelense, não é de surpreender que os objetivos de Israel em Gaza e na Cisjordânia pareçam ter se alargado, a ponto de incluir agora o fim de toda a vida normal para os cinco milhões de palestinos que vivem lá. Um ataque aéreo a uma escola no centro de Gaza na quinta-feira (10/10) matou 28 pessoas, muitas das quais, segundo a Unicef, eram mulheres e crianças que faziam fila para receber tratamento contra a desnutrição.

O exército de Israel justificou o ataque alegando que a escola abrigava um posto de comando do Hamas. Mesmo supondo que isso seja verdade, em sua tentativa de se justificar, as IDF estão confessando que o Hamas está presente em todos os lugares de Gaza um ano após a invasão israelense.

Israel alega que a cifra de 42 mil mortos em Gaza é exagerada pelo ministério da Saúde palestino, mas está repetindo exatamente o mesmo padrão de promover ataques aéreos, independentemente de vítimas civis, no Líbano. Um ataque em Beirute, no mesmo dia do ataque em Gaza, matou 22 pessoas, incluindo três crianças de uma família de oito pessoas, que haviam fugido do sul do Líbano.

A nova elite

O que torna a crise atual duplamente perigosa é o fato de que Israel não tem apenas uma liderança política etnonacionalista. Um desenvolvimento paralelo ocorreu entre a liderança da elite do Estado israelense – serviço civil, polícia, Judiciário e, cada vez mais, o exército – que são oriundos da ala fundamentalista e messiânica da sociedade.

Essa nova elite é menos sofisticada do que seus antecessores (embora esses também fossem muitas vezes linha-dura), mais propensa a ver os inimigos de Israel como demoníacos e ameaçadores, mas vulneráveis quando confrontados com o uso implacável da força.

O curso da guerra até agora no Líbano tende a confirmar isso, e há outros argumentos poderosos a seu favor. Os EUA estão dando carta branca a Israel de uma forma sem precedentes e é improvável que oponha resistência a uma estratégia israelense agressiva em relação ao Irã.

Ameaças iminentes

Os Estados-nações árabes que já foram hostis a Israel, incluindo Síria, Iraque, Líbia e Sudão, estão todos gravemente enfraquecidos por guerras civis nos últimos 20 anos. Os líderes árabes estão mudos ou são ineficazes em relação a Gaza e ao Líbano. O Irã está mais isolado do que nunca desde o fim da guerra Irã-Iraque em 1988.

No entanto, a vulnerabilidade do Irã e de seus aliados pode ser um pouco enganosa. Um grupo de Estados dominados por muçulmanos xiitas, que se estende pelo norte do Oriente Médio – Irã, Iraque, Síria e Líbano – não vai desaparecer.

Israel e os EUA podem tentar provocar conflitos religiosos e étnicos em países como o Líbano, que testemunhou uma guerra civil sectária e cruenta entre 1975 e 1990. Já há relatos de muçulmanos xiitas que fogem dos bombardeios israelenses e são vistos com hostilidade quando buscam refúgio em áreas não xiitas.

Quanto ao Irã, ele pode concluir que não pode deter Israel, que está preparado para arriscar uma guerra regional, mas que seria melhor ampliar o conflito por meio de ataques às rotas de comércio de petróleo, aos aliados ou às bases dos EUA. Seu objetivo seria forçar os EUA a conter Israel – a alegação de Washington de que não pode fazer isso é amplamente desacreditada no Oriente Médio.

Está se tornando cada vez mais difícil ver como uma guerra regional pode ser evitada – e ainda mais difícil ver como ela pode ser encerrada.

Abaixo do radar

Na corrida para a eleição presidencial dos EUA, é fascinante ver como a mídia anti-Trump evita qualquer referência às dificuldades cognitivas de Biden. Esta mídia ficou feliz em divulgar isso em julho, quando pressionou o presidente a desistir de sua candidatura à reeleição, mas desde então há poucas referências ao fato de que o homem supostamente responsável por empurrar os Estados Unidos para a guerra no Oriente Médio é incapaz de pensar direito.

Ocasionalmente, há evidências visíveis disso quando Biden se liberta de seus manipuladores, ao caminhar em direção ao helicóptero presidencial e falar com os repórteres. Quando suas palavras são coerentes, elas tendem a causar medo e pânico, como quando ele murmurou que os EUA estavam conversando com Israel sobre atacar instalações petrolíferas iranianas.

Na década de 80, os assessores do presidente Ronald Reagan tiveram um problema semelhante com seu chefe, que talvez já estivesse sofrendo do mal de Alzheimer, fato admitido publicamente vários anos depois. Sabendo do risco de Reagan ouvir e responder às perguntas dos repórteres a caminho do helicóptero presidencial – e, ao fazê-lo, revelar sua saúde mental em processo de deterioração – , eles determinaram aos pilotos que ligassem os motores mais cedo, para que todas as palavras fossem abafadas pelo barulho.

Ocidente: Breve história de uma derrocada em artigo de Ladislau Dowbor

 

Há 76 anos, pressionados pela União Soviética, EUA lançavam o Plano Marshall e apostavam em saídas comuns para os problemas globais. O que leva agora mundo eurocêntrico a flertar com o abismo e ter por emblemas tipos como Elon Musk?


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Por Ladislau Dowbor em Meer | Tradução: Glauco Faria

Até que ponto precisamos ir pelo ralo até acordarmos? Muitos de nós estão cientes das catástrofes ambientais e sociais que estamos construindo, mas a compreensão individual tem pouca influência no processo global de tomada de decisões. Temos, de fato, corporações poderosas e as reuniões de Davos que elas usam para se congratular. Porém, os cosméticos, no estilo ESG, não nos impedirão de chegar ao desastre. Uma abordagem global pode ajudar. A ganância é estúpida.

Uma mudança sistêmica é necessária e inevitável, mas estamos acostumados a simplesmente empurrar as coisas para ver o que acontece e a tomar medidas em larga escala somente depois que as catástrofes acontecem. O New Deal foi possível, no sentido de que havia força política para ele, depois que o desastre de 1929 havia penetrado em tantos interesses que Franklin Roosevelt foi eleito presidente dos EUA, e teve força para tomar medidas para mudanças estruturais. Tributar as fortunas financeiras e promover tantos investimentos em infraestrutura e bem-estar só foi possível quando a dor se espalhou e atingiu os mais abastados.

As instituições de governança global que ainda temos só se tornaram possíveis diante do desastre da Segunda Guerra Mundial, com mais de 60 milhões de mortos, outro número semelhante de feridos, cidades bombardeadas em todo o mundo, o choque da bomba atômica e um sentimento geral de que precisávamos de instituições de governança global. Tivemos Yalta, mas também Bretton Woods e muitas instituições que possibilitaram alguma regulamentação em escala global. Mas isso foi há 80 anos, e a capacidade de governança global não melhorou, apesar das muitas mudanças: descolonização, informática, conectividade global, dinheiro virtual, gigantes corporativos de escala mundial, plataformas de comunicação, financeirização global nas mãos do setor de gestão de ativos. Nunca é demais repetir que nossas instituições de governança global datam da década de 1940.

Atualmente, temos 193 países membros da ONU e um pequeno núcleo de membros do Conselho de Segurança, que representam outra era. Como ainda podemos esperar que o acordo monetário baseado no dólar faça sentido em 2024? Os desafios ambientais globais mal eram imaginados em 1944; a enorme desigualdade que está explodindo e se aprofundando até mesmo nos países ricos mal era discutida. O principal sentimento era o horror, e o principal desafio era a reconstrução do que havia sido destruído em muitos países. O plano Marshall foi apenas uma parte das medidas tomadas, mas forneceu soluções práticas para as necessidades mais urgentes. Foi uma grande ajuda para os países que precisavam, em parte motivada pelo grande urso no Oriente, mas o mais importante é que ajudou simultaneamente as nações necessitadas e estimulou a economia dos EUA ao fornecê-la. Certamente foi uma solução vantajosa para todos, estimulando a reconstrução e o crescimento em ambos os lados.

Atualmente, podemos imaginar uma reorientação estrutural em nível global? Temos de esperar por outra crise financeira global e pela Terceira Guerra Mundial? Estamos nos afogando em estatísticas sobre a fome no mundo (800 milhões) e mais de dois bilhões em insegurança alimentar, estamos vendo incêndios e inundações em todos os lugares, enquanto os céticos estão se perguntando se, afinal, pode haver algo nessa alegação de mudança climática. Estamos engolindo resíduos plásticos em todas as refeições e pisando neles em todas as praias. Empresas privatizadas de gestão de água despejam esgoto em rios e mares por toda parte (Grã-Bretanha, meu Deus!), navios pesqueiros de alta tecnologia destroem a vida nos oceanos, as florestas do Brasil, do Congo e da Indonésia estão sendo derrubadas (isso aumenta o PIB), os produtos químicos persistentes (PFAs) estão por toda parte e nem os países nem as empresas fazem nada a respeito, além de apontar o dedo uns para os outros.

A desigualdade está atingindo níveis grotescos, e temos que assistir à reunião absurda de governos que decidiram despejar 50 bilhões de dólares, uma quantia enorme, na guerra da Ucrânia, ao mesmo tempo em que Elon Musk recebeu um cheque de 46 bilhões de dólares para uso pessoal. E não é apenas a questão da pobreza, com o sofrimento gigantesco que ela gera, mas também a própria desigualdade, a sensação desesperadora de estar preso no fundo do poço, alimentando a frustração, o ódio e o populismo de extrema direita. Até mesmo o Papa está pregando por uma nova economia. Estamos chegando a um momento em que os diferentes desastres convergem e provocam uma crise civilizatória. Isso possibilitará uma mudança estrutural? Os EUA estão basicamente pedindo mais guerra em todos os lugares, afogando o mundo em equipamentos militares, impulsionados pela enorme máquina de guerra militar e econômica. O domínio global da Pax Americana é um sonho doentio. As guerras permanentes que Washington trava não levarão a um sistema mundial coerente. Precisamos de um pacto global.

Basicamente, o chamado Norte Global tem 16% da população, mas 56% da riqueza acumulada. Contudo, de acordo com Relatório da Riqueza Globaldo banco suíço UBSo , “a participação da população adulta é mais do que o dobro da participação da riqueza na América Latina, cinco vezes a participação da riqueza na Índia e dez vezes a participação da riqueza na África”. (p.15) As riquezas estão lá em cima; a população está aqui embaixo. A China está fora do cenário, mas é um ator poderoso para a mudança global estrutural. Em paridade de poder de compra, o PIB de 2022 é de 31 trilhões de dólares na China e 25 trilhões de dólares nos EUA. Em 2024, deve chegar a 36 trilhões e 28 trilhões, respectivamente.1 Não há Pax Americana em vista, e uma nova estrutura de poder global está surgindo. Ou mais guerras, e muito possivelmente a guerra final.

Source: UBS, Global Wealth Report 2023 - Leading perspectives to navigate the future, 2024, p.15.

Fonte: UBS, Global Wealth Report 2023 – Leading perspectives to navigate the future, 2024, p.15.

A questão não é nova. Li novamente o relatório de 1980, produzido sob a coordenação de Willy Brandt, ex-chanceler alemão e prêmio Nobel da Paz, [North-South: a program for survival].2 A capa do livro apresenta um mapa global muito semelhante ao acima, a divisão global estava lá e só se aprofundou. Quando o relatório foi apresentado, com grande impacto internacional, no mesmo ano, Ronald Reagan e Margareth Thatcher estavam chegando ao poder, com um programa geral de mais desigualdade, aprofundando a divisão global, na visão de que os ricos são a solução e o Estado é o problema. Nesses 44 anos desde que o relatório foi publicado, vimos um aprofundamento da desigualdade e dos dramas ambientais, tantas conferências e resoluções internacionais para enfrentá-los, mas uma explosão do poder corporativo e uma erosão das democracias, bem como das instituições de regulamentação global. A tecnologia avançando, a democracia retrocedendo.

Hoje temos a Agenda 2030 — 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, bem projetados, aprovados por todas as nações (com os EUA em um ioiô de entrada e saída) e claramente inatingíveis nas tendências atuais. Mas olhar para trás, para o que ficou conhecido como Relatório Brandt, é preocupante. No resumo das recomendações, o relatório começa com a questão dos países mais pobres: “Deve ser lançado um programa de ação que inclua medidas emergenciais e de longo prazo para ajudar os cinturões de pobreza da África e da Ásia, especialmente nos países menos desenvolvidos.” O segundo item diz respeito à fome e aos alimentos: “É preciso acabar com a fome e a desnutrição em massa”, com base em fluxos financeiros para o desenvolvimento agrícola e em um conjunto de outras medidas. O relatório continua com recomendações ligadas à proteção do meio ambiente, ao “terrível perigo para a estabilidade mundial causado pela corrida armamentista, à necessidade de reformas sociais e econômicas no Sul, complementando o papel a ser desempenhado pelo meio ambiente internacional”.

O relatório resume as recomendações relativas às transações de commodities, com mais processamento local, industrialização e regulamentação do comércio mundial. Particularmente interessante é a questão das corporações transnacionais: “Legislação, coordenada nos países de origem e de destino, para regulamentar as atividades das empresas transnacionais em questões como comportamento ético, divulgação de informações, práticas comerciais restritivas e padrões trabalhistas”. A ordem monetária mundial precisa de uma reforma urgente, com uma moeda internacional: “Tal moeda substituiria o uso de moedas nacionais como reservas internacionais”, uma referência direta ao absurdo domínio do dólar, evidente até mesmo neste momento. Seria necessária a participação do Sul “na equipe, na administração e na tomada de decisões do FMI”.

De modo geral, o relatório enfatiza a necessidade de “uma nova abordagem para o financiamento do desenvolvimento”, atribuindo “um papel maior na tomada de decisões e na gestão dos países mutuários” e criando um “Fundo Mundial de Desenvolvimento” com filiação universal e tomada de decisões compartilhada de forma mais equilibrada entre mutuantes e mutuários, e usando o dinheiro arrecadado com a tributação do “comércio internacional, produção ou exportação de armas, viagens internacionais, bem como bens comuns globais, como os minerais do fundo do mar”. Tudo isso exige um fortalecimento do sistema da ONU e de várias organizações multilaterais.

Tudo isso lhe parece familiar? Bem, eu participei da cúpula mundial da Rio-92, depois da Rio+20 e, atualmente, da batalha árdua pela Agenda 2030 no Brasil. O fato é que nós, assim como outros países, estamos nos afogando na desigualdade e nos desastres ambientais, ao mesmo tempo em que temos de ouvir graves considerações do mundo corporativo, atualmente fortemente ligado à política, à grande mídia, aos think tanks e até mesmo a uma boa parte da academia. Desde o Relatório Brandt de 1980, com uma apresentação clara dos desafios e das medidas necessárias, já se passaram 44 anos e ainda estamos conversando. Qual COP estamos preparando, a COP29? A última foi em Dubai, estávamos discutindo petróleo e mudanças climáticas. Em Dubai.

Esse mundo organizado para os 15% não está funcionando. A China, hoje a maior potência econômica, não será derrubada com o mimetismo do apoio armamentista de Taiwan pelos EUA; a Rússia não sairá do mapa-múndi, a Índia não teve problemas em deixar o dólar para o comércio de petróleo, os Brics estão se expandindo rapidamente, Dilma Rousseff está à frente do Novo Banco de Desenvolvimento, também chamado de banco dos Brics, o presidente Lula está trabalhando em uma iniciativa poderosa para costurar os interesses dos países do Sul Global. E as populações dos países em desenvolvimento estão atualmente conscientes do absurdo de sua pobreza. Em números compreensíveis, o PIB mundial de 110 trilhões de dólares equivale a 4.200 dólares por mês para uma família de quatro membros. Nossos problemas não são econômicos, mas de organização social e política.

Uma questão fundamental é o que acontece nos Estados Unidos, economicamente mais frágeis, mas um gigante militar. E eles atingiram um nível de desigualdade que abre caminho para o populismo de extrema direita, impulsionado pela trágica mudança de 2010 na Constituição que permite que grandes fortunas elejam políticos. O sangue está secando e coagulando em um sistema político, econômico e cultural diferente, desigual, autoritário e liderado pelo poder corporativo global que conecta o complexo militar e industrial de armas, o domínio da comunicação em escala mundial da GAFAM, a capacidade de vigilância global (GAFAM, NSA, CIA, Five Eyes etc.). É uma mistura perigosa. Tantos políticos de alto nível mentindo com todos os dentes sobre os resultados das eleições e sobre tantas questões, em uma potência militar tão grande, é assustador.

A desigualdade tem impactos sociais, principalmente para os pobres, mas também em termos de poder político dos ricos. Nenhuma democracia pode funcionar quando se aprofunda a desigualdade — entre outros motivos, porque os ricos se esforçarão para aumentar seu poder para extrair mais riquezas. O gráfico abaixo é explícito:

De 1990 a 2019, praticamente 30 anos, vemos na cor dominante mais escura a evolução da participação dos 10% mais ricos na riqueza dos EUA. Na cor mais clara abaixo, a participação dos 50% a 90%. E pouco visível na parte inferior, a linha milimétrica mostra a evolução dos 50% inferiores, metade da população dos EUA estagnada na base, vendo seus filhos sem perspectivas. Frustrados e furiosos, eles sabem que foram deixados de fora e se tornam um grande cliente para o discurso de ódio e o populismo de direita. Isso, obviamente, não se limita aos Estados Unidos. Mas o peso militar e político dos EUA ameaça o equilíbrio mundial global.

Por que estou voltando ao Relatório Brandt, um documento de 1980? Porque, além de mostrar as medidas óbvias necessárias para um desenvolvimento sustentável global em escala mundial, ele mostra a saída óbvia: o plano Marshall para a Europa estimulou o desenvolvimento em ambas as extremidades. Uma iniciativa de desenvolvimento mundial para o Sul Global teria um impacto semelhante, representando para os países mais ricos uma nova fronteira econômica, um estímulo para mais produção, mais empregos e desenvolvimento em ambos os lados. Um pacto global eficaz não se trata de dinheiro para os pobres, mas de um lembrete realista de que orientar nossas capacidades financeiras, econômicas e tecnológicas para onde elas são mais necessárias é o caminho mais eficiente não apenas para evitar a catástrofe, mas para gerar prosperidade global, incluindo o Norte Global.

Gerar desenvolvimento e empregos nos países mais pobres é muito mais sensato do que construir muros e gritar contra os imigrantes. A catástrofe está se aproximando também no Norte Global, um pesadelo político. Mas tente convencer Elon Musk… Sim, eu chamo esses tipos de caras de idiotas da alta tecnologia. Precisamos de mudanças estruturais.

A luta dos pesquisadores contra a anticiência e a extrema-direita negacionista

 

Cientistas relatam as perseguições que têm sofrido da extrema-direita


Do Jornal GGN:


Luis Nassif, Leda Paulani, João Furtado e Sergio Leo entrevistam a fundadora do Netlab UFRJ, Marie Santini, e a coordenadora do Laboratório de Gases de Efeito Estufa do INPE, Luciana Gatti. As cientistas relatam as perseguições que têm sofrido da extrema-direita.

O programa Nova Economia é exibido no canal do GGN no Youtube toda quinta-feira, às 18 horas.

Bob Fernandes: candidato da direita e de Bolsonaro Desafiado a abrir suas contas, apagão de Ricardo Nunes; mega-apagão em SP, avanço militar na política

 Do Canal do analista político Bob Fernandes:




quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Conexões - Espiritualidade crítica (episódio 019): A vida gasta no mercado capitalista, por Dora Incontri

 

Do Canal da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita:

O sistema nos gasta, nos desgata, nos suga e depois nos descarta. O ser humana nada vale para o capital. Apenas o lucro! E os fundamentalismos religiosos pregam a submissão.


Como o capital tudo descarta – inclusive o humano, por Dora Incontri

O cenário do capitalismo é esse. Tudo é mercadoria. Tudo é descartável. Mesmo, e até principalmente, o ser humano.

Jornal GGN:

Recentemente, tenho acompanhado a saga de uma amiga ameaçada de desligamento, leia-se de descarte – de um trabalho de 25 anos numa empresa de porte internacional. E tive a experiência em minha própria casa, com um familiar de alto nível, que depois de se dedicar durante décadas ao mundo corporativo, recebeu uma oferta inaceitável na transnacional em que atuava há 20 anos – uma espécie de cargo figurativo, de consolação, com uma remuneração abaixo de qualquer possibilidade de aceitar… e teve que pedir demissão, perdendo assim os benefícios de uma longa carreira, inclusive a sua aposentadoria privada.

Ao mesmo tempo, acompanho jovens que estão ativos nesse mercado coorporativo, a maioria com ansiedade, depressão, burn out – consumidores diários de medicamentos psiquiátricos e, às vezes, de outras drogas, não tão lícitas. E assim é o roteiro de todos os empregos no mercado: primeiro se espreme, se suga, se explora, se adoece a pessoa. Depois se descarta, às vezes por um e-mail, mas sempre com indiferença e desfaçatez.

E isso são empregos, com carteira assinada, nos moldes tradicionais, cada vez mais raros, porque agora trata-se de ser empreendedor de si mesmo ou assumir trabalhos como PJ, em que não se tem nenhuma garantia de continuidade e nenhum direito a nada… Nos empregos ainda em formato de CLT, não há também, por outro lado, mais nenhum respeito às regras de horários, fins de semana. Todos os anos dou aula para os trabalhadores de um sindicato de um setor financeiro e invariavelmente pergunto: quem de vocês sai na hora estipulada para o fim do expediente? Ninguém! É até malvisto alguém que fecha o computador quando termina seu horário de trabalho. Todos ficam a mais (sem remuneração extra). E dependendo do cargo, o expediente se estende para a noite, para o fim de semana, através do e-mail, do WhatsApp… alcança as férias, quando férias há. Todos se exploram mutuamente. E se auto exploram também. Um ciclo de loucura. E depois de todo esse desgaste, a demissão sumária.

O cenário do capitalismo é esse. Tudo é mercadoria. Tudo é descartável. Mesmo, e até principalmente, o ser humano. Há a obsolescência programada de um celular, como há a descartabilidade programada do trabalhador. Esse molde desumano se mantém por uma estrutura de violência geral sobre todas as classes, que não são detentoras dos meios de produção. E o que é pior, as vítimas do sistema se tornam seus reprodutores, porque agem com seus colegas e subalternos, com a violência e a desconsideração com que são tratados, talvez na ilusão de que estejam acima do outro, porque são detentores de privilégios. São como os capatazes negros, na época da escravidão.

Nas classes mais desfavorecidas, onde o trabalho é ainda mais precário, na maioria das vezes com uma entrada completamente insuficiente para uma vida digna, há hoje no Brasil, um fator de contenção de qualquer revolta e tomada de consciência. As igrejas evangélicas, dentro das ideias protestantes de valorização cega do trabalho – o que alimenta o espírito do capitalismo (como bem analisou Max Weber), ajudam na submissão ao sistema, na glorificação a Deus, diante da exploração. E, entre as neopentecostais, ainda se arranca do pouco que o povo ganha, o dízimo (às vezes mais que o dízimo) que dá vida luxuosa para os pastores.

Esse é o sistema capitalista que nos engrada, nos oprime (e deprime) fortalecido pelos avanços da extrema direita no mundo, cuja ideologia é diminuir qualquer pouca garantia de proteção a quem trabalha, deixar passar toda boiada, sem preocupação com o meio ambiente, num negacionismo doentio da crise climática que vivemos.

Onde vamos parar? Não há alternativa a não ser nos tornarmos críticos radicais do capitalismo, sem concessões à ideologia neoliberal e irmos despertando a consciência do povo, numa educação das massas. É claro que isso é muito difícil, quando a mídia corporativa, a que chega de fato à maioria das pessoas, faz parte desse sistema e pratica uma doutrinação diária.

Enchamo-nos de coragem, em primeiro lugar, para não colaborarmos com esse cenário, fazendo resistência diária. Evitemos cair nos meios de manipulação das nossas consciências, com os medos que nos impigem, com os desejos consumistas que nos despertam, com o anestésico de uma religiosidade fundamentalista. É preciso acreditar na possibilidade de uma transformação profunda de como nos relacionamos econômica, social e politicamente. E como vivenciamos nossa espiritualidade – para que seja de forma crítica e aberta, como âncora dos necessários avanços neste mundo.

Dora Incontri – Graduada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Mestre e doutora em História e Filosofia da Educação pela USP (Universidade de São Paulo). Pós-doutora em Filosofia da Educação pela USP. Coordenadora geral da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita e do Pampédia Educação. Diretora da Editora Comenius. Coordena a Universidade Livre Pamédia. Mais de trinta livros publicados com o tema de educação, espiritualidade, filosofia e espiritismo, pela Editora Comenius, Ática, Scipione, entre outros.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para dicasdepautaggn@gmail.com. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

“Democracia é coisa frágil. Defendê-la requer um jornalismo corajoso e contundente. Junte-se a nós: www.catarse.me/jornalggn “

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Portal do José: "DEUS, AJUDE PAPAI"! 02 APELA PARA GONET "ALIVIAR" BANDIDO! GOVERNO LULA: HORA DE IR PARA O ATAQUE!

 

Do Portal do José:

PARA COMEÇAR A SEMANA, o desespero do clã com a aproximação do fim das eleições. Cadeia aparece no horizonte. Sigamos.



Em menos de 24h, Israel volta atacar torre de vigia usada por forças de paz da ONU no sul do Líbano

 

Mais cedo, a porta-voz dos Direitos Humanos da ONU, afirmou que a Organização estar “horrorizada” com a retórica de guerra de Israel

                            Ruínas em Beirute após ataques de Israel. | Foto: Unicef


Jornal GGN:

A Força Interina da Organização das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL) confirmou, em comunicado emitido nesta sexta-feira (11), que sua sede em Naqoura, cidade no sul libanês, foi atingida por explosões operadas por Israel, pela segunda vez em 48 horas. No primeiro ataque, pelo menos dois soldados foram feridos.

Dois soldados da paz ficaram feridos após duas explosões ocorridas perto de uma torre de observação. Um soldado da paz ferido foi levado para um hospital em Tyre, enquanto o segundo está sendo tratado em Naqoura”, disse.

A declaração acrescentou que vários muros da sede da ONU caíram após uma escavadeira militar israelense atingir seu perímetro e tanques “se moverem nas proximidades” da área. As autoridades ressaltaram, no entanto, que forças de paz da ONU permaneceram em posição e pediram reforços.

Qualquer ataque deliberado às forças de manutenção da paz é uma grave violação do direito internacional humanitário e da resolução 1701 (2006) do Conselho de Segurança”, diz a nota.

Este é um acontecimento sério, e a UNFIL reitera que a segurança do pessoal e da propriedade da ONU deve ser garantida e que a inviolabilidade das instalações da ONU deve ser respeitada em todos os momentos”, acrescentaram. 

ONU está “horrorizada” com retórica de guerra


Mais cedo, a porta-voz do Escritório de Direitos Humanos da ONU, Ravina Shamdasani, afirmou que a Organização estar “horrorizada” com a linguagem inflamatória em torno da guerra entre Israel e o Hezbollah e pediram aos líderes que acabassem com sua “postura belicosa”.

“Estamos chocados com a linguagem inflamatória generalizada de vários lados”, disse Shamdasani, em uma entrevista coletiva em Genebra, na Suíça, em referência a uma declaração do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que pediu esta semana que o povo libanês se levante contra o Hezbollah ou arrisque um destino semelhante ao da Faixa de Gaza.

A linguagem recente ameaçando o povo libanês como um todo e convocando-os a se levantarem contra o Hezbollah ou enfrentarem a destruição como Gaza corre o risco de ser entendida como encorajamento ou aceitação da violência direcionada contra civis e objetos civis, em violação ao direito internacional“, afirmou.

Shamdasani também destacou que é “inaceitável” a “contínua difamação da ONU, em particular da UNRWA”, a agência da ONU que apoia quase seis milhões de refugiados palestinos espalhados por Gaza, Cisjordânia, Jordânia, Líbano e Síria. “Esse tipo de retórica tóxica, de qualquer fonte, deve acabar”, completou.

Com informações da Al Jazeera

Leia também:


domingo, 13 de outubro de 2024

Um mundo que perdeu o coração, por Leonardo Boff

 Até onde pode chegar a maldade humana? Não há limites para o mal



Artigo de Leonardo Boff, no ICL Notícias:

Acompanhando o atual curso do mundo, seja a nível internacional, seja a nível nacional, notamos um verdadeiro tsunami de ódio, de mentiras, de exclusões, de verdadeiros genocídios e extermínios em massa como na Faixa de Gaza, que nos deixa perplexos. Até onde pode chegar a maldade humana? Não há limites para o mal. Ele pode chegar até o auto-extermínio dos seres humanos.

Pensando em nosso país, as mortes, os assassinatos de jovens negros nas comunidades periféricas, as crianças vítimas de balas perdidas seja da polícia (que mata) seja de facções criminosas, os diários feminicídios e as centenas de estupros de meninas e de mulheres, o esquartejamento de sequestrados, deixam uma cidade inteira como o Rio de Janeiro continuamente sob o medo e ameaças. Está perdendo todo o seu glamour. Assim sucede em quase todas as grandes cidades de nosso país, tido por Sérgio Buarque de Holanda como “cordial” (Raízes do Brasil).

Entretanto, a maioria dos intérpretes não leu o rodapé ao termo “cordial” onde ele observa: “a inimizade pode ser tão cordial como a amizade, nisso que uma e outra nascem do coração” (n. 6). Portanto, o brasileiro está mostrando, especialmente, sob o governo do Inelegível, a inimizade entre amigos e nas famílias, a banalidade do palavrão, dos maus costumes e da mentira: tudo sendo “cordial” por nascer de um coração “cordial”(perverso).

Ao nível internacional o cenário se revela ainda mais atroz. Com o apoio irrestrito e cúmplice dos EUA e vergonhoso da Comunidade Europeia que traiu seu legado dos direitos do cidadão, da democracia e de outros valores civilizacionais, estão se perpetrando verdadeiros crimes de guerra contra 40 mil civis e inegáveis genocídios de cerca de 13.800 crianças inocentes na Faixa de Gaza, todos pelo governo de extrema direita de Benjamin Netanhyau. Trata-se de uma retaliação totalmente desproporcional a outro crime, não menos horrendo do grupo terrorista Hamas.

Benjamin Netanhyau permite tais genocídios porque não tem coração, não se coloca no lugar das mães e das vítimas inocentes. Não lhe importa se para matar um líder do Hezbollah tenha que, num bombardeio, vitimar dezenas de outras pessoas. O ódio o tornou cruel e sem piedade. Crimes semelhantes estão ocorrendo na guerra que a Rússia move contra a Ucrânia com milhares de vítimas, com a destruição de uma antiga cultura-irmã e com incontáveis vítimas inocentes. Paremos por aqui nessa via-sacra de horrores que tem mais estações do que aquela do Filho de Deus carregando sua cruz.

A pergunta é como isso ocorre à luz do dia sem que haja uma autoridade reconhecida que pudesse parar esse extermínio de gente e de inteiras cidades? Qual a raiz subjacente a esta iniquidade? A história no passado conheceu extermínios, até feitos em nome de Deus como no terrível livro dos Juízes da Bíblia judaico-cristã e em tantas guerras de outrora. Mas nós as excedemos em crueldade em todos os níveis.

Israel matou mais de 207 funcionários da ONU, bombardeou hospitais, escolas, universidades, mesquitas e destruiu 80% de Gaza. Hoje corremos o sério risco de uma guerra total entre as potências militaristas em disputa pela hegemonia do mundo, o que realizaria o princípio de nossa autodestruição.

Sustendo a interpretação de que tudo isso se tornou possível porque perdemos o coração, o esprit de finesse (a gentileza de Pascal) e a dimensão da anima (a sensibilidade de C.G. Jung). A cultura moderna se construiu sobre a vontade de poder como dominação, usando a razão, desgarrada do coração e da consciência, traduzida em tecno-ciência para o nosso bem e mais para fins bélicos.

Como notava o Papa Francisco na Laudato Sì: “o ser humano não foi educado para o reto uso do poder… porque não foi acompanhado quanto à responsabilidade, aos valores e à consciência” (n.105). A razão estabeleceu seu despotismo na forma de racionalismo, rebaixando outras formas de conhecer e de sentir a realidade. Assim o sentimento (pathos) foi recalcado no falso pressuposto de que atrapalharia a objetividade da análise. Hoje é evidente que não há objetividade absoluta. O sujeito pesquisa com seus pressupostos e com seus interesses de forma que sujeito-objeto estão sempre imbricados.

O fato é que a dimensão do coração e da cordialidade foi reprimida. Abstraindo do cérebro reptiliano que é o mais antigo, o cérebro límbico constitui a nossa real base fundamental. Ele surgiu com os páleo-mamíferos entre 150-200 milhões de anos atrás e nos mamíferos superiores há 40-50 milhões de anos com os quais temos o condomínio. Somos mamíferos racionais, portanto, seres de sentimento.

O cérebro límbico é a sede de nossas emoções, seja de ódio, de ira e outras negatividades, mas principalmente nele se alberga o mundo das excelências, do amor, da amizade, da empatia, dos valores, da ética e da espiritualidade. O cérebro neocortical irrompeu com o ser humano há 7-8 milhões de anos e culminou há cerca de 100 mil anos com o surgimento do homo sapiens do qual somos herdeiros. É o mundo da razão, dos conceitos, da linguagem, na ordenação lógica das coisas.

Portanto, ele compareceu tardiamente. Mas com seu desenvolvimento fundou o reino da razão. Mas importa não esquecer que se trata de um único cérebro que envolve estas três dimensões sempre relacionadas (na versão do cérebro triuno de MacLean: reptíliano, límbico, neocortex). A concentração excessiva na racionalidade com a qual dominamos o mundo, a mulher (patriarcado) e a natureza à custa do sentimento, causou os desacertos socio-históricos, cujas consequências nefastas estamos colhendo.

É urgente unir o cérebro neocortical (razão/logos) com o límbico (coração/phatos), o coração enriquecendo os projetos racionais com humanidade e sensibilidade; inversamente investir razão, vale dizer, conferir direção e justa medida ao mundo dos sentimentos e do coração. Só assim encontraremos o equilíbrio necessário. Porque afogamos o sentimento de mútua pertença, de que todos, sem exceção, somos humanos, nos transformamos em cruéis genocidas (face à nossa espécie) e ecocidas (face à natureza).Temos escravizado,submetido e discriminado nossos irmãos e irmãs.

Pelo fato de não termos resgatado a dimensão do coração, do espírito de finura (Pascal), da sensibilidade essencial (anima) entrou em falência o humanismo ocidental, liberal-capitalista. A assim chamada “ordem baseada em regras” (que sempre mudam conforme as conveniências dos poderosos) se mostrou uma falácia.

Como advertiu uma alta funcionária de organismos da ONU, Chelsea Ngnoc Minh Nguyen: “A violência e a brutalidade dos últimos anos devem nos impulsionar a todos – seja no Sul ou no Norte, no Oriente ou no Ocidente – a realizar uma introspecção honesta e profunda sobre o tipo de mundo em que queremos viver”(IHU 4/10/24).Não vejo outra alternativa, além de devermos mudar de paradigma civilizacional (do domus/dono para o frater irmão e irmã) senão fundarmos um novo humanismo,enraizado na nossa própria natureza.

Nela encontramos as constantes antropológicas, intrínsecas à nossa humanidade: o amor incondicional, o cuidado essencial, a cooperação, a empatia, a compaixão, o reconhecimento do outro, como nosso semelhante, o respeito à natureza e à Terra que tudo nos dão,o encantamento face ao belo e bom e a reverência face ao Mistério.Tais valores seriam o fundamento de um outro mundo possível e necessário.Caso contrário, vamos ao encontro do inimaginável.

Portal do José: DOMINGÃO! CAIU A FICHA: BOLSONARO ESCANCARA MEDO DE CADEIA APÓS ELEIÇÃO! LULA: "NÃO HÁ PREOCUPAÇÃO"!

 

Do Portal do José:

13/10/24 - BOLSONARO DEU AS CARAS. AO INVÉS DE ESTAR COMEMORANDO O RESULTADO DAS ELEIÇÕES, PARECE QUE O INELEGÍVEL COMEÇA A VER QUE NÃO HÁ MAIS MOTIVOS PARA GONET RETARDAR MAIS AS DENÚNCIAS CONTRA A ORCRIM DE LADRÕES DE JOIAS, ETC. APÓS O PRIMEIRO TURNO TEM SURGIDO MUITAS AVALIAÇÕES DESSE PROCESSO. A miopia nas avaliações são as piores coisas que podem ocorrer no campo político da esquerda e do progressismo. Como lidar com isso. Sigamos.



Extrema-direita bolsonarista e negacionista prioriza ataques à ciência e à Universidade

 

Extrema-direita prioriza ataques a pesquisadoras porque, além de subjulgá-las, elas trazem à tona dados que contrariam interesses de grupos econômicos

Do Jornal GGN:

Crédito: Reprodução/ TVGGN

Nova Economia: Como a indústria da desinformação ataca a ciência brasileira?


A coordenadora do Laboratório de Gases de Efeito Estufa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Luciana Gatti, relatou que sofre uma série de represálias pelo seu trabalho, que consiste em ressaltar como o agronegócio é o maior responsável pela devastação do meio ambiente. 

Consequentemente, a pesquisadora está sofrendo represálias de figuras da extrema-direita, fato que ela atribui ao fato de ser mulher, mas também por falar, a partir de dados e estudos, o óbvio em relação ao meio ambiente. Ao afirmar, em uma entrevista, que os incêndios em todo o país foram provocados para atender aos interesses do agronegócio. 

Em vez de apoio ou influenciar políticas públicas, Gatti foi advertida pelo secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, Guilherme Piai, que considerou suas falas criminosas e pediu explicações ao Ministério da Ciência e Tecnologia. 

“Você não vê a extrema-direita ir assim para o lado de homem. A extrema-direita é covarde. Covarde, porque quem vai em cima de mulher com toda essa agressividade é covarde. Vamos começar pelo secretário da Agricultura do Estado de São Paulo. O cara é secretário da Agricultura e vê as lavouras do Estado de São Paulo queimando com fogo provocado. O cara está furioso atrás dos criminosos que tacaram fogo na lavoura que ele tem que cuidar? Não, ele chama de criminosa a cientista que afirma que aquilo tem por trás uma organização que não é pequena, porque em um único dia quase 1.900 focos de incêndio no Estado de São Paulo”, comenta a entrevistada do programa Nova Economia, da última quinta-feira (11).

Além da represália, Luciana afirmou ainda que já era monitorada e, durante uma entrevista em que abordava os incêndios criminosos, sua ligação caiu e ela demorou um tempo até conseguir se reconectar.

“No dia seguinte, de manhã, os senadores da extrema direita já tinham convocado a ministra, com ofício de dois sindicatos, de pessoal ligado à produção de cana-de-açúcar”, continua.

Desinformação

Também convidada do programa Nova Economia, a fundadora do Netlab Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Marie Santini, explicou que os ataques são resultantes de dois fatores específicos. Além de confrontar interesses econômicos, a exemplo do agronegócio, a produção científica no Brasil e no mundo nunca avançou a passos tão largos, tanto que a ciência foi capaz de desenvolver, em dois anos, uma vacina para conter uma pandemia global. 

“Então tudo está extremo, tudo está realmente muito sobressalente, o ódio está mais explícito, a violência está mais explícita, esses grupos estão aparecendo mais porque a gente está na véspera do fim do mundo”, afirma Marie.

A docente da UFRJ também acrescentou que a desinformação é uma indústria lucrativa, que se tornou um mercado paralelo sem regulação que cresceu de tal forma que é difícil para governos impor regras. Tanto que a União Europeia só teve êxito neste sentido por se tratar de um bloco econômico. 

“A eleição é o laboratório perfeito, em que pode entender causa e efeito, pois quando a eleição termina, há um ganhador. Fica mais fácil tentar entender o que funciona para manipular, quais são as táticas que influenciam determinados segmentos. Você consegue produzir estatística sobre esses experimento”, continua Marie Santini. 

Além da política, o mercado de informação é expressivo também na área da saúde, em que são vendidos todo tipo de produto praticamente sem fiscalização, pois enquanto a Anvisa não regula medicamentos e tratamentos na internet, é neste canal que as pessoas buscam cada vez mais informação sobre produtos que, muitas vezes, sequer são regulamentados. 

Veja o debate completo na TVGGN:

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